RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI:
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
QUANDO O GOVERNO O MERCADO: COMPRAS GOVERNAMENTAIS E INOVAO EM SERVIOS DE SOFTWARE
Marina Figueiredo Moreira
Doutoranda em Administrao pela Universidade de Braslia UNB
Professora de Inovao e Empreendedorismo da Universidade de Braslia UNB
[email protected] (Brasil)
Eduardo Raupp de Vargas
Doutor em Administrao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
Professor de Administrao da Universidade de Braslia UNB
[email protected] (Brasil)
RESUMO
Este estudo se prope a investigar a efetividade de utilizao das compras pblicas enquanto
alternativa para a induo de inovaes nas empresas fornecedoras mantendo seu foco na anlise dos
requisitos de compra estabelecidos por clientes governamentais e seus impactos na induo. Realiza-se
um estudo de casos mltiplos, com dez unidades de anlise, com entrevistas semi-estruturadas com
profissionais de perfis estratgico e tcnico nas empresas selecionadas. As inovaes so identificadas
em trs momentos: pr-venda, prestao do servio e ps-venda. Os resultados mostram que a
prestao de servios para um cliente governamental marcada por parmetros burocrticos e
atendimento a condies processuais diferenciadas, o que restringe o surgimento de solues
inovadoras e, principalmente, sua reutilizao com clientes no-governamentais. O estudo confirma a
existncia de relao entre os requisitos de fornecimento de clientes governamentais e a induo de
inovaes. Embora no intencional, esta relao responde ao objetivo inicial definido e vai ao encontro
da principal trajetria apresentada no Chain-Linked Model.
Palavras-chave: Inovao em Servios; Servios de Software; Compras Pblicas; Induo de
Inovaes.
Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
1 INTRODUO
A inovao tem sido colocada para as empresas enquanto meta para garantir sua competitividade frente aos mercados concorrenciais. Inicialmente um objetivo da firma, o estmulo inovao torna-se um desafio governamental, tendo em vista sua capacidade de impulsionar e movimentar a economia nacional e, em ltima escala, de impactar o prprio desenvolvimento econmico dos pases. Os governos se vem, ento, compelidos a buscar alternativas polticas para fomentar a inovao em no ambiente de negcios de seus pases. Entre as alternativas disponveis, ganha espao a utilizao do chamado poder de compra dos Estados enquanto instrumento poltico para a induo de inovaes, opo j adotada em pases europeus e que comea a ganhar espao na agenda poltica brasileira.
Ao utilizar sua capacidade de compra de maneira direcionada contratao de inovaes, o Estado assume o comportamento de um consumidor capaz de estabelecer requisitos de compras que, em ltima escala, impactaro os produtos e servios contratados e, acredita-se, sejam capazes de levar ao desenvolvimento de solues inovadoras. Ou seja: de induzir a gerao de produtos e servios inovadores nas firmas fornecedoras. A ao do Estado estaria, portanto, em definir, de forma efetiva, os requisitos e parmetros norteadores das compras pblicas capazes de induzir a gerao de inovaes nas firmas fornecedoras.
O Brasil definiu como meta o estmulo capacidade inovadora das empresas em sua Poltica Industrial. Para tanto, foram criadas uma legislao especfica e outras medidas complementares no estmulo inovao. A alternativa de utilizao das compras pblicas voltadas contratao de solues inovadoras surge nesse contexto e comea a ser considerada a partir de 2008 na formulao de polticas. A Poltica Industrial brasileira considera como setor estratgico, entre outros, a produo em Tecnologia de Informao, sendo a produo de software um de seus focos. Esse setor apontado como um dos que apresentam melhores possibilidades de crescimento para as empresas brasileiras, inclusive no tocante s exportaes. Dentro do setor de software destaca-se, ainda, o segmento de servios de software, que detm uma das maiores perspectivas de atividade para as empresas nacionais, tendo em vista que, neste segmento, ao contrrio dos demais que compem o setor de produo de software, no se verificam posies monopolistas de empresas estrangeiras (Roselino, 1998).
Ao considerar o desafio governamental de propor requisitos e parmetros de fornecimento efetivos na induo de inovaes nas empresas contratadas, especialmente no contexto das empresas prestadoras de servios de software o que demanda entendimento das especificidades do setor e
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adoo de uma abordagem para a compreenso do processo de inovao em atividades de servios , este estudo adota como objetivo geral: investigar se os requisitos estabelecidos nas compras pblicas induzem inovaes nas empresas prestadoras de servios de software. Considera-se, portanto, a seguinte pergunta norteadora para o estudo: os requisitos estabelecidos nas compras pblicas induzem inovaes nas empresas prestadoras de servios de software?.
Para responder a esta questo, o artigo est organizado da seguinte forma: na seo 2, apresenta-se o referencial terico sobre Inovao em Servios adotado. Em seguida, na seo 3, apresentado o modelo de anlise da induo de inovaes a partir de uma adaptao do Chain-Link Model realizada por Moreira e Vargas (2009). Estas duas sees compem, assim, o marco terico que orientou a pesquisa. Na seo 4, a questo das compras governamentais como balizadoras de requisitos para a inovao analisada com foco nos servios de software, permitindo uma primeira aproximao do modelo de anlise ao setor estudado. Em seguida, na seo 5, apresenta-se o mtodo de pesquisa adotado. A seo 6 dedicada apresentao dos resultados dos casos investigados, tendo em conta os trs momentos de ocorrncia de inovaes: pr-venda, prestao do servio e ps-venda. A seo 7 tem como objetivo apresentar a anlise das compras governamentais como definidoras de requisitos para inovao luz do modelo de anlise introduzido. Finalmente, na seo final, as consideraes finais so apresentadas.
2 INOVAO EM SERVIOS
O conceito de inovao inicialmente proposto por Schumpeter remete a levar avante novas combinaes, que seriam referentes ao processo de produzir outras coisas, ou os mesmos objetos, por mtodo diferente, quer dizer: combinar esses materiais e foras diversamente (Schumpeter, 1982, p. 92). Para o autor, esse processo de fazer novas combinaes constituiria o princpio da inovao. Schumpeter (1976) caracteriza a inovao como o mecanismo capaz de alavancar o processo de desenvolvimento econmico, sendo o impulso fundamental que coloca e mantm a mquina capitalista em movimento, por meio da introduo de novos bens de consumo, novos mtodos de produo ou transporte, novos mercados ou novas formas de organizao industrial (Schumpeter, 1976, p. 83).
No contexto das atividades de servios, a aplicao do conceito de inovao trazido por Schumpeter (1982) mostra-se compatvel, mas limitada, tendo em vista que, no setor de servios, a distino entre casos de inovaes que resultem na gerao de um novo servio ou de um novo
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processo nem sempre suficientemente clara. Em funo dessa especificidade das atividades de servios, torna-se recomendvel buscar uma concepo de inovao que tenha aplicao mais adequada ao setor.
A partir da concepo inicial apresentada por Schumpeter (1982), o conceito de inovao segue sua evoluo com contribuies dos chamados autores neo-schumpeterianos, que salientam a relevncia da inovao como geradora de instrumentos para a ampliao da competitividade das empresas, permitindo a apropriao de vantagens absolutas de custo e qualidade, que conduzem ampliao de seus mercados (Kon, 2004, p. 86). Surge, entre os autores neo-schumpeterianos, a caracterizao dos servios enquanto atividades capazes de contribuir para a difuso de conhecimentos nas empresas por meio de fluxos de informaes, o que contribui diretamente para a qualidade da tomada de deciso empresarial e, conseqentemente, para o aumento da capacidade competitiva das empresas, elemento relacionado ao surgimento de inovaes (Kon, 2004).
Entre os autores neo-schumpeterianos, cabe destacar a abordagem trazida por Dosi (1988), que aponta a inovao como uma forma de resoluo de problemas. O autor destaca que as atividades inovadoras so fortemente seletivas, dirigidas a direes precisas e cumulativas na aquisio de capacidades para a resoluo de problemas (Dosi, 1988, p. 1128). Essa concepo considera que a inovao est inserida em um dado paradigma tecnolgico, o que corresponde ao padro atual de soluo de problemas tecnolgicos. No caso atual, demarca-se o paradigma da informao, no qual os servios assumem funo de destaque por sua relao com a capacidade de melhoria dos fluxos de informao, conforme exposto por Kon (2004).
As abordagens para o processo de inovao que mantm sua anlise na trajetria tecnolgica das inovaes constituem uma das propostas para a compreenso da inovao no contexto das atividades de servios, mas no a nica, no sendo aceitas unanimemente por seu carter excessivamente tecnicista, que deixa de lado, muitas vezes, o aspecto relacional da prestao de servios (Gallouj & Weinstein, 1997). necessrio, assim, o desenvolvimento de abordagens alternativas, ao exemplo do proposto por Gallouj (2002), que busca integrar o entendimento da inovao no setor de servios e nos demais setores da economia, sem renunciar anlise das especificidades dos servios.
As economias modernas so definidas por Gallouj (2002) simultaneamente como economias de servio e economias de inovao. O autor relata a existncia de um paradoxo quanto concepo das economias modernas, pois embora sejam marcadas pela presena do setor de servios e pela presena de inovao, em geral no so caracterizadas como economias de inovao em servios. Em grande
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parte, o autor atribui essa distoro aos mitos existentes quanto improdutividade e a baixa intensidade de capital do setor de servios e, ainda, indevida caracterizao de uma sociedade de servios como uma sociedade de servos (Gallouj, 2002), isto , uma economia em que o trabalho exigido seria de baixa qualificao.
A busca por uma teoria para a inovao em servios relatada por Gallouj (2002), que distingue, na literatura sobre o tema, trs abordagens comumente adotadas. A primeira seria a chamada abordagem tecnicista, que iguala ou reduz a inovao em servios introduo de sistemas tecnolgicos (...) nas firmas e organizaes de servios, sendo essa a abordagem com maior nmero de estudos (Gallouj, 2002, p. 1). Esta abordagem parte do princpio de que a inovao em servios resultado da adoo de inovaes tecnolgicas desenvolvidas no setor de produo de bens de capital, sendo, na verdade, uma anlise do processo de difuso de inovaes de natureza tecnolgica da indstria para as atividades de servios (Vargas & Zawislak, 2006, p. 3).
A segunda abordagem identificada nos estudos sobre inovao em servios caracterizada como uma abordagem orientada aos servios e que busca identificar particularidades na natureza e na organizao da inovao em servios (Gallouj, 2002, p. 1). Em relao a esta abordagem, Vargas e Zawislak (2006, p. 3) destacam seu propsito de ressaltar modalidades de inovao que sejam especficas para o setor de servios, admitindo a relao usurio-produtor, apontada como principal caracterstica distintiva das relaes produtivas em servios, como uma fonte de oportunidades para a inovao.
Por fim, possvel identificar a abordagem integradora que, considerando a aproximao entre bens e servios, favorece uma abordagem analtica para a inovao nos dois casos, abordagem da qual faz parte a prpria obra do autor (Gallouj, 2002, p. 1). Em relao a esta abordagem, Vargas e Zawislak (2006, p. 4) apontam que um enfoque com o propsito de reconciliar bens e servios, integrando-os definitivamente em uma s teoria da inovao.
A abordagem integradora marcada pela busca de uma teoria que possa considerar a anlise no somente das inovaes de carter tecnolgico, mas tambm as demais e, ainda, que possa ser aplicada tanto a economias de produtos quanto a economias de servios. Na busca por uma teoria que permita atingir esses objetivos, Gallouj (2002, p. 25) argumenta que no necessrio adotar abordagens diferentes para o consumo de um bem ou servio: uma necessidade, ou seja, uma funo, pode ser satisfeita pelo consumo de um bem ou de um servio. A partir dessa perspectiva, no necessrio fazer distino entre esses dois produtos, o que permite contemplar uma anlise integrada. Propondo uma extenso do modelo Lascasteriano s economias de servios, Gallouj (2002)
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argumenta que tanto para bens quanto para servios, as caractersticas tcnicas so conhecimento, competncias incorporadas em sistemas tangveis ou intangveis. O autor prope, ento, um modelo de anlise que considera bens ou servios enquanto sistemas de caractersticas e competncias.
O modelo proposto baseia-se em vetores e considera as competncias dos clientes (vetor C1), as competncias dos prestadores de servio (vetor C2), as caractersticas tcnicas materiais e imateriais (vetor T) e as caractersticas finais, que correspondem ao prprio servio / bem final (vetor Y). O surgimento de inovaes pode ser, ento, compreendido luz do modelo proposto: resumidamente, a inovao pode surgir a partir da dinmica (positiva ou negativa) dos vetores de caractersticas em suas vrias formas, [C], [C], [T], [Y] ou qualquer combinao desses vrios vetores (Gallouj, 2002, p. 68).
Ao investigar as caractersticas das inovaes, Gallouj (2002, p. 70) prope modelos que procuram descrever as dinmicas particulares das caractersticas. No se trata de modelos restritos anlise de inovaes em servios, mas possivelmente extensveis s anlises em bens. So definidos seis modelos de inovao: Radical (corresponde criao de um novo conjunto de caractersticas {[C*], [C*], [T*], [Y*]}); Ameliorativa (ocorre com o aumento no peso qualidade das caractersticas); Incremental (adio ou eliminao de caractersticas); Ad hoc (produo de novas competncias [C] ou codificao e formalizao de [C], que a transformao de [C] em [T] - caractersticas tcnicas intangveis); Recombinativa (combinao ou fragmentao de um grupo de caractersticas); e de Formalizao (formatao e padronizao de caractersticas). As compras governamentais, nesta perspectiva, poderiam ser indutoras destas dinmicas nos vetores de caractersticas.
3 INDUO DE INOVAES A PARTIR DAS COMPRAS GOVERNAMENTAIS
O surgimento de uma inovao um fenmeno que pode ser investigado luz de diferentes modelos de anlise. So apresentados, neste estudo, dois modelos considerando sua aplicabilidade aos servios. Uma primeira proposta para a compreenso da cincia, da tecnologia e de sua relao com a economia surge com o chamado Modelo Linear de Inovao, que partia do princpio de que a inovao se iniciava com pesquisa bsica, seguindo-se pesquisa aplicada e ao desenvolvimento, finalizando-se com a produo e a difuso (Godin, 2006, p. 639). Esse modelo criticado justamente por considerar a inovao um fenmeno linear e com uma nica fonte: a pesquisa e desenvolvimento.
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Kline e Rosenberg (1986) criticam o modelo apontando que inovaes no possuem dimenso uniforme, nem sempre tm seu incio marcado pelo processo de pesquisa e no devem ser vistas como elementos bem definidos e homogneos que se inserem na economia a partir de um momento especfico. Sustentam, ainda, que a inovao um processo complexo, no-linear e que assume diferentes caractersticas, de forma que o modelo linear termina por distorcer a realidade da inovao de vrias maneiras (Kline & Rosenberg, 1986, p. 286).
Evidenciando a necessidade de adotar um modelo alternativo, Kline e Rosenberg (1986) propem o Chain-Linked Model, que considera cinco elementos no processo de inovao: mercado potencial; inveno e / ou produo de um desenho analtico; desenho detalhado e teste; redesenho e produo; e distribuio e comrcio. Nesta proposta, defendem Kline e Rosenberg (1986, p. 289), no h um caminho principal de atividade, mas cinco, o que se refere s trajetrias possveis para o surgimento de inovaes.
Figura 1 Chain-Linked Model e os fluxos da informao e cooperao
Fonte: adaptado de Kline e Rosenberg (1986, p. 290).
O Chain-Linked Model destaca a premissa de que o surgimento de uma inovao pode ser acionado por uma demanda do mercado. Defende-se que uma inovao deve atender no somente a requisitos tcnicos, mas principalmente aos requisitos do mercado. As demandas do mercado induzem a criao de um novo processo de desenvolvimento, o que leva a um novo produto. Esse produto inovador, por sua vez, levaria criao de novas condies de mercado. Assim, cada demanda do mercado que se insere no processo de inovao leva criao de um novo desenho de projeto e todo
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novo projeto de sucesso leva criao de novas condies de mercado (Kline & Rosenberg, 1986, p. 290).
A inteno de considerar, neste estudo, o processo de induo de inovaes a partir da demanda de um cliente governamental estabelece o requisito de adotar / propor um modelo para a compreenso do processo de inovao capaz de fornecer entendimento para o modo como as aes de um cliente no caso, governamental podem provocar o desenvolvimento de inovaes pelas empresas fornecedoras. Justamente por considerar o posicionamento do mercado consumidor no processo de gerao de inovaes, o Chain-Linked Model se mostra uma opo terica plausvel para a compreenso do processo e dos atores nele envolvidos. Moreira e Vargas (2009) propem, a partir deste modelo, uma leitura para a utilizao das compras governamentais para a inovao que recuperamos e adotamos neste estudo.
Figura 2 Governo enquanto mercado potencial no Chain-Liked Model
Fonte: Moreira e Vargas (2009, p. 38).
Nesta proposta, o governo posicionado como mercado consumidor e potencial indutor de inovaes. Nesta leitura, os autores consideram dois papeis distintos para o cliente governamental, sendo: o governo enquanto mercado potencial e gerador de requisitos para as solues inovadoras desenvolvidas pelas empresas; e o governo enquanto gerador de novas condies de mercado a partir do estabelecimento de novos requisitos e parmetros para as solues inovadoras adquiridas das empresas desenvolvedoras (Moreira & Vargas, 2009, p. 41). So estes papis, como veremos a seguir, que so levados em conta na anlise do papel das compras para inovao em servios de software.
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4 COMPRAS PARA A INOVAO EM SERVIOS DE SOFTWARE
Inicialmente admitidas como formas de aquisio de bens e servios necessrios ao poder pblico, nas ltimas dcadas as compras pblicas tm sido aladas condio de instrumentos de polticas pblicas, ou seja, de ferramentas para a implantao de estratgias e decises pblicas, tendo diversas utilizaes registradas para atingir objetivos polticos ao longo da histria (Fraunhofer, 2005). Para McCrudden (2004), o Estado deixa de cumprir somente a funo reguladora e passa a desempenhar funes de consumidor, assumindo, na maioria das economias, o papel de maior comprador individual de bens e servios. As decises de compra dos Estados impactam, portanto, no apenas os produtos adquiridos, mas tambm seus fornecedores. As compras pblicas deixam de ser vistas como uma funo de suporte e assumem a condio de atividade estratgica (Loader, 2006).
Para este estudo, interessa-nos compreender a utilizao das compras pblicas como instrumentos para o incentivo inovao nas empresas fornecedoras. Essa utilizao tem seu registro em 2004, na Unio Europia, que reconhece que as compras pblicas poderiam ser utilizadas para prover mercados pioneiros para novos produtos intensivos em inovao e pesquisas (European Comission, 2005, p. 10). As compras pblicas passam a ser reconhecidas como uma das formas mais diretas de estimular a inovao por meio da demanda (Fraunhofer, 2005, p. 13) e so comumente denominadas procurement for innovation. Para este estudo, adota-se a terminologia traduzida compras para a inovao com o mesmo propsito. As compras para a inovao se referem, assim, a compras de bens e servios que ainda no existem, ou precisam ser aperfeioados, o que requer pesquisa e inovao para atender s necessidades especificadas pelos usurios e destinam-se a ajudar os definidores de polticas pblicas a entender os potenciais benefcios e a auxiliar os profissionais responsveis pelas compras pblicas a mudar suas prticas para obter esses benefcios (European Comission, 2005, p. 5).
Em 2004, o Brasil formulou sua Poltica Industrial, Tecnolgica e de Comrcio Exterior, que tem o incentivo inovao como uma de suas metas e estabelece alguns setores estratgicos. A produo de software um dos setores-alvo, sendo considerado o de maior crescimento no contexto da Indstria de Tecnologia da Informao brasileira. Em 2008, o governo brasileiro anunciou a utilizao das compras pblicas como instrumento prioritrio para impulsionar a economia, inserindo os setores de informtica entre os maiores beneficiados por incentivos.
Ao tratar de servios de software, necessrio considerar essas atividades no contexto de uma indstria de software. Enquanto o software se refere s instrues computacionais que transformam a
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tabula rasa do hardware de computador em mquinas que desempenham funes teis (Steinmueller, 1995, p.2), uma atividade de servio pode ser vista como uma operao que visa transformar o estado de uma realidade C, possuda ou utilizada por um consumidor B, realizada por um prestador de servios A a pedido de B, e com frequncia relacionada a ele, no chegando, porm, produo de um bem que possa circular economicamente independentemente do suporte C (Gadrey, 2001, p. 32).
Marca as atividades de servio a simultaneidade entre o fornecimento e o consumo, ou seja, a coincidncia temporal entre as etapas (Kon, 2004). Nos servios de software, que compreendem capacitao, manuteno, suporte ou desenvolvimento completo de um software sob encomenda, possvel identificar essa simultaneidade. O desenvolvimento de servios de software, marcado pela concepo de uma soluo voltada a um cliente especfico, possui ntidas caractersticas de prestao de servios. Steinmueller (1995, p. 3) diferencia o software enquanto produto ou servio mantendo o foco justamente na produo individual: um software que produzido somente uma vez deve ser visto como um input de servio, enquanto um programa que reproduzido dzias ou milhares de vezes tem caractersticas de marketing e de desenvolvimento mais prximas s de bens manufaturados.
Ao avaliar a indstria de software, os dados apresentados por Fernandes, Balestro e Motta (2004) demonstram que o Brasil possui o maior mercado na Amrica Latina, apresentando crescimento anual mdio de 11% entre 1995 e 2002, o que representa crescimento cinco vezes maior que a expanso do PIB no perodo. Os autores atestam que esse o segmento que mais cresce dentro da indstria brasileira de TI (hardware, servios e software) e que os servios so os responsveis pela maior parcela das comercializaes no mercado de software brasileiro (Fernandes, Balestro & Motta, 2004, p. 10).
Trata-se, ainda, do setor que apresenta as melhores perspectivas para as empresas nacionais em
funo das vantagens obtidas a partir do conhecimento das caractersticas especficas do Pas, da maior proximidade com o cliente tendo em vista que, no caso das empresas estrangeiras, os softwares podem ser desenvolvidos no exterior e, ainda, do estabelecimento de relacionamentos de confiana com os clientes pautados na proximidade fsica entre desenvolvedor e consumidor, um elemento crtico para servios (Roselino, 1998). Assim, a utilizao das compras pblicas para a inovao em servios de software responde ao desafio de induzir inovaes em uma atividade com grande potencial para a ao das empresas brasileiras, o que constitui uma ao governamental estratgica capaz de impactar a competitividade das empresas nacionais em um mercado conhecidamente dominado por empresas estrangeiras.
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5 MTODO
Para cumprir o objetivo de investigar se os requisitos estabelecidos nas compras pblicas induzem inovaes nas empresas prestadoras de servios de software, foi realizado um estudo descritivo, de natureza qualitativa e corte transversal com a adoo de estudos de casos mltiplos. Foram analisados dez casos de empresas prestadoras de servios de software ao governo federal sediadas no Distrito Federal. Para a seleo dos casos, estabeleceu-se como critrio que as empresas apresentassem a prestao de servios de software enquanto atividade principal e, ainda, que tivessem o fornecimento de solues em servios de software para o governo federal como atividade principal.
Para a coleta de dados realizada, foram elaborados e aplicados dois instrumentos distintos. A elaborao dos instrumentos considerou as recomendaes de Flick (2004) e Richardson (2007). Iniciou-se a coleta com a elaborao de um roteiro de entrevista semi-estruturado, de carter exploratrio, contendo trs blocos temticos apresentados no Quadro 1. A realizao desta entrevista visou identificar aspectos operacionais intrnsecos prestao de servios de software e, particularmente, dinmica de ocorrncia da inovao nesses servios. Buscou-se identificar, operacionalmente, os aspectos da dinmica de prestao de servios e inovao impactados pela participao das empresas em fornecimentos a rgos governamentais. Esses temas-chave de investigao, de carter exploratrio, compuseram a base para identificao das variveis exploradas no segundo roteiro de entrevistas aplicado neste estudo, posteriormente desenvolvido.
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Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
Caracterizao do setor de softwares e de sua relao com o
governo
Caractersticas do setor de software no DF;
Mercado consumidor para os softwares;
Importncia do governo enquanto cliente;
Influncia de polticas pblicas / programas governamentais
sobre a produo e a comercializao.
Inovaes no desenvolvimento de softwares
Ocorrncia de inovaes no desenvolvimento de softwares;
Tipos de inovao mais comuns;
Reaproveitamento de inovaes em desenvolvimentos
futuros.
Inovaes e compras governamentais
Diferenas no desenvolvimento de softwares para clientes
governamentais e privados;
Restries reutilizao, com clientes privados, de
inovaes desenvolvidas para clientes governamentais.
Quadro 1 Blocos temticos do roteiro de entrevista exploratria com especialista do APL de
Software do Distrito Federal
Fonte: Elaborado pelos autores.
Realizou-se aplicao deste primeiro roteiro de entrevista com um profissional responsvel pela rea de Governana do APL de Software do Distrito Federal. A partir de sua aplicao, foram coletados dados sobre o processo de inovao nas empresas do setor, no qual so considerados os tipos de inovaes observados e seus momentos de ocorrncia. Aplicou-se a tcnica de anlise de contedo aos resultados obtidos com a realizao da entrevista, que permitiu identificar as variveis que, posteriormente, foram exploradas na elaborao do segundo instrumento utilizado para coleta de dados no presente estudo: um roteiro de entrevistas semiestruturado, composto por cinco blocos temticos, aplicado aos profissionais das empresas que compuseram os dez casos selecionados para anlise.
O segundo instrumento de coleta de dados consistiu em um roteiro de entrevistas semi-estruturado aplicado com profissionais de trs perfis nos casos selecionados: responsveis pela preparao e participao das empresas nos processos de concorrncia para fornecimento ao governo, profissionais com perfil tcnico responsveis pela prestao dos servios de software e profissionais responsveis pela gesto dos projetos a serem desenvolvidos. A partir da aplicao do segundo instrumento, buscou-se identificar o surgimento de inovaes em trs diferentes estgios do processo de prestao de servios de software ao governo federal: pr-venda, prestao do servio e ps-venda, conforme resultados obtidos a partir da anlise de contedo da primeira entrevista exploratria realizada.
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Prestao de servios de software ao governo federal
Principais contratos e processos de fornecimento ao
governo federal;
Investigao sobre polticas pblicas que favoream as
empresas em seus processos de fornecimento.
Inovaes anteriores prestao do servio
Tipos de inovaes observadas nas etapas anteriores
prestao do servio;
Requisitos que provocam a ocorrncia de inovaes;
Peculiaridades dos requisitos governamentais / privados.
Inovaes no desenvolvimento de softwares
Tipos de inovaes observadas na prestao do servio;
Investigao sobre a reutilizao das inovaes geradas na
prestao do servio em desenvolvimentos futuros.
Peculiaridades na prestao de servios de software ao
governo
Investigao das diferenas no processo de
desenvolvimento de softwares para clientes governamentais
e privados;
Investigao da intencionalidade de contratao de solues
inovadoras pelo governo;
Investigao sobre os requisitos e a reutilizao das
inovaes geradas no atendimento a clientes
governamentais em desenvolvimentos futuros.
Inovaes posteriores prestao do servio
Tipos de inovaes observadas nas etapas posteriores
prestao do servio;
Investigao sobre os efeitos da prestao de servios ao
governo sobre a obteno / manuteno de outros clientes.
Quadro 2 Blocos temticos para entrevistas com profissionais nos casos seleccionados
Fonte: Elaborado pelos autores.
A anlise dos dados coletados junto aos casos, que considera as informaes obtidas com as aplicaes do segundo instrumento de coleta de dados junto aos casos selecionados, foi realizada a partir de codificao temtica com construo de categorias para a anlise dos casos (Flick, 2004). As categorias de anlise foram construdas a partir da literatura e, tambm, a partir dos relatos colhidos. No Quadro 03, as categorias de anlise construdas so apresentadas e descritas constitutiva e operacionalmente.
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Categoria Definio constitutiva Definio operacional
1. Momento de
ocorrncia da
inovao
Refere-se identificao do
momento em que ocorrem as
inovaes relatadas considerando
os trs momentos propostos neste
estudo: pr-venda, prestao do
servio e ps-venda.
A identificao do momento de
ocorrncia das inovaes se d com a
investigao de suas caractersticas e
dos requisitos que as provocaram.
2. Tipos de
inovao na pr
venda
Refere-se s inovaes
introduzidas pelas empresas antes
do processo de prestao do
servio de software ao governo
federal, ressalvando que s foram
consideradas inovaes aquelas
efetivamente reconhecidas pelo
cliente, no caso, o governo.
A investigao da presena de
inovaes nesta etapa foi
operacionalizada a partir da
confirmao / negao de trs exemplos
de inovaes comuns a esta etapa
(obteno de certificaes de qualidade;
capacitao de profissionais;
desenvolvimento de solues
inovadoras a ttulo de capacidade
tcnica), seguida de questionamento
sobre inovaes adicionais. Os tipos de
inovao encontrados so analisados de
acordo com os modelos propostos por
Gallouj (2002).
3. Requisitos que
induzem
inovaes na pr
venda
Referem-se aos requisitos do
cliente que induzem a gerao de
inovaes no momento anterior
prestao do servio, seguindo a
proposta apresentada com o
Chain-Linked-Model por Moreira
e Vargas (2009).
Esta categoria operacionalizada com a
investigao da natureza dos requisitos
estabelecidos pelos clientes para a
prestao do servio e das
peculiaridades dos requisitos de clientes
governamentais.
4. Tipos de
inovao na
prestao do
servio
Refere-se aos tipos de inovao
observados no momento da
prestao do servio de software
ao governo federal.
A investigao da presena de
inovaes nesta etapa foi
operacionalizada a partir da
confirmao / negao de trs exemplos
de inovaes comuns a esta etapa
(desenvolvimento de novas solues
tcnicas; mudanas / adequaes nos
processos de desenvolvimento;
incorporao de novas linguagens ou
recursos tcnicos), seguida de
questionamento sobre inovaes
adicionais. Os tipos de inovao
encontrados so analisados de acordo
com os modelos propostos por Gallouj
(2002).
5. Requisitos que
induzem
inovaes na
prestao do
servio
Referem-se aos requisitos do
cliente que induzem a gerao de
inovaes no momento da
prestao do servio, seguindo a
proposta apresentada com o
Chain-Linked-Model por Moreira
Esta categoria operacionalizada com a
investigao da natureza dos requisitos
estabelecidos pelos clientes no
momento da prestao do servio e de
sua relao com o surgimento de
inovaes j no processo de
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Marina Figueiredo Moreira & Eduardo Raupp de Vargas
e Vargas (2009). atendimento ao cliente.
6. Caractersticas
da prestao do
servio ao governo
Tem por objetivo identificar
peculiaridades no processo de
atendimento a um cliente
governamental para auxiliar na
compreenso do surgimento de
inovaes.
As peculiaridades so identificadas a
partir da investigao sobre aspectos
envolvidos no atendimento a cliente
(demandas tcnicas geradas,
desenvolvimento de novos produtos ou
servios, adoo de novas tecnologias,
reutilizao das inovaes geradas e
caractersticas processo produtivo).
7. Tipos de
inovao na ps
venda
Refere-se aos tipos de inovao
observados aps a prestao do
servio de software ao governo
federal.
A investigao da presena de
inovaes nesta etapa foi
operacionalizada a partir da
confirmao / negao de quatro
exemplos de inovaes comuns a esta
etapa (solues tcnicas inovadoras;
novos padres de qualidade; alteraes
na estrutura e prticas organizacionais;
mudanas nos processos de
desenvolvimento de softwares), seguida
de questionamento sobre inovaes
adicionais. Os tipos de inovao
encontrados so analisados de acordo
com os modelos propostos por Gallouj
(2002).
Refere-se aos efeitos gerados em
funo do atendimento a clientes
governamentais sobre as demais
atividades das empresas. Tem por
objetivo investigar a efetividade
da influncia do atendimento ao
governo sobre a obteno /
manuteno de contratos com
outros clientes.
8. Impacto do
fornecimento ao
governo
A operacionalizao desta categoria se
d com a investigao da contribuio
do desenvolvimento de solues
inovadoras para um cliente
governamental para a obteno de
novos clientes e, ainda, com a
investigao da interferncia entre o ato
de fornecer ao governo e a relao da
empresa com clientes privados.
Quadro 3 Categorias temticas e suas definies constitutivas e operacionais
Fonte: Elaborado pelos autores.
6 RESULTADOS DOS CASOS
Os resultados obtidos a partir dos casos considerados no presente estudo apontam que o fornecimento a clientes governamentais no , em geral, objeto de nenhuma poltica pblica com finalidade mais ampla que apenas o fornecimento de bens e servios necessrios ao funcionamento da administrao pblica. Entretanto, para a adequao aos requisitos estabelecidos em processos de compras pblicas, as empresas fornecedoras vem-se compelidas a realizar alteraes em suas prticas, produtos e estruturas organizacionais, o que pode culminar com o surgimento de inovaes.
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Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
Na fase anterior contratao, destacam-se as inovaes realizadas com o objetivo de qualificar e preparar as empresas para a obteno do contrato e, sequencialmente, para a prestao do servio contratado. Considerando a tipologia proposta por Gallouj (2002), so relatadas majoritariamente inovaes referentes aquisio / melhoria de capacitaes para os funcionrios caso de inovaes ameliorativas e incrementais; inovaes decorrentes dos esforos para obteno de certificaes de qualidade consideradas inovaes de formalizao; inovaes geradas pelo desenvolvimento de novas solues tcnicas ou incremento de funcionalidades para aprovao em provas de conceitos assumidas como inovaes radicais ou ameliorativas nos softwares desenvolvidos. Os resultados mostram que a exigncia de adequao a novas tendncias tecnolgicas (plataformas de desenvolvimento, linguagem de programao ou sistema operacional) corresponde ao principal requisito capaz de provocar inovaes nas empresas na fase anterior contratao.
Adicionalmente, aponta-se que no h unanimidade em relao s diferenas entre os requisitos para fornecimento estabelecidos por clientes governamentais e privados, mas alega-se que o cliente privado age com mais flexibilidade em sua contratao. Os clientes governamentais, por sua vez, demandam parcerias com fornecedores tradicionais do mercado, enquanto o cliente privado mais aberto a mudanas.
Por dependerem de parmetros burocrticos, aponta-se que as compras de rgos governamentais so mais lentas e exigem que os requisitos sejam especificados com maior preciso, o que impossibilita reavaliaes das necessidades de compra durante o processo de contratao. Resume-se que a contratao no governo volta-se ao atendimento aos requisitos burocrticos e processuais, enquanto na iniciativa privada os requisitos se voltam a funcionamento e competitividade do produto. Por fim, aponta-se que o nvel de exigncia governamental quanto qualidade do produto menor.
Na etapa posterior contratao, na qual tem espao o desenvolvimento do software contratado e a prestao de todos os servios agregados, aponta-se que as demandas por novas funcionalidades inicialmente no previstas correspondem ao principal requisito capaz de provocar inovaes durante a prestao do servio. Durante a etapa de atendimento ao cliente, a principal inovao relatada nos casos se refere incorporao de funcionalidades j desenvolvidas a um software a partir de reutilizao de mdulos considerada uma inovao recombinativa.
So relatadas, ainda, inovaes referentes criao de solues inovadoras com caractersticas originais casos de inovaes radicais; inovaes resultantes da incorporao de novas linguagens / recursos tcnicos consideradas inovaes incrementais; inovaes referentes adequao e criao de processos de desenvolvimento consideradas inovaes de formalizao; inovaes resultantes do
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Marina Figueiredo Moreira & Eduardo Raupp de Vargas
desenvolvimento de funcionalidades adicionais a um software j existente casos de inovaes incrementais; inovaes na adequao e criao de processos de desenvolvimento inovaes de formalizao; e, por fim, inovaes resultantes de melhorias nas funcionalidades de um software e evolues dos softwares / linguagens utilizados na programao inovaes ameliorativas.
Em relao s peculiaridades na prestao de servios de software a clientes governamentais, aponta-se que a adequao aos requisitos para fornecimento estabelecidos por esses clientes mais dispendiosa, mas ainda assim considerada vantajosa pelas empresas, tendo em vista que os contratos governamentais so mais longos, possuem volumes maiores e preos mais elevados. A prestao de servios para o cliente governamental marcada por parmetros burocrticos e atendimento a condies processuais diferenciadas, o que restringe o surgimento de solues inovadoras e, principalmente, sua reutilizao com clientes no governamentais.
Nos clientes governamentais, o nvel de exigncia do servio considerado inferior, a gesto do processo de acompanhamento menos eficiente e os projetos so menos flexveis, pois no podem sofrer alteraes em seu escopo. Aponta-se que esses clientes requisitam mais do que o previsto inicialmente nos contratos em funo da inadequao do planejamento em seus dos processos de compras. Os resultados apontam no reconhecimento de intencionalidade de contratao de solues inovadoras por clientes governamentais.
Relata-se que o desenvolvimento de softwares para clientes governamentais requer o desenvolvimento de novos produtos ou servios, alm da aquisio de tecnologias de suporte, o que aponta o surgimento de inovaes adicionais. O aproveitamento das solues inovadoras desenvolvidas para clientes governamentais junto a clientes privados mostra-se limitado, pois em muitos casos refletem caractersticas intrnsecas aos processos de compras pblicas que no se estendem iniciativa privada (como atendimento a normas burocrticas que no se confirmem na iniciativa privada, por exemplo).
Ao considerar as inovaes na etapa ps-venda, analisa-se a incorporao das inovaes desenvolvidas durante as etapas de pr-venda e atendimento ao cliente estrutura produtiva das empresas e s suas prticas organizacionais. Os resultados apontam a manuteno dessas inovaes. Nesta etapa, relatada a incorporao de solues tcnicas inovadoras que gerem aumento na capacidade produtiva das empresas um caso de inovao ameliorativa. So relatadas, ainda, inovaes decorrentes da incorporao de novos padres de qualidade inicialmente requisitados por um cliente inovaes de formalizao; e incorporao de novos processos e mtodos produtivos inovaes incrementais.
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Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
Por fim, o atendimento a clientes governamentais apontado como fator capaz de contribuir positiva ou negativamente para a obteno de novos clientes, tendo em vista que pode ser reconhecido como selo de qualidade ou como especializao em atendimento a padres inferiores de qualidade, o que provocaria rejeio no mercado privado.
Resume-se, por fim, que os resultados apontam surgimento de inovaes no atendimento a clientes governamentais independente da intencionalidade quanto sua induo. As inovaes relatadas se desenvolvem em atendimento aos requisitos dos clientes governamentais, sendo delimitadas por parmetros burocrticos que nem sempre so reconhecidos positivamente pelo mercado. As solues inovadoras desenvolvidas para esses clientes se mostram, portanto, mais voltadas s necessidades de cumprimento de etapas e processos burocrticos que obteno de maior benefcio econmico, o que restringe sua difuso no mercado. Os resultados apontam, tambm, que uma poltica pblica voltada ao fomento inovao deve passar pela criao de processos de compras com requisitos voltados ao desenvolvimento de solues inovadoras, mas deve ser resultado principalmente de discusses sobre a qualidade dos requisitos estabelecidos. premente que os requisitos para fornecimento governamental sejam efetivos na induo de inovaes que possam ser difundidas na economia.
7 ANLISE DO PAPEL DOS REQUISITOS DAS COMPRAS GOVERNAMENTAIS NA INDUO DE INOVAES LUZ DO CHAIN-LINKED MODEL
Ao considerar os resultados obtidos nos casos selecionados e, ainda, o objetivo inicial definido para este estudo, que consiste em identificar se os requisitos estabelecidos nas compras pblicas induzem inovaes nas empresas prestadoras de servios de software, cabe realizar uma anlise em relao ao papel dos requisitos estabelecidos por clientes governamentais em suas compras pblicas e sua efetividade na induo de inovaes. Para tanto, parte-se da premissa do processo de induo de inovaes apresentado no Chain-Linked Model.
As evidncias relatadas nas anlises dos casos apontam ausncia de polticas pblicas para o direcionamento - de qualquer natureza, voltando-se ou no ao incentivo inovao - dos processos de contratao estabelecidos nos casos considerados. Mesmo com a ausncia de polticas formais voltadas contratao de fornecedores, so identificadas inovaes nos processos de prestao de servios. A anlise aponta, ainda, no intencionalidade dos clientes governamentais quanto induo de inovaes nos processos contratados. Reitera-se, no entanto, a ocorrncia de inovaes independentemente da
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Marina Figueiredo Moreira & Eduardo Raupp de Vargas
adoo de polticas formais para seu estmulo ou da percepo de intencionalidade por parte dos fornecedores para sua induo.
A investigao dos requisitos estabelecidos pelos clientes que provocam o surgimento de inovaes nas empresas na fase anterior prestao do servio no revela unanimidade entre os casos. A ausncia de polticas formais voltadas ao estmulo inovao nos processos de contratao justifica a disparidade entre os requisitos apontados, tendo em vista que no respondem a diretrizes formalmente adotadas pelos clientes pblicos, mas a situaes episdicas percebidas pelos fornecedores.
Ao considerar a investigao dos requisitos estabelecidos nos processos de fornecimento que induzem a ocorrncia de inovaes j na etapa de prestao dos servios, confirma-se, assim como na etapa anterior, a ausncia de unanimidade entre os casos. Entende-se que a ausncia de polticas formais para o estmulo inovao no desenvolvimento dos softwares contratados no impede a ocorrncia de inovaes, mas contribui para a disparidade na percepo dos requisitos que a induzem por parte dos fornecedores. Aponta-se, assim, que as inovaes que ocorrem nesta etapa so induzidas por diferentes requisitos estabelecidos pelos clientes governamentais de forma no parametrizada por uma diretriz poltica formal.
Ainda em relao aos requisitos estabelecidos por clientes para fornecimento e seu impacto na induo de inovaes, a anlise aponta peculiaridades nos requisitos de clientes governamentais (a exemplo da necessidade de priorizar a compatibilidade dos novos softwares com sistemas operacionais de verses j ultrapassadas e no mais vigentes no mercado, mas ainda adotadas pelos clientes governamentais), alm de diferenas na colaborao, no acompanhamento e em sua participao na prestao de servios.
Aponta-se, assim, que embora clientes governamentais e privados possam estabelecer requisitos semelhantes para o desenvolvimento de um software, as exigncias burocrticas para o fornecimento a um cliente governamental impactam no resultado final nas inovaes induzidas. Relata-se que as inovaes efetivamente desenvolvidas para clientes governamentais podem no ser inteiramente reaproveitadas no atendimento futuro a clientes privados em funo de seu direcionamento ao atendimento de especificidades burocrticas.
Nas etapas posteriores prestao do servio, a anlise aponta manuteno e incorporao das inovaes desenvolvidas nas etapas de pr-venda e de desenvolvimento estrutura produtiva das empresas, o que aponta seu reconhecimento pelo mercado e confirma a condio de inovaes. Reconhece-se a existncia de relao entre os requisitos para fornecimento estabelecidos pelos clientes governamentais e a induo de inovaes, o que confirma a premissa apontada pelo Chain-Linked-
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Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
Model quanto ao estabelecimento de demandas do mercado no caso, o governo para o desenvolvimento de inovaes.
A anlise aponta, ainda, que h diferenas nas inovaes induzidas por clientes governamentais e privados mesmo nos casos em que os requisitos estabelecidos para fornecimentos so semelhantes. Essa diferena seria provocada pelas peculiaridades no processo de desenvolvimento para clientes governamentais em atendimento aos parmetros burocrticos, o que tambm pode ser compreendido luz do Chain-Linked-Model se considerarmos a segunda trajetria prevista no modelo (marcada por feedbacks entre etapas), que leva a alteraes em relao ao design inicial previsto para um software.
Este processo seria uma parte da cooperao entre a especificao do produto, o desenvolvimento e os processos produtivos para atender a uma demanda do cliente, conforme previsto por Kline e Rosenberg (1986, p. 289), o que se confirma nas demandas por alteraes nos processos de desenvolvimento para atendimento s especificidades de clientes governamentais. Estes resultados indicariam, assim, adequao da leitura proposta por Moreira e Vargas (2009) para a induo de inovaes a partir das compras governamentais luz do Chain-Linked Model.
8 CONCLUSES
Considerando a opo poltica de utilizao das compras pblicas enquanto instrumentos para a inovao, uma alternativa que comea a ganhar espao na Europa e no Brasil, este estudo se props a investigar a real efetividade da induo de inovaes em empresas prestadoras de servios de software a clientes governamentais. Para tal, foi analisado o papel dos requisitos estabelecidos nas compras pblicas em relao induo de inovaes nas empresas. Os resultados obtidos nos casos apontam que o fornecimento a clientes governamentais no , em geral, objeto de nenhuma poltica pblica para o direcionamento (de qualquer natureza, voltando-se ou no ao incentivo inovao) dos processos de contratao estabelecidos. Aponta-se, ainda, no intencionalidade dos clientes governamentais na induo de inovaes nos processos contratados. Verifica-se, ainda assim, ocorrncia de inovaes independentemente da adoo de polticas formais para seu estmulo ou da percepo de intencionalidade por parte dos clientes para sua induo. Essas inovaes so identificadas em trs momentos: pr-venda, prestao do servio e ps-venda.
A anlise dos requisitos para fornecimento de clientes governamentais e de seu papel na induo de inovaes nas empresas fornecedoras traz o entendimento de que a ausncia de polticas formais para o estmulo inovao no desenvolvimento dos softwares contratados no impede a
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Marina Figueiredo Moreira & Eduardo Raupp de Vargas
ocorrncia de inovaes, mas contribui para a disparidade na percepo dos requisitos que a induzem por parte dos fornecedores. Mostra-se que as inovaes so induzidas por diferentes requisitos estabelecidos por clientes governamentais de forma no parametrizada por diretrizes polticas formais.
So apontadas peculiaridades nos requisitos estabelecidos por clientes governamentais, alm de diferenas na colaborao, no acompanhamento e em sua participao na prestao de servios. Embora clientes governamentais e privados possam estabelecer requisitos semelhantes para o desenvolvimento de um software, as exigncias burocrticas para o fornecimento a um cliente governamental impactam o resultado final nas inovaes induzidas. Aponta-se que as inovaes efetivamente desenvolvidas para clientes governamentais podem no ser inteiramente reaproveitadas no atendimento futuro a clientes privados em funo de seu direcionamento ao atendimento de especificidades burocrticas.
O estudo indica a existncia de relao entre os requisitos para fornecimento estabelecidos pelos clientes governamentais e a induo de inovaes, o que confirma a premissa apontada pelo Chain-Linked-Model quanto ao estabelecimento de demandas do mercado no caso, o governo para o desenvolvimento de inovaes. As diferenas nas inovaes induzidas por clientes governamentais e privados seriam provocadas pelas peculiaridades no processo de desenvolvimento em atendimento a parmetros burocrticos, o que tambm pode ser compreendido luz do Chain-Linked-Model se considerarmos a segunda trajetria prevista no modelo (marcada por feedbacks entre etapas), que leva a alteraes em relao ao design inicial previsto para um software.
A partir do presente estudo, entende-se que a discusso em relao s polticas pblicas a serem adotadas no estmulo inovao deve considerar, prioritariamente, a necessidade de estabelecimento de uma diretriz poltica formal nos rgos governamentais, o que pode gerar impacto nas inovaes desenvolvidas nos processos de fornecimento ao governo e, adicionalmente, gerar condies para o desenvolvimento de outras inovaes.
Entre as contribuies a serem desenvolvidas por estudos futuros, insere-se a investigao da induo de inovaes por clientes governamentais luz de outros modelos tericos, a exemplo da abordagem sistmica, que pode trazer contribuies aos estudos da inovao em servios em uma perspectiva mais ampla que o foco adotado para a anlise da relao entre os requisitos dos clientes e a induo de inovaes, opo deste estudo. O estudo abre espao, ainda, para estudos que adotem o desafio de propor medidas que permitam induzir, nas empresas fornecedoras, inovaes que no se restrinjam ao atendimento a clientes governamentais, mas que possam trazer efetivo ganho de produtividade para as empresas fornecedoras no atendimento ao mercado de forma ampla, reduzindo a
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Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
barreira apontada no estudo para o aproveitamento das inovaes desenvolvidas para clientes governamentais em futuros atendimentos a clientes privados.
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Quando o Governo o Mercado: Compras Governamentais e Inovao em Servios de Software
WHEN THE GOVERNMENT IS THE MARKET: GOVERNMENT PROCUREMENT AND INNOVATION IN SOFTWARE SERVICES
ABSTRACT
This paper aims to investigate the effectiveness of the use of public procurement as an alternative for
inducting innovations in software services supplying companies. It analyzes the purchase requirements
of governmental clients and its impacts in inducting innovations. This paper studies multiple cases with
ten analysis units, conducted using semi-structured interviews with professionals in the companies.
Innovations are identified in three steps: pre-sale, service providing, and post-sale. The results show that
the provision of services to governmental clients is defined by bureaucratic parameters and by the
attendance to different process conditions, which restrict the emergence of innovative solutions and,
especially, its reuse with non-governmental clients. The study confirms the induction of innovations by
governmental clients. Even though this induction is not intentional, it meets the main trajectory
presented in the Chain-Linked Model.
Keywords: Innovation in services, Software services; Public purchasing, Induction to innovations.
__________________
Data do recebimento do artigo: 25/04/2011
Data do aceite de publicao: 09/09/2011
Revista de Administrao e Inovao, So Paulo, v. 9, n. 2, p.173-196, abr./jun. 2012 196
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2012
Abstract
This paper aims to investigate the effectiveness of the use of public procurement as an alternative for inducting innovations in software services supplying companies. It analyzes the purchase requirements of governmental clients and its impacts in inducting innovations. This paper studies multiple cases with ten analysis units, conducted using semi-structured interviews with professionals in the companies. Innovations are identified in three steps: pre-sale, service providing, and post-sale. The results show that the provision of services to governmental clients is defined by bureaucratic parameters and by the attendance to different process conditions, which restrict the emergence of innovative solutions and, especially, its reuse with non-governmental clients. The study confirms the induction of innovations by governmental clients. Even though this induction is not intentional, it meets the main trajectory presented in the Chain-Linked Model. [PUBLICATION ABSTRACT]
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