RESUMO
Este artigo analisa, a partir de pesquisa original e dos estudos já realizados, as greves e revoltas ocorridas em Sao Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e outras cidades do Brasil em 1917 e suas reivindicaçöes, a participaçao dos trabalhadores e dos militantes anarquistas e socialistas nesses eventos, e a circulaçao das ideias políticas no período, em especial os primeiros impactos no país das revoluçöes ocorridas na Russia naquele ano, e como essas novas ideias revolucionárias começaram a transformar os grupos políticos e as organizares dos trabalhadores. As greves daquele ano tiveram um papel basilar para o desenvolvimento posterior do movimento operário e das lutas trabalhistas no Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: greve, 1917, movimento operário, anarquismo, Revoluçao Russa, comunismo.
ABSTRACT
Based on an original research and on existing studies, this article analyzes the strikes and revolts that took place in Sao Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre and other cities of Brazil in 1917 and their demands, the participation of workers, anarchist and socialist militants in these events, and the circulation of political ideas in the period, specially the first impacts in Brazil of the revolutions that occurred in Russia that year and how these new revolutionary ideas began to transform political groups and workers' organizations. The strikes held in that year were of fundamental importance for the later development of the labor movement and the labor struggles in Brazil.
KEYWORDS: strike, 1917, labor movement, anarchism, Russian Revolution, communism.
RESUMEN
En este artículo se analiza, desde una investigación original y estudios previos, huelgas y revueltas en Sao Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre y otras ciudades de Brasil en 1917 y sus reivindicaciones, la participación de los trabajadores y militantes anarquistas y socialistas en estos eventos y la circulación de las ideas políticas en el período, sobre todo los primeros impactos en el país de las revoluciones que se produjeron en Rusia ese año y cómo estas nuevas ideas revolucionarias comenzaron a transformar los grupos políticos y las organizaciones de trabajadores. Las huelgas de 1917 tuvieron un papel fundamental en el desarrollo de las luchas de los trabajadores e del movimiento obrero en Brasil.
PALABRAS CLAVE: huelga, 1917, movimiento obrero, anarquismo, Revolución Rusa, comunismo.
INTRODUÇÂO
Em julho de 1917, uma greve de enormes proporçöes, envolvendo cerca de 100 mil trabajadores, homens, mulheres e crianças, paralisou Sao Paulo e, com a violencia policial e o agravamento continuo da situaçao dos operarios, transformou a cidade em palco de uma verdadeira revolta urbana, a açao mais espetacular do movimento operario brasileiro até entao (Biondi, 2011; Lopreato, 2000).
A greve teve inicio no bairro da Mooca, na zona leste de Sao Paulo, área de concentraçao de industrias e de trabalhadores, no Cotonificio Crespi, no dia 8 de junho de 1917. Na fábrica Crespi, cerca de 400 operarios iniciaram o movimento reivindicando um aumento salarial de 15 a 20% e protestando contra a extensao do horario de trabalho noturno, imposto pela fábrica para atender ao aumento da produçao e ocasionado também pela desestabilizaçao da economia mundial causada pela guerra.1
A paralisaçao foi decidida pelos operarios da fábrica, reunidos na Liga Operária da Mooca. A fábrica ameaçou demitir todos os trabalhadores se nao voltassem ao trabalho, mas o movimento continuou e, a partir dessa primeira fábrica, foi se ampliando dia a dia e tomou enormes proporçöes nas semanas que se seguiram, atingindo seu auge no mes de julho.
Á greve geral de Sao Paulo seguiram-se varias outras em diversas partes do país. Verdadeiras multidöes sairam as ruas para protestar e reivindicar. Manifestaçöes quase diarias ocorreram em varias cidades contra o alto custo de vida, o trabalho de crianças, os baixos salarios e tantos outros problemas que afligiam os trabalhadores no Brasil. Elas foram organizadas pelos próprios trabalhadores e contaram com a participaçao de lideranças sindicalistas, anarquistas, socialistas e de outros grupos descontentes com a situaçao do país. As greves de algumas categorias e cidades certamente encorajavam outras a fazer também seu movimento, e a grande imprensa de varias cidades revelou claramente seu temor quanto a isso.
Essas greves e manifestaçöes foram parte dos tantos movimentos de trabalhadores ocorridos ao redor do mundo naquele ano. Os últimos anos da Primeira Guerra Mundial e os primeiros do pós-guerra, em especial o ano de 1917, foram marcados por um ciclo de agitaçao social global (Pereira, 2014). Em todos os países atingidos pela desestabilizaçao da economia, houve protestos contra a carestía e uma onda de greves envolvendo grande número de trabalhadores. Em muitos casos, o epicentro dos movimentos foram as áreas industriais das cidades.
Em várias partes do mundo, houve uma percepçao coletiva da oportunidade de melhorar as condiçöes de vida e de trabalho na crescente intervençao do Estado nas áreas económica e social, na apropriaçâo de formas de organizaçao como associaçöes de bairro e redes informais familiares e comunitárias na mobilizaçao dos trabalhadores e da populaçao e em mediaçöes entre diferentes repertorios de açao coletiva, como as lutas em torno da produçao e do consumo (Pereira, 2014). Golden (1985) afirma que há uma relaçao simbiótica entre a luta da classe trabalhadora moderna e os laços de solidariedade construidos nas comunidades locais, argumentando que os sindicatos, compartilhando o mesmo espaço com outras organizaçöes de bairro, tenderam a tornar-se instituiçöes comunitárias.
Alguns autores dáo ěnfase em seus estudos a açao da comunidade urbana, compreendida em termos espaciais, e a criaçao de fortes laços comunitários nos bairros. É o caso de Roger Gould (1995) em sua análise da Comuna de Paris de 1871, na qual considera que a solidariedade de vizinhança e de residencia foi fundamental para a organizaçao da açao revolucionária, que, na sua leitura, foi baseada em redes sociais e formas de organizaçao preexistentes, num contexto especifico de uma comunidade urbana sitiada. Segundo Gould, foi o fato de as reformas urbanas terem dispersado os trabalhadores, afastando-os do centro e empurrando-os para os novos bairros periféricos, que levou a uma estruturaçao social baseada mais no local de residencia do que na ocupaçao, ao contrário de 1848, quando a classe teria desempenhado papel central.
Gould defende assim a ideia de que as identidades coletivas variam de acordo com as circunstancias políticas e que o tratamento reducionista das redes na pesquisa dos movimentos sociais pode obscurecer aspectos importantes de seus efeitos sobre a mobilizaçao. A mobilizaçao da Comuna, para ele, foi simultaneamente afetada por mais de uma rede, nao só aquelas criadas por organizaçöes formais, mas também as informais, de vizinhança, enraizadas em laços sociais entre vizinhos, havendo uma interaçao, portanto, entre múltiplas redes. Autores como Gould apontam, portanto, para como as comunidades foram atores coletivos importantes em muitos eventos.
Ao analisar o cotidiano dos trabalhadores de Buenos Aires, Norberto Ferreras (2006) destaca que a exploraçao nao estava restrita ao ámbito do trabalho, mas se intensificava em outras situaçöes impossiveis de evitar, a alimentaçao e a habitaçao, que foram vivenciadas como parte de uma identidade comum dos trabalhadores. A percepçao dessas experiencias comuns relativas a moradia e aos alimentos foi fator de uniao importante entre os trabalhadores nas greves de 1917 no Brasil, e entre as reivindicaçöes estavam justamente a diminuiçâo do preço dos alimentos e dos aluguéis.
Joana Dias Pereira (2014) argumenta também que as "revoltas da tome" e as greves foram parte de um mesmo processo de mobilizaçâo e que sua articulaçao toi realizada pela ala mais radical do movimento sindical. A autora destaca ainda a relevancia do papel das mulheres nesses movimentos, na gestäo das redes de reciprocidade, familiares e de vizinhança. Nas greves ocorridas no Brasil, as mulheres também tiveram participaçao importante como trabalhadoras, militantes, mäes, esposas e moradoras dos bairros populares.
Essas revoltas populares estiveram na origem de um novo ciclo de lutas trabalhistas. As populaçöes pressionaram o Estado com o objetivo de impor uma economia moral. "A economia de guerra serviu para enfatizar as contradiçöes fundamentais do sistema capitalista e da economia de mercado", observa Pereira. Emília Viotti da Costa (1998), em seu livro sobre a rebeliäo de escravos em Demerara em 1823, argumenta que "crises säo momentos de verdade" porque evidenciam os conflitos que o cotidiano oculta, expondo as contradiçöes.
Empregando o conceito de economia moral em oposiçâo a economia de mercado, Thompson (1998) argumenta que a multidäo algumas vezes conseguiu impor ao mercado um controle. Para ele essa economia moral se renova como crítica anticapitalista e como movimento de resistencia. Argumenta também que näo há uma relaçâo direta fome-protesto. A fome no passado e no presente nem sempre levou a revoltas. A revolta é a resposta de um grupo, comunidade ou classe a uma crise. Mas näo é a única nem a mais óbvia forma de açäo coletiva. As greves e revoltas como as ocorridas no Brasil em 1917 foram uma resposta racional de grupos que se sentiram com algum poder para melhorar suas condiçöes, ou mesmo para tomar os alimentos, como demonstram os saques ocorridos durante as greves. Para Thompson, a revolta näo é uma resposta óbvia ou natural, mas um padräo sofisticado de comportamento coletivo, no qual os trabalhadores elaboram uma noçäo de justiça e uma teoria do direito a subsistencia. O conflito sobre o direito de acesso aos alimentos, uma das dimensöes importantes das greves de 1917, pode ser visto como um fórum de luta de classes.
No processo de luta se intensificou a formaçäo de uma identidade nas comunidades, em opos^äo a proprietários, empregadores e comerciantes (Pereira, 2014). Nesse processo, os trabalhadores väo deixando de ver o Estado somente como um inimigo ou como fonte de opressäo e passam a ve-lo como um instrumento importante para a ob^äo ou consolidaçäo de conquistas, o que tem consequencias importantes na reorgan^äo posterior do movimento operário.
ALGUNS ASPECTOS DAS GREVES EM SAO PAULO, RIO DE JANEIRO, PORTO ALEGRE E RECIFE
O Brasil e os outros países latino-americanos, apesar de distantes do palco da guerra, foram atingidos de diversos modos pelo conflito. Milhares de trabalhadores emigrados foram atingidos diretamente ao serem convocados a retornar a seus países como soldados (Toledo e Biondi, 2014). Além disso, a guerra elevou nesses países, exportadores de produtos agrícolas, os preços dos alimentos, o que afetava gravemente os trabalhadores, cujos salarios nao eram aumentados proporcionalmente, agravando sua situaçao de miséria. Em varios desses países, os empregadores também ampliavam as jornadas de trabalho, num contexto de intensificaęao da produçao industrial.
Em junho de 1917, o recém-fundado jornal libertario A Plebe considerava que a propaganda feita em comícios e boletins estava produzindo bom efeito e esperava que os trabalhadores, "sujeitos agora, como nunca, a uma situaçao verdadeiramente intolerável", sentissem necessidade de agir. O jornal destacava a importancia das reuniöes que vinham sendo feitas em varios bairros operarios para a formaçao de ligas e acrescentava: "Oxalá, pois, que o movimento promissor, agora em início, ganhe o devido vulto tao rapidamente quanto a gravíssima situaçao o exige",2 quase prevendo o que estava por vir.
A greve em Sao Paulo teve início, como vimos, na fabrica de tecidos de Rodolfo Crespi. Seus trabalhadores ja trabalhavam 13 horas diarias, mas com o aumento da produçao estavam sendo obrigados a trabalhar até as 23h ou até a meia-noite. Recusando-se a aceitar esse prolongamento da ja longa jornada, centenas de trabalhadores decidiram pela paralisaçao do trabalho.3 Eles nao imaginavam que estariam dando início ao período de maior agitaçao do movimento operario até entao, período que, segundo muitos historiadores, se iniciou naquele junho de 1917 e só terminou no início dos anos 1920, em meio a um amplo processo de organizaçao dos trabalhadores (Biondi, 2011).
O conjunto do Cotonifício Crespi, na Mooca, tinha sido construído em 1897 e ocupava um quarteirao inteiro (Kuhl, 2008). A fabrica, cujo proprietario era o italiano Rodolfo Crespi, em 1912 empregava 1.305 operarios, sendo 947 italianos. Destes, somente 234 eram homens; 223 eram mulheres maiores de 22 anos, 225 menores de 22 anos, e 243 eram crianças.4
A greve no Cotonifício Crespi inicialmente parecía ser um movimento isolado, como outros que tinham ocorrido em anos anteriores. O movimento, porém, tinha uma comissao de grevistas que vinha se reunindo na Liga Operaria da Mooca, uma estrutura com centenas de integrantes que estava se enraizando naquele território operario. A Liga foi se tornando um ponto de referencia para os trabalhadores e acabou funcionando como mediadora e coordenadora das negociaçöes entre a comissäo de grevistas e a direçâo da fábrica (Biondi, 2011). Nos dias seguintes, o movimento foi se expandindo e iniciaram-se greves de várias outras categorias. Em 30 de junho, os 1.600 operários da fábrica Ipiranga, do libanes Nami Jafet, também iniciaram uma greve. No dia 3 de julho, os socialistas do jornal Avanti! distribuiram 10 mil cópias de um manifesto convidando a populagao a se solidarizar com os grevistas (Biondi, 201 1: 352).5
O ponto máximo da agitaçâo foi atingido no enterro do sapateiro José Gimenez Martinez, um jovem militante anarquista espanhol, que tinha apenas 21 anos e fazia parte do grupo Jovens Incansáveis. Mais de 10 mil pessoas participaram do cortejo fúnebre, que seguiu por vários pontos da cidade até o cemitério do Aragá. O cortejo foi interrompido por vários comicios. José Gimenez Martinez foi apenas uma das vitimas dos protestos, que chegaram a cerca de 200, segundo a investigagao realizada pelo jornal FanfuUa no cemitério do Aragá nas noites de 15 e 16 de julho, quando a polícia fechou o cemitério para transportar os cadáveres.6
O dia em que houve o maior número de operários em greve, quase 44 mil, foi o da apresentagao pelo Comite de Defesa Proletária, em comicios públicos, dos acordos estipulados. A greve se tornou generalizada somente nos dias em que a vitória de uma parte dos operários atraiu outros trabalhadores de pequenas e médias fábricas para o movimento. É importante destacar que os organizadores que constituiram o Comite de Defesa Proletária eram familiares a populagao operária paulistana, o que explica a confianga depositada pelos trabalhadores na agao do Comite e nas liderangas que o compuseram (Biondi, 2011).
Edgard Leuenroth, um dos principais membros do Comite de Defesa Proletária, foi trabalhador gráfico e jornalista e um dos principais lideres anarquistas de Sao Paulo. O socialista italiano Teodoro Monicelli, também membro do Comite, foi um dos principais oradores dos comicios realizados durante a greve. Tinha vindo para o Brasil em 1913 e foi por vários anos diretor do Avanti! de Sao Paulo (Toledo, 2004).
Em meio a comicios, passeatas, a tomada do centro pelos trabalhadores e moradores dos bairros operários, e aos embates com a policía, foi se desenvolvendo a agao do Comite de Defesa Proletária, ao mesmo tempo em que o secretário de Justiga, Eloy Chaves, ia se reunido com os empresários mais importantes da cidade envolvidos na greve. Uma comissäo constituida por diretores de importantes jornais da grande imprensa funcionou como mediadora entre os empresários e o Comite. Entre o sábado 14 e a segunda-feira 16 de julho, vários empresários foram assinando um acordo que reconhecia o direito de reuniao, concedia aumento de 20% nos salários, garantia a libertagao dos presos e proibia a demissao dos operários grevistas.7
No dia 21 de julho, o jornal anarquista A Plebe noticiou o conjunto das reivindicaçöes sistematizadas pelo Comité de Defesa Proletaria, após consulta a todas as "entidades de que fazem parte, expondo as aspiraçöes näo só da massa operaria em greve como as aspiraçöes de toda a populaçâo angustiada pelas prementes necessidades, considerando a insuficiencia do Estado no providenciar de outra forma que näo seja pela repressäo violenta". Eram elas: a libertaçâo dos grevistas presos, o respeito "do modo mais absoluto" ao direito de associaçâo para os trabalhadores, nenhuma demissäo por participaçâo na greve, a aboliçâo do trabalho de menores de 14 anos, a proibiçâo do trabalho noturno para menores de 18 anos, a aboliçâo do trabalho noturno das mulheres, o aumento de 35% para os salarios inferiores a 5$000 e de 25% para os superiores, o pagamento pontual a cada 15 dias, a garantia de trabalho permanente aos operarios, a jornada de oito horas, a semana inglesa e o aumento de 50% em todo trabalho extraordinario, o imediato barateamento dos géneros de primeira necessidade, bloqueando a açâo de açambarcadores, a requisiçâo, quando necessario, dos alimentos para a alimentaçâo pública, medidas para impedir a adulteraçâo e falsificaçâo de produtos alimentares, e a reduçâo do preço dos aluguéis.8
Apesar de até o jornal anarquista Guerra Sociale ter afirmado em 26 de julho que o movimento era uma "greve ligada mais a fome do que ao trabalho",9 as reivindicaçöes eram, em sua maioria, essencialmente trabalhistas.
O Cúrrelo PauUstano e o Jornal do Comércio foram os periódicos paulistanos que mais atacaram o movimento grevista, fazendo uma intensa campanha contra os anarquistas especialmente, considerados culpados pelo movimento, e reivindicando uma açâo dura dos poderes públicos contra o que consideravam uma grave onda subversiva.
A greve se tornou o impulso para a formaçâo de uma estrutura sindical mais enraizada. O processo de reorganizaçâo sindical foi influenciado também pela açâo de coordenaçâo desenvolvida pelo Comité de Defesa Proletaria, pelas ligas da Mooca e do Belenzinho, pela participaçâo no Comité de socialistas italianos do Centro Socialista Internazionale e por toda uma rede de associaçöes políticas ou mutualistas italianas como os grupos republicanos, as lojas maçönicas e algumas sociedades italianas de socorro mútuo, que se solidarizaram com o movimento dos trabalhadores, apoiando-o também financeiramente (Biondi, 2011: 344).
Em 26 de agosto de 1917 foi refundada a Federaçâo Operaria de Säo Paulo, a FOSP A greve geral de 1917, e as outras inúmeras greves daquele ano, tiveram um papel basilar e fundador para o desenvolvimento posterior do movimento operario e das lutas trabalhistas em Säo Paulo.
No Rio de Janeiro, também em julho de 1917, uma multidäo invadiu moinhos, padarias e armazéns (Campos, 1988: 39). Uma mobilizaçâo intensa ja se tinha iniciado desde janeiro daquele ano, com comicios em praças públicas contra a carestía, e nesse contexto várias categorias foram constituindo seus sindicatos, como os téxteis, metalúrgicos, marceneiros, trabalhadores da construçao civil, entre outros.
No dia 18 de julho começaram a ser deflagradas várias greves envolvendo grande número de categorias, como os marceneiros, texteis, sapateiros, padeiros, metalúrgicos, entre tantos outros, configurando uma greve geral. Foi a Federaçao Operária do Rio de Janeiro, a FORJ, que organizou o programa de reivindicaçöes: salário mínimo e equiparagao dos salários de mulheres e homens (Campos, 1988). Também ali a repressao foi intensa. Embora nao tenha resultado em grandes conquistas para todas as categorias, as greves de julho foram muito importantes para a expansao e o fortalecimento das organizaçöes sindicais, de características bastante heterogéneas, que iam de um sindicalismo mais propriamente reformista ao sindicalismo revolucionário e ao anarquismo.
Em Porto Alegre, as greves ocorreram entre 31 de julho e 4 de agosto de 1917. No dia 25 de julho, a greve geral de Sao Paulo tinha sido discutida em reuniao da Uniao Operária Internacional (UOI), organizaçao que reunia operários ligados ao anarquismo. Antes ainda, desde o dia 21, a imprensa local vinha noticiando a preparaçao secreta da greve. No dia 29 de julho, um militante de Sao Paulo participou da reuniao da Federaçao Operária do Rio Grande do Sul (FORGS), o que revela a circulaçao de militantes e ideias e o desejo de estender as greves e manifestaçöes para o conjunto do país. Até entao a FORGS tinha se declarado estranha ao movimento que se estava preparando. Pedreiros e carpinteiros foram os primeiros a se declarar favoráveis a greve (Silva Jr., 1996).
Em reuniao na sede da FORGS, chamada sobretudo pela UOI, no dia 29, decidiu-se a criagao da Liga de Defesa Popular, que encaminhou as reivindicaçöes dos trabalhadores aos governos municipal e estadual. As reivindicaçöes eram: diminuiçao dos preços dos produtos de primeira necessidade, providencias para evitar o açambarcamento do agúcar, estabelecimento de um matadouro para fornecer carne a populaçao a preços razoáveis, criaçao de mercados livres nos bairros operários, obrigatoriedade da venda do pao a peso e fixaçao semanal do preço do quilo, reduçao dos aluguéis, reduçao do preço do transporte, aumento de 25% dos salários, jornada de oito horas e de seis para mulheres e crianças. Houve muitas semelhanças, mas também diferenças em relaçao as reivindicaçöes de Sao Paulo. Silva Jr. atribui essas diferenças a uma certa permeabilidade do Partido Republicano Rio-Grandense as reivindicaçöes contra a carestia e ao fato de que tanto o governo municipal quanto o estadual tinham tomado algumas medidas para conter a alta dos preços de alguns produtos.
No dia 31 de julho organizou-se um grande comício onde se discutiu a carestia e a negociaçao com os governos municipal e estadual e se conclamou os trabalhadores a iniciar uma greve geral. Estima-se que mais de 30 mil trabalhadores entraram em greve. Cada categoria teve experiencias diferentes ao longo da paralisaçao. O governo aceitou negociar, tabelou o preço dos alimentos e aumentou os salarios dos trabalhadores a serviço do estado, propagando a incorporaçao do proletariado a sociedade e a eficacia da doutrina positivista na soluçao dos problemas sociais (Bartz, 2008: 191). Os decretos do governo estadual de Borges de Medeiros satisfizeram parcialmente as reivindicaçöes, mas a greve continuou até que a repressäo, com a ocupaçao militar da cidade, a inviabilizasse. O chefe de polícia e o intendente municipal mediaram as negociaçöes e tanto aconselharam os empregadores a ceder quanto os trabalhadores a voltar ao trabalho. Silva Jr. Considera que foi reconhecida a legitimidade tanto da LDB quanto da FORGS. A LDB, criada na órbita dos anarquistas, passou a ter a participaçâo de todos os sindicatos ligados a FORGS e foi mudando seus objetivos iniciais, o que evidencia os conflitos entre os grupos organizados do movimento operario.
Em Pernambuco, a greve se iniciou em Recife e se estendeu por varias outras cidades do estado, atingindo varios setores económicos. Lá as lutas se intensificaram nos meses de agosto e setembro de 1917. As comemoraçöes do Primeiro de Maio daquele ano evidenciam as difusao de ideias socialistas, e algumas categorias de trabalhadores, como os operarios de fabricas de cigarros e marinheiros, iniciaram movimentos grevistas. A imprensa e a polícia anunciaram a presença na cidade de anarquistas argentinos, estranhos ao meio operario, fomentando as greves, e afirmaram que as greves ocorridas em Sao Paulo e no Rio de Janeiro tinham colocado a opiniao pública em apreensao, pois se acreditava que a greve operaria repercutiría fatalmente "no Norte", temendo-se a ocorrencia das mesmas paralisaçöes e protestos em Recife. Considerava-se, porém, que mesmo que ocorressem as greves nao teriam um carater anarquista, que seria contrario a índole do povo pernambucano, ainda que se reconhecesse que a situaçao do operariado brasileiro era muito precaria.10
Os trabalhadores da Société du Port reivindicaram aumento de salario. O Sindicato de Oficios Varios, reunindo os trabalhadores em praça pública, apresentou uma lista de suas reivindicaçöes. No mesmo dia, em 15 de agosto, os operarios calafates da Cory Brothers, empresa de rebocadores do porto de Recife, de ingleses, entraram em greve reivindicando aumento de salario de 20%. Os empregados da prefeitura também reivindicaram aumento de salario. No fim de agosto, a ameaça de greve dos trabalhadores da Fabrica Paulista foi reprimida pela força policial. Foram ocorrendo protestos contra a carestia de vida, com a distribuiçao de boletins convidando os trabalhadores do comércio, os operarios e a populaçao em geral a participar, visto que as autoridades, como o governador do estado, nada tinham feito para amenizar os sofrimentos dos trabalhadores. Pedreiros e ajudantes também se declararam em greve. Moçöes de solidariedade foram feitas pelos alfaiates e outros (Moreira, 2005).
Diversas categorias profissionais foram se juntando ao movimento. Na sede do Sindicato de Ofícios vários decidiu-se pela reivindicaçao de 50% de aumento de salário. As operárias das fábricas de cigarro elaboraram um documento com reivindicaçöes. Operários da Pernambuco Tramways também aderiram. A repressäo policial provocou ferimentos em vários operários, inclusive crianças. Diversas associaçöes, ligas e sindicatos redigiram documentos, com a liderança do Sindicato de Ofícios vários que se tornou também alvo da repressäo. A polícia evacuou o sindicato e prendeu seu secretário. A cidade se transformou num campo de guerra (Moreira, 2005). A partir daí, a repressäo dissolveu o movimento em Recife, mas as manifestaçöes se estenderam a outras cidades do estado.
A Plebe noticiou o movimento do operariado na Bahia, considerando que também lá, assim como em Säo Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, os operários se encontravam em condiçöes de fome e penuria "pela açâo conjunta dos governantes e industriais do país".11
UMA REFLEXAO SOBRE AS REIVINDICAÇÖES
As reivindicaçöes dos trabalhadores nos protestos de 1917 eram, em termos gerais, jornada de oito horas, semana de cinco dias e meio, fim do trabalho de crianças, restriçöes a contrataçâo de mulheres e adolescentes, segurança no trabalho, pagamento pontual dos salários, aumento salarial, reduçâo do preço dos aluguéis e do custo dos bens de consumo básicos, respeito ao direito de sindicalizaçâo, libertaçâo dos trabalhadores presos durante as greves e recontrataçâo de todos os grevistas demitidos. Essas reivindicaçöes expressavam os interesses e necessidades dos trabalhadores e exigiam a açâo tanto do Estado como dos empregadores, e nos dizem muito sobre as dificuldades da vida e do trabalho da populaçâo pobre das cidades naquele período, mas também sobre a mudança na relaçâo com o Estado. Algumas reivindicaçöes eram conjunturais, ligadas ao contexto específico, mas os trabalhadores aproveitaram a mobilizaçâo geral para trazer a tona outras antigas reivindicaçöes ligadas a questöes mais estruturais.
Em Recife, reivindicou-se também a equiparaçâo do salário de mulheres e homens, a assistencia dos empregadores em caso de acídente, doença ou velhice, a existencia de higiene, ventilaçâo e luz nos locais de trabalho, oficinas, hotéis, padarias e outros, e a reduçâo dos preços dos transportes fluviais e terrestres (Moreira, 2005).
Nas fábricas, mas também nas oficinas e em outros empregos urbanos, as jornadas de trabalho eram longuíssimas, podiam chegar a 14 horas diárias e eram expandidas em períodos de produçâo intensa, como ocorreu em 1917. A jornada de 8 horas de trabalho era uma já antiga reivindicaçâo do movimento operário internacional. Aqui no Brasil, em concomitancia com movimentos em várias partes do mundo, os trabalhadores reivindicavam a reduçao da jornada de trabalho havia muito tempo, como ocorreu durante a greve geral deflagrada dez anos antes, em 1907, e organizada com esse escopo. Naquela ocasiäo, muitas categorias de trabalhadores conseguiram a jornada de 8 horas, mas as conquistas, como näo eram escritas em leis e nem tinham fiscalizaçâo, em geral eram efémeras, e os trabalhadores podiam perdėtas ou tinham que permanecer mobilizados para defendė-las.
A semana de 5 dias e meio também era uma reivindicaçâo importante do operariado nacional e internacional. No Brasil, os trabalhadores näo tinham folga semanal garantida por lei e em geral descansavam somente no domingo, ou nem mesmo no domingo. Reivindicavam entäo trabalhar de segunda a sexta e metade do sábado, de modo que pudessem ter algum tempo para repor as energias, cuidar das crianças e da casa.
O fim do trabalho de crianças também estava entre as principais reivindicaçöes do movimento operário brasileiro. Inúmeras fontes, inclusive as fotografias de fábricas e seus trabalhadores, evidenciam a enorme presença de crianças no mundo do trabalho do período, em especial nas indústrias téxteis. As crianças, que recebiam castigos físicos no interior da fábrica quando adormeciam ou brincavam durante suas longas jornadas de trabalho, recebiam salários muito inferiores aos dos adultos. Ao reivindicar o fim do trabalho infantil, os trabalhadores organizados pretendiam näo somente proteger suas crianças, mas também garantir maior poder de negociaçâo para os trabalhadores adultos.
A regulamentaçâo do trabalho das mulheres também era reivindicaçâo antiga. As mulheres recebiam salários menores do que os homens, as vezes menos da metade, e, submetidas as mesmas condiçöes de exploraçâo, sofriam também com o assédio e até a violéncia sexual por parte de empregadores e contramestres. A proibiçâo do trabalho noturno das mulheres era uma das principais reivindicaçöes. Essas questöes da vida das operárias de fábrica foram apresentadas por Patrícia Galväo, a Pagu, em seu romance proletário Parque industrial, publicado em 1933, retratando a vida de trabalhadoras de fábrica no bairro do Brás.
A questäo da segurança no trabalho era também importante e uma reivindicaçâo sempre presente. A questäo aparece nos mais importantes espaços de discussäo dos trabalhadores no período, como durante os congressos operários nacionais ocorridos em 1906 e 1913. As fábricas eram fechadas e pouco arejadas, quase näo tinham janelas e, por conseguinte, considerando as horas intermináveis de trabalho, os operários quase näo viam a luz do sol. Nas fábricas téxteis, a aspiraçao contínua de poeira e fios predispunha os trabalhadores as doenças respiratorias, inclusive a tuberculose. Mas a principal preocupaçäo era com os acidentes que ocorriam com frequéncia, muitas vezes causando a morte ou a amputaçâo de membros, näo havendo nesses casos nenhum tipo de proteçâo ao trabalhador ou a sua família, que podiam contar somente com as associates de socorro mútuo, os sindicatos ou parentes e vizinhos.
A questäo do pagamento pontual dos salarios também era amplamente debatida nos sindicatos e congressos operarios. Também porque näo havia nenhuma legislaçao ou controle, era comum que os empregadores atrasassem muito os pagamentos, lançando os trabajadores em condiçöes ainda mais miseráveis do que as habituais. Por isso eles também reivindicavam o pagamento semanal ou quinzenal.
O aumento salarial era a principal reivindicaçâo da greve. Como vimos, o enorme aumento do preço dos alimentos, no contexto da guerra, diminuiu ainda mais o poder aquisitivo dos trabalhadores, agravando sua situaçâo de miséria, visto que os salarios näo foram aumentados na proporçâo dos preços e a situaçâo foi ficando insustentável. Por isso, essa questäo era central na luta dos trabalhadores e o principal objetivo das greves do período.
Associadas a tudo isso, estavam também as reivindicaçöes de reduçâo do preço dos aluguéis, que consumiam boa parte dos parcos salarios, e do custo dos bens de consumo básicos, em especial dos alimentos. Os salarios mal bastavam para o pagamento de aluguéis de casebres ou quartos em cortiços.
Enquanto muitas das reivindicaçöes se referiam a questöes propriamente trabalhistas, a questäo da pressäo sobre o governo e os empresarios para a reduçâo dos preços estava ligada mais a uma luta do cidadäo, relacionada as necessidades da vida urbana e dos trabalhadores na condiçâo de consumidores, agravadas no contexto da guerra. Os trabalhadores pobres da cidade eram tanto os produtores quanto os consumidores de muitos dos produtos, como alimentos e tecidos, e tinham consciencia plena dessa condiçâo, o que ficava demonstrado pelas campanhas de boicote contra os produtos de fabricas de empregadores vistos como exploradores.
Questäo também central na luta dos trabalhadores era a reivindicaçâo do respeito ao direito de sindical^äo. Tinha-se aqui uma luta trabalhista e uma luta do cidadäo por um direito civil, o direito de se organizar e de se associar. Essa reivindicagäo apareceu explícitamente apenas nas reivindicaçöes da greve em Säo Paulo.
Os trabalhadores näo tinham muitas vezes nem ao menos o direito de reuniäo, havendo relatos na imprensa operaria e memorias que revelam que nos períodos de repressäo mais intensa os trabalhadores tinham que se reunir em casas de amigos, ou em matas nos arredores da cidade, ou chegavam a fazer as discussöes caminhando, uma vez que qualquer reuniäo de pessoas poderia atrair a repressäo policial.
Algumas das reivindicaçöes tinham relaçâo direta com os movimentos grevistas daquele momento: a libertaçao dos trabalhadores presos durante as greves e a recontrataçâo de todos os grevistas demitidos. A repressao contra os trabalhadores, como se sabe, já tinha longa história no país.
A análise das reivindicaçöes nos permite afirmar que as greves foram movimentos com claros objetivos trabalhistas, que, por uma série de circunstancias, levaram os trabalhadores a exasperaçâo e ao desespero, configurando-se os movimentos em verdadeiras revoltas urbanas. Militantes de várias correntes políticas, também operários ou näo, juntaram-se aos trabalhadores em luta. Entre eles havia anarquistas, socialistas, sindicalistas revolucionários, reformistas e outros, mas havia também muitos que näo estavam ligados a nenhumas dessas correntes, mas estavam mobilizados para tentar melhorar suas condiçöes de trabalho e de vida.
Para Pereira (2014), os setores sociais mais atingidos pela carestía em 1917 viram no contexto uma oportunidade, e as açöes coletivas foram direcionadas essencialmente as autoridades. Em muitos locais, as reivindicaçöes dos trabalhadores e da populaçao criaram fraturas no interior do Estado, quando parte dos administradores locais e da polícia com eles se solidarizou. Nos movimentos analisados, em Porto Alegre essa disposiçao do governo para negociar é mais perceptível, e em Sao Paulo foram relatados episódios de solidariedade da polícia. Também em Sao Paulo é mais perceptível uma açao ligada as comunidades dos bairros, já que podemos falar com mais certeza da zona leste da cidade como um território tipicamente estruturado pela industria, onde se implantou um cinturao de industrias definindo uma rígida barreira entre a cidade das elites e a ocupaçao periférica (Rolnik & Frúgoli Jr.: 2001). Essas barreiras territoriais e sociais da cidade se evidenciam durante a greve geral de 1917. Em Sao Paulo também é mais clara a importancia da participaçao da mulheres.
É certo que essas greves e revoltas nao foram explosöes repentinas de desespero. Os trabalhadores e as lideranças calculavam os riscos e os limites da negociaçao. As "revoltas da forne" ocorreram em comunidades com fortes relaçöes de reciprocidade horizontal, de parentesco, de vizinhança e de locais de trabalho. Os protestos se voltaram sobretudo contra o aumento do preço dos alimentos e foram organizados a partir de redes sociais, mas as organizaçöes políticas com relaçao estreita com as comunidades foram mobilizadas, ou se uniram aos protestos, e suas ideias e estratégias foram adaptadas. Entao organizaçöes de trabalhadores e redes informais se uniram transformando os protestos num movimento político único (Pereira, 2014), ainda que apresentassem particularidades de acordo com as condiçöes políticas de cada local.
ALGUNS DEBATES IMPORTANTES: ESPONTANEIDADE E ORGANIZAÇÂO
O centro do debate historiográfico sobre as greves de 1917 no Brasil acabou sendo o grau de espontaneidade dos movimentos, polemica que implicava a explicagao das relaçöes existentes entre a multidao de grevistas e os militantes anarquistas, socialistas e sindicalistas que participaram como lideranças dos movimentos.
Nos anos 1960 e 1970, nas interpretaçöes sociológicas e históricas predominou a tese da espontaneidade e desorganizaçao do movimento de 1917 (Rodrigues, 1966; Fausto, 1983), visto como uma explosao repentina motivada por fatores como a carestía e talvez pelas repercussöes da Revoluçao Russa. Nessa mesma linha, considerou-se que os movimentos careciam de plano e objetivos previamente estabelecidos e de uma coordenaçao central.
Já nos anos 1980, os trabalhos passaram a reconsiderar a questao, a luz das transformares da historiografia proporcionadas pelo diálogo com a obra do historiador británico Edward Palmer Thompson. Yara Aun Khoury (1981) considerou que a greve foi um capítulo importante na história da organizaçâo operária. Na mesma direçao vai o trabalho de Cristina Hebling Campos (1988).
Cristina Lopreato (2000: 18) defendeu a tese de que o processo de autoconstituiçâo das organizaçöes operárias no interior de um amplo movimento de reivindicaçöes impulsionado pela situaçâo económica e social do momento foi efeito do imenso trabalho de propaganda e da açâo das diversas correntes anarquistas, o que teria tornado possível a operacionalizaçâo política da açâo direta.
Luigi Biondi (2011: 316) argumenta é difícil negar a releváncia do papel desempenhado pela crise económica que se alastrava na determinaçâo dos rumos do protesto. O autor considera ainda que a ausencia de uma rede organizativa entre os empresários paulistanos também pode ter sido um fator que provocou uma lentidao no atendimento das reivindicaçöes dos trabalhadores, desesperados por uma inflaçâo diária jamais vista até aquele momento. Teria havido, portanto, uma incapacidade dos empregadores de compreender as necessidades e de fornecer uma plataforma comum de contrapropostas viáveis para as comissöes de grevistas que iam se formando.
A ideia da espontaneidade nao surgiu apenas da interpretaçâo de alguns historiadores, mas remonta a parte importante das consideraçöes que durante e após o movimento foram expressas pelos próprios líderes que participaram da greve, assim como por parte da imprensa, que manteve uma postura de simpatia e apoio aos grevistas, como foi o caso de FanfuUa, principal jornal da comunidade italiana de Sao Paulo, O Combate, e até mesmo O Estado de Sao Paulo. Biondi destaca que ainda em 1966 foi o próprio Edgard Leuenroth que, em carta publicado n'O Estado de Săo Paulo, sublinhou que a greve "foi um movimento espontáneo do proletariado, uma manifestaçâo explosiva consequente de um longo período de vida tormentosa que entäo levava a classe trabalhadora" (Hall & Pinheiro, 1981: vol. 2, 227). Biondi argumenta, porém, que o apelo a espontaneidade do movimento por causa de uma situaçâo económica de fato insuportável fazia parte de uma estratégia de driblar a repressäo.
Emilia Viotti da Costa (1990) afirma que a énfase no espontaneísmo e na importáncia das bases levou muitos autores a minimizar o papel das lideranças e a negligenciar fatores relevantes.
Segundo Luigi Biondi, os movimentos de protesto social ocorridos em muitas cidades europeias e americanas, aos quais se uniram greves reivindicativas e revoltas abertas, foram caracterizados por impulsos diversos, tanto espontáneos quanto organizados, que coexistiam e que constituíram o pano de fundo dessas agitaçöes, cuja característica mais marcante foi a passagem da greve a revolta.
AS PRIMEIRAS REPERCUSSOES DA REVOLUÇÂO RUSSA EM 1917
Assim que foi deflagrada, a Revoluçâo Russa impressionou o mundo pela radicalidade das açöes dos revolucionários (Bartz, 2008). Muito cedo apareceram na imprensa operária comentários sobre os eventos ocorridos em março e em novembro de 1917, e muitos, incluindo os anarquistas, se entusiasmaram intensamente com a concretizaçâo dessa experiencia revolucionária.
Emma Goldman já em 1917 observava que em seguida a vitória da revoluçâo na Russia, como um fantasma ameaçador, e as greves, instalou-se um clima "antivermelho" em várias partes do mundo (Lobo, 1983). O anticomunismo teria nascido junto com a Revoluçâo Russa em 1917 (Motta, 2002). Em suas memórias, Tito Batini, filho de um socialista e futuro militante comunista, entäo com 13 anos, escreveu sobre o ano 1917 em Säo Paulo: "revoluçâo na Russia dos czares. Meu pai me leva a cantina de vinho Chianti. Brindamos o feito de um tal Lenin, que os jornais dizem näo passar de um bandido" (Batini, 1991).
Deportada para a Russia em 1919, do entusiasmo pela revoluçâo Emma passou a percepçâo da ruptura entre libertários e bolcheviques, estes últimos considerando os anarquistas como representantes de um movimento pequeno-burgués e decadente em vias de desaparecer (Lobo, 1983: 70).
No Brasil, o impacto dos acontecimentos da Russia foi muito intenso, gerando grandes polémicas e despertando também grandes esperanças (Feijó, 1990). Grande parte do movimento operário, incluindo os anarquistas, acolheu com entusiasmo as notícias que chegavam sobre a queda do czar e a tomada do poder pelos bolcheviques. Lima Barreto chegou a afirmar que "a face do mundo mudou" (Bandeira, 1980: 327).
Em Alagoas, por exemplo, já em março de 1917 Antonio Canellas, no jornal A Semana Social, do qual era redator e tipógrafo, procurava analisar o desenrolar da revoluçao na Russia prevendo que, "se o genio mau da burguesía nao impedir", haveria a "ramificaçâo da árvore generosa que acaba de despontar na Russia - a árvore da liberdade".12
Uma série de materias do jornal A Plebe, logo após os eventos da greve geral de Sao Paulo, focalizou e explorou a possibilidade de uma junçao de forças e a inserçao de soldados no movimento "como na Russia".13 Também convidou os opressores do proletariado no Brasil a lembrar "da França de 1789 e da Russia de 1917", em tom ameaçador.14 Em dezembro de 1917, o barbeiro libanes Abílio de Nequete distribuiu panfletos em Porto Alegre com os quais tentava "congregar as duas classes", operários e soldados.15
Também em Porto Alegre, durante o maior comício da greve geral de 1917, Joao Batista Moll, militante anarquista, discursou com grande entusiasmo sobre a Russia revolucionária (Bartz, 2008: 12). Adhemar Lourenço da Silva Jr. (1996) aponta vários exemplos em que, durante a greve, militantes, e também os anarquistas, fizeram a defesa da Revoluçao Russa. Abílio de Nequete foi o mais conhecido desses defensores, por ter fundado em Porto Alegre, já em 1918, a Uniao Maximalista e, em 1922, ter-se tornado o primeiro secretário-geral do Partido Comunista do Brasil (PCB). Porém, ao menos até 1919, maximalistas ou comunistas e anarquistas atuaram juntos no Rio Grande do Sul (Bartz, 2008: 13), assim como no resto do país. Em agosto de 1917, o jornal anarquista A Plebe, de Sao Paulo, defendia a realizaçao de um "Congresso Geral da Vanguarda Social do Brasil", convidando todas as associaçöes "obreiras e avançadas" a participar da construçao de uma açao conjunta.16
Astrojildo Pereira foi desde o início um dos maiores entusiastas da Revoluçao Russa no Brasil, escrevendo com pseudónimo para os jornais da grande imprensa textos em que contestava as interpretaçöes hostis apresentadas pelos periódicos (Amaral, 2007). Já em 12 de julho de 1917, publicou na revista O Debate um texto intitulado "Sobre a Revoluçao Russa", no qual reconhecia a dificuldade de entender com precisao o curso dos acontecimentos na Russia, sendo o "movimento de tal magnitude e complexidade, resolvido por mil correntes diversas", mas previa a preponderancia contínua do proletariado "avançado, democrático, socialista e anarquista" e destacava a influencia que tais acontecimentos exerceriam no resto do mundo.17 Ao referir-se a socialistas e anarquistas juntos, Astrojildo também apostava na unidade dessas correntes. Nos anos que se seguiram, porém, o impacto e o desdobramento da revoluçao na Russia provocariam uma cisao entre as lideranças operárias e os trabalhadores no Brasil, tornando-se um divisor de águas em suas ideias.
Essa transformaçâo, porém, foi gradual. Astrojildo ainda em 1920 se declarava um libertario e doava dinheiro para o jornal anarquista A Voz do Povo, que tinha substituído o Spartakus, que ele tinha escrito junto com José Oiticica. Embora mais tarde tenha escrito varias vezes que o declínio da influencia libertaria no movimento operario brasileiro se devia a sua incapacidade teórica e política de resolver os problemas da conduçâo de um processo revolucionario, seu afastamento do anarquismo foi um processo doloroso (Amaral, 2007: 254).
José Oiticica tinha acompanhado as noticias vindas da Russia e participado dos movimentos contra a guerra. Também entre os anarquistas crescia a esperança de um desdobramento no Brasil semelhante ao ocorrido na Russia, e criavam-se expectativas nas organizaçöes operarias de uma aliança entre soldados e trabalhadores, a exemplo também do fenómeno russo. Em junho de 1919, com delegados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Säo Paulo e Alagoas, Oiticica presidiu no Rio de Janeiro uma conferencia comunista que decidiu pela criaçâo de um Partido Comunista com características nítidamente libertarias, acreditando ainda na possibilidade de uma açâo conjunta e de um dialogo fecundo entre anarquistas e bolchevistas (Samis, 2007: 98). Joaquim Pimenta considerou que os anarquistas no Brasil se rebatizaram comunistas "sem talvez alcançar o grau das divergencias que os separariam do Poder Soviético".18
Depois de algum tempo, e da chegada das notícias sobre a repressäo contra os anarquistas na Ucrania, Oiticica desacreditou da possibilidade dessa açâo conjunta e retornou ao anarquismo propriamente, enquanto Astrojildo participou da fundaçâo do PCB em março de 1922, iniciando o que ele considerava uma nova fase de luta do movimento operario brasileiro.
Ja o farmacéutico alagoano Octavio Brandäo iniciou sua militância, que o levaria ao anarquismo e mais tarde ao comunismo, justamente no ano de 1917, defendendo em jornais alagoanos uma posiçâo antibélica, de solidariedade a revoluçâo social e de simpatia crescente pela revoluçâo ocorrida na Russia. Brandäo, que também viveu uma crise ideológica, defendeu a formaçâo de uma frente única dos anarquistas com o PCB recém-fundado. Após alguns meses de leitura e reflexäo e uma visita de Astrojildo na sua pequena farmacia, decidiu ingressar no PCB em outubro de 1922 (Amaral, 2007: 263).
Na maior parte do tempo em que o movimento operario no Brasil começava a tomar novos rumos, Edgard Leuenroth, a principal liderança do anarquismo em Säo Paulo, estava na prisäo, acusado de ter promovido os saques contra o Moinho Santista. No primeiro número do jornal A Plebe, ele tinha exaltado os "formidaveis acontecimentos" que estavam se desenrolando "nas estepes geladas da longínqua Russia".19 Ao ser libertado em 1921, retomou sua luta anarquista (Khoury, 2007), continuando a contrastar a ideia de que a organizaçâo político-partidaria e a tomada do poder do Estado eram condiçöes fundamentais para a transformaçâo radical da sociedade. De qualquer modo, seja para afirmá-la seja para negá-la, a revoluçâo na Russia se tornou a principal referencia do debate político das esquerdas e do movimento operário no Brasil a partir de 1917.
Muitos fatores explicam, portanto, a intensidade da agitaçâo dos trabalhadores em várias partes do Brasil e do mundo no ano de 1917 e nos anos que se seguiram: o agravamento das condiçöes de vida e de trabalho em virtude da Primeira Guerra Mundial, que aprofundou ainda mais a imensa desigualdade social; a propaganda desenvolvida pelas várias lideranças anarquistas, socialistas e sindicalistas revolucionárias; as atividades concretas de organizaçâo da classe trabalhadora com a criaçâo de sindicatos, uniöes, ligas e federaçöes, e também a conjuntura internacional, marcada pela Revoluçâo Russa e por uma onda revolucionária que atingiu a Europa. Esse ciclo de agitaçâo global do período 1917-1920 teve um papel crucial na ampliaçâo e politizaçâo do movimento operário em todo o mundo, e esses foram também os anos de maior mobilizaçâo dos trabalhadores na Primeira República, fundamentais para a construçâo dos trabalhadores como sujeitos políticos no Brasil. As experiencias dos trabalhadores na Primeira República e em especial as do ano de 1917 foram capítulos importantes do processo de construçâo dos trabalhadores como sujeitos políticos (Gomes, 2002), da elaboraçâo de uma cultura dos direitos, como os direitos civis de se organizar e se associar, e do esforço de criaçâo de condiçöes de democracia em que as organizaçöes dos trabalhadores fossem reconhecidas como um elemento legítimo na sociedade. Ao mesmo tempo, muitos dos trabalhadores do período associaram um quotidiano reformista a uma perspectiva futura de transformaçâo revolucionária no país.
NOTAS
1 Os números do jornal Fanfulla de junho e julho de 1917 mostram bem o desenrolar das greves.
2 Acçâo Obrelra. O operarlado paulista parece despertar para a luta. Movimentos grevistas. Assoclaçöes que surgem. A Plebe, 09/06/1917, p. 3.
3 Nel Cotonificio Crespi, Fanfulla, 10/06/1917, p. 4.
4 Condiçöes de trabalho na industria textil no Estado de Sâo Paulo. Boletim do Departamento Estadual do Trabalho. Sâo Paulo, 1912 (citado por Hall e Pinheiro,1981: 86-87).
5 Movimento operário. Avanti!, 20/10/1917, p. 2.
6 Voci allarmanti sul numero dei morti. Fanfulla, 22/07/1917, p. 2.
7 Fanfulla, 16/07/1917, p. 1.
8 O que reclamam os operarios. A Plebe, 21/07/1917, p. 3.
9 Guerra Sociale, 26/07/1917, p. 1, citado por Hall e Pinheiro (1979: 232).
10 A Provincia, Recife, 29/07/1917 apud Moreira (2005: 48-49).
11 Movimento na Bahia. De como se prova o valor da acçao popular. A Plebe, 11/08/1917, p. 3.
12 A Revoluçao Russa. Suas causas e suas possiveis consequendas. A Semana Social, Maceió, 30/03/1917, p. 1.
13 Os soldados e os operarios. A salvaçao do povo depende da acçao conjunta dos operarios de farda e de blusa. Para essa soluçao caminhamos. A Plebe, n. 1 1, 25/08/1917, p. 4, entre outros.
14 Momento Obreiro - Imponente despertar do operariado do paiz. De norte a sul o proletariado se agita contra os exploradores de seu trabalho - Grandiosa greve geral em Porto Alegre. As organizaçöes de resistencia surgem por toda parte. A Plebe, 04/08/1917, p. 3.
15 Inquérito Policial Militar 1432. Foro Federal. Porto Alegre (apud Bartz, 2008: 125).
16 Para uma acçao conjunta. Congresso Geral da Vanguarda Social do Brazil. Preparem-se todas as associaçöes obreiras e avançadas. A Plebe, 04/08/1917, p. 2.
17 Texto apresentado integralmente em Feijó (1990: 110-111).
18 Joaquim Pimenta. Retalhos do passado, apud Bandeira (1980: 252).
19 Edgard Leuenroth. Ao que vimos. Rumo a Revoluçao Social. A Plebe, 09/06/1917.
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Copyright Fundação Getulio Vargas May/Aug 2017
Abstract
Based on an original research and on existing studies, this article analyzes the strikes and revolts that took place in Sao Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre and other cities of Brazil in 1917 and their demands, the participation of workers, anarchist and socialist militants in these events, and the circulation of political ideas in the period, specially the first impacts in Brazil of the revolutions that occurred in Russia that year and how these new revolutionary ideas began to transform political groups and workers' organizations. The strikes held in that year were of fundamental importance for the later development of the labor movement and the labor struggles in Brazil.
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1 mestre e doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas e professora de História do Brasil do Departamento de História da Universidade de Sao Paulo ([email protected])