RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v9i3.913
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
CONDICIONANTES TERRITORIAIS PARA FORMAO, DESENVOLVIMENTO E
ESTRUTURAO DE ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: UM ESTUDO COMPARATIVO
EM APLS DE CONFECO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Fabrcio Molica de Mendona
Doutor em Engenharia de Produo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
Professor da Universidade Federal de So Joo Del-Rei UFSJ
Marlia Paula dos Reis Teixeira
Doutoranda em Administrao da Universidade Federal de Lavras UFLA
Tutora da Universidade Federal de Lavras UFLA
Denise Carneiro dos Reis Bernardo
Doutora em Administrao pela Universidade Federal de Lavras UFLA
Professora da Universidade Federal de So Joo Del-Rei UFSJ
Henrique Pereira da Fonseca Netto
Doutor em Economia Publica Planejamento Econometria pelo Universit Paris 1, Paris
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
mailto:[email protected]
Web End [email protected]
RESUMO
Este estudo trata de investigao sobre os Sistemas Territoriais de Produo no mbito de Arranjos
Produtivos Locais (APLs) de confeces de Minas Gerais, aprofundando sobre a formao dessas
firmas e seu desenvolvimento em aglomerados territoriais, para mostrar como esses territrios foram
estruturados. Utilizaram-se como quadro terico os condicionantes territoriais Marshallianos,
Schumpeterianos, Transacionais e Institucionais. Fez-se uso de pesquisa qualitativa de cunho
descritivo e o corpus estudado foi o APL de Muria e de So Joo Nepomuceno. A coleta de dados
deu-se por meio de pesquisa bibliogrfica e documental, entrevista semiestruturada e estruturada.
Assim, foi possvel identificar que ambos APLs so originrios de uma firma inicial verticalizada.
Apesar da identificao de um modelo de trajetria territorial para os APLs estudados, cada um possui
caractersticas especficas sobre o nmero de agentes envolvidos e a forma de interao destes no
territrio. No incio, os condicionantes para surgimento dos APLs estiveram relacionados com as
externalidades Marshallianas, criadas pelas empresas pioneiras. Com o tempo, outras externalidades
surgiram: Schumpeterianas, para a criao de um ambiente inovativo; Transacionais, para a busca de
maior interao entre as firmas, por meio da reduo dos custos de transao; e Institucionais,
relacionadas com modificaes no ambiente institucional em que os APLs esto inseridos.
Palavras-chave: PMEs; Arranjos Produtivos Locais; Externalidades Territoriais.
Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
1 INTRODUO
As discusses sobre a importncia do territrio como fator de desenvolvimento tem se intensificado a partir da anlise do desenvolvimento econmico ocorrido na Terceira Itlia (Itlia) e no Vale do Silcio (EUA), nas dcadas de 70 e 80, originado pela concentrao de pequenas e mdias empresas (PMEs) organizadas na forma de redes relacionadas. Ressalta-se que essas regies apresentaram altas taxas de crescimento em relao mdia regional em seus respectivos pases, bem como de outros pases, num quadro de recesso econmica.
Em termos da anlise espacial, houve um renovado interesse pelas ideias de Alfred Marshall1,
que destacou os ganhos de eficincia decorrentes dos aglomerados produtivos, em que pequenas firmas se agrupam no que ele chamou de distritos industriais. Esses ganhos de eficincia se devem a externalidades positivas que geram rendimentos crescentes a partir da proximidade locacional. Destaca-se que existem outros conceitos para esse fenmeno, por isso aqui ser utilizado o termo Arranjo Produtivo Local (APL), que mais adequado ao corpus estudado.
Na literatura contempornea sobre Economia Industrial, Economia Regional e Geografia Econmica, existem vrios estudos que relatam as potencialidades de aglomeraes locacionais de empresas. Parte significativa desses estudos trata de avaliaes ex post de caractersticas de arranjos e suas contribuies para o desenvolvimento local/regional /nacional; da identificao de potencial de aglomeraes empresariais em um setor; do emprego de metodologias de identificao da existncia dessas aglomeraes, e no Brasil existe uma tendncia de pesquisas que relacionam redes e estratgias (Balestrin, Verschoore & Reyes, 2010). Porm, h carncia de estudos sobre a formao, o desenvolvimento e a estruturao desses arranjos, que podem fomentar polticas pblicas para APLs mais eficazes.
Nesse cenrio surge a pergunta que direciona este estudo: como os APLs foram estruturados dentro de uma lgica territorial, de modo que se tornassem fatores de localizao capazes de atrair e manter empresas relacionadas entre si? Para tanto, tem-se como objetivo geral analisar dois arranjos produtivos locais da indstria tradicional, envolvendo confeces, pr-selecionados no Estado de Minas Gerais, de modo a identificar como esses APLs se formaram, como se desenvolveram e como esto estruturados.
Dessa forma, pergunta-se se h algum modelo de trajetria setorial e/ou territorial identificvel, o que seria til ao aprimoramento de polticas pblicas direcionadas para o fortalecimento desse tipo de organizao empresarial, que tem base na estruturao do territrio. Para atingir a finalidade
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proposta, o estudo envolve: a) a gnese desses APLs, por meio do levantamento do histrico de criao e desenvolvimento de cada aglomerado; b) o processo de formao desses APLs; c) o levantamento dos agentes envolvidos; d) o relacionamento entre as empresas dentro dos aglomerados; e e) os tipos de externalidades territoriais que podem estar servindo de restrio para o desempenho desses APLs.
Desse modo, o presente estudo trata de investigao, at ento pouco contemplada na literatura, sobre os Sistemas Territoriais de Produo no mbito de APLs, do tipo Distritos Marshallianos e a sua verso italiana, aprofundando questes especficas referentes formao das firmas e seu desenvolvimento em aglomerados territoriais. Destaca-se que o entendimento desse tipo de organizao industrial/regional importante na implementao de polticas de desenvolvimento de regies e pases, na busca de estratgias que visem acelerar o ganho de competitividade por meio da promoo, maturao e desenvolvimento de APLs.
2 FUNDAMENTAO TERICA
Procurou-se fazer uma reviso bibliogrfica, levantando os principais conceitos, definies e temas relacionados com as manifestaes territoriais e os aspectos regionais, fornecidos pela literatura nacional e internacional. Assim, foram consolidados grupos de condicionantes territoriais que serviram de base para analisar a formao, o desenvolvimento e a estruturao de APLs de confeco no Estado de Minas Gerais.
2.1 Definio e caractersticas das redes de empresa
Na busca pelo conceito do termo rede, Amato (2000:46) mostrou que este muito abrangente e complexo. As diversas definies apresentadas por autores como Ceglie e Dini (1999), Jarillo (1988), Podolny e Page (1998), e Ribault, Martinet e Lebidois (1995) mostram que as redes de empresas se caracterizam como grupo de organizaes que colaboram entre si, para atingir objetivos comuns, por meio de relaes horizontais/verticais.
Destarte, Britto (2002) define redes de empresas como arranjos interorganizacionais, baseados em vnculos entre empresas independentes, que do origem a uma forma particular de coordenao das atividades econmicas. Inicialmente, as redes so formadas para reduzir o risco de perder investimentos, em virtude da relocalizao de plantas produtivas em outras regies com menores custos de operao (Markusen, 1996). Com isso, a rede pode proporcionar ganhos de escala, solues
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em conjunto, aprendizagem, reduo de custos e gerao e manuteno de relaes sociais (Verschoore & Balestrin, 2008a), influenciando positivamente os resultados das PMEs associadas (Verschoore & Balestrin, 2008b). No Brasil o tema rede predominante em estudos interorganizacionais (Cunha & Carrieri, 2003).
De acordo com Markusen (1996) um tipo de rede muito pesquisado se baseia na literatura sobre os distritos industriais, centrada na expanso de indstrias na Terceira Itlia. A autora define um distrito industrial como uma rea espacialmente delimitada, podendo ter como base recursos naturais ou certos tipos de indstria ou servios. Assim, Markusen (1996) prope tipologias, com base em distritos industriais: Marshalliano; Centro Radial; Plataforma Satlite e Ancorado pelo Estado. Outras tipologias tambm foram sugeridas como fenmeno de concentrao espacial das firmas em determinadas regies: Redes Topdown; Clusters Industriais; Milieu Inovadores; Sistema Produtivo Local e; Arranjo Produtivo Local (APL). Interessa mencionar as caractersticas deste ltimo.
Segundo o conceito da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST), coordenada pelo Instituto de Economia da UFRJ, os APLs so ... aglomerados territoriais de agentes econmicos, polticos e sociais que apresentam vnculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participao e a interao de empresas (Cassiolato & Lastres, 2003:27). Os autores esclarecem que essas empresas podem ser produtoras de bens e servios, fornecedores, prestadoras de consultoria, comercializadoras, clientes, alm de instituies pblicas e privadas, que auxiliam os APLs de diversas formas.
Assinala-se que os APLs podem apresentar diferenciaes significativas em virtude da sua capacidade dinmica. Desse modo vrias tipologias foram criadas, porm a mais conhecida na literatura a adaptada Mytelka e Farinelli (2000:4), conforme Figura 1.
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APLs APLs APLs Informais Organizados Inovativos
Figura 1 - Tipologias de Arranjo Produtivo Local
Fonte: Adaptado de Mytelka & Farinelli, F. (2000). Local clusters: innovation systems and sustained
competitiveness. NT 05 Projeto Arranjos e Sistemas Produtivos Locais e as Novas Polticas de
Desenvolvimento Industrial e Tecnolgico. [S.l.]: RedeSist/IE/UFRJ, BNDES, Finep.
Desse modo, o termo APL no visto como aglomerao em um estgio anterior de desenvolvimento, mas como um produto histrico do espao social. Destarte, alguns APLs podem no progredir em direo a formas sistmicas de organizao produtiva local. Outros podem ter formas organizacionais mais desenvolvidas como verdadeiros sistemas produtivos localizados, como os APLs inovativos. Assim, neste trabalho optou-se pelo uso da terminologia Arranjo Produtivo Local. Essa nomenclatura, segundo Garcez (2003), no envolve juzo de valor quanto ocorrncia ou no de inovao, ou at mesmo de uma atuao sistmica.
2.2 A concentrao de empresas em aglomeraes produtivas
A questo do saber onde produzir com a mxima eficincia, tendo em vista a distribuio espacial dos recursos produtivos e do mercado consumidor, tornou-se cada vez mais importante. Essas consideraes permitiram o estabelecimento de teorias que buscam explicitar os processos de concentrao ou desconcentrao de empresas. Tais discusses tm como foco as relaes que as firmas estabelecem com os espaos em que esto inseridas.
Para mostrar como a firma afeta e afetada pelo espao local/regional em que atua, Polse (1998) afirma que h desenvolvimento numa regio se indivduos fundam empresas e realizam bons negcios que perpetuam no longo prazo. Porm, necessrio que a regio seja dotada do chamado Esprito da Empresa que est relacionado com quatro elementos inter-relacionados: a) Geogrfico; b) Socioeconmico; c) Sociocultural; e d) Institucional.
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Existncia deliderana Baixo Baixo a Mdio Alto Tamanho das firmas Micro e pequena PME's PME's e Grandes Capacidade inovativa Pequena Alguma Contnua Confiana interna Pequena Alta Alta
Nvel tecnolgico Pequena Mdia Mdia Linkages Algum Algum Difundido Cooperao Pequena Alguma a alta Alta Competio Alta Alta Mdia a Alta Novos produtos Poucos Nenhum Alguns continuamente Exportao Pouca, nenhuma Mdia a Alta Alta
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Assim, o processo aglomerativo pelo Esprito da Empresa estimula o crescimento das cidades e regies. Nesse cenrio, Krugman (1991) defende a tese de que a implantao das firmas obedece efeitos de feedback positivos de maneira que quanto mais se intensifica a concentrao das firmas, mais importante ser o tamanho do mercado, e quanto mais este aumente, mais permitir induzir efeitos de arrastamento a montante e a jusante. Para explicar a dinmica da localizao industrial, o autor utiliza trs argumentos de Marshall: a) permite a criao de um mercado de trabalho especializado e qualificado; b) favorece a produo de segredos tecnolgicos de produo e de aprendizagem; e c) melhora a troca de informao.
No intuito de elucidar essa concentrao geogrfica, Krugman (1991) ainda apresentou um modelo de desenvolvimento endgeno, de uma geografia econmica de centro-periferia, baseado na interao econmica de escala, custos de transporte e migrao. Por meio desse modelo, explica a aglomerao de empresas por meio da anlise da interao da demanda, dos rendimentos crescentes e custos de transporte, que conduzem a um processo cumulativo de divergncia regional. Parte do princpio que a produo industrial consiste num nmero de produtos diferenciados, cada um produzindo atravs de economias de escala, com uma estrutura de mercado monopolisticamente competitiva.
Nesse modelo, a sustentabilidade de um padro centro-periferia determinada pelo confronto de foras econmicas centrpetas e centrfugas. As foras centrpetas so representadas por linkages setoriais, spillovers de conhecimento e economias externas e de aglomerao. Essas foras so correspondentes aos encadeamentos a montante e a jusante de Hirschman (1958). J as foras centrfugas so representadas por fatores que desestimulam a concentrao industrial: preos de aluguis, sunk costs e deseconomias externas.
A aglomerao de firmas propicia os retornos no nvel da produo, o que diminui o custo de transporte e facilita a mobilidade dos fatores. Assim, a melhor localizao est relacionada com a maximizao do acesso dos bens aos mercados consumidores e aos ofertantes de bens intermedirios. As externalidades surgem como consequncia das interaes do mercado envolvendo economias de escala em nvel da firma individual, com isso h uma estrutura de mercado de concorrncia imperfeita (Krugman, 1996).
No entanto, Krugman (1991) argumenta que, para compreender os determinantes da evoluo de um sistema explicativo da localizao industrial, necessrio conhecer o peso relativo dos parmetros estudados por ele: demanda, economias de escala associadas especializao, custos de transporte, foras centrpetas e centrfugas. Esses diferentes pesos explicam por que, em certos casos, a aglomerao fruto de condies histricas iniciais de formao, como nos casos dos distritos
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industriais marshallianos e italianos e, em outros, fruto de modalidades de antecipao de agentes, como nos tecnoplis, nos polos cientfico-tecnolgicos, dos parques industriais e das Zonas de Processamento de Exportaes.
No caso dos distritos marshallianos, a organizao industrial no se efetua unicamente por intermdio do mercado, mas articula-se essencialmente em torno de uma srie de interdependncias entre firmas, veiculadas pelas economias externas ou externalidades, sendo elas mesmas o resultado da proximidade espacial (Lemos, 2003).
Para Lemos, Santos e Crocco (2005) essas externalidades atuam como condicionantes territoriais que podem manifestar-se sobre o territrio de forma positiva, restritiva e negativa. Por isso, so consideradas como fator importante para explicar a formao, a estruturao, o crescimento e o desenvolvimento de APLs. Neste trabalho, as externalidades analisadas so as Marshallianas; Schumpeterianas; Transacionais e Institucionais (Figura 2).
Tipo Condicionante
Marshallianos
- Disponibilidade de mo de obra, bem como sua qualidade e custo- Presena de fornecedores de matrias-primas diversas disponveis na regio
- Presena de fornecedores de bens de capital- Encadeamentos a jusante, a montante e horizontais extensivos- Existncia de programas governamentais - Proximidade/vizinhana de mercados- Disponibilidade de recursos naturais especficos localmente ou no entorno regional- Presena de infraestrutura fsica adequada e suficiente no seio da base produtiva local (energia, telecomunicao, vias de acesso por meios de transportes etc.)- Acesso fcil informao
- Existncia de alto nmero de pessoas engajadas em atividades de design e inovao- Elevado nvel de qualificao da mo de obra- Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usurios - Universidades e Centros de pesquisa- Presena de Associaes de Classe e Comerciais dedicadas assistncia de rotina s atividades tcnicas, produtivas, comerciais e financeiras- Presena de associaes de classe e comerciais para qualificao da fora de trabalho - Presena de associaes para capacitao tecnolgica das firmas
- Existncia de cooperao entre firmas competidoras baseada em relaes de confiana altamente desenvolvidas e sedimentadas- Presena de eficincia coletiva que reduz os custos de transao- Utilizao de colaborao horizontal- Existncia de contatos frequentes entre empresas formais e informais- Presena de confiana recproca- Existncia de contratos mais flexveis - Influncia da Governana Interna (GI) do APL em relao a facilidades para elaborao de contratos mais flexveis- Contribuio da GI para facilitar compras, vendas e marketing em conjunto
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Schumpeterianos
Transacionais
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- Existncia de um ambiente institucional que permite a reduo da assimetria de informao no SPL e reduo de custos de transao- Criao de aspectos culturais que permitam estabelecer laos de confiana, interao social, identidade e objetivos comuns- Existncia de apoio das instituies polticas e sociais no desenvolvimento de atividades de parceria e de instituies polticas e sociais para estimular a transformao do SPL em sistemas mais amplos de inovao- Proximidade do APL de instituies de ensino, pesquisa e agentes econmicos
Figura 2 - Condicionantes territoriais utilizados para analisar os APLs estudados
Fonte: Elaborado pelos autores.
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A presente pesquisa classifica-se como qualitativa, de cunho descritivo. Esse tipo de pesquisa o mais adequado compreenso de impactos sociais e culturais de um fenmeno, pois visa compreenso e, em vez da generalizao, tem o particular e o peculiar como focos, que se definem no seu desenvolvimento (Trivios, 1987).
A coleta de dados foi realizada por meio de: a) pesquisa bibliogrfica, que visa ao conhecimento de contribuies cientficas; b) pesquisa documental, que usa dados secundrios, de fontes escritas e estatsticas realizadas por rgos pblicos (Black & Champion, 1976); c) entrevista semiestruturada em funo de itens verificados no referencial terico, aplicada a conhecedores dos APLs, cujo roteiro foi elaborado seguindo recomendaes de Barros e Lehfeld (2000) e que, segundo Trivins (1987), oferece ao informante liberdade cogente para o enriquecimento da investigao; d) entrevista estruturada, que foi elaborada em funo de itens verificados por entrevista semiestruturada.
Conforme a disponibilidade de dados e o conhecimento dos informantes, o uso de dados primrios (Figura 3) e secundrios variou entre APLs e afetou o nmero e a forma de preenchimento do roteiro nico de entrevistas. Cabe destacar que, em Muria, para resgatar a histria da primeira confeco, adotou-se o mtodo de Depoimento Oral, em que se registra o conhecimento da histria recente de um entrevistado, pois no havia registros escritos, e a fundadora ainda viva.
Em virtude da necessria flexibilidade na obteno das informaes, no primeiro momento, a seleo de entrevistados foi feita por amostragem no probabilstica do tipo Snowball, em que, segundo Malhotra (2001), a partir de referncias ou informaes obtidas em entrevistas anteriores, quantas vezes necessrias complementao da pesquisa, por meio de indicao de novos possveis respondentes pelos que j foram entrevistados.
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Institucionais
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As entrevistas semiestruturadas, embora seguindo o roteiro, realizaram-se por meio de conversas informais, dirigidas pelo entrevistador, para que o entrevistado se sentisse vontade, sem ser limitado pelo nmero de perguntas. Durante a entrevista, documentos escritos foram apresentados aos entrevistados, para corroborao das respostas. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas.
APL Fontes Primrias
Entrevista semiestruturada aplicada ao (): a) tcnico do SEBRAE-MG; b) Fornecedor de mquinas e equipamentos; c) Secretrio Municipal de Desenvolvimento; d) Presidente da Delegacia Regional de Muria e Regio; e) Presidente do Circuito Polo da Moda; f) representante do SENAI e do CONDESC; h) proprietria da primeira confeco de Muria; i) Muselogo da Cidade; j) 6 empresrios locais.
Entrevista estruturada a 26 empresrios locais
Entrevistas semiestruturadas aplicadas ao (): a) gestor do SEBRAE-MG e do SENAI/SESI;
b) presidente do SINDIVEST; c) presidente da Agncia de Desenvolvimento; d) 8 (oito) empresrios locais, de empresas lderes do arranjo; Entrevista estruturada aplicada a 20 empresrios locais.
Figura 3 - Fontes primrias de coleta de dados dos APLs pesquisados
Fonte: Dados da pesquisa
As empresas foram contatadas por telefone e email. A aplicao do questionrio e a entrevista foram realizadas com as empresas que concordaram participar da pesquisa. Do total de empresas formais, foram entrevistadas 11 % (26) em Muria; e 21 % (20) em So Joo Nepomuceno. Esses percentuais, em funo do nmero de empresas associadas aos rgos de animao e apoio, representam: 52% em Muria e 33% em So Joo Nepomuceno.
Para checar se o nmero de entrevistas era suficiente, foi utilizado o raciocnio de Richardson (2007) para amostra estratificada proporcional, em que se toma uma frao de amostragem para cada estrato que seja semelhante proporo que ele ocupa no universo. Assim, escolhendo-se 5% da populao de cada estrato, seria o bastante. No caso da pesquisa, optou-se por estratificar a populao em virtude da classificao de empresas, relacionada com o nmero de empregados. Como medida de segurana, estabeleceu-se um mnimo de entrevistas igual a 10% do total de empresas formais em cada APL.
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Muria
So Joo Nepomuceno
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4 RESULTADOS E DISCUSSES
4.1 Origem, Evoluo e Estruturao dos APLs de Confeces Mineiros
O desenvolvimento das atividades em Muria fez surgir condies que favoreceram a emergncia do aglomerado, como existncia de uma fora de trabalho especializada, oportunidades de mercado e demanda e acesso a mercados. Nessa localidade, as empresas concorrentes foram criadas por ex-empregados do setor de produo, que, aps um tempo de trabalho, adquiriram conhecimentos e abriram seus prprios negcios com recursos financeiros prprios. Nessa cidade, a Malharia Galante trouxe pessoas para treinamento e capacitao de mo de obra, desenvolveu mercado comprador na regio e estabeleceu relaes com a populao local, por meio do treinamento de donas de casa nas atividades de costura e bordado. Com intensificao das vendas, por meio de representantes de vendas que levavam mercadorias para outras regies do Estado e do Pas, houve a necessidade de ampliao das confeces domsticas, transformando-as em produo industrial. Assim, surgiu nmero considervel de confeces ao longo dos anos 60 e 70. Porm, o crescimento do nmero de empresas no aglomerado se deu na dcada de 80, quando ocorreu queda na atividade principal da cidade, que estava relacionada com pequenas oficinas mecnicas.
Em So Joo Nepomuceno a proliferao das empresas est relacionada a um acidente histrico, provocado pelo fechamento da empresa principal. Nessa cidade, paralelamente s sucessivas crises da empresa Sarmento ao longo dos anos 60, pequenas fbricas de roupas surgiram naturalmente, no seio das residncias familiares, aproveitando a facilidade de obteno da matria-prima tecido (da Sarmento) e as habilidades das mulheres em relao costura, como resposta situao crtica que se estava vivendo. O fechamento da Sarmento na dcada de 70 levou parte da mo de obra familiar desempregada a ser absorvida pelas confeces e, com a ampliao de vendas, principalmente para outras localidades, houve a contratao de mo de obra e a transformao da produo domstica em industrial.
Assim, nos dois APLs, a origem da aglomerao de empresas de um mesmo ramo de atividade, apresentando vantagem competitiva locacional, est relacionada com uma empresa verticalizada e estruturada sob a lgica funcional. Tais empresas a Malharia Galante em Muria e a Companhia Fiao e Tecidos Sarmento em So Joo Nepomuceno foram responsveis, cada uma em sua localidade, por moldar a base produtiva do territrio. A gnese desses APLs revela o potencial empreendedor dos territrios em que se encontram, pois observou-se que tais arranjos no surgiram dos estmulos do planejamento pblico, mas de fontes endgenas e auto-organizativas.
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comum na indstria tradicional a formao de aglomerados produtivos provenientes da criao de empresas por ex-empregados de empresas locais, originrios de uma empresa principal. Esse surgimento de empresas ocorre ou por acidente histrico, quando a empresa principal deixa de existir ou por evoluo, quando ex-empregados, movidos pelo conhecimento adquirido, acabam criando empresas concorrentes ou complementares. Isso pode ser observado nos estudos de Campos, Crio e Nocolau (2000); Crocco, Santos, Simes e Horcio (2001); Cunha, Pereira e Cassaroto (2006); Kraemer (2007); Maia (1994); e Piore e Sabel (1984).
Em todas as localidades estudadas por esses autores, a formao dos aglomerados se deve a condicionantes territoriais. Contudo, a maioria desses estudos no especifica os condicionantes territoriais que serviram para a criao e o desenvolvimento de empresas na regio. Assim, apesar de diferirem de local para local, a investigao desses condicionantes um bom caminho para compreender a formao, o desenvolvimento e a maturao dos APLs.
Nos dois APLs, a aglomerao territorial aumentou o fluxo de servios. Assim, surgiram representantes comerciais e de matrias-primas, assistncia tcnica, servios de transporte, permitindo que as empresas passassem a ter o mesmo acesso a esses itens. Isso atraiu novas empresas, porm, tal crescimento se deu de forma desorganizada.
Durante esse perodo verificou-se tanto a especializao produtiva quanto a prtica de fabricao de produtos homogneos, por meio da cpia de produtos. Assim, houve o acirramento da concorrncia com base em preos, em virtude da livre circulao da informao, da mobilidade dos fatores de produo, do acesso tecnologia rudimentar e da baixa barreira entrada de empresas, dificultando o inter-relacionamento entre as empresas.
O desenvolvimento dos dois APLs esteve atrelado a eventos que geraram bifurcaes na sua trajetria histrica, que esto relacionados a mudanas na organizao industrial e tecnolgica. Em Muria o crescimento desordenado de confeces, em 1980 e meados de 1990, aliado ao fortalecimento de outros polos da moda, fizeram com que os empresrios percebessem a necessidade de juntar esforos para enfrentar os desafios. A partir da criao da pronta-entrega, as discusses dos empresrios em relao busca de solues em conjunto e de interesse do poder pblico local fizeram surgir, a partir de 1999, vrias entidades de animao: a Delegacia Regional de Muria e Regio; o Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social do Setor de Confeces (CONDESSC); a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econmico (SMDE); e o Servio Brasileiro de Apoio MPEs (SEBRAE).
Em So Joo Nepomuceno, o crescimento desorganizado das confeces ocorreu at incio dos anos 80, quando a Mesbla, uma grande empresa comercial, comeou a coordenar e controlar as
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empresas. Por meio de contratos de produo, firmados junto s empresas formais da cidade, a Mesbla coordenava a produo destas. Nesse mesmo perodo, surgiu um nmero significativo de empresas informais, que davam suporte s empresas formais, na faco de peas, principalmente quando o volume de pedidos era superior sua capacidade produtiva. Assim, iniciou-se uma parceria entre empresas formais e informais, que existe at hoje. O crescimento do setor e os problemas relacionados com os altos ndices de inflao em 1980 fizeram com que fosse criada a associao de classe para os empresrios locais, denominada ASSIMODA. Em meados dos anos 1990, foi substituda pelo SINDIVEST. A relao com a Mesbla durou at 1996, quando esta faliu, trazendo consequncias s empresas do arranjo, principalmente falncia. Isso fez com que os empresrios comeassem a juntar esforos para enfrentarem a crise. Como as empresas no trabalhavam com marcas prprias, a soluo imediata foi a busca de outras empresas famosas que se dispusessem a produzir suas roupas no arranjo. Assim, comearam a produzir para vrias empresas, como Zoomp, Triton, Frum, Canto, de modo a reduzir o risco em produzir apenas para um comprador. A partir de ento, o SINDIVEST exerce o papel de animao e incentiva o desenvolvimento de marcas prprias.
Em Muria, houve a reduo de cpia de produtos de empresas concorrentes formais e que so filiadas s instituies de coordenao. Porm, h ainda a prtica de cpia de produtos, principalmente pelas empresas informais. Como forma de reduzir o efeito da cpia, as empresas tm investido no aumento da velocidade na inovao de design e mudana de materiais e estilo. A partir de ento, houve surgimento de empresas especializadas em parte de processos produtivos. Em So Joo Nepomuceno, a prtica de cpia de produtos foi reduzida desde o perodo Mesbla, porque as empresas formais sempre trabalharam para atender as exigncias das Grifes, e as empresas informais foram criadas para dar suporte s formais.
Percebe-se ento que a criao de empresas de animao importante para o crescimento do APL, pois estimulam a capacidade de inovao. Esse crescimento se d quando as novas empresas so atradas pela renda e pelas reas de mercado mais densas. O aumento da densidade de mercado poder tornar a operao mais lucrativa no aglomerado, pelo maior consumo local e reduo de custos de transporte, permitindo a recursividade do APL.
A organizao desses aglomerados, ento, fez com que as empresas passassem a se beneficiar da proximidade a outras firmas e obter ganhos com a melhoria na qualidade de mo de obra, custos na obteno de matrias-primas, conhecimento tcito, dentre outros. Os linkages, gerados pelo prprio encadeamento das atividades produtivas e da proximidade das firmas, podem ser considerados responsveis pelo crescimento e desenvolvimento dos APLs.
Os efeitos ou externalidades locais viabilizam uma escala mnima eficiente e,
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consequentemente, atrai outras empresas privadas pela possibilidade de lucro, com o oferecimento de uma gama de servios indstria, que aprimoram e integram a cadeia produtiva. Nos APLs estudados, alm dos servios ligados atividade, houve a entrada de outras atividades de servios gerais: bancos, assessoria de imprensa, grfica.
Para que os APLs se tornassem mais competitivos, e no entrassem num crculo vicioso de estagnao ou regresso, foi necessrio fazer parcerias com entidades pblicas ou para-pblicas de apoio e capacitao de mo de obra especializada e de gerncia; de apoio s atividades de P&D; de provimento de infraestrutura de suporte ao crescimento do APL; de captao de crdito e financiamentos; e de catalisadores da ao cooperativa e do investimento coletivo. Em Muria e So Joo Nepomuceno, h 13 parceiros, ressaltando que, em Muria, o peso maior de apoio recebido da prefeitura municipal e de entidades locais.
Percebe-se que cada APL possui caractersticas especficas referentes ao nmero de agentes envolvidos e interao desses agentes no territrio. Apesar de essas especificidades exercerem influncia no desenvolvimento de cada um, o conjunto de todos os atores que fazem parte desses APLs pode ser visualizado pelo modelo desenvolvido por Fonseca:
4.2 Sistema Territorial de Produo
Atividades
Conexas
Atividades Complementares
Figura 4. Estrutura Geral dos Arranjos Produtivos Locais
Fonte: Adaptado de Fonseca, H. P., Netto. (2002). Anlise e avaliao de sistemas territoriais de
produo e inovao organizacional. Rio de Janeiro: Edital Faperj-05/2000 Programa Cientista do
Nosso Estado.
Aprofundando-se a anlise de aglomeraes produtivas, possvel mostrar que a interao destas com o ambiente biunvoca, influenciando o grau de enraizamento ou ancoragem territorial, j
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Empresas do Segmento
Central
Conexas
Estruturas de Formao, Aperfeioamento e de
Pesquisa
Atores Locais
Estruturas de apoio e de animao
Servios Bancos Consultores Contabilidade
Consultorias especializadas etc.
Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
que acaba criando externalidades positivas e negativas nesses territrios. Por exemplo, um ambiente de cooperao estimula a reduo da verticalizao das firmas, visto que os custos de transacionar com o mercado passam a ser menores. Assim, tem-se maior especializao produtiva das empresas, maior diviso do trabalho, ganho da produtividade. Isso estimula a criao de ativos intangveis e circulao informal de conhecimento, levando ao seu crescimento e desenvolvimento.
4.3 Modelo de Formao e Desenvolvimento de APLs de Confeco em Minas Gerais
A trajetria de formao e desenvolvimento dos APLs estudados est relacionada com condies que favoreceram a emergncia do aglomerado, tais como: a existncia de fora de trabalho, de oportunidades de mercado e demanda, de acesso a mercados e de apoio de entidades de coordenao e suporte. Assim, fez-se o modelo que mostra essa trajetria (Figura 5). Ressalta-se que tal modelo pode ser usado para analisar outros APLs.
Ressalta-se que, apesar de se ter identificado um modelo de trajetria desses APLs, os aglomerados exibem diferentes graus de desenvolvimento, de integrao a montante e a jusante da cadeia produtiva, de associativismo, de integrao entre os agentes e instituies locais e de capacidade para inovao. Essas diferenas so resultantes da evoluo histrica, da organizao, do contexto social e cultural, da estrutura produtiva, das formas de insero nos mercados interno e internacional, das estruturas de governana, da logstica e de disseminao do conhecimento local. Ento, para analisar a dinmica dos APLs necessrio analisar os condicionantes territoriais, j que qualquer alterao nestes provoca diferena significativa entre os sistemas produtivos (Lemos et al., 2005).
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Aumento do fluxo de produtos para fora da regio e aumento de pessoal provenientes de fornecedores e compradores para a regio.
Surgimento da atividade na regio por uma empresa.
Crescimento e desenvolvimento da empresa, bem como a infraestrutura, conquistas de
mercados externos regio.
Formao do Label
Territorial
Aumento do fluxo de pessoas para oferecimento de matria-prima, servios, compradores e at mesmo fabricantes de produtos similares.
Aumento desordenado de micro e pequenas empresas na regio com forte competio com base nos preos.
Absoro de conhecimento (produo, mercado) pelos exempregados.
Criao ou fundao de um rgo de animao, que geralmente um sindicato.
Formao de empresas de apoio, como fornecedores e prestadores de servio.
Acidente Histrico
Evoluo natural
Formao de firmas de exempregados na mesma atividade
Formao de firmas de exempregados em atividade afim
Surgimento das instituies de apoio na busca de novas
perspectivas.
Formao de firmas de exempregados da empresa principal na mesma atividade.
Criao de ativos intangveis, que estimulam a circulao informal de informao no APL.
Figura 5. Modelo de formao e desenvolvimento dos APLs de confeco mineiros
Fonte: Dados da pesquisa.
4.4 Condicionantes Territoriais de Incentivo ao Surgimento dos Aglomerados
Percebe-se que a maioria dos condicionantes para surgimento dos APLs est relacionada com as externalidades Marshallianas, criadas pelas empresas pioneiras, tais como: infraestrutura, comunicao e energia; mo de obra especializada; acesso tecnologia de produo; label territorial construdo pela empresa principal. Com o tempo, outras externalidades so desenvolvidas, servindo como estmulos ou entraves aos APLs. Ressaltam-se os ganhos obtidos em se estabelecerem em aglomerados com presena de fatores de produo comuns, resultando aumentos de produtividade e queda de preos (Haddad, 1989).
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Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
A reunio dessas firmas na mesma regio foi uma forma de apropriao de retornos crescentes obtidos nas etapas de produo, o que Marshall (1983) denominou de economias internas e externas. Assim, com o tempo, as vantagens competitivas foram fortalecidas, sendo atratores de novas empresas para o local, alm de impulsionar produo e rentabilidade das existentes. Isso ocorreu em virtude: a) dos efeitos de encadeamentos de firmas a montante e a jusante no processo de produo; b) da aglomerao de trabalhadores especializados; c) das interaes promotoras da inovao tecnolgica.
Localidade Condicionantes territoriais favorveis ao surgimento do APL
Muria a) ambiente institucional desfavorvel para a atividade mecnica, apresentando como alternativa o trabalho nas confeces, iniciadas pelas donas de casa; b) cultura do empresrio local voltado para PMEs; c) conhecimento difundido para grande nmero de donas de casa; d) infraestrutura de comunicao, estradas, energia eltrica e servios de transporte; e) existncia de fornecedores de mquina e equipamentos. e assistncia tcnica, para empresas do setor de confeco na cidade; f) existncia de nmero significativo de vendedores e de representantes comerciais; g) presena de um label territorial, construdo ao longo dos anos de 1980, pelos representantes de vendas e vendedores de produtos, fora da regio; h) exigncia de baixo nvel tecnolgico, apresentando baixa barreira entrada. So Joo Nep. a) presena de fornecedor da principal matria-prima, tecido, pela Sarmento; b) nome da cidade associado a tecidos e produtos de qualidade; c) infraestrutura de comunicao, estradas, energia eltrica e servios de transporte; d) conhecimento sobre costura difundido para grande nmero de donas de casa, por meio do processo de aprendizagem e rotina dentro das confeces existentes na cidade; e) exigncia de baixo nvel tecnolgico, apresentando baixa barreira de entrada; f) formao de nmero significativo de vendedores e representantes comerciais; g) disponibilidade de mo de obra; h) qualidade da mo de obra compatvel com as exigncias da indstria.
Figura 6 - Condicionantes territoriais favorveis ao surgimento das pequenas empresas dos
APLs estudados
Fonte: Dados da pesquisa.
Alm disso, a criao de firmas calcadas na exportao regional foi responsvel pela garantia da sustentabilidade e de crescimento da regio, j que, medida que as empresas expandiam suas vendas para outras cidades e regies, aumentavam o volume de produtos fabricados; atraam mo de obra especializada em algumas atividades; aumentavam a renda das empresas; e, ainda, propiciavam surgimento de investimentos pblicos em infraestrutura. Como consequncia, a concentrao de trabalhadores gerava externalidades no local, como a difuso do conhecimento tcito e a educao no ofcio para a mo de obra, incitando uma identidade da regio com a atividade empreendida. Isso fez com que mais empresas fossem atradas para o negcio, mesmo porque as barreiras entrada, em todos os dois APLs, eram consideradas baixas.
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4.5 Anlise comparativa dos condicionantes dos APLs de Confeco de Minas Gerais
Inicialmente, cabe informar que os dois APLs so caracterizados como de sobrevivncia, conforme mostra a Figura 7:
Itens analisados Muria So Joo Nepomuceno
Tamanho das firmas Micro, pequenas e mdias
empresas
Micro, pequenas e mdias empresas
Nvel tecnolgico
Contnuo desenvolvimento 30 empresas que se encontram no estado da arte da tecnologia e pequeno para o restante.
Contnuo desenvolvimento para o grupo de 20 empresas que se encontra no estado da arte da tecnologia e pequeno para o restante, dificultando a terceirizao
Formao gerencial e administrativa
Em expanso para o grupo de 30 empresas e baixo para o restante.
Em expanso para o grupo de 20 empresas e baixo para o restante.
Mo de obra
Baixo nvel de escolaridade, porm, em constante treinamento (internos e pelo SENAI e CONDESSC)
Baixo nvel de escolaridade e o treinamento ocorre na empresa, pelos aprendizados learning by doing e learning by using.
Barreiras entrada Baixa Baixa
Competio
Mdia, tendendo a cooperar dentro do grupo de 30 empresrios, usam da diferenciao de produtos e alta nas demais empresas que praticam cpia de produtos e concorrncia de preos.
Mdia, uma vez que as empresas diferenciam seus produtos, e grande parte da produo direcionada para clientes especficos, localizados fora do territrio do APL.
Cooperao entre as empresas
Dentro do grupo de 30 empresas, h trabalhos de cooperao horizontal: participao em feiras especializadas; troca de informaes; aes conjuntas para capacitao de mo de obra, tentativas de formar consrcios de exportao; elaborao conjunta de catlogos. Nas demais empresas no h essa cooperao.
Baixa, porm, h iniciativas de cooperao horizontal: participao em feiras; troca de informaes por meio de reunies, por 20 empresas; aes conjuntas de marketing em conjunto de 3 empresas que adquiriram a marca Lpis de Cor; trabalho de design em conjunto (8 empresas) e elaborao conjunta de catlogos; feiras locais e participao em feiras em outras regies.
Especializao interfirmas
Existem prticas de especializao interfirmas: faco, bordados mecnicos, bordados manuais.
Existem prticas de especializao interfirmas, tais como a faco, especializao em bordados e em lavagem de jeans.
Inovao em produtos e processos
Alta no grupo das 30 empresas e baixa nas demais
Alta no grupo de 20 empresas e baixa nas demais
Praticamente inexistente (1 empresa exporta regularmente)
Prtica de exportao
Quase inexistente (1 empresa exporta regularmente, 2 exportam espora-dicamente e 5 na fase experimental)
N. empresas informais Alto Alto
Coordenao das empresas do APL
Exercida pelo DRMR, CONDESSC, SMDE e o SEBRAE-MG, mas o nmero de
Exercida pelo SINDIVEST em conjunto com o SEBRAE e com a Agncia de Desenvolvimento Regional. O nmero
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Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
associados pequeno, comparado com o nmero de empresas do setor no APL.
Baixo, sendo necessrios esforos para essa confiana.
Baixo, sendo necessrios esforos para aumentar essa confiana.
Figura 7 - Comparao dos APLs de Muria e So Joo Nepomuceno, pela classificao de
Mytelka e Farinelli (2000)
Fonte: Dados da pesquisa.
Para sumarizar os resultados relativos aos condicionantes territoriais, calculou-se a mdia das respostas obtidas junto amostra por meio da escala Likert. Na escala utilizada, o 0 (zero) significa que o condicionante percebido como totalmente insatisfatrio, e o 5 (cinco) significa que o condicionante percebido como totalmente satisfatrio. Nas anlises foram utilizados tambm os dados descritivos colhidos na pesquisa. Doravante os resultados.
4.5.1 Condicionantes Marshallianos
Analisando os condicionantes Marshallianos (Tabela 1), percebe-se que, nos dois APLs, a existncia e o peso desses quase no se alteram. Em relao qualidade da mo de obra, Muria apresenta melhor resultado, que pode estar relacionado ao maior nmero de instituies de capacitao de mo de obra especializada no territrio, enquanto a de So Joo Nepomuceno basicamente treinada dentro das empresas. Quanto disponibilidade de mo de obra especializada, tem-se que, com o aumento do volume de empresas, h carncia de pessoal especializado, fazendo com que esses custos apresentem aumentos significativos.
Quanto aos fornecedores, Muria apresenta melhores condies, visto que os materiais e equipamentos so comercializados no territrio. Em So Joo Nepomuceno no h fornecedores locais, e sim apenas um fornecedor de mquinas e equipamentos.
Condicionantes Marshallianos Muria
(mdia)
So Joo Nep. (mdia)
Disponibilidade de mo de obra 3,0 2,6 Qualidade de mo de obra 2,5 2,0 Custo da mo de obra 2,0 2,0 Presena de fornecedores de matrias-primas na regio 3,0 0,0 Presena de fornecedores de bens de capital 3,0 2,0 Encadeamentos a jusante, a montante e horizontais extensivos 2,5 2,0 Proximidade/vizinhana de mercados 3,0 3,0 Presena de recursos naturais especficos localmente/entorno 0,0 0,0 Presena de infraestrutura energia 4,0 3,5 Presena de infraestrutura telecomunicao 3,0 2,5 Presena de infraestrutura transporte 3,0 3,0
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de associados abrange 100% das
empresas formais.
Confiana para especializao interfirmas
Fabrcio Molica de Mendona, Marlia Paula dos Reis Teixeira, Denise Carneiro dos Reis Bernardo & Henrique Pereira da Fonseca Netto
Presena de infraestrutura estrada 1,6 2,0
O acesso fcil informao 3,0 3,0
Label territorial como estratgia mercadolgica 3,5 3,5
Mdia dos pontos 2,85 2,22
Tabela 1 - Comparativo dos condicionantes Marshallianos entre Muria e So Joo Nepomuceno
Fonte: Dados da pesquisa.
4.5.2 Condicionantes Schumpeterianos
Nota-se que condicionantes Schumpeterianos tambm no apresentaram diferenas significativas entre os APLs (Tabela 2). A qualidade da mo de obra em ambos aceitvel, porm no possui qualificao elevada. Em Muria, o treinamento de mo de obra especializada mais intenso, mesmo porque existe a preocupao dos rgos de coordenao, juntamente com a sua Prefeitura Municipal. Em So Joo Nepomuceno, grande parte do aprendizado est relacionado com os tipos learning by doing e learning by using.
Quanto proximidade com universidades e centros de pesquisa, So Joo Nepomuceno apresenta situao mais vantajosa, por sua localizao geogrfica prxima a Juiz de Fora, permitindo maiores contatos do APL com Universidades e Centros de Pesquisa.
Condicionantes Schumpeterianos Muria
(mdia)
3,0 3,0
Presena de associaes dedicadas qualificao da fora de trabalho 3,0 2,5 Presena de associaes dedicadas capacitao tecnolgica s firmas 3,0 3,0 Mdia dos pontos 2,16 2,07
Tabela 2 Comparativo dos condicionantes Schumpeterianos entre Muria e So Joo
Nepomuceno
Fonte: Dados da pesquisa.
4.5.3 Condicionantes Transacionais
Em relao aos condicionantes Transacionais (Tabela 3), os APLs tm apresentado pontos restritivos. Apesar dos esforos da governana interna para ampliar a cooperao horizontal, existe baixa cooperao nas atividades de compras e vendas em conjunto, provocadas pelo baixo nvel de confiana entre as empresas. No existem grupos de exportao de peso, essas atividades so
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So Joo Nep. (mdia)
Existncia na regio de elevado nmero de pessoas engajadas em atividadesde design e inovao de produto 2,0 1,5 Elevado nvel de qualificao da mo de obra 2,0 2,0 Recorrentes trocas de pessoal entre fornecedores e usurios 0,0 0,0 Proximidade Universidades e Centros de pesquisa, encadeamentos a jusante,a montante e horizontais extensivos 0,0 2,5 Presena de associaes de classe e comerciais dedicadas assistncia derotina s atividades produtivas tcnicas e produtivas, comerciais efinanceiras.
Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
desenvolvidas por empresas isoladas que arcam com os custos burocrticos. O baixo nvel de cooperao horizontal ocorre at mesmo nos grupos mais atuantes desses APLs, decorrente da concorrncia acirrada vivida em dcadas passadas.
Tem-se percebido maior presena da cooperao vertical. Em maior escala, essa cooperao ocorre por atividades de faco, bordados e estampagem, e, em menor escala, na etiquetagem, embalagem, costura, cs. Em So Joo Nepomuceno, ressalta-se a atividade de lavanderia. As demais atividades so racionalizadas, buscando escala interna de produo, no aproveitando as economias externas da aglomerao, por meio de especializao de atividades. Nas entrevistas, percebeu-se que, alm da falta de confiana entre as empresas, os diferentes estgios tecnolgicos tm dificultado prticas de cooperao.
Em So Joo Nepomuceno, a proximidade entre empresas formais e informais maior, pois, desde a dcada de 1980, as empresas informais surgiram como estratgia de ampliao da capacidade produtiva das empresas formais. J em Muria, existe uma grande concorrncia entre as empresas formais e informais.
Um dos problemas enfrentados pela governana local o nvel de participao dos empresrios. Em Muria poucos empresrios so filiados ao sindicato, assim a maioria fica fora do campo de atuao da governana interna. Em So Joo Nepomuceno, a maioria dos empresrios filiada, porm, h pouca participao efetiva dos empresrios no arranjo.
Condicionantes Transacionais Muria
(mdia)
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So Joo Nep. (mdia)
Cooperao entre firmas competidoras baseada em relaes deconfiana altamente desenvolvidas e sedimentadas. 1,5 2,0 Presena de eficincia coletiva que reduz os custos de transao 1,5 1,5 Utilizao de colaborao vertical 2,5 3,0 Utilizao de colaborao horizontal 1,0 1,0 Contatos frequentes entre empresas formais e informais 2,5 3,0 Presena de confiana recproca 2,0 2,0 Menor rigor dos contratos padronizados 3,0 2,0 A Governana Interna (GI) do APL tem influenciado para facilitar aelaborao de contratos no sentido de maior flexibilidade 2,5 1,5 A GI tem contribudo para facilitar o processo de compras 2,0 1,0
A GI tem contribudo para facilitar o processo de vendas 2,5 3,0
A GI tem contribudo para facilitar a distribuio e marketing 2,5 2,5
Mdia dos pontos 2,13 2,05 Tabela 3 Comparativo dos condicionantes Transacionais entre Muria e So Joo Nepomuceno
Fonte: Dados da pesquisa.
Dentro dos grupos atuantes de ambos APLs, a troca de informaes no codificada, dos canais
Fabrcio Molica de Mendona, Marlia Paula dos Reis Teixeira, Denise Carneiro dos Reis Bernardo & Henrique Pereira da Fonseca Netto
verticais e horizontais, mais presente em Muria, j que existe um trabalho da governana interna em discusses para troca de informaes. Em So Joo Nepomuceno, essa troca ocorre mais em nvel vertical, principalmente, entre empresas formais e informais.
4.5.4 Condicionantes Institucionais
Em relao aos condicionantes Institucionais, que visualizam a organizao como parte integrante do sistema de relaes de um setor social, ao qual est socialmente imersa, (Machado-da-Silva, Fonseca & Crubellate, 2005), percebe-se que os APLs possuem as mesmas condies para atuao. Existe o empenho dos agentes de animao e apoio para proporcionar um ambiente de menor assimetria de informao e reduo de custos de transao, estimulando o APL a se transformar em sistemas mais amplos de inovao. No entanto, o nmero reduzido de afiliados a esses agentes em Muria e a baixa participao nas reunies em So Joo Nepomuceno tm dificultado o trabalho desses agentes. Em So Joo Nepomuceno, percebe-se ausncia de apoio do poder pblico local. Em Muria h falta de proximidade do APL com instituies de pesquisa e ensino.
Condicionantes Institucionais Muria
(mdia)
2,5 2,5
Proximidade dos APLs com instituies de ensino, pesquisa e agenteseconmicos 0 2,5 Mdia dos pontos 2,0 2,4 Tabela 4 - Comparativo dos condicionantes Institucionais entre Muria e So Joo Nepomuceno
Fonte: Dados da pesquisa.
5 CONSIDERAES FINAIS
O presente estudo uma investigao sobre Sistemas Territoriais de Produo, objetivando aprofundar questes especficas sobre a formao, a estruturao e o desenvolvimento de APLs. Para isso, foram estudados dois APLs da Indstria de Confeco: Muria e de So Joo Nepomuceno. A coleta de dados foi realizada por tcnicas de pesquisa bibliogrfica, pesquisa documental, entrevista semiestruturada e entrevista estruturada.
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So Joo Nep. (mdia)
Existncia de um ambiente institucional que permite a reduo da assimetriade informao no APL e reduo de custos de transao 2,5 2,5 A criao de aspectos culturais que permitam estabelecer laos de confiana,interao social, identidade e objetivos comuns. 2,0 2,0 Existe apoio das instituies polticas e sociais locais no desenvolvimento deatividades de parceria. 3,0 2,5 Existem apoios de instituies polticas e sociais para estimular atransformao do APL em sistemas mais amplos de inovao (esforoconjunto SEBRAE, FIEMG, Universidades, governo federal)
Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
A verificao da origem dos APLs revela que estes foram induzidos por economias externas locais, provenientes de uma firma inicial estruturada verticalmente. A ampliao das atividades se deu pela abertura de empresas por ex-empregados da produo da empresa inicial, que usaram seus prprios recursos financeiros e conhecimentos. Como resultado, houve aumento do fluxo de servios ligados atividade-fim e tambm de servios mais genricos.
Apesar de se poder identificar um modelo de trajetria territorial para os APLs estudados, e at mesmo uma estrutura de funcionamento comum, cada um possui caractersticas prprias em relao aos agentes envolvidos, forma de interao desses agentes no territrio e aos produtos resultantes. A aglomerao de firmas na mesma regio desencadeia retornos crescentes, provenientes de economias internas e externas.
No incio, os condicionantes para surgimento dos APLs foram Marshallianos, criados pelas empresas pioneiras. Todavia, esses condicionantes no garantem o desenvolvimento da territorializao. Assim, outras externalidades locais foram desenvolvidas, em virtude da necessidade de gesto conjunta com a participao de organizaes de animao e apoio, formando as externalidades Schumpeterianas, Transacionais e Institucionais. As primeiras envolvem a criao de um ambiente inovativo, com base na aprendizagem e no desenvolvimento por meio de um processo evolutivo; as segundas visam maior interao entre as firmas, por meio da reduo dos custos de transao; e as ltimas esto relacionadas com as modificaes no ambiente institucional em que os APLs esto inseridos, de modo a construir um ambiente que valorize a interao social e estreite os laos de confiana mtua.
Destaca-se que h vrios pontos comuns entre os APLs estudados que podem fazer parte de outros APLs: a) fraca cooperao vertical e horizontal; b) baixo contato com centros de pesquisa; c) problemas com a localizao de fornecedores, ausncia de cadeia produtiva completa; d) ausncia ou baixa exportao para o mercado nacional e internacional; e) baixa participao nas entidades de animao e apoio pela filiao e frequncia nos encontros; f) falta de confiana entre os agentes; h) falta de um papel definido do governo local.
Desse modo, polticas de apoio aos APLs, como instrumento de planejamento e desenvolvimento, devem ultrapassar os limites de uma poltica industrial local em direo a uma poltica de desenvolvimento regional, considerando tambm as questes relacionadas com desenvolvimento do urbano e da rea de entorno. Isso necessrio para que no se criem ilhas de desenvolvimento produtivo incapazes de integrar o todo regional e nem que se promovam APLs sem dinamismo, comprometendo a sua sobrevivncia no longo prazo.
As limitaes identificadas pela pesquisa servem como sugestes para novos estudos, tais
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como: a) identificao do efeito nas caractersticas dos APLs, de condicionantes institucionais externos (exigncias de legislaes ambientais, Poltica Macroeconmica e Sistema Nacional de Inovao); b) avaliao de aes dos agentes territoriais de mudana confrontando finalidade, objetivos, metas e resultados das aes de trabalho; c) avaliao da opinio dos empresrios locais sobre o papel dos agentes de mudana; d) identificao dos motivos da falta de cooperao; e) identificao dos fatores que podem contribuir para aumento da participao efetiva dos empresrios locais nas entidades de animao e apoio.
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1 Embora Marshall nunca tenha mencionado o termo espao em seus escritos
Revista de Administrao e Inovao, So Paulo, v. 9, n.3, p. 231-256, jul/set. 2012. 255
Condicionantes territoriais para a formao, desenvolvimento e estruturao de arranjos produtivos locais: um estudo comparativo em APLs de confeco do estado de Minas Gerais
TERRITORIAL RESTRICTIONS FOR TRAINING, DEVELOPMENT AND STRUCTURE
OF LOCAL PRODUCTIVE ARRANGMENTS: A COMPARATIVE STUDY OF PLAs IN THE
CLOTHING INDUSTRY IN THE MINAS GERAIS STATE
ABSTRACT
This research focuses on the Territorial Production Systems in local clusters production of Minas
Gerais, delving into the formation of these companies and their development into regional clusters, to
show how these territories were structured. The territorial conditions Marshallian, Schumpeterian,
Transactional and Institutional were used as a theoretical framework. Qualitative research of a
descriptive study was completed as well as the corpus of APL Muria and So Joo Nepomuceno.
Data collection was performed by means of literature and documentary review which was both semi-
structured and structured in nature. Through this work, it was possible to identify APLS originally
from an initial vertical company. Despite the identification of a trajectory model for the territorial
clusters studied, each one has specific characteristics on the number of players involved and the
manner of interaction of the territory. At first, the conditions for the emerging APLs were related to
Marshallian externalities, created by the pioneers. Over time, other externalities emerged:
Schumpeterian, to create an innovative environment; Transaction, the search for greater interaction
among companies by reducing transaction costs; and Institutional related changes in the institutional
environment in which the clusters are embedded.
Key-words: SMEs; Local Productive Arrangements; Territorial externalities.
___________________
Data do recebimento do artigo: 22/04/2012
Data do aceite de publicao: 18/08/2012
Revista de Administrao e Inovao, So Paulo, v. 9, n.3, p. 231-256, jul/set. 2012. 256
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2012
Abstract
This research focuses on the Territorial Production Systems in local clusters production of Minas Gerais, delving into the formation of these companies and their development into regional clusters, to show how these territories were structured. The territorial conditions Marshallian, Schumpeterian, Transactional and Institutional were used as a theoretical framework. Qualitative research of a descriptive study was completed as well as the corpus of APL Muria and So Joo Nepomuceno. Data collection was performed by means of literature and documentary review which was both semi-structured and structured in nature. Through this work, it was possible to identify APLS originally from an initial vertical company. Despite the identification of a trajectory model for the territorial clusters studied, each one has specific characteristics on the number of players involved and the manner of interaction of the territory. At first, the conditions for the emerging APLs were related to Marshallian externalities, created by the pioneers. Over time, other externalities emerged: Schumpeterian, to create an innovative environment; Transaction, the search for greater interaction among companies by reducing transaction costs; and Institutional related changes in the institutional environment in which the clusters are embedded.
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