RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI:
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
Paula Pradines de Albuquerque
Mestrando em Economia pela Universidade Federal de Alagoas UFAL
[email protected] (Brasil)
Luciana Peixoto Santa Rita
Doutora em Admistrao pela Faculdade de Economia, Adm. e Contabilidade USP FEAC/USP
[email protected] (Brasil)
Francisco Jos Peixoto Rosrio
Doutor em Economia da Ind. e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ
Coordenador do Mestrado em Economia da Universidade Federal de Alagoas UFAL
[email protected] (Brasil)
RESUMO
No atual cenrio de competio, o crescimento regional est, em grande medida, associado ao
desempenho dos sistemas de inovao, intensidade e eficcia das interaes entre os diferentes
atores envolvidos na gerao e difuso de novos conhecimentos e tecnologias. Nessa direo, o
presente trabalho tem como objetivo analisar as interaes entre agentes da indstria sucroalcooleira
do estado de Alagoas, atravs das trs dimenses do Sistema Setorial de Inovao (organizaes,
tecnologias e instituies), propostas por Malerba (2002). Na construo do objetivo deste artigo, foi
realizada uma pesquisa exploratrio-descritiva por meio de dados secundrios e da aplicao de
questionrios junto a dezessete empresas do setor no Estado. As anlises de dados ocorreram pelo uso
de tcnicas estatsticas no paramtricas: Coeficiente de Concordncia, de Kendall (W) e o teste H de
Kruskal-Wallis, considerando um nvel de significncia de 0,05. Os resultados encontrados apontaram
para a confirmao da existncia de interaes positiva entre as trs dimenses em anlise
(organizaes, tecnologias e instituies), mas, em menor grau, para a ltima. Observam-se dois
aspectos adicionais: as empresas apresentam uma interao entre as universidades e os centros de
pesquisa; e grande parte do avano tecnolgico dessa indstria oriunda de parcerias pblicas e
privadas. Destaca-se, ainda, que o esforo em P&D est centrado em melhorias genticas para o campo
e em inovaes em processos que melhoram a eficincia produtiva. Como contribuio adicional, este
artigo descreveu uma reviso e uma aplicao prtica sobre o fenmeno da inovao e sua ligao com
os sistemas setoriais.
Palavras-chave: Indstria sucroalcooleira; Sistema Setorial de Inovao; Desenvolvimento Regional.
INTERAES TECNOLGICAS NA INDSTRIA SUCROALCOOLEIRA DE ALAGOAS:
ANLISE DO SISTEMA SETORIAL DE INOVAO
Paula Pradines de Albuquerque; Luciana Peixoto Santa Rita & Francisco Jos Peixoto Rosrio
1 INTRODUO
O atual ambiente competitivo, as institucionalidades vigentes e a nova idia do papel dos governos marcaram uma srie de transformaes que fizeram renascer o interesse sobre o papel que os modelos de inovao podem ter na reestruturao produtiva, assim como no desenvolvimento de regies e pases. Esse interesse coincide com o reconhecimento de sinergias coletivas geradas pela participao em sistemas que efetivamente fortalecem as chances de inovao e sobrevivncia no mercado cada vez mais competitivo.
Nas economias contemporneas, essas interaes sistmicas traduzem-se numa forma institucionalizada de "aprendizagem" mtua, que contribui para a criao de um estoque de conhecimentos economicamente teis.
Mencione-se que as atividades de inovao de uma empresa ou da sua cadeia dependem da estrutura de suas relaes com as fontes de informao, conhecimento, tecnologias, prticas e recursos humanos e financeiros. Cada interao conecta a firma inovadora com outros atores: laboratrios governamentais, universidades, departamentos de polticas, reguladores, competidores, fornecedores e consumidores. Por fora dessas estruturas, os impactos das inovaes no desempenho setorial variam de efeitos sobre as vendas e sobre a fatia de mercado s mudanas na produtividade e na eficincia, gerando sempre uma nova dinmica inovativa (SANTA RITA, et al, 2007).
Em conformidade com esta linha de argumentao, os sistemas de cooperao tecnolgica, assim como outras formas de colaborao, constituem-se em fonte de diferenciais inovativos. Os sistemas podem ser entendidos como arranjos entre organizaes pautados por vnculos sistemticos, com carter cooperativo ou no. As empresas so formalmente independentes e suas relaes do origem a uma forma particular de coordenao das atividades econmicas. Podem-se consolidar, por possurem uma estrutura flexvel, aes que alternam padres mais ou menos centralizados que introduz mobilidade firma ao acentuar o ambiente de dinamismo intenso (ALTENBURG; MEYER-STAMER, 1999).
Nessa perspectiva, a inovao tecnolgica depende de uma srie de fatores internos s empresas, que esto ligados ao seu desempenho ao longo do tempo e s suas estratgias tecnolgicas; e externos, que esto ligados s condies macroeconmicas e tambm aos sistemas produtivos com os quais tem alguma relao. Assim, os sistemas representam a institucionalidade que pode ou no ser planejada e que tm o objetivo de dar apoio e ao mesmo tempo estimular a capacidade das empresas na realizao de investimentos em tecnologia. Sob este pressuposto, a troca de fluxos de conhecimento
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tornou-se cada vez maior, sendo responsvel pelo aparecimento de um modelo de inovao mais aberta que requer uma mudana de gesto (ALIO, 2005; CHESBROUGH, 2006).
De forma geral, a cadeia produtiva da agroindstria sucroalcooleira no Brasil apresenta-se bem estruturada, principalmente por ser considerado o nico pas do mundo que domina todos os elos do processo de produo, ou seja, lidera os estgios da produo da cana de acar, da industrializao e da insero do acar e do lcool para o consumidor final.
Sob o cenrio apresentado, percebe-se que a abertura de mercados, ocorrida nos anos 90, proporcionou ao setor sucroalcooleiro presso competitiva de modo que as tecnologias empregadas, a organizao da produo e a gerao de inovaes passaram a serem elementos chave para a competitividade setorial. A construo de novos padres de concorrncia setorial vem gerando novas interaes entre as organizaes e, principalmente, modificando as estruturas de governana das firmas e organizaes j estabelecidas.
Em virtude dessas mudanas, o setor sucroalcooleiro do Brasil, com tecnologias modernas prprias de produo, processamento e gesto, tornou-se um dos mais competitivos do mundo, apresentando altos nveis de produtividade e de rendimento e tambm menores custos de produo. Algumas dessas tecnologias envolvem prticas de irrigao; desenvolvimento em rede de novas variedades de planta/semente resistentes a pragas e doenas. No cenrio industrial, ocorreram progressos para minimizao do tempo de fermentao e de perdas do caldo da cana durante a etapa de esmagamento.
A agroindstria sucroalcooleira no Brasil dividida em duas regies produtoras: o Centro-Sul, com maior nmero de empresas e desenvolvimento produtivo e, o Norte-Nordeste, regio pioneira na produo aucareira no pas, mas atualmente apresenta menor produo e nmero de firmas.
A agroindstria sucroalcooleira vem se destacando como um dos mais representativos setores industriais brasileiros, atingindo 2% do PIB Nacional na Safra 2009/10 (PROCANA, 2010). No Brasil, gera 4,5 milhes de empregos diretos e indiretos, e investe R$8 bilhes por ano. Em Alagoas representa quase a totalidade dos empregos na Zona da Mata.
Ressalta-se que no cenrio local, o nvel tecnolgico adotado pela agroindstria alagoana se aproxima das unidades de processamento do Centro-Sul (So Paulo, Minas Gerais, Gois e Mato Grosso do Sul), com a participao de empresrios nordestinos nas duas regies. As operaes e prticas agrcolas modernas e adequadas s condies climticas da regio so igualmente objeto de implementao na atividade canavieira no Nordeste.
Acrescenta-se discusso o fato do setor em Alagoas ser responsvel por 60% do valor de transformao industrial, empregando 83% de todo pessoal ocupado do estado (FIEA, 2010) e 80%
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das exportaes do estado (FRANCO, 2011). Tal desempenho setorial demonstra a importncia dessa indstria para o desenvolvimento local, justificando, em larga medida, a realizao desta pesquisa, principalmente para pontuar a referncia de interaes entre organizaes, tecnologias e instituies dentro do ambiente local de inovao.
Alguns estudos ligados indstria sucroalcooleira no estado, entre eles o Relatrio de Competitividade (2010) da Federao da Indstria do Estado de Alagoas, um estudo de Eid, Pinto e Chan (2008) e uma tese de doutoramento de Rosrio (2008) especulam sobre a existncia de uma rede de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D que apia as empresas locais, com forte integrao a centros tecnolgicos, mesmo considerando que essa agroindstria seja caracterizada como tradicional e com baixa disposio tecnolgica.
Nessa perspectiva, notvel no cenrio local de competio a forte integrao das empresas sucroalcooleiras, amparadas tecnologicamente pela Rede Interuniversitria de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro RIDESA.
A RIDESA constitui uma estrutura de pesquisa e ensino em cana-de-acar, contando com 142 pesquisadores e 83 tcnicos de oito universidades federais, 15 estaes experimentais e 52 laboratrios para o desenvolvimento de novas variedades de cana-de-acar e do tipo de manejo ideal para a maximizao da produo.
Em Alagoas e Pernambuco, a rede conta com o apoio pesquisa dado por 40 usinas. O principal patrimnio da rede o banco de germoplasma localizado na Estao de Florao e Cruzamento da Serra do Ouro, no municpio de Murici, estado de Alagoas. L esto reunidos mais de 2000 gentipos, entre os cultivares utilizados no pas, clones, outras espcies relacionadas ao gnero Saccharum e cultivares importadas das diferentes regies canavieiras do mundo (RIDESA, 2009).
Diante disso, uma questo de pesquisa levantada neste estudo: como est organizada a indstria sucroalcooleira de Alagoas, a partir da abordagem de Sistema Setorial de Inovao, proposta por Malerba (2002, 2003, 2006).
Para delimitar e aprofundar esta reflexo, este artigo pretende analisar as interaes e as articulaes tecnolgicas entre as empresas da indstria sucroalcooleira do estado de Alagoas por meio das trs dimenses (organizaes, tecnologias e instituies), propostas por Malerba (2002). Especificamente, a pesquisa almeja aferir o perfil das empresas sucroalcooleiras, inovaes desenvolvidas pelas empresas no ano de 2008, os tipos de interaes entre as empresas e seus concorrentes, bem como avaliar a evoluo das interaes das unidades de produo com seus fornecedores e organizaes. Adicionalmente a pesquisa, pretende descrever a existncia do sistema regional de inovao e como as unidades de anlise (organizaes, tecnologias e instituies)
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participam de forma conjunta na dinmica desse setor no estado, mapeando os agentes ligados gerao e difuso de inovaes.
A partir dessas assertivas, a proposta deste artigo est apoiada em cinco sees. Na introduo, procede-se uma abordagem da problemtica, sendo apresentado o tema, a justificativa e os objetivos deste artigo. Em seguida, na seo 2 so apontadas s bases conceituais sobre o tema, abordando as referncias tericas sobre sistema setorial de inovao. Posteriormente, na seo 3 apresenta-se a descrio dos procedimentos metodolgicos. Os resultados obtidos so apresentados na seo 4. Por fim, na seo 5 so apresentadas as consideraes finais do estudo e em seguida as referncias bibliogrficas.
2 SISTEMA SETORIAL DE INOVAO
Diferentes estudos sobre setores produtivos vm alcanando destaque como os elaborados por Cassiolato e Lastres (2000) que afirmam que o processo de inovao apresenta diferentes concepes. A primeira destaca que a inovao construda por meio de uma busca constante pelo aprendizado, determinado pelas interaes que dependem das estruturas institucionais e organizacionais, como as diversidades regionais, padres locais, dentre outros. A segunda concepo afirma que preciso uma grande variedade de agentes envolvidos com a capacidade de transferir, incorporar ou apreender o conhecimento tecnolgico. Ademais, a inovao um processo interativo na medida em que depende de instituies pblicas (institutos de pesquisas e universidades, agncias governamentais de fomento, financiadores, incubadoras), instituies privadas (empresas, associaes empresariais, sindicatos, incubadoras) e da capacidade de aprender, gerar e absorver conhecimentos que resultaro nas inovaes.
Outro entendimento sobre o tema o preconizado pelos neo-schumpeterianos, que reconhecem o papel significativo da pesquisa no processo de inovao, mas, dentre outras divergncias do modelo linear, afirmam a posio central ocupada pelas firmas no desenvolvimento de novas tecnologias. Destacam-se as habilidades organizacionais, a identificao de oportunidades, o desenvolvimento e a acumulao de competncias tcnicas.
Essa abordagem implica em uma viso de empresas como organizaes de aprendizado interativo e coletivo, constituindo trajetrias tecnolgicas prprias e particulares. Pavitt (1990) descreve essa interao como a relao entre capacidade de inovao e inovao tecnolgica, chamando a ateno para a interao entre as equipes de P&D e as demais reas funcionais da
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empresa, assim como para as decises estratgicas tomadas em cada uma delas, explorando o fluxo de comunicao dentro e entre as firmas.
A idia de Sistemas de Inovao - SI foi a priori discutida em meados dos anos 80, sendo parte das perspectivas analticas de rgos importantes como a Organizao para Cooperao Econmica e Desenvolvimento OCED, Comisso Europia e para a Conferncia das Naes Unidas para Comrcio e Desenvolvimento UNCTAD (LUNDVAL et al, 2002).
Nessa linha de raciocnio, os sistemas que so bem sucedidos tm capacidade maior de desenvolver interaes construtivas entre os agentes, desta maneira superam processos deficientes sem muitos esforos e desperdcio de recursos (ABELEDO; MULLIN; JARAMILLO, 2007).
De acordo com a concepo de Cassiolato e Lastres (2000) e Marion Filho e Sonaglio (2007), um sistema de inovao tem por objetivo explicar a relao entre instituies de diferentes tipos que em conjunto e individualmente contribuem para o desenvolvimento e transmisso de tecnologias alm de ser uma alternativa para as empresas adquirirem novas habilidades e competncias. importante ressaltar que dentro desse sistema, alm de empresas, esto presentes instituies de ensino e pesquisa, financiamento, instituies governamentais entre outras (CASSIOLATO; LASTRES, 2000).
Para Abeledo, Mullin e Jaramillo (2007), uma vez que o SI descreve as interaes entre as vrias instituies, organizaes e empresas que na maioria das vezes funcionam sem depender umas das outras, ele abrange tanto as relaes daquelas que cooperam como tambm daquelas que competem sem que exista uma que exera controle sobre o sistema.
Os sistemas de inovao so tambm considerados teis para explicar alguns pontos deixados de lado pelas teorias antigas de mudanas tecnolgicas, como o da variedade e do objetivo dos investimentos em aes de aprendizado inovativo, dando foco s relaes entre instituies e suas propostas de incentivo e capacitao, uma vez levado em conta a grande diversidade no modo como pases e organizaes investem no aprendizado (CASSIOLATO; LASTRES, 2000).
Para Lundvall et al (2002) existem duas razes principais para a concepo de sistemas de inovao ter sido rapidamente difundida entre estudiosos e policy makers. A primeira delas se refere falha da teoria macroeconmica de explicar os fatores por trs da competio internacional e o desenvolvimento econmico. A segunda relaciona-se ao problema prtico que se tornou a extrema diviso das especializaes entre instituies polticas; nesse contexto, nem um conceito analtico foi bem aceito pelos responsveis pela inovao de cincia poltica para superar tais problemas.
Coocke (2001) defende que o delineamento conceitual do sistema apoiado por pesquisas empricas cuja abordagem contm cinco pontos chave que esto conectados: a) regio: unidade poltica que se caracteriza como intermediria entre os nveis nacionais ou federais e locais do governo que
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possam possuir culturas ou histrias semelhantes, porm que possua forma de poder para intervir e apoiar o desenvolvimento econmico, principalmente a inovao; b) inovao: partindo da concepo neo-schumpeteriana como novo conhecimento de produto, processo ou organizao, mas que devem ser testadas atravs de pesquisas em empresas; c) rede: relaes de confiana com base em cooperao, reputao entre agentes de interesses comuns, voltados a inovao; d) aprendizado: relacionado principalmente ao aprendizado institucional onde novos nveis e tipos de conhecimento, habilidade e capacidades podem ser introduzidos nas rotinas de empresas e organizaes de suporte a inovao; e) interao: entendida como formas de comunicao formais e informais voltadas inovao, associadas ao processo de aprendizado, a criticas ou adoo de idias de projetos especficos ou prticas coletivas de relevncia econmica ou comercial.
Para Silvestre (2007) o conceito de SI se relaciona a idia de sistemas, como forma de multiplicidade e complexidade de conexes, e a inovao como forma de dinamismo e mudanas tecnolgicas. Nesse entendimento, os sistemas de inovao podem ser delimitados a partir de diferentes perspectivas: geogrfica, que compreende o Sistema Nacional de Inovao e o Sistema Regional de Inovao e a econmica, em que se situam os Sistemas Setoriais de Inovao.
Nesse estudo, utiliza-se a tipologia da setorialidade partindo-se de uma viso multidimensional, da dinmica e da integrao de diversos setores que atuam direta ou indiretamente relacionados ao mercado atravs de uma rede complexa de interaes entre todos os seus agentes. A complexidade se relaciona multiplicidade de atores, os vnculos existentes e suas peculiaridades e funes, o dinamismo est relacionado s mudanas e progressos tecnolgicos, em constante adaptao e modificao, buscando a sustentabilidade em longo prazo. A vantagem da viso sistmica setorial est na possibilidade de maior conhecimento da estrutura e das fronteiras do setor, de seus agentes e interaes, dos processos de aprendizado, de inovao e de produo, da dinmica de transformao, e dos fatores que determinam as performances das firmas (MALERBA, 2002).
Para o autor as dimenses regional e nacional de inovao so caracterizadas por limites geogrficos. Estes representam um elemento importante a ser considerado na maioria das anlises dos sistemas setoriais, pois na dinmica de sistemas no h um nico modelo capaz de ser utilizado. Em seu entendimento quando se reduz a abrangncia geogrfica, aumentam as possibilidades de desenvolver polticas de competitividade e inovao que permitam atender as especificidades de cada localidade ou regio.
A partir desses pressupostos, as vantagens de uma viso sistmica setorial residem na possibilidade de maior conhecimento da estrutura e das fronteiras de cada qual, de seus agentes e interaes, de seus processos de aprendizado de inovao e de produo, de sua dinmica de
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transformao, e dos fatores que determinam as performances das firmas e dos pases em que se localizam.
Na definio de Freire (2002), os Sistemas Setoriais de Inovao (SSI) devem ser considerados como uma rede de agentes que interagem em uma rea tecnolgica especfica, objetivando gerar, difundir e utilizar tecnologias, dando nfase nas relaes sistmicas na absoro de conhecimentos concernentes inovao.
Nessa perspectiva, os SSI atuam como forma de reestruturao produtiva, para desenvolver as diversas formas possveis de transformaes atravs da interao de vrios setores (MALERBA, 2003). Surgem atravs do interesse coletivo pela formao de sistemas que fortalece as chances de inovao e sobrevivncia no mercado competitivo.
Segundo Malerba (2002) um sistema setorial de inovao e produo um conjunto de produtos novos e estabelecidos para uso especfico, e um conjunto de agentes que realizam atividades e interaes de mercado e de no mercado para a criao, produo e venda desses produtos. O autor ainda descreve um SSI atravs de trs dimenses que so responsveis pela gerao de novas tecnologias e da inovao, o conhecimento e domnio tecnolgico, os atores e cadeias, e as instituies. Estas trs dimenses formam os pilares fundamentais do conceito de sistemas setoriais de inovao, como resultado da interao de diversas lgicas funcionais, da complexidade e dinamicidade, beneficiando a inovao, que raramente acorre de forma isolada (MALERBA, 2003).
Como detalhamento, o Quadro 1 apresenta as trs dimenses, que segundo Malerba (2002) constituem um Sistema Setorial de Inovao.
Quadro 1 Trs dimenses do Sistemas Setorial de Inovao, segundo Malerba (2002)
Fonte: Elaborado pelos autores.
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Na primeira dimenso, um aspecto a ser mencionado refere-se ao enfoque no conhecimento, no domnio tecnolgico, nos vnculos e complementaridades dinmicas que so a fonte principal de transformao e crescimento de sistemas setoriais, gerando inovao e mudana. Na segunda dimenso, um setor composto por indivduos e/ou organizaes (agentes) em vrios nveis de agregao, com processos de aprendizado especficos, competncias, estrutura organizacional, crenas, objetivos e comportamentos, que interagem por meio de processos de comunicao, trocas, cooperaes, competies e comandos. Assim formam estruturas heterogneas de forma que suas interaes possibilitam a troca de conhecimento complacente para a inovao (cadeias). Por sua vez, na terceira, as instituies so um composto que incluem normas, rotinas, hbitos comuns, prticas estabelecidas, regras, leis, e padres que amoldam as interaes entre agentes.
Dentre os estudos desenvolvidos sobre a abordagem setorial de sistemas de inovao na forma proposta por Malerba (2002, 2003, 2006), Rosrio (2008) analisa a agroindstria sucroalcooleira nacional e menciona que a interao entre as redes de pesquisa no desenvolvimento de inovaes est alterando o padro de concorrncia setorial.
Na anlise do SSI de Alagoas, as organizaes podem ser caracterizadas como as unidades produtoras de acar e lcool, que interagem com os centros de pesquisas e viabilizam os testes das tecnologias geradas no sistema de inovaes, difundindo os resultados.
3 ABORDAGEM METODLOGICA
A pesquisa foi operacionalizada em duas fases. Inicialmente, foi realizado um levantamento de dados documentais, sendo pesquisados os institutos, universidades, empresas, associaes, centros tecnolgicos, entre outros que voltadas ao desenvolvimento de P&D no segmento. Como tal, foram levantados dados secundrios de rgos integrantes do sistema setorial de inovao do estado, entre eles: RIDESA, Sindicato da Indstria do Acar e do lcool no Estado de Alagoas Sindacar/AL., bem como entidades que trabalham com a promoo da inovao no segmento sucroenergtico como o Ncleo de Inovao Tecnolgica NIT da Universidade Federal de Alagoas. Tal coleta resultou na constituio da rede de P&D e das unidades de anlise do sistema setorial de inovao.
Em seguida, foram coletados dados primrios de modo a obter a resposta da questo posta na introduo. Logo, a pesquisa desenvolvida teve cunho exploratrio e descritivo, tendo como base o mtodo survey. Pinsonneault e Kraemer (1993) definem a pesquisa survey como a maneira de coletar dados ou informaes sobre particularidades de um determinado grupo, representantes de uma populao-alvo, por meio do instrumento questionrio.
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Para a coleta de dados primrios foi realizada uma pesquisa descritiva perante a populao-alvo composta por 24 indstrias sucroalcooleiras do estado de Alagoas, definida a partir do cadastro da Federao da Indstria do Estado de Alagoas (FIEA, 2007). Embora todas as empresas tenham sido contatadas, apenas 17 responderam ao questionrio. No foi objeto de anlise a aplicao de questionrio com os outros integrantes do sistema setorial de inovao medida que a pesquisa pretendia entender a interao sob a tica das unidades produtivas.
Assim, a aplicao dos questionrios foi realizada apenas com as diretorias executivas das unidades produtivas. A durao da coleta variou de 20 a 30 minutos durante os quais os entrevistados no apenas respondiam aos questionamentos, como tambm adensavam o trabalho com consideraes adicionais a fim de oferecer a efetiva dimenso das respostas. As unidades pesquisadas no sero identificadas por questo de confidencialidade.
O instrumento de pesquisa abrangeu, em trs blocos, questes relativas s inovaes desenvolvidas; as unidades de anlise de interao do sistema setorial de inovao e uma avaliao da evoluo da rede de interao entre concorrentes, fornecedores, clientes e demais organizaes do setor. O primeiro bloco teve como objetivo mensurar as inovaes desenvolvidas pelas empresas no ano de 2008, considerando trs aspectos: novos produtos lanados, novos processos desenvolvidos e novas patentes registradas.
Em seguida, o segundo bloco buscou identificar a evoluo da rede de interao, identificando o nvel de relacionamento entre as empresas sucroalcooleiras e outras organizaes, concorrentes e a relao com os fornecedores. Vale salientar que essa anlise foi fundamental, visto que a rede de organizaes um dos elementos-chave em um sistema setorial de inovao (MALERBA, 2003).
O terceiro bloco objetivou identificar as unidades de anlise de um Sistema Setorial de Inovao, tendo suas as questes divididas em: Tecnologias, Organizaes e Instituies. Conforme apresentado na seo anterior, essas unidades de anlise so definidas por Malerba (2002) como limites de um sistema setorial de inovao.
Os dados primrios obtidos com a realizao da pesquisa foram analisados por meio do emprego de testes estatsticos que permitiram decidir sobre a aceitao ou rejeio das associaes estabelecidas. Foram realizadas, ainda, anlises descritivas para estabelecer o perfil e as caractersticas das inovaes das empresas. Vale ressaltar que todas as empresas foram contatadas no processo de coleta de dados.
Ademais, foram utilizadas estatsticas no paramtricas para testar a correlao dos dados, dado que a amostra alcanada foi de dezessete unidades produtivas. As tcnicas no paramtricas se caracterizam por se adaptar aos dados das cincias do comportamento, no sendo necessria fazer
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suposies sobre a distribuio da populao da qual tenham sido extrados os dados para anlise (SIEGEL, 1975). Foram escolhidos dois testes no paramtricos: coeficiente de concordncia W de Kendall e o teste H de Kruskal-Wallis. Para consider-los significativos ao estudo, estabeleceu-se o nvel de significncia p > 0,05 (tambm conhecido como valor p). O valor p o nvel de significncia estatstica mais exigente (MCDANIEL, 2000). As duas metodologias so detalhadas a seguir.
De acordo com Siegel (1975), o coeficiente de concordncia de Kendall um mtodo no paramtrico que busca verificar qual o grau de associao ou correlao (concordncia) entre um conjunto de 3 ou mais variveis. Como todo mtodo no paramtrico, no exige pr-especificaes quanto ao tipo de distribuio da populao ou qualquer outro parmetro (SIEGEL, 1975; HOFFMANN, 2002; SPIEGEL, 1993).
Para utilizar o mtodo, cada varivel deve estar pelo menos no nvel ordinal, para possibilitar a ordenao dos escores de cada varivel em postos. O valor do coeficiente W est compreendido entre 0 e +1, sendo 0 um valor que significa falta de correlao entre as variveis, enquanto que +1 significa uma correlao perfeita (SIEGEL, 1975). Em outras medidas de correlao, o valor possvel para seus respectivos coeficientes vai de -1 a +1, o que evidencia tambm a fora da relao, ou seja, se as variveis esto positivamente ou negativamente relacionadas (SIEGEL, 1975; HOFFMANN, 2002; SPIEGEL, 1993).
De acordo com Malerba (2002), os elementos de um sistema setorial so correlacionados uns com os outros, ou seja, so mutuamente dependentes. Segundo esse princpio, a hiptese foi testada usando o coeficiente W de Kendall.
Hiptese nula: as variveis que representam as unidades de anlise de um sistema setorial de inovao (Tecnologias, Organizaes e Instituies) no so correlacionadas entre si ao nvel de significncia especificado.
O tamanho da amostra testada foi igual a 17, e o nvel de significncia () especificado foi de 0,05. Se o valor p obtido no teste fosse menor ou igual a 0,05 (o nvel de significncia especificado), ento a hiptese nula deveria ser rejeitada; porm, se for maior que 0,05, ento no haveria evidncias suficientes para rejeitar a hiptese nula (LARSON, FARBER, 2004; ANDERSON et al, 2004).
Por sua vez, o teste H de Kruskal-Wallis foi executado em dois estgios. O primeiro buscou verificar se existia diferena significativa nas mdias do componente estudado do SSI (tecnologias, organizaes ou instituies) ao longo dos grupos de uma das variveis de evoluo das interaes. Se houvesse diferena significativa nas mdias, ento se verificaria o posto mdio em cada grupo com o intuito de evidenciar se havia uma ordem lgica ou no. um teste para K amostras independentes que busca verificar se as mdias das K amostras ou grupos so diferentes entre si, ou provm da mesma
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populao (SIEGEL, 1975). Por ser um mtodo no paramtrico, no exigiu igualdade de varincia ou outras exigncias de testes paramtricos. A hiptese para este teste foi a seguinte: Hiptese nula: no h diferena entre os escores mdios do componente estudado ao longo dos grupos.
Cada componente foi estudado em separado, em conjunto com uma varivel que serviu para separar as mdias do componente em grupos. Essa varivel foi uma de trs: evoluo das interaes com outras organizaes, evoluo das interaes com concorrentes e evoluo das interaes com fornecedores. Cada uma dessas variveis considerou trs grupos: reduo das interaes, estabilidade das interaes e aumento das interaes.
Dessa maneira pode-se separar, por exemplo, mdias do componente tecnologia nos trs grupos ao longo da varivel evoluo das interaes com outras organizaes e verificar se essas mdias eram todas iguais ou se diferenciavam entre si.
Para o segundo estgio, considerou-se apenas o que se mostrou significante no teste H de Kruskal-Wallis. Em cada caso, verificou-se o valor mdio de cada grupo. Seguindo a lgica, como o grupo 1 significou reduo das interaes, ento dever ter o menor valor mdio, enquanto que o grupo 2 (interaes estveis) dever ter um valor mdio maior que o grupo 1, e o grupo 3 (aumento nas interaes) dever ter um valor mdio maior que o grupo 2. Qualquer outra configurao poderia se mostrar como lgica desde que devidamente apoiada teoricamente. Para execuo do teste foi escolhido um nvel de significncia de 0,05.
4 ANLISE DE DADOS E RESULTADOS
Essa seo dedicada apresentao dos resultados, sendo dividida em tpicos, destacando-se: constituio do sistema e as unidades de anlise do sistema setorial de inovao, anlise do perfil das empresas pesquisadas, inovaes desenvolvidas, avaliao da evoluo das redes de interaes entre concorrentes, fornecedores, clientes e demais organizaes do setor e a identificao do grau de aplicabilidade das unidades de anlise (Tecnologias, Organizaes e Instituies), ou seja, grau de utilidade e interao dessas variveis no setor. Por ltimo, foi testado o grau de associao (correlao) destas unidades de anlise no mbito da populao estudada e anlise das estatsticas no paramtricas utilizadas.
4.1 Constituio do sistema setorial e as unidades de anlise
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Dentre os integrantes do sistema setorial de inovao, a partir da classificao dos dados secundrios, podem-se citar algumas organizaes pblicas e privadas, que tem participao no desenvolvimento do setor em distintos nveis de interao, como: Rede Interuniversitria para o Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro RIDESA, Cooperativa Regional dos Produtores de Acar e lcool de Alagoas CRPAAA, Associao dos Plantadores de Cana de Acar de Alagoas ASPLANA, Sindicato da Indstria do Acar e do lcool em Alagoas Sindaucar/AL, rgos de fomento, apoio e financiamento, dentre outros como pode ser visualizado no Quadro 2. Ressalta-se a insero nesse sistema dos fornecedores, das instituies e dos marcos regulatrios existentes.
As universidades locais ligadas rede (Universidade Federal de Alagoas e Universidade Federal Rural de Pernambuco) so responsveis por cerca de 30% das variedades Repblica do Brasil (RB) j lanados. Aps a criao da rede, j foram liberados para os produtores 37 cultivares RB (ALBUQUERQUE; SILVA, 2008).
A principal fonte de financiamento da RIDESA so as 248 usinas associadas e grupos de interesse como sindicatos patronais (Sindacar) dos estados produtores, cooperativas de usinas, dentre outros. So fontes de financiamento os projetos de pesquisa submetidos a FINEP, Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado de So Paulo, Banco do Nordeste e as Fundaes estaduais de amparo pesquisa (FAPs).
importante ressaltar que vrias empresas fornecedoras de insumos e outras tecnologias para o setor possuem parceria com a RIDESA para desenvolvimento, melhorias e testes de produtos j lanados ou novos. As principais empresa so DuPont e FMC em defensivos, fertilizantes e inibidores de florao, e a Netafin na rea de irrigao. Mais recentemente a Syngenta firmou parceria para o desenvolvimento de um pacote tecnolgico com cultivares.
A RIDESA contribui para o desenvolvimento da complementaridade de ativos na indstria, ao desenvolver: a) habilidades e conhecimentos para os pesquisadores trabalharem em P&D e na parte operacional das usinas (so 75 alunos de iniciao cientfica e 24 de ps-graduao); b) parte de maquinrio para o manejo correto das variedades; e c) mtodos de plantio e medidas de controle do desempenho de cada variedade no campo. As redes de pesquisa desenvolvem tambm o controle de pragas e tecnologias para a irrigao, atividades de extremo interesse para essa agroindstria, no Nordeste.
No caso do controle de pragas, o Planalsucar introduziu o parasita C. flavipes para reduzir o efeito da infestao da broca-da-cana, isso resultou, at o final da dcada de 80, em um ganho de 494.075.900 kg de acar, s em Alagoas (ALBUQUERQUE; SILVA, 2008).
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Adicionalmente, a indstria no Estado por meio das suas interaes com a RIDESA j desenvolveu vrios melhoramentos genticos na lavoura e avana na expanso da produtividade do etanol. O principal patrimnio do Programa de Melhoramento Gentico da Cana de Acar - PMGCA o banco de germoplasma localizado na Estao de Florao e Cruzamento da Serra do Ouro (UFAL), no municpio de Murici, Estado de Alagoas.
Outro rgo de P&D regional o Centro de Tecnologias Estratgicas do Nordeste (CETENE). Este centro tem como objetivo realizar estudos, projetos interdisciplinares, atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovao, em reas estratgicas para o desenvolvimento do Nordeste brasileiro. Alm disso, uma iniciativa do Ministrio da Cincia e Tecnologia - MCT que busca viabilizar processos de pr-tratamento e hidrlise da biomassa da cana-de-acar, para a produo nordestina de etanol de 2 gerao. Destarte que o centro trabalha com biotecnologia no sentido da criao de uma biofbrica de meristemas (clones) de cana-de-acar de alta produtividade. O MCT investiu R$ 226 mil para a construo das estufas e, R$ 800 mil para viabilizar um laboratrio para o bioetanol. Contudo, o trabalho com meristemas lento e extremamente caro para uma cultura onde as economias de escala so fundamentais, apesar desse tipo de tecnologia manter a pureza da planta.
Sistema de Produo e Inovao
Firmas Infraestrutura de Conhecimento
- Unidades produtoras (usinas e destilarias);
- Fornecedores de mquinas e equipamentos;
- Fornecedores de matria prima.
- Rede Interuniversitria para o
Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro
RIDESA;
- Centro de Tecnologias Estratgicas do
Nordeste (CETENE).
- Cooperativa dos Plantadores de Cana de
Alagoas COPLAN;
- Federao da Agricultura e Pecuria do
Estado de Alagoas FAEAL;
- Sindicato da Indstria do Acar e do lcool
no Estado de Alagoas - Sindacar/AL;
- Associao dos Plantadores de Cana do
Estado de Alagoas ASPLANA;
- Sociedade dos Tcnicos do Acar do Brasil
STAB/Regional Leste;
- Universidade Federal de Alagoas UFAL;
- Instituto Federal de Alagoas IFAL;
- Sistema S: SEBRAE, SENAI, SENAC;
- Banco Nacional para Desenvolvimento
Econmico e Social BNDES;
- Banco do Nordeste do Brasil BNB;
- Federao das Indstrias do Estado de
Alagoas FIEA.
Instituies Poltica de Apoio a Inovao
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- Acordos de transferncias de tecnologias da
RIDESA/PMGCA e fornecedores de
equipamentos;
- Acordo para venda conjunta atravs da
cooperativa;
- Cooperao no uso de equipamentos e
emprstimos quando h quebra (mesmo em usinas
concorrentes);
- Acordo com representante do IBAMA para
discutir a reduo da queima da cana.
(FERREIRA; VITAL; LIMA, 2008, p. 07)
- Lei Federal n 10.973 referente incentivos
em inovao e pesquisa cientfica;
- Decreto n 5.798 sobre incentivos fiscais
inovao tecnolgica;
- Lei federal n 9.456 de proteo de cultivares;
- Lei estadual n 7.117 sobre inovao em
Alagoas;
- Lei n 6.320 de Concesso Fiscal no estado de
Alagoas;
- No h registro de legislao estadual para
reduo do corte com queima.
Quadro 02 Unidades do Sistema Setorial de Inovao
FONTE: Elaborado pelos autores.
A RIDESA responsvel pelo desenvolvimento de cultivares com a sigla RB (Repblica do Brasil) e o maior programa com essa finalidade no pas. Desde que foi criada a rede j disponibilizou mais de 37 novos cultivares. Esse incentivo visvel quando se analisa o rendimento mdio da produo e o Brasil chega a mais de 79 mil toneladas por hectares (ton./ha). Alagoas atinge o ndice de 67 mil ton/ha, atrs apenas do Par de alguns estados da regio centro-sul (IBGE LSPA, 2009).
4.2 Perfil das Empresas e Inovaes desenvolvidas
O Estado de Alagoas produziu em suas 24 unidades produtivas, na safra 2008/09, 29,8 milhes de toneladas de cana, 2,6 milhes de toneladas de acar e 852,6 mil metros cbicos de lcool, conforme nota divulgada pelo Sindicato da Indstria do Acar e do lcool no Estado de Alagoas. A indstria apresenta uma expectativa para a safra 2010/11 superior a 27 milhes de toneladas de cana.
Nas empresas pesquisadas, os dados permitiram pontuar o faturamento mdio anual acima de R$ 240 milhes, sendo assim, todas consideradas de grande porte. Os dados da pesquisa descritiva podem ser discutidos considerando, tambm, o recorte setorial da indstria medida que a distribuio percentual dos trabalhadores da indstria no Estado por grau de instruo aponta para um percentual elevado de analfabetos. Convm ressaltar que essa indstria emprega um nmero significante de profissionais sem formao para o corte sazonal da cana, mesmo com forte integrao com centros de pesquisa.
Quanto s informaes solicitadas no primeiro bloco do instrumento de pesquisa, em relao s inovaes identificadas, todas as empresas afirmaram no terem gerado nenhum novo produto, nem ter registrado patentes em 2008. Todavia, todas realizaram inovaes em seus processos no tocante a melhoria da produtividade e eficincia na escala de produo.
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Um dado relevante na pesquisa o fato de todas as empresas afirmarem investir 10% de seu faturamento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Em geral, 80% das empresas apresentaram os maiores investimentos em pesquisas genticas na rea agrcola e 85% possuem laboratrios para a anlise do acar, do lcool e da prpria cana-de-acar. Alm disso, parte dos investimentos dedicada s prticas de irrigao e desenvolvimento em rede de novas variedades de planta mais resistentes. As unidades produtoras alagoanas so as que possuem o mais moderno sistema de irrigao por gotejamento do pas. Essas reas conseguem o mesmo nvel de produtividade do centrosul (FRANCO, 2011).
Segundo dados do Ncleo de Inovao Tecnolgica NIT / Universidade Federal de Alagoas - UFAL, entre o ano de 2000 a 2008 foram registrada apenas duas novas patentes de cultivares (classificao para inovaes em plantas). Destaca-se que a previso para registro de mais cinco registros em 2010. Considerando os dados do NIT/UFAL as empresas produtoras e a RIDESA contam atualmente com doze contratos de pesquisa colaborativa. Na percepo de 100% das empresas, as fontes de inovao externas contam com a participao de outros agentes, como as universidades.
4.3 Avaliao da Evoluo das Redes de Interaes
Nesta sesso apresentada a evoluo das redes de interaes entre Empresas Sucroalcooleiras (unidades produtoras) e Organizaes (outras empresas ou rgos de apoio) nos ltimos cinco anos para os representantes das unidades produtoras. Em seguida, so verificados os principais tipos de redes de interaes entre as Empresas Sucroalcooleiras e Concorrentes e Empresas Sucroalcooleiras e Fornecedores. Tais interaes fortalecem a consolidao dos sistemas de inovao, principalmente, quando as empresas interagem financeira e cientificamente, conforme proposto e relatado em outros estudos sobre inovao.
Nessa direo, os resultados foram obtidos a partir de uma escala com cinco pontos, variando entre 01 para diminuiu fortemente, 05 para aumentou fortemente e 03 para estvel, ou seja, no houve alteraes no grau de relacionamento com o referido agente. A evoluo questionada abrange o espao temporal de cinco anos.
Para este estudo, os resultados favorveis encontram-se acima da pontuao trs. Para entender as relaes entre as Empresas Sucroalcooleiras e as demais organizaes foram extradas as mdias. A anlise dos dados visualizada na Tabela 1.
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Organizaes Mdia Desvio Padro
Fornecedores 3,75 0,452
Instituies Financeiras 3,58 0,900
Clientes 3,58 0,900
Universidades 3,33 0,651
Concorrentes 3,33 0,492
rgos Pblicos 3,17 0,835
Associaes 3,08 0,289
Sindicatos 3,00 0,000
Tabela 1- Interao Empresas Sucroalcooleiras x Organizaes
Fonte: Dados da pesquisa.
A partir dos dados acima, pode-se identificar que houve uma maior evoluo positiva na interao com os fornecedores em detrimento do menor grau com os sindicatos, esta ltima se manteve estvel. Para explicar esse resultado, destacam-se, segundo dados do Sindacar/AL, que o percentual de cana advinda de fornecedores sobre o total de cana moda foi de 31% na safra 2009/2010. Enquanto que o percentual de cana transacionada entre as unidades produtoras no chega a 5%.
Um ponto em destaque o fato do grau de interao com os clientes no ter sido elevado. Especula-se que a existncia da intermediao na venda por meio de uma cooperativa (com 10 unidades produtoras) o fator determinante da posio da mdia. Por outro lado, observa-se um alto desvio padro uma vez que nem todas as empresas sucroalcooleiras participam dessa forma de venda indireta.
Ademais, nas trs primeiras organizaes, os maiores nveis de interatividade, relacionaram-se, principalmente, com atividades operacionais das unidades estudadas. A partir da quarta posio - Universidades - ocorrem interaes direcionadas a inovao tecnolgica. No geral, as empresas afirmaram que nos ltimos cinco anos a evoluo das interaes aumentou fortemente.
Ressalta-se que todas as relaes foram positivas, apresentando uma tendncia maior interao cooperativa entre as unidades produtoras e demais agentes do mercado.
As anlises seguintes foram realizadas para compreender os tipos de interaes entre as empresas e seus concorrentes. Destaca-se que tambm foram extradas as mdias e desvios padro. Os dados visualizados na Tabela 2 seguem a mesma escala da tabela anterior. Analisando essas interaes, os dados apontam, a partir da mdia, um maior foco para o acesso a tecnologias limpas, seguidas de equipamentos e tecnologias comuns. Destaca-se que 30% dos entrevistados citaram trocas contnuas como caracterstica da interao. De forma geral, as unidades produtivas cooperaram disponibilizando equipamentos e alternativas estratgias. Nota-se pela Tabela 2 que os desvios padro diferem de forma bastante discreta, demonstrando uma uniformidade nas respostas.
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3,75
3,67
Tabela 2 - Tipos de Interao Empresas Sucroalcooleiras x Concorrentes
Fonte: Dados da pesquisa.
Em seguida, apresentada a evoluo das interaes das unidades de produo com seus fornecedores. Para tanto foi utilizada a mdia, como pode ser observado na Tabela 3. Nesta anlise foi possvel observar que a maior interao com fornecedores ocorre buscando o acesso a equipamentos e insumos. Em especial, as interaes ocorrem com fornecedores de mquinas e equipamentos que realizam transferncia de novas tecnologias. Ressalta-se tambm que o ensaio para desenvolvimento de novos produtos destaque no processo de interao. A varivel Assistncia Tcnica apresentou o maior desvio padro. Todavia, alguns fornecedores oferecem assistncia complementar para mquinas, equipamentos e sistemas.
O instrumento de pesquisa no diferenciou entre os fornecedores de cana de acar (matria prima) e os de mquinas e equipamentos, o que no permitiu traar informaes mais detalhadas. consenso que so relaes distintas, uma vez que os primeiros lidam com a matria bruta, dependendo das usinas inclusive para adquirir as sementes que sero plantadas (em alguns casos), enquanto que os fornecedores de mquinas e equipamentos estabelecem com as unidades de produo uma relao mais cooperativa, a fim de aumentar a produtividade do setor, atravs de tecnologias mais modernas, adicionais de capacitao e diferenciais na logstica.
Tipos de interao Mdia Desvio Padro
Acesso a equipamentos e insumos 3,83 0,577
Ensaio para desenvolvimento de novos produtos 3,75 0,622
Assistncia tcnica 3,42 0,793
Aquisio de tecnologias mais limpas 3,33 0,651
Transferncia de Tecnologia 3,33 0,492
Aes conjuntas de marketing 3,00 0,000
Tabela 3 - Tipos de interao Usinas x Fornecedores
Fonte: Dados da pesquisa.
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Tipos de interao Mdia Desvio Padro
0,452
0,492
Tecnologias comuns 3,67 0,492
Ensaio para desenvolvimento de novos
produtos 3,33 0,492
Capacitao 3,33 0,492
Marketing 3,25 0,452
Tecnologias limpas
Equipamentos
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4.4 Grau de Aplicabilidade e Associao das Unidades de Anlise
Nesta seo sero apresentadas as unidades de anlise de acordo com o grau de aplicabilidade e seus nveis de inter-relacionamento, segundo as dimenses de setorialidade definidas por Malerba (2002). Diante disto, primeiramente, foram avaliados, atravs da mdia, o quanto as unidades de anlise (organizaes, tecnologias e instituies) participavam de forma integrada no sistema setorial de inovao e sua relevncia ou aplicabilidade no contexto da inovao.
Para a anlise a seguir foi considerada uma escala de 01 a 05, sendo 01 o menor nvel de aplicabilidade da varivel e 05 o maior nvel de aplicabilidade. Os resultados destas informaes podem ser observados na Tabela 4.
Unidades de Anlise Mdia Desvio Padro
Organizaes 4,19 0,443
Tecnologias 3,69 0,661
Instituies 3,03 0,937
Tabela 4 - Aplicabilidade das Unidades de Anlise dentro do sistema setorial de inovao
Fonte: Dados da pesquisa.
A tabela acima indica que a unidade Organizaes apresenta o maior grau de aplicabilidade na indstria sucroalcooleira. Como j mencionado no estado da arte esta unidade engloba os indivduos e organizaes que compem a indstria/setor, em vrios nveis de agregao, com processos de aprendizado e competncias especficas e que interagem por meio de processos de comunicao, trocas, cooperaes e competies. Nessa direo, os dados permitem aferir que as empresas pesquisadas afirmam que as demais organizaes, agentes do mercado e seus mtuos processos de relacionamentos tm maior influncia nas suas aes voltadas a inovao. Dentre essas organizaes, podem-se destacar as instituies financeiras, concorrentes, fornecedores, clientes, entidades de apoio.
A unidade de anlise Tecnologias apresenta-se em segundo lugar em termos de aplicabilidade dentro do sistema setorial de inovao. Este fator est relacionado com o conhecimento e domnio tecnolgico do setor, principal transformador e fonte de crescimento dos sistemas setoriais, capaz de gerar inovaes e mudanas.
De forma geral, esse dado pode ser justificado pelo fato das empresas sucroalcooleiras investirem parte de seus recursos na atualizao tcnica de equipamentos. Ademais, foi relatado o constante investimento em laboratrios para a anlise tcnica do acar e do lcool, bem como em novos processos que permitam o aumento da eficincia tcnica ou produtividade. De forma menos
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intensa ocorrem os investimentos em inovaes de gesto e produtos. Vale ressaltar que todas as unidades analisadas afirmaram a reduzida capacidade de gerar novos produtos medida que 70% da produo so destinadas ao mercado internacional sob a forma de commodities. As anlises permitem especificar que as inovaes ocorrem principalmente no desenvolvimento de novas variedades genticas.
Por fim, as Instituies foram citadas como a unidade com menor grau de aplicabilidade para o sistema setorial de inovao. Conforme, marco terico, exposto por Malerba (2002), estas se referem s leis, normas, regulamentos e hbitos comuns que moldam as interaes entre os diversos agentes.
Aps a desregulamentao do setor na dcada de 1980-90, foram observadas maiores fiscalizaes para o cumprimento da legislao trabalhista e do desenvolvimento ambiental. Porm, os dados confirmam dbil atuao no contexto do marco regulamentrio para o desenvolvimento de inovaes.
As certificaes de qualidade so normas comuns entre as usinas, especialmente por exportarem para mercados exigentes, como o Reino Unido. A obteno de selos de qualidade advm de eficincia ambiental e cuidados com os trabalhadores rurais, alm do padro de gesto administrativa. (FRANCO, 2011)
4.5 Validao da hiptese: correlao entre as dimenses de anlise
No sentido de verificar os limites entres as unidades de anlise (Tecnologias, Organizaes e Instituies) foi elaborada uma hiptese que foi testada utilizando-se do coeficiente de correlao de Kendall para verificar a existncia de associao significativa entre as dimenses do Sistema Setorial de Inovao ao nvel de significncia de 0,05 por meio da seguinte hiptese: As variveis (Tecnologias, Organizaes e Instituies) so correlacionadas entre si.
Esse teste foi usado para verificar se existia correlao significativa entre as dimenses do SSI, atravs da hiptese nula em que as variveis que representam estas dimenses de anlise de um sistema setorial de inovao (Tecnologias, Organizaes e Instituies) no so correlacionadas entre si ao nvel de significncia especificado.
De acordo com Malerba (2002), os elementos de um sistema setorial so correlacionados uns com os outros, ou seja, so mutuamente dependentes. Um aumento no grau de aplicabilidade em uma unidade de anlise, tambm implicar um aumento nas demais.
O resultado do teste pode ser observado na Tabela 5. Nessa direo, observa-se um coeficiente relativamente alto (0,873) e significante, uma vez que o valor p observado menor que o valor do
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nvel de significncia especificado, o que nos permite rejeitar a hiptese nula (de que no h correlao entre as variveis).
Variveis 03
W de Kendall 0,873
Qui-quadrado 39,398
Graus de liberdade 23
Valor p 0,002
Tabela 5 - Coeficiente de concordncia de Kendall (W)
Fonte: Dados da pesquisa.
Tal resultado demonstra uma correlao significativa se considerarmos as trs variveis ao mesmo tempo, o que teoricamente, comprova que Tecnologias, Organizaes e Instituies so mutuamente dependentes (MALERBA, 2003). Tecnologias so definidas de acordo com a rede de organizaes e suas interaes, alm das instituies que afetam o setor.
De maneira semelhante, o formato da rede de organizaes e suas interaes dependem do estgio e domnio tecnolgico do setor e de instituies vigentes. Por fim, as instituies refletem o processo atual de conhecimento e tecnologia, alm do relacionamento entre as organizaes.
Em seguida foi realizado o teste H de Kruskal-Wallis para cada componente do SSI (tecnologias, organizaes e instituies), testado ao longo dos grupos de cada varivel de agrupamento (evoluo das interaes com outras organizaes, evoluo das interaes com concorrentes e evoluo das interaes com fornecedores). Este representa o passo 1 em nossa metodologia de anlise. Os resultados podem ser vistos a seguir.
Cada teste considerou um nvel de significncia de 0,05 e um tamanho amostral de 17 empresas. Para as trs dimenses do SSI, considerando evoluo com outras organizaes como varivel de grupo, o teste foi significante ao nvel de significncia de 0,05, o que permitiu rejeitar a hiptese nula, pois as mdias ao longo dos grupos foram significativamente diferentes. Tecnologias (0,003), Organizaes (0,012) e Instituies (0,010).
Evoluo das interaes com outras organizaes N Posto
Mdio
Organizaes 1 2 3
2 8 6,25
3 7 14,38
Total 17
Tecnologias 1 2 5,5
2 8 6,38
3 7 13,63
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Total 17
Instituies 1 2 10,75
2 8 5,44
3 7 13,25
Total 17
Tabela 6 - Valores mdios dos componentes do SSI de acordo com os grupos da varivel de
agrupamento
Fonte: Dados da pesquisa.
Para o segundo estgio, cada componente foi analisado com base em seus valores mdios em cada grupo da varivel de agrupamento em anlise. Deve-se considerar, assim, somente a varivel de agrupamento Evoluo das interaes com outras organizaes para este estgio. O componente Organizaes teve maior valor mdio no grupo 3 (aumento das interaes), decrescendo para o grupo 2 (estabilidade das interaes) e mais ainda para o grupo 1 (diminuio das interaes), como pode ser visto na tabela 6.
Tais resultados confirmam que uma mudana nas interaes causa um impacto na mesma direo no componente Tecnologias e Organizaes de um sistema setorial de inovao, visto que h uma ordem crescente de valores mdios para os grupos de 1 a 3. Da mesma forma, a evoluo nas interaes (seja positiva ou negativamente) afeta o SSI.
O componente Instituies demonstra um padro diferente dos anteriores. Assim, os maiores valores se encontram nos grupos 1 e 3. Como tal, sem estabelecer uma ordem entre esses valores, pode-se verificar que o componente instituies aumenta medida que as interaes aumentam ou decrescem. Tais resultados demonstram que a evoluo das interaes afeta os componentes de um sistema setorial de inovao (MALERBA, 2002). Demonstram, ainda, que uma evoluo positiva o negativa modificam na mesma direo os componentes Tecnologias e Organizaes, enquanto que s evolui positivamente o componente Instituies.
5 CONCLUSES E RECOMENDAES
Essa pesquisa teve como objetivo analisar as interaes tecnolgicas entre empresas da indstria sucroalcooleira do estado de Alagoas por meio das trs dimenses do Sistema Setorial de Inovao (organizaes, tecnologias e instituies), propostas por Malerba (2002).
De forma geral, a abordagem setorial de sistemas de inovao na forma proposta pelo autor possibilitou analisar a agroindstria sucroalcooleira alagoana e respondeu a questo de pesquisa, ou
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seja, os testes no paramtricos confirmaram a hiptese levantada, de que h uma correlao entre as dimenses previstas por Malerba (2002), desenvolvendo complementaridades mtuas.
A hiptese de Malerba se confirmou para as trs unidades de anlise e as suas relaes so positivas. No obstante necessrio o fortalecimento das interaes do bloco Organizaes e Instituies para melhorar os indicadores de inovao do sistema, bem como proporcionar o uso do marco regulamentrio dentro do sistema setorial.
Tais resultados confirmaram, ainda, que uma mudana nas interaes causa um impacto na mesma direo no componente Tecnologias e Organizaes de um sistema setorial de inovao, visto que h uma ordem crescente, demonstrando que a evoluo nas interaes (seja positiva ou negativamente) causa um impacto no SSI. As Instituies foram citadas como a unidade com menor grau de aplicabilidade para o sistema setorial de inovao.
Do ponto de vista dos objetivos especficos, a pesquisa revelou que a agroindstria sucroalcooleira do estado de Alagoas apresenta uma tradio de investimento em P&D, que tem como marco uma rede de pesquisa com parceria com a RIDESA e outras organizaes inseridas no sistema, entre elas universidades, associaes, sindicatos, rgos de apoio e financiamento, integrantes do sistema setorial de inovao, descrito no item 4.1.
Os resultados das anlises demonstraram que os investimentos em inovao so mais intensos no desenvolvimento de variaes genticas para a produo da cana, chegando a um patamar de 10% sobre o volume de faturamento das empresas. Alm disso, apesar da existncia de laboratrios nas empresas, o P&D na agroindstria no se concentra no desenvolvimento de produtos, sendo basicamente desenvolvido para inovaes em processo por meio de parcerias pblico-privadas com maior nfase nos investimentos do setor privado. Alm disso, em boa medida, os investimentos so dedicados s prticas de irrigao e desenvolvimento em rede de novas variedades de planta/semente resistentes a pragas e doenas. Pode-se identificar nos resultados que houve uma maior evoluo na interao com os fornecedores em detrimento do menor grau com os sindicatos.
De modo geral, o desenho prtico desse estudo considerou que os sistemas de inovao possuem uma grande importncia no cenrio econmico, no s pela temtica da inovao, mas tambm pela discusso da correlao dos diferentes atores. Sob esse prisma, as contribuies, luz da teoria e da escala adotada, trazem implicaes que delineiam a competitividade no processo de fortalecimento regional.
Em especial, o setor se beneficiar da anlise desta pesquisa, pois a mesma apresenta informaes e discusses que, de um lado, ajudam a avaliar as mudanas em curso e, de outro,
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apontam para um significativo impacto das prticas que se associam consolidao dos Sistemas Setoriais de Inovao.
Entre as limitaes do presente trabalho, pode-se destacar a verificao de relaes pelo uso de coeficientes de correlao, em virtude do tamanho amostral, recomendando-se, dessa forma, a ampliao do estudo, em novas pesquisas no setor.
Os resultados obtidos no apresentam dados definitivos, pelo contrrio, apenas representam uma linha de pesquisa, diante da diversidade do setor, e das mutaes do mercado, porm deixa como saldo positivo a anlise do Sistema Setorial de Inovao da indstria sucroalcooleira de Alagoas, ficando claro em que pontos especficos ocorrem a dinmica inovadora, possibilitando a continuidade de estudos nesta rea.
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TECHNOLOGICAL INTERACTIONS IN THE SUGAR AND ALCOHOL INDUSTRIES OF ALAGOAS: ANALYSIS OF THE SECTORIAL INNOVATION SYSTEM
ABSTRACT
In today's competitive scenario, regional growth is largely associated with the performance of
innovation systems which is the intensity and effectiveness of interactions between the different actors
involved in the generation and dissemination of new knowledge and technologies. This paper aims to
analyze the interactions between agents of the Sugar and Ethanol Industries in the state of Alagoas,
across the three dimensions of the Sectorial Innovation System (organizations, institutions, and
technologies), proposed by Malerba (2002). To accomplish the objective of this article, we conducted
an exploratory-descriptive research through secondary data and the application of questionnaires to
seventeen sugarcane companies in the state. The analysis of data occurred by using nonparametric
statistical techniques: Coefficient of Concordance, Kendall (W) test and the Kruskal-Wallis H,
considering a significance level of 0.05. The results pointed to the confirmation of the existence of
positive interactions between the three dimensions examined (organizations, institutions, and
technologies), but to a lesser extent, to the last. There are two additional aspects observed: the
company submits an interaction between universities and research centers and much of the
technological advancement of this industry is coming from public and private partnerships. It is
noteworthy also that the R & D effort is focused on genetic improvements to the field and process
innovations that improve production efficiency. As an additional contribution, this article describes a
review and practical application of the phenomenon of innovation and its links with the sectorial
systems.
Key-words: Sugarcane Industry; Sectorial Innovation System; Regional Development.
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Data do recebimento do artigo: 03/04/2011
Data do aceite de publicao: 21/09/2011
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2012
Abstract
In today's competitive scenario, regional growth is largely associated with the performance of innovation systems which is the intensity and effectiveness of interactions between the different actors involved in the generation and dissemination of new knowledge and technologies. This paper aims to analyze the interactions between agents of the Sugar and Ethanol Industries in the state of Alagoas, across the three dimensions of the Sectorial Innovation System (organizations, institutions, and technologies), proposed by Malerba (2002). To accomplish the objective of this article, we conducted an exploratory-descriptive research through secondary data and the application of questionnaires to seventeen sugarcane companies in the state. The analysis of data occurred by using nonparametric statistical techniques: Coefficient of Concordance, Kendall (W) test and the Kruskal-Wallis H, considering a significance level of 0.05. The results pointed to the confirmation of the existence of positive interactions between the three dimensions examined (organizations, institutions, and technologies), but to a lesser extent, to the last. There are two additional aspects observed: the company submits an interaction between universities and research centers and much of the technological advancement of this industry is coming from public and private partnerships. It is noteworthy also that the R & D effort is focused on genetic improvements to the field and process innovations that improve production efficiency. As an additional contribution, this article describes a review and practical application of the phenomenon of innovation and its links with the sectorial systems. [PUBLICATION ABSTRACT]
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