RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI:
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
Milton Freitas Chagas
Doutor em Engenharia Aeronutica e Mecnica pelo Instituto Tecnolgico de Aeronutica ITA
Professor do Instituto Tecnolgico de Aeronutica ITA
Cssio Chagas Montenegro Duarte
Mestrando do curso Profissional em Gesto de Projetos pela Universidade Nove de Julho UNINOVE
RESUMO
A dinmica da inovao normalmente representada por um modelo aderente realidade dos sistemas
de produo em massa, caracterizados pela baixa variabilidade dos produtos e pela alta escala de
produo. Um modelo alternativo, e ideal, vem sendo desenvolvido para representar os sistemas
produtivos caracterizados pela alta variabilidade dos produtos atendendo s necessidades especficas
de diferentes patrocinadores e pela baixa escala de produo. Nesse modelo, que representa a
dinmica da inovao em sistemas complexos, o projeto torna-se a unidade de agregao, a partir da
qual so feitas as anlises. As economias chandlerianas de escala e escopo, entendidas como os
fundamentos do crescimento das organizaes, transformam-se em economias de repetio e
recombinao, que se estabelecem nas organizaes baseadas em projetos.
O objetivo principal desta pesquisa mostrar que os ciclos de aprendizagem organizacional so
definidos em torno de arquiteturas de sistemas e se cristalizam por meio da aprendizagem pelo uso.
Por meio de um estudo de caso da PRODESP, mostra-se como, a partir da arquitetura do sistema
Sintonia, os processos do projeto so estabelecidos e a aprendizagem pelo uso cristaliza ciclos de
aprendizagem dessa plataforma de produtos. Utilizam-se fontes de dados primrias por meio de
entrevistas e acesso documentao relacionada aos processos de projeto.
Conclui-se que o modelo ideal de inovao que representa a dinmica da inovao em sistemas
complexos aderente, em diversos pontos, realidade da PRODESP.
Palavras-chave: Arquitetura de sistemas; Conhecimento processual; Economias de repetio;
Economias de recombinao; Organizaes baseadas em projetos.
ARQUITETURA DE SISTEMAS, CONHECIMENTO PROCESSUAL E A EXPLORAO DE ECONOMIAS DE REPETIO E RECOMBINAO
Arquitetura de Sistemas, Conhecimento Processual e a Explorao de Economias de Repetio e Recombinao
1 INTRODUO
A dinmica da inovao tecnolgica normalmente representada por um modelo aderente realidade dos sistemas de produo em massa, caracterizados pela baixa variabilidade do produto e pela alta escala de produo (Chandler, 1990). Um modelo alternativo, e ideal, vem sendo desenvolvido para sistemas produtivos caracterizados pela alta variabilidade, baixa escala de produo e que atendam s necessidades especficas dos seus patrocinadores (Davies & Brady, 2000). Tal modelo representa a dinmica da inovao em sistemas complexos, em que o projeto torna-se a unidade de agregao e ponto de partida para a realizao das anlises. Nesse modelo, as economias chandlerianas de escala e escopo, nas quais se baseia o crescimento das empresas que produzem em massa e exploram seus mercados por meio de tecnologias especficas (Penrose, 1959), transformam-se nas economias de repetio e recombinao, e se estabelecem nas organizaes baseadas em projetos (Davies & Hobday, 2005).
O objetivo principal do artigo mostrar como as organizaes baseadas em projetos representam uma forma adequada extrao de economias de repetio e recombinao (Hobday, 2000).
A motivao para a criao desse modelo ideal, voltado a sistemas complexos com base em projetos, segue lgicas divergentes, segundo Woodward (1958): O marketing deve vender mais do que um produto. Deve vender a ideia que a organizao seja capaz de produzir o que for desejado pelo cliente. Dessa forma, o produto desenvolvido aps o pedido. O projeto, em muitos casos, modificado para atender aos requisitos do cliente. Essa lgica bastante diferente daquela estabelecida nas firmas de produo em massa; em que o desenvolvimento do produto aparece em primeiro lugar, seguido da produo e finalmente do marketing.
A criao de valor obtida pela proviso de Solues Integradas, que combinam bens e servios, e atendem s necessidades especficas de cada cliente. Trajetrias tecnolgicas so definidas por meio de inovaes incrementais e modulares de acordo com a estratgia de crescimento da organizao. Os processos do projeto so entendidos como padres gerenciais, tecnolgicos e de caractersticas operacionais de determinada plataforma de produtos (Brady et al., 2005). Assim, o ciclo de vida de projeto tradicional estende-se em direo s operaes dos produtos (Hobday, 2000).
As economias de repetio e recombinao so exploradas pelas empresas fornecedoras de Solues Integradas por gerenciamento efetivo dos projetos e sistemas complexos. A arquitetura desses sistemas deve ser suficientemente robusta e flexvel a fim de permitir sua adaptao evoluo
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dos requisitos de novos clientes, visando economicidade do esforo organizacional necessrio a cada novo projeto. Seus mdulos so desacoplados, na medida do possvel, recombinados entre si e a outros servios, e acoplados novamente para gerarem novas funcionalidades e atenderem s necessidades especficas de outros clientes (Hobday, 1998).
O artigo concentra-se no crescimento de novos negcios estratgicos proporcionados pelo gerenciamento de projeto. Analisa os motivos que levaram a Companhia de Processamento de Dados do Estado de So Paulo (PRODESP) a criar o Sintonia, um sistema integrado complexo, resultado da combinao entre software, hardware e servios. O estudo de caso da PRODESP mostra como, a partir do conhecimento arquitetnico (Henderson & Clark, 1990) do sistema Sintonia, os processos do projeto foram estabelecidos e cristalizaram-se, por ciclos de aprendizagem pelo uso (Rosenberg, 2006), numa plataforma de produtos. Utilizaram-se fontes de dados primrias e entrevistas, alm do acesso documentao relacionada ao projeto.
Conclui-se que o modelo ideal, que representa a dinmica da inovao em sistemas complexos, aderente em diversos pontos realidade da PRODESP. E tambm que a arquitetura do projeto Sintonia foi estabelecida de forma a propiciar o crescimento da empresa, por meio da proviso de solues integradas, permitindo a explorao de economias de repetio e recombinao.
2 REFERENCIAL TERICO
As firmas especializadas em projeto e integrao de sistemas no devem ser consideradas como ps-industrial, mas como um prolongamento do sistema industrial. O aumento da complexidade, da capacidade de armazenamento, transmisso e manipulao de informaes tornam a crescente especializao em servios um complemento s atividades da manufatura, e no uma alternativa. A Mo Visvel da manufatura continua a explorar economias fsicas de escala e escopo, mas alia-se ao Crebro Visvel, responsvel pela explorao dos sistemas integrados (Pavitt, 2006).
O modelo de Chandler explica o crescimento das firmas que produzem em massa, com baixa variabilidade de produto e alta escala de produo. Esse crescimento baseia-se na explorao das economias de escala e escopo da produo, na criao do mercado consumidor e na rede de distribuio. Assim, o volume de vendas justifica a quantidade produzida. Nesse modelo, torna-se necessria uma estrutura de gerenciamento que coordene as atividades operacionais, o planejamento estratgico e a alocao de recursos para a produo (Chandler, 1990, p.08). As empresas pioneiras
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obtm vantagens competitivas ao produzirem novos produtos e utilizarem novos processos. Tornam-se lderes na explorao das economias de escala e escopo e distanciam-se das suas concorrentes no desenvolvimento de capacidades funcionais (Chandler, 1990, pp. 3435).
A partir dos anos 1990, o enfoque competitivo das empresas transferiu-se para os projetos, que se tornaram essenciais do ponto de vista estratgico, pela possibilidade potencial de diversificao dos negcios da organizao (Kerzner, 2006). Muitas dessas empresas passaram a combinar produtos e servios num nico pacote denominado Solues Integradas (Davies, 2004).
As Solues Integradas representam sistemas produtivos com alta variabilidade, baixa escala de produo e que atendam s necessidades especficas dos seus patrocinadores (Brady et al., 2005). Proporcionam a transformao da explorao das economias chandlerianas de escala e escopo, nas quais se baseia o crescimento das empresas que produzem em massa e exploram seus mercados por meio de tecnologias especficas (Penrose, 1959), na explorao das economias de repetio e recombinao, ao estabelecerem-se nas organizaes baseadas em projetos (Hobday, 2000).
O provedor de Solues Integradas responsabiliza-se pela negociao com os mltiplos fornecedores e adiciona valor ao produto de hardware/software. Assim, tambm passa a oferecer servios (Brady et al., 2005). Segundo Hax e Wilde II (1999), as Solues Integradas so mais que uma simples montagem, pois so adaptadas e precificadas de acordo com as necessidades especficas do cliente.
A arquitetura das Solues Integradas deve ser suficientemente robusta e flexvel a fim de permitir sua adaptao evoluo dos requisitos de novos clientes, visando economicidade do esforo organizacional necessrio a cada novo projeto, conforme apresentado na Figura 1.
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Figura 1 O Ciclo de Vida das Solues Integradas.
Fonte: Davies & Hobday (2005).
Seus mdulos so parcialmente desacoplados, recombinados entre si e a outros servios, e acoplados novamente para gerarem novas funcionalidades e atenderem s necessidades especficas de outros clientes (Hobday, 1998).
O termo inovao arquitetnica chama a ateno para inovaes que utilizam conceitos estabelecidos em novas arquiteturas e consequentemente causam impacto na forma de ligao entre os mdulos que a compem (Henderson & Clark, 1990).
O grau da inovao, dentro da lgica de uma arquitetura, pode ser incremental ou modular. A inovao incremental no altera a ligao entre os conceitos e componentes arquitetnicos e refora os conceitos centrais da arquitetura. A inovao modular no altera a ligao entre os conceitos e componentes arquitetnicos, mas substitui os conceitos centrais da arquitetura (Henderson & Clark, 1990). Tambm pode ser arquitetnica ou radical quando a ligao entre conceitos centrais da arquitetura sofrer alterao. A inovao incremental tende a reforar a posio competitiva das organizaes, pois se baseia nas competncias adquiridas ou estabelecidas nas empresas. Em contraste, a inovao radical representa desafios s empresas, pois pode destruir as competncias estabelecidas (Henderson & Clark, 1990).
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O design dominante arquitetnico surge aps um perodo de experimentao. Corresponde ao conjunto das principais funcionalidades do produto, embutidas nos componentes pela arquitetura do sistema que determina a forma de integr-las. Equivale a um padro aceito, de um modelo particular da arquitetura do produto, caracterizado pela evoluo tcnica dentro do setor industrial a que pertence (Clark, 1985).
O design dominante surge em resposta s oportunidades de explorao das economias de escala. A partir do estabelecimento do design dominante, o conjunto inicial de componentes da arquitetura pode ser refinado e elaborado. Quando a indstria estabelece um design dominante, o conhecimento arquitetnico estabiliza-se e tornar-se parte integrante dos procedimentos das organizaes que compem o setor industrial. O progresso desse modelo estvel de arquitetura caracterizado por melhorias incrementais dos seus componentes (Henderson & Clark, 1990).
As empresas que praticam ativamente a inovao incremental, num contexto de conhecimento arquitetnico estvel, so mais propensas a gerenciar o conhecimento implicitamente por: canais de comunicao, filtros de informao e estratgias de resoluo de problemas. O conhecimento arquitetnico torna-se estvel e implcito quando o design dominante for amplamente aceito. Os componentes de conhecimento, em contraste, so mais propensos ao gerenciamento explcito. As diferentes formas de gerenciamento do conhecimento, e componente arquitetnico, demonstram o motivo pelo qual a inovao arquitetnica torna-se frequentemente complexa. A organizao pode especializar-se, enquanto o design dominante permanecer estvel, e desenvolver produtos ao basear-se em procedimentos operacionais padronizados. Entretanto, a inovao arquitetnica assegura vantagem competitiva na explorao do design e na assimilao de novos conhecimentos (Henderson & Clark, 1990).
As empresas gastam muito tempo, e recursos, para identificar se uma determinada inovao arquitetnica. A inovao radical altera a ligao entre os conceitos e componentes arquitetnicos e substitui os conceitos centrais da arquitetura. Transforma em obsoleto o conhecimento da organizao a respeito da integrao dos antigos componentes. A inovao arquitetnica altera a ligao entre os conceitos e componentes arquitetnicos e refora os conceitos centrais da arquitetura.
Normalmente, as empresas necessitam criar e aplicar efetivamente novos conhecimentos arquitetnicos assim que identificam a natureza da inovao. Mas a simples identificao da nova tecnologia no traz o conhecimento arquitetnico necessrio organizao. As empresas devem adquirir novos meios de conhecimento e investir tempo e recursos no aprendizado da nova arquitetura. Muitas encontram dificuldades nessa transio. Esse processo pode ser frustrante. Existem
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dificuldades das organizaes maduras em mudar sua forma de aprendizado, a fim de criar novo conhecimento arquitetnico, pois devem alterar sensivelmente sua orientao, num contexto dinmico, partindo do refinamento de uma arquitetura estvel para a pesquisa de novas solues (Henderson & Clark, 1990).
Os novos entrantes, por serem mais flexveis e menos comprometidos com padres antigos, encontram menos obstculos para se adaptarem nova arquitetura. Uma vez que a empresa obtenha sucesso na sua reorientao, a construo do novo conhecimento arquitetnico ainda demanda tempo e recursos considerveis. Os novos entrantes so novamente favorecidos pelo contexto, pois no possuem tantos ativos comprometidos com os padres legados. Dessa forma, podem aprimorar suas estruturas, mais enxutas, a fim de explorar efetivamente o potencial do novo design. Portanto, a inovao arquitetnica possui implicaes significativas sobre a competitividade das empresas (Henderson & Clark, 1990).
As economias de repetio e recombinao relacionam-se manuteno de um conjunto de funcionalidades, desempenhadas por mdulos que compem a lgica da arquitetura integrada ao sistema (Hobday et al., 2000): Os processos de projetos referem-se a padres gerenciais, tecnolgicos e de prticas operacionais, que incluem as rotinas formais e informais. Numa viso abrangente, os processos ocorrem dentro e atravs de vrias funes da empresa, como: marketing, produo, finanas, engenharia, Pesquisa & Desenvolvimento e Recursos Humanos. Ocorrem formal e informalmente, moldando a eficincia e a efetividade da empresa.
A criao de valor obtida pela recombinao de bens e servios que atendam s necessidades especficas de clientes distintos. Cada uma dessas recombinaes representa um novo projeto a ser gerenciado, em virtude da complexidade dos sistemas envolvidos. Portanto, a explorao das economias de repetio e recombinao exige que a organizao possua competncias em gesto de projetos (Hobday, 2000). A gesto de integrao adquire uma relevncia central, cuja funo primordial representa a garantia de que os mdulos recombinados, a partir do projeto plataforma, apresentem as funcionalidades adequadas e estejam coerentes com os requisitos solicitados pelos clientes dos novos projetos derivativos (Burgelman et al., 2004; Senhar & Dvir, 2007). Ademais, as gestes de configurao e mudana devem assegurar a possibilidade de futuras recombinaes dos mdulos por meio da independncia e do baixo nvel de acoplamento entre eles (Forsberg et al., 2005).
Segundo Rosenberg, a inovao tecnolgica pode ser encarada como um processo de aprendizagem, cujos enfoques so os pequenos melhoramentos que determinam a taxa de crescimento da produtividade. Essa experincia do aprendizado pelo uso gera dois tipos de conhecimento:
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incorporado e no incorporado (Rosenberg, 2006, pp.190-191). No conhecimento incorporado, a experincia inicial com uma nova tecnologia conduz a um melhor entendimento da relao entre o desempenho e as caractersticas especficas do projeto, possibilitando aperfeioamentos subsequentes. O conhecimento especializado formal cresce. armazenado durante o desenvolvimento do produto e surge um fluxo contnuo de pequenas melhorias incorporadas s novas verses.
No caso do conhecimento no incorporado, a experincia prolongada com o sistema gera informaes sobre o desempenho e as caractersticas operacionais que criam novas prticas e aumentam a produtividade do sistema seja pela extenso da vida til, seja pela reduo dos seus custos operacionais.
O encerramento do projeto Sintonia no determinou a sua descontinuidade. O conhecimento arquitetnico transformou-se numa plataforma de novos produtos (Burgelman et al., 2004), cujo conhecimento arquitetnico do conjunto inicial de componentes foi refinado (Clark, 1985) e criou novos projetos derivativos (Senhar & Dvir, 2007). Assim, proporcionou a diminuio dos custos, e de retrabalho, no desenvolvimento dos novos produtos, criando condies para o crescimento da PRODESP.
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
A pesquisa tem carter exploratrio e utiliza uma empresa de grande porte do mercado nacional como estudo de caso. O mtodo utilizado foi o estudo de caso descritivo, cujo objetivo apresentar uma realidade desconhecida ao leitor, sem estabelecer uma relao de causa e efeito, embora seus resultados possam ser utilizados posteriormente para a formulao de uma hiptese de causa e efeito (Yin, 1993). Este estudo indicado para anlise de um problema representativo nas organizaes baseadas em projeto, visto que as economias de escala e escopo so normalmente associadas produo em massa. A coleta das informaes qualitativas foi realizada por meio de entrevistas diretivas com os executivos da PRODESP, responsveis pelas estratgias de novos produtos, a fim de demonstrar a explorao das economias de recombinao e repetio num caso prtico, centrado no conhecimento arquitetnico do sistema, utilizando o gerenciamento de projetos como unidade de anlise, com foco nas gestes de configurao e mudana.
Foram analisados contratos, relatrios tcnicos e documentao das atividades de desenvolvimento do projeto plataforma Sintonia e seus derivativos. As entrevistas diretivas com as
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fontes primrias envolveram questes relativas aos benefcios financeiros da contratao externa das atividades de desenvolvimento de software alm de fatores associados integrao e ao desenvolvimento de arquiteturas modularizadas.
4 ESTUDO DE CASO
A PRODESP foi criada em 24 de julho de 1969. Possui mais de 1.900 funcionrios. Seu faturamento bruto em 2010 foi R$ 530,1 milhes, com lucro lquido de R$28,3 milhes. Conectam-se ao Data Center da empresa, situado no municpio de Taboo da Serra, 5 mil escolas da rede estadual; 26 postos do Poupatempo; 610 postos do Acessa So Paulo, entre outras unidades do governo estadual e prefeituras (PRODESP, 2011).
Os postos do Poupatempo concentram diversos rgos e empresas prestadoras de servios pblicos. Disponibilizam para a populao mais de 400 servios, dos quais os mais utilizados so: emisso de RG, Atestado de Antecedentes Criminais, Carteira de Trabalho e Carteira Nacional de Habilitao. A maior parte dos servios do Poupatempo prestada por meio de atendimentos presenciais aos cidados (POUPATEMPO, 2011).
A PRODESP criou o sistema Sintonia para gerir a durao desses atendimentos e estabelecer indicadores comuns de qualidade e produtividade entre todos os postos do Poupatempo.
O Sintonia oferece indicadores qualitativos e quantitativos dos atendimentos presenciais e da pesquisa de satisfao a eles associados. Monitora os tempos mdios da execuo dos atendimentos realizados nos postos Poupatempo e gera a pesquisa de satisfao ao final de cada atendimento. Exibe indicadores de desempenho, imediatamente aps a realizao dos servios, baseados nos padres definidos pelos gestores. Emite alertas quando so identificadas situaes fora do padro, como o desvio no tempo mdio previsto para a execuo do servio ou baixos ndices de satisfao das pesquisas.
O gestor recebe a notificao na tela do computador e pode corrigi-la imediatamente. As solues encontradas para os rompimentos dos tempos mdios de atendimento, e baixos ndices de satisfao, so gravadas numa Base de Conhecimento, para resoluo de futuras ocorrncias.
Os cidados so convidados pelo atendente a opinar sobre a qualidade do atendimento recebido por meio de um teclado especial, com as opes: timo, bom, regular e ruim. Os cidados participam da pesquisa voluntariamente e o atendente no tem acesso avaliao recebida.
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O Sintonia o resultado da integrao entre software, hardware e servios. A PRODESP passou a negoci-lo num pacote de servios diferenciados, baseado na cesso de direito do uso do software. O pacote contm: suporte, treinamento, ativao e administrao.
Em 2009, ocorreu a alterao do estatuto da empresa que lhe permitiu a venda de produtos e servios ao mercado privado. At ento, todos os seus clientes pertenciam ao governo estadual. Em dezembro do mesmo ano, a PRODESP implantou uma soluo tecnolgica, o Sintonia, em clientes da iniciativa privada, pela primeira vez em 40 anos de atividade da empresa. Tal implantao estava de acordo com a estratgia de ampliar o faturamento entre clientes privados, que representam uma nova e atrativa fonte de recursos para o financiamento de investimentos previstos no crescimento da infraestrutura do Data Center.
O Poupatempo contratou 865 pacotes de servio em novembro de 2009. O Sintonia conquistou o prmio TI & Governo, na categoria e-Administrao, em dezembro do mesmo ano.
O sistema foi contratado por um cartrio de imveis da capital, baseado na cesso de direito do uso de 06 pacotes de servio.
Durante 2010, o Sintonia foi avaliado por 02 cartrios da capital, 02 prefeituras, um Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso e uma empresa de telecomunicao do Estado de So Paulo. Trs dessas avaliaes resultaram em novos contratos para a PRODESP.
O Sintonia foi contratado por um departamento de percias mdicas em fevereiro de 2010, baseado na cesso de direito do uso de 170 pacotes de servio.
O sistema tambm foi contratado por um hospital pblico em maro, baseado na cesso de direito do uso de 150 pacotes de servio.
5 ANLISE DA EXTRAO DE ECONOMIAS DE REPETIO E RECOMBINAO NO PROJETO SINTONIA
O encerramento do projeto Sintonia no determinou a sua descontinuidade. Os mdulos do sistema, integrados segundo a lgica definida pela sua arquitetura, foram reconfigurados por meio de inovaes incrementais (Burgelman et al., 2004) que reforaram a posio competitiva da PRODESP ao basearem-se nas competncias estabelecidas na empresa.
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O conhecimento arquitetnico estabilizou-se e tornou-se parte integrante dos processos da PRODESP. O progresso da arquitetura foi obtido por melhorias incrementais dos componentes gerenciados explicitamente (Henderson & Clark, 1990).
Ocorreu a extenso dos processos de ciclo de vida do projeto em direo s operaes de novos produtos. Embora a arquitetura do Sintonia tenha sido projetada suficientemente flexvel para permitir que qualquer componente de mdulo fosse parcialmente desacoplado, recombinado e acoplado novamente, a fim de criar novas funcionalidades que atendessem outros servios (Hobday et al., 2000), essa caracterstica exigiu da organizao conhecimento em gerenciamento de projetos. Para tanto, a PRODESP utilizou sua capacidade em Gerenciamento de Servios de TI, reconhecida e atestada pelo mercado pblico e privado.
O projeto Sintonia foi subdividido em subprojetos. Cada subprojeto foi associado a um subsistema. As reconfiguraes dos subsistemas geraram projetos derivativos que atenderam s funcionalidades centrais dos principais requisitos do cliente patrocinador do projeto (Hobday et al., 2000; Brady et al., 2005).
A experincia adquirida pela utilizao do produto gerou o conhecimento incorporado, com informaes teis sobre o desempenho dos mdulos implantados, e possibilitou aperfeioamentos subsequentes nos demais mdulos (Rosenberg, 2006). Criou-se um fluxo contnuo de pequenas melhorias, realimentado a partir das avaliaes realizadas pelo patrocinador do projeto e por clientes potenciais do produto.
Os clientes potenciais avaliadores do Sintonia foram identificados durante sesses de prospeco de novas oportunidades de negcio para a empresa, realizadas pela equipe de marketing, em reunies ou em eventos de TI patrocinados pela PRODESP.
As melhores prticas do gerenciamento de projetos tradicional consideram as lies aprendidas como uma fonte til de reteno do conhecimento adquirido, a fim de reutiliz-lo em futuros projetos (Kerzner, 2006). Entretanto, a transmisso desse conhecimento pode ser prejudicada, ou descontinuada, pela desmontagem da equipe no encerramento do projeto.
A estrutura, baseada em projetos, montada pela PRODESP (Hobday, 2000), permitiu que a equipe central, dedicada em tempo integral ao Sintonia, permanecesse inalterada ao longo da implantao do projeto plataforma e dos seus derivativos. A equipe foi apoiada por colaboradores pertencentes s outras reas funcionais da empresa, dedicados em tempo parcial ao projeto.
A teoria do crescimento da firma fundamenta-se no sucesso da criao de uma base de especializao em ativos tangveis e intangveis, tais como: recursos humanos, processos gerenciais,
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conhecimentos tcnicos e competncias. Quando a empresa inova na utilizao de seus recursos tangveis e intangveis consegue oferecer novos servios ou expandir os servios existentes (Penrose, 1959, pp.137-138). Dessa forma, a PRODESP apresentou crescimento em novas reas de negcios utilizando como base do crescimento a utilizao de tipos especficos de recursos humanos, processos gerenciais e tecnologias na explorao de mercados particulares.
As empresas competem pelo mercado ao aprimorarem suas estratgias e capacidades funcionais (Chandler, 1990). Os provedores de Solues Integradas, como a PRODESP, continuam a expandir suas capacidades centrais para adaptarem-se aos seus ambientes competitivos. As capacidades estratgicas referem-se habilidade de crescer no mercado mais rapidamente que seus competidores (Hobday et al., 2005). O papel da alta gesto da PRODESP foi proporcionar flexibilidade de ao na montagem da equipe central do projeto ao monitorar efetivamente as operaes internas e ajust-las s suas estratgias de acordo com as mudanas tecnolgicas e do ambiente (Davies & Brady, 2000, pp. 936-937).
A continuidade dos processos do ciclo de vida do projeto Sintonia foi obtida por meio de melhorias incrementais sobre o conhecimento arquitetnico original (Henderson &
Clark, 1990). O ambiente de negcios da PRODESP favoreceu essa continuidade incremental. A diversidade dos clientes atendidos demonstra como o Sintonia representa um sistema produtivo com alta variabilidade, baixa escala de produo e que atende s necessidades especficas de diversos clientes (Davies et al., 2006). Tambm se evidencia a transformao das economias de escala e escopo nas economias de repetio e recombinao (Davies & Hobday, 2005).
A equipe do projeto identificou novas possibilidades de negcios a partir das avaliaes realizadas pelos clientes e demais reas funcionais da empresa, que conheciam ou utilizavam o produto.
A inovao tecnolgica ocorreu na PRODESP como um processo de aprendizagem, cujos enfoques foram pequenos melhoramentos que determinaram a taxa de crescimento da produtividade. A experincia do aprendizado pelo uso do Sintonia gerou conhecimentos incorporados e no incorporados. O conhecimento arquitetnico especializado formal cresceu. Foi armazenado durante o desenvolvimento do Sintonia e surgiu um fluxo contnuo de pequenas melhorias incorporadas s novas verses (Rosenberg, 2006, pp.190-191). A experincia prolongada com o sistema, pela extenso de sua vida til em direo s operaes dos produtos derivados, gerou informaes sobre o seu desempenho que levaram a novas prticas organizacionais.
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A extenso dos processos do ciclo de vida til do projeto Sintonia baseou-se em gerenciamento de projetos, eventos de marketing e prticas operacionais combinadas a partir de reas funcionais distintas da organizao. As equipes de projeto e marketing receberam solicitaes de melhorias de requisitos baseadas nas avaliaes dos clientes. Essas melhorias foram complementadas com informaes teis, a respeito do desempenho do sistema, obtidas pela experincia das reas operacionais da empresa, no suporte tcnico e administrativo aos clientes do Sintonia. O conjunto resultante das melhorias, de requisitos e desempenho, foi adequado s oportunidades de negcios estratgicos da PRODESP.
O domnio das tecnologias especficas, relacionadas ao desempenho e requisitos, proporcionou a criao de uma plataforma padronizada de infraestrutura arquitetnica sistmica capaz de recombinar-se em subsistemas derivativos. Surgiram possibilidades distintas, na PRODESP, de explorao das economias de repetio e recombinao: por produtos ou por clientes.
Na explorao das economias de recombinao por produtos, os mdulos derivados da plataforma arquitetnica original foram recombinados e geraram novas funcionalidades.
Na explorao das economias de recombinao por clientes, os mdulos derivados da plataforma original geraram adaptaes s novas verses do mesmo produto, sem acrscimo de funcionalidades.
A PRODESP ampliou a dinmica da inovao tecnolgica at a sua estrutura organizacional. Adicionou os recursos humanos necessrios, no apoio equipe de projetos, e assim criou uma estrutura mista, baseada a princpio em projetos, mas acrescida de funcionrios alocados temporariamente, vindos de outras reas funcionais da empresa. Esse rearranjo da estrutura organizacional proporcionou flexibilidade e dinamismo ao atendimento dos projetos originados em recombinaes solicitadas pelos clientes (Hobday, 2000, p.891).
A capacidade de integrar os diversos subsistemas adquiriu um papel central no processo produtivo da PRODESP. Assegurou novas funcionalidades aos mdulos recombinados e atendeu aos requisitos particulares dos clientes. Cada uma das recombinaes representou um novo projeto, em virtude da complexidade da integrao entre os vrios subsistemas que o compuseram (Hobday, 2000, p.891). O conhecimento adquirido pela experincia do uso durante a operao do Sintonia foi incorporado ao processo produtivo dos demais produtos. O elo entre a operao e o desenvolvimento foi caracterizado pela extenso do ciclo de vida do projeto original em direo operao dos novos produtos derivados.
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A criao de valor PRODESP foi o resultado de um conjunto de inovaes. A inovao tecnolgica de uma integrao eficiente e nas recombinaes por cliente e por produtos. O dinamismo na alocao conjunta das equipes de projeto, marketing e operacionais da empresa foi fundamental. A sistemtica racional de alocao dos recursos tangveis e intangveis foram adaptados s necessidades especficas dos projetos. A organizao baseada em projetos favoreceu, tecnolgica e comercialmente, a explorao das economias de repetio e recombinao.
A explorao da estratgia de replicao (Ruuska & Brady, 2011) por produto concretizou-se com a criao do Sintonia GR, que oferece indicadores quantitativos do saldo de horas e das atividades realizadas em projetos contratados de empresas fornecedoras de consultoria tcnica especializada terceirizada.
A inovao incremental da arquitetura do sistema baseou-se nas competncias adquiridas (Penrose, 1959) pela PRODESP ao longo do projeto. O modelo arquitetnico do Sintonia GR representou uma oportunidade de explorao das economias de recombinao dos seus componentes (Hobday et al., 2000, p.879). Durante o perodo de experimentao do sistema, o conjunto inicial de componentes da arquitetura do Sintonia foi refinado por meio de estratgias de resoluo de problemas e solicitaes de melhorias dos patrocinadores do projeto e clientes do produto. A arquitetura reconfigurada estabilizou-se a partir do conhecimento do projeto plataforma original (Clark, 1985). O progresso rumo estabilidade do conhecimento arquitetnico do Sintonia GR foi caracterizado por melhorias incrementais dos componentes. Dessa forma, a PRODESP iniciou sua especializao na plataforma de produtos Sintonia.
O tempo absorvido em cada atividade profissional, executada num determinado projeto, informado ao Sintonia GR pelo funcionrio terceirizado que a executou. O sistema consolida essas informaes e apresenta ao gerente de projeto o saldo de horas contratadas ainda disponvel. O sistema emite um alarme quando no houver lanamento de atividade ou quando for ultrapassado o perodo de oito horas trabalhadas pelo funcionrio, num perodo de 24 horas. O gerente recebe o alarme instantaneamente na sua tela de computador.
A criao do Sintonia GR representou um marco PRODESP. Ele foi o pioneiro, dentre os produtos pertencentes mesma plataforma de arquitetura, na ampliao da abrangncia da explorao das economias de repetio e recombinao. O conhecimento adquirido nas melhorias incrementais do Sintonia foi replicado para toda plataforma de produtos. A arquitetura de cada um deles foi concebida com a flexibilidade suficiente para ajustar-se aos requisitos particulares dos respectivos clientes. At o
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seu surgimento, foram exploradas apenas novas verses do mesmo produto original, adequadas a clientes distintos.
As reconfiguraes dos componentes do Sintonia GR ocorreram nos mdulos de conexo base de dados, exibio das informaes e relatrios. A extenso dos processos do ciclo de vida do projeto foi obtida pela criao da nova funcionalidade de coleta do tempo das atividades realizadas pelo profissional terceirizado, a partir da gerao de conhecimentos incorporados e no incorporados, durante a experimentao do sistema.
O Sintonia Verde foi o segundo produto derivativo do projeto plataforma original. Surgiu pela necessidade da PRODESP em certificar-se em Gesto Ambiental, conforme a norma ISO14001. A certificao representa uma das metas estratgicas da empresa para o ano de 2011. Determina que as atividades comerciais sejam conciliadas sustentabilidade ambiental.
O Sintonia Verde exibe indicadores quantitativos da energia desperdiada pelos computadores ligados fora do expediente de trabalho. Apresenta a emisso de dixido de carbono associada ao desperdcio e calcula o seu custo financeiro. Em seguida, compara o volume de dixido de carbono emitido, com o limite estabelecido pela empresa, e emite instantaneamente um alarme na tela de computador do gestor, quando o limite for ultrapassado.
As economias de repetio e recombinao (Hobday et al., 2000) foram exploradas, no projeto Sintonia Verde, por meio de melhorias incrementais realizadas sobre o conhecimento arquitetnico estabilizado do projeto plataforma Sintonia. Foram realizadas reconfiguraes, principalmente nos componentes pertencentes ao mdulo da arquitetura bsica original, que realizavam o clculo da capacidade de processamento dos computadores. Essa funcionalidade transformou-se no clculo da energia desperdiada, cujo resultado foi apresentado sob a forma de quantidade de dixido de carbono emitido.
A gesto da energia desperdiada alinha-se estratgia da PRODESP em obter a certificao em Gesto Ambiental ISO14001. A empresa definiu metas para emisso de dixido de carbono, cuja gesto realizada pelo Sintonia Verde proporciona economia de recursos financeiros e promove a sustentabilidade ambiental.
A dinmica da inovao tecnolgica obtida pela PRODESP, com Solues Integradas de alta variabilidade e baixa escala de produo, atende aos requisitos especficos de clientes variados (Davies & Brady, 2000): cartrios, prefeituras, Tribunal Regional do Trabalho e uma empresa de telecomunicao.
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A plataforma de produto original Sintonia foi subdividido em subprojetos. Cada subprojeto foi associado a um subsistema. As reconfiguraes dos subsistemas geraram projetos derivativos que atenderam s funcionalidades centrais dos principais requisitos dos clientes e patrocinadores do projeto (Hobday et al., 2000; Brady et al., 2005). Dessa forma, o projeto Sintonia foi modificado para atender s necessidades particulares de cada cliente. Os produtos derivados foram criados aps o pedido dos clientes, conforme apresentado pela Figura 2.
Figura 2 - Conhecimento Processual do Projeto Sintonia.
Fonte: elaborado pelo autor (2011).
Tal lgica diverge daquela estabelecida em firmas de produo em massa, cujo desenvolvimento do produto aparece em primeiro lugar, seguido da produo e finalmente do marketing (Woodward, 1958, p.23).
Essa situao pode ser explicada segundo Woodward (1965), que relaciona o sistema produtivo ao tipo de organizao.
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A produo de sistemas integrados de alta variabilidade e baixa escala de produo mostrou-se adequada realidade da PRODESP, uma organizao baseada em projetos (Hobday, 2000).
O conhecimento processual do Sintonia obedeceu evoluo dos requisitos de novos clientes e solidificou-se na empresa. A criao de novos produtos evidenciou sua relevncia inovao tecnolgica e representou uma fonte de novos negcios que contriburam para o crescimento da organizao. Segundo Hobday (2000), conhecimento processual define-se como: Os processos do projeto que referem-se a padres gerenciais, tecnolgicos e prticas operacionais. A forma como as coisas so feitas no projeto, incluindo ambas as rotinas: formais e informais. Em nvel mais amplo, esses processos ocorrem dentro e permeiam vrias funes da empresa, como por exemplo: marketing, produo, finanas, engenharia, P & D, e RH. Ocorrem tanto formal como informal, moldando a eficincia e a eficcia de uma empresa.
Torna-se necessrio que o estudo da aplicabilidade do modelo ideal de explorao das economias de repetio e recombinao, apresentado neste artigo, seja estendido a um nmero mais representativo de empresas que desenvolvam Solues Integradas. Assim, ser possvel a comparao dos resultados obtidos entre diferentes empresas, pertencentes a vrios ramos de atividades econmicas.
6 CONCLUSES
O artigo apresenta a dinmica das inovaes tecnolgicas na PRODESP, por meio do estudo de caso da soluo integrada Sintonia, de alta variabilidade e baixa escala de produo, que se adapta aos requisitos especficos dos clientes e patrocinadores.
O projeto Sintonia foi subdividido em subprojetos. Cada subprojeto foi associado a um subsistema. A inovao tecnolgica incremental, que refora a posio competitiva da empresa ao basear-se nas competncias adquiridas (Penrose, 1959) pela PRODESP ao longo do projeto, evidenciou-se nas reconfiguraes dos subsistemas para atender diversidade dos clientes. Nesse caso, as reconfiguraes no afetaram o conceito arquitetnico central do sistema, que sofreu poucas alteraes incrementais para atender aos requisitos especficos desses clientes (Henderson & Clark, 1990).
A inovao tecnolgica modular tambm foi identificada na PRODESP. Evidenciou-se na reconfigurao dos mdulos da arquitetura do sistema original do Sintonia para criar os projetos
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derivativos: Sintonia GR e Sintonia Verde. As reconfiguraes no afetaram o conceito arquitetnico central, que sofreu alteraes significativas.
O Sintonia representa um caminho atrativo em termos de criao de valor econmico. As inovaes tecnolgicas incremental e modular de sua arquitetura ocorreram ao longo de um processo de aprendizagem no qual a PRODESP adquiriu as competncias e conhecimentos (Penrose, 1959; Chandler, 1990) que resultaram na criao do projeto plataforma e de seus derivativos (Burgelman et al., 2004; Senhar & Dvir, 2007).
A experincia prolongada com o Sintonia proporcionada pela extenso do ciclo de vida do projeto plataforma original em direo s operaes dos produtos dos projetos derivativos gerou conhecimentos incorporados e no incorporados (Rosenberg, 2006, pp.190-191).
O conhecimento arquitetnico especializado formal cresceu. Surgiu um fluxo contnuo de pequenas melhorias incorporadas s novas verses dos produtos.
O projeto plataforma original (Henderson & Clark, 1990) representou uma oportunidade de explorao das economias de repetio e recombinao (Hobday, 1998). Durante a experimentao do sistema, o conjunto inicial de componentes da arquitetura foi reconfigurado e gerenciado por meio de estratgias de resoluo de problemas e solicitaes de melhorias dos patrocinadores ou clientes. A arquitetura de cada um dos produtos derivados estabilizou-se (Clark, 1985).
O ambiente de negcios e a estrutura baseada em projetos da PRODESP (Hobday, 2000) favoreceram a continuidade incremental dos projetos rumo estabilizao arquitetnica dos produtos. A alta gesto da empresa proporcionou flexibilidade de ao na montagem da equipe central do projeto, que permaneceu inalterada ao longo da implantao do projeto plataforma original e dos seus derivativos. A equipe identificou novas possibilidades de negcios a partir das avaliaes realizadas pelos clientes e demais reas funcionais da empresa, que conheciam ou utilizavam o produto (Davies & Hobday, 2005).
A plataforma de produto do Sintonia, Sintonia GR e Sintonia Verde foi modificada para atender s necessidades particulares de cada cliente especfico. O conhecimento adquirido nas inovaes arquitetnicas incrementais foi estendido plataforma de produtos Sintonia. Evidenciou-se a lgica reversa dos produtos derivados, criados aps o pedido dos clientes (Woodward, 1958, p.23). Tal sistema produtivo mostrou-se adequado realidade da PRODESP. A melhoria incremental do conhecimento arquitetnico do sistema Sintonia obedeceu evoluo dos requisitos de novos clientes e solidificou-se na PRODESP. A criao de novos produtos evidenciou sua relevncia inovao
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tecnolgica e representou uma fonte de novos negcios que contribura para o crescimento da empresa.
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SYSTEM ARCHITECTURE, KNOWLEDGE PROCESS AND EXPLOITATION OF ECONOMIES OF REPEAT AND RECOMBINATION
ABSTRACT
The dynamics of innovation are usually represented by a model that adheres to the reality of mass
production systems characterized by a low variability of products and by large scale production. An
alternative model, and an ideal one, has been developed to represent productive systems characterized
by a high variability of products - meeting the specific needs of different sponsors - and by low scale
production. This model represents the dynamics of innovation in complex systems. The project
becomes a unit of aggregation, from which analyses are made. The Chandlerian economies of scale
and scope, understood as the fundamentals for the growth of organizations, become economies of
repetition and recombination, and they settle in project-based organizations.
The main objective of this research is to show that the cycles of organizational learning are defined by
system architecture and are crystallized through learning by use.
The case study of PRODESP shows how, from the architecture of the Sintonia system, the life cycle
processes of the project are established, and learning by use crystallizes learning cycles in this product
platform. Sources of primary data include interviews and documentation related to design processes.
It is concluded that the ideal model of innovation that represents the dynamics of innovation in
complex systems is adherent, at various points, to the reality of PRODESP.
Keywords: System architecture; Procedural knowledge; Economies of repetition; Economies of
recombination; Project-based organizations.
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Data do recebimento do artigo: 22/07/2011
Data do aceite de publicao: 25/10/2011
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2011
Abstract
The dynamics of innovation are usually represented by a model that adheres to the reality of mass production systems characterized by a low variability of products and by large scale production. An alternative model, and an ideal one, has been developed to represent productive systems characterized by a high variability of products - meeting the specific needs of different sponsors - and by low scale production. This model represents the dynamics of innovation in complex systems. The project becomes a unit of aggregation, from which analyses are made. The Chandlerian economies of scale and scope, understood as the fundamentals for the growth of organizations, become economies of repetition and recombination, and they settle in project-based organizations. [PUBLICATION ABSTRACT]
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