RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI:
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
A RELAO ENTRE AS CARACTERSTICAS DE PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DE NOVOS PRODUTOS E AS COMPETNCIAS:
UM ESTUDO DE CASO NO SETOR FARMACUTICO
Waldomiro Guimares Filho
Mestre Profissional em Gesto de Projetos pela Universidade Nove de Julho UNINOVE
mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Brasil)
Marcos Paixo Garcez
Doutor em Administrao pela Universidade de So Paulo USP
Professor da Universidade Nove de Julho UNINOVE
mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Brasil)
RESUMO
O processo de desenvolvimento e inovao de produtos engloba uma gama de atividades que
contribuem para a obteno de produtos e servios mais eficientes e a identificao de oportunidades
para colocao deles no mercado. Estas atividades esto associadas s capacidades dinmicas,
entendidas como uma competncia distintiva que permite s organizaes reconfigurar seu negcio e
competncias, especificamente tirando proveito de competncias e do balanceamento do uso dos
princpios da ambidestralidade.
Assim, esse estudo baseia-se na teoria das capacidades dinmicas, utilizada como fundamentao para
investigar as caractersticas dos projetos de desenvolvimento de produtos e sua relao com os tipos de
competncias envolvidas, buscando aprofundar o entendimento da contribuio destas no
desenvolvimento e manuteno da competitividade e sobrevivncia das empresas em um ambiente
competitivo dinmico. Desenvolve-se um estudo de caso nico incorporado de projetos em empresa
nacional do setor farmacutico, identificando as relaes entre as competncias e as caractersticas de
trs projetos desenvolvidos.
Palavras-chave: Inovao; Competncias; Desenvolvimento de produtos; Capacidades dinmicas.
A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
1 INTRODUO
A busca da competitividade, fator essencial para a sobrevivncia em um ambiente globalizado e em constante mutao, e no qual a troca de informaes ocorre instantaneamente por meio das telecomunicaes, tem forado as empresas a melhorarem seus produtos e processos de produo para manterem-se competitivas. A vantagem competitiva o resultado de um profundo conhecimento das foras internas e externas que afetam fortemente a organizao. Segundo Vasconcelos e Cyrino (2000):
A vantagem competitiva , assim, o resultado da capacidade da firma de realizar eficientemente o conjunto de atividades necessrias para obter um custo mais baixo que o dos concorrentes ou de organizar essas atividades de uma forma nica, capaz de gerar um valor diferenciado para os compradores. (p. 24).
Ainda, segundo estes autores, a competitividade de uma organizao se fundamenta essencialmente em sua capacidade de selecionar e combinar recursos adequados e mutuamente complementares. O desenvolvimento de novos produtos uma tarefa multidisciplinar que requer profundos conhecimentos das diversas reas da engenharia, conhecimentos gerenciais, comunicao eficiente, relacionamento interpessoal, viso sistmica e integrada do negcio (Mundim et al., 2002).
Escolher uma metodologia e tcnicas de trabalho para o desenvolvimento de novos produtos tem sido uma preocupao constante das empresas e as tem levado a um uso intensivo de tcnicas computacionais avanadas, que integram projeto, gesto e manufatura. Para incorporar essas novas tecnologias rotina de trabalho das empresas, no basta efetuar aquisies de pacotes fechados (turnkey solutions), aguardando que os mesmos promovam mudanas imediatas em seus padres de qualidade e produtividade. Conceitualmente, os pacotes fechados referem-se solues completas prontas para uso imediato. Resolues deste tipo, alis, bastante frequentes, tm sido causadoras de muitos prejuzos e decepes.
Para que o desenvolvimento seja eficaz, necessrio garantir aos profissionais, acesso ao aprendizado de novas tecnologias acoplado com a viso integrada do negcio, envolvendo todas as habilidades requeridas neste processo, tais como: pensamento sistmico, trabalho em equipe e conhecimentos tcnicos especficos (Mundim et al., 2002).
No cenrio ressaltado, as fronteiras nacionais no so mais uma proteo efetiva contra a concorrncia de produtos de alta qualidade e/ou baixo custo. Para atender ao mercado e continuarem
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competitivas, as organizaes devem melhorar a qualidade de seus produtos e processos, reduzir custos e aumentar a flexibilidade e eficincia de todo o sistema com agilidade crescente. Qualidade possui hoje um sentido mais amplo do que no passado: o seu adjetivo mais utilizado, total, implica que todos os esforos devem ser voltados para a satisfao do cliente.
A sobrevivncia de uma organizao nos dias atuais, num ambiente de rpida mutao, est condicionada capacidade de se renovar se quiser sobreviver e prosperar em ambientes dinmicos. Este desafio de renovao ainda mais pronunciado no atual ambiente de negcios caracterizado por mudanas rpidas de clientes, tecnologias, e da concorrncia. A combinao de tecnologias aliada com o conhecimento e habilidades necessrias podem prover melhores solues para os problemas de desenvolvimento de novos produtos (Mundim et al., 2002).
Dessa forma, possvel perceber a importncia de introduzir novos conceitos e prticas que busquem garantir a eficcia no desenvolvimento de novos produtos alinhados com os objetivos estratgicos da organizao como um fator de competitividade. A vantagem competitiva baseada na capacidade de uma empresa desenvolver capacidades dinmicas.
Segundo Eisenhardt e Martin (2000), a capacidade para desenvolver capacidades dinmicas reside na competncia de uma empresa em criar estratgias flexveis para coordenar e redistribuir os recursos e seus sistemas de atividades relacionadas. Isso implica que, se esses recursos e essas atividades tiverem complementaridade, o potencial para criar vantagem competitiva sustentvel reforado, alm de permitir programar novas estratgias de criao de valor que no podem ser facilmente duplicadas por empresas concorrentes.
Subjacente a este forte interesse de adaptao ao ambiente, o desenvolvimento contnuo de novos produtos crucial para a sobrevivncia da empresa. Isto requer que a empresa tenha competncias relativas tecnologia e aos clientes, e cada uma delas constituda por um conjunto de recursos. Segundo Mundim et al. (2002), uma forma de auxiliar esta capacitao profissional baseia-se na utilizao de uma nova abordagem de aprendizagem de desenvolvimento de produtos caracterizada pela didtica ativa, denominada cenrio. Esta abordagem segundo estes autores suportada por modelos de referncia, a partir dos quais se consegue capturar uma viso sistmica e integrada do processo de negcio da empresa e se obter o mapeamento das competncias especficas necessrias execuo desse processo.
Para Danneels (2002), o termo "competncia" abrangente, sendo usado para se referir habilidade de realizar algo utilizando um conjunto de materiais (mquinas, equipamentos, lista de e-mail...) e recursos imateriais como: know-how de fabricao, compreenso das necessidades do cliente
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etc. Ainda, segundo este autor, um produto envolve a integrao de mercados e tecnologias que no podem ser entendidas separadamente, conforme ilustrado no quadro 1. Esta abordagem, denominada capacidades dinmicas, enfatiza o papel fundamental de liderana estratgica em adaptar, integrar e reconfigurar habilidades organizacionais e de recursos para atender ambientes em mudana (Danneels, 2002). Envolve ainda duas principais tarefas presentes na inovao de produtos que seriam: (i) fabricar o novo produto (o que possvel quando uma competncia tecnolgica est presente) e (ii) vender esse produto a determinados clientes (que assegurado pela presena de uma competncia voltada para o cliente).
Quadro 1- Inovao de produtos, ligao entre competncias tecnolgicas e de clientes.
Fonte: Adaptado de Danneels (2002).
Dada importncia do tema, este trabalho ir discutir as novas abordagens de desenvolvimento de produtos, as quais do suporte para que as empresas caminhem na direo de empresas ambidestras (ambidextrous organizations). Tushman e OReilly (1996) definem a ambidestralidade como a capacidade da empresa para perseguir simultaneamente tanto a explotao como a explorao. A explotao (exploitation) diz respeito eficincia, aumento da produtividade, controle, segurana e reduo de erros. J a explorao (exploration) est relacionada busca, descoberta, autonomia, inovao, abraar a variao, bem como, a mudana (Tushman & OReilly, 1996, p. 24). Como resultado, a ambidestralidade envolve o equilbrio entre a explotao e explorao ao longo do tempo, atravs de diferentes domnios organizacionais por meio do alinhamento e eficincia na gesto da demanda de negcios atuais, adaptabilidade e capacidade de resposta s futuras mudanas no ambiente.
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Russo e Vurro (2010) aprofundam o conceito de organizao ambidestra como a capacidade de competir tanto em mercados maduros (onde os custos, eficincia e inovaes incrementais so cruciais) como desenvolver projetos para novos produtos e servios para os mercados emergentes (onde a experimentao, a velocidade e a flexibilidade so fundamentais).
Organizaes ambidestras geram rendas por meio da mudana revolucionria e evolutiva, criam e sustentam vantagens e tem a capacidade de dar respostas eficientes em perodos de turbulncia com preservao ou inovaes. Na figura 1, ilustra-se a relao dos conceitos de capacidades dinmicas com as caractersticas dos projetos. Presume-se que as capacitaes dinmicas, dependendo do grau de explorao e explotao, requerem dos projetos diferentes ritmos de gerenciamento, novidade, domnio de tecnologia e a capacidade de lidar com complexidade distinta em produtos e servios.
Figura 1: Relao das capacidades dinmicas e as caractersticas dos projetos. Fonte: Elaborado pelos autores.
Desta forma, este estudo tem como objetivo principal identificar a relao das competncias das empresas com as caractersticas de seus projetos, tais como a novidade, tecnologia, complexidade, ritmo e forma de conduo (interno ou cooperado), utilizando-se o construto de capacitaes dinmicas. Tambm ser analisado o grau de ambidestralidade (explorao versus explotao) de uma organizao do setor farmacutico e como as estratgias de desenvolvimento de produtos (desenvolvimento interno e cooperado) se relacionam com as diferentes dimenses desta mesma ambidestralidade.
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2 REVISO DA LITERATURA
1.1 A Dinmica do Processo de Inovao e as Competncias
O desenvolvimento de novos produtos de sucesso centra-se na transformao de uma ideia em algo de valor. Trata-se de um processo de converso de necessidades em uma soluo tcnica e comercial. Algumas empresas desenvolvem e comercializam produtos, outras, desenvolvem e comercializam servios. No mundo empresarial, porm, mais e mais empresas tm prestado ateno primeiro s necessidades e desejos de seus clientes e em seguida, elas desenvolvem solues e experincias que combinam produtos e servios para atender a todas essas demandas.
Ao mesmo tempo em que as empresas so obrigadas a fornecer solues para os clientes atuais, apresentando produtos e servios de natureza incremental ou plataformas de inovaes e gerando fluxos de caixa no curto prazo para atender desta forma s expectativas das partes interessadas, elas tambm precisam se concentrar em inovaes radicais a mdio e longo prazo, a fim de obter diversificao de produtos e mercados, mitigando os riscos de um ambiente turbulento e fazendo o possvel para alcanar as partes interessadas com satisfao e sustentabilidade. (Garcez & Hourneaux, 2011).
Cada processo de desenvolvimento de produto nico, mas eles partilham caractersticas comuns ou elementos fundamentais. um trabalho complexo que acarreta muitas tarefas e muitas responsabilidades, com pessoas diferentes e com habilidades diferentes necessrias para realizar as tarefas. Se as pessoas envolvidas no desenvolvimento puderem entender o que esses processos tm em comum, elas sero capazes de orientar a gesto desses processos de desenvolvimento do produto, os quais podem mudar a base da concorrncia.
Com as mudanas que tem ocorrido nas ltimas dcadas, como a intensa competio internacional, as diversas mudanas tecnolgicas e com consumidores mais exigentes, as organizaes tem sido foradas a melhor conceber, desenvolver e lanar novos produtos e no ficar apenas nas extenses e melhorias incrementais. O caminho para o desenvolvimento parte de um conjunto de oportunidades que leva escolha das melhores ideias que podem vir a ter sucesso em um determinado mercado. Nem todos os projetos tm as mesmas caractersticas. Alguns so projetos de infraestrutura, alguns so de melhorias em produtos existentes, outros so iniciativas para criar novos produtos e outros so projetos de manuteno de produtos e servios correntes. Shenhar e Dvir (2007)
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categorizam os projetos em duas dimenses que se entrecruzam: projetos estratgicos versus operacionais e projetos internos versus externos. Eles sugerem dividir os projetos com base nas metas de negcios e nos grupos de clientes (Shenhar & Dvir, 2007). A tabela 1 apresenta a matriz meta cliente.
Tabela 1 dimenses dos projetos
Tipo de cliente Projetos Operacionais Projetos Estratgicos
Externo Estender a vida de um produto existente; aperfeioamento do produto.
Interno Aperfeioar um processo interno existente; manter um processo interno; resolver um problema especfico; ganhar acesso a uma capacidade especfica ou tecnologia.
Fonte: Adaptado de Shenhar e Dvir (2007).
Segundo Teece e Pisano (1994):os vencedores no mercado global tm sido as empresas que demonstrem capacidade de resposta oportuna e inovao de produtos com rapidez e flexibilidade, juntamente com a capacidade gerencial para coordenar e reorientar as competncias internas e externas (Teece & Pisano, 1994, p. 1).
Para Prahalad e Hamel (2005), uma competncia essencial se constitui, de uma forma mais bsica, em uma fonte de vantagem competitiva, pois nica e contribui para o valor percebido pelo cliente ou para a reduo do custo. Para esses autores, para se considerada uma competncia especifica da organizao, uma habilidade precisa passar em trs testes, a saber:
Valor percebido pelo cliente.
Uma competncia essencial precisa dar uma contribuio desproporcional para o valor percebido pelo cliente.
Diferenciao entre concorrentes: para ser qualificada como uma competncia essencial, uma capacidade precisa ser competitivamente nica.
Capacidade de expanso: como uma competncia poderia ser aplicada em novas arenas de produtos. Imaginar uma gama de novos produtos e servios a partir dela.
A globalizao tem afetado cada vez mais o modo como as empresas operam, competem e inovam, na qual o conhecimento se difunde mais amplamente. Esta, cada vez mais, exige a utilizao de mltiplas fontes de conhecimento, tanto explcito como tcito e a gesto global de ativos
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Introduo de novos produtos.
Projeto de uma nova infra-estrutura interna como ERP; uma importante empresa de servios pblicos ou projeto capital; um projeto de pesquisas.
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intangveis. Para Kogut e Zander (1992), as aes que as empresas podem empreender para superar o mercado residem no compartilhamento e transferncia de conhecimento dos indivduos e grupos dentro da organizao. O conhecimento explcito aquele que pode ser transferido mediante licenciamento de tecnologias, enquanto o conhecimento tcito pertence aos indivduos, s pode ser transferido na interao entre os indivduos, no podendo ser adquirido ou licenciado. Este conhecimento consiste em Informao e de know-how.
Informao implica saber o que significa algo (Kogut & Zander, 1992). O know-how um termo muito usado, mas raramente definido. Von Hippel define "know-how como a habilidade ou experincia prtica acumulada que permite uma pessoa fazer algo de forma harmoniosa e eficiente (Von Hippel, 1988). Para Kogut e Zander (1992), saber como fazer algo muito parecido com uma receita de bolo. No h contedo substantivo em qualquer uma das etapas, com exceo da capacidade de produzir um fim desejado. Empresas diferem em suas informaes e know-how e essas diferenas, quando so economicamente interessantes, tm efeitos sobre o desempenho relativo. Know-how, como conhecimento processual, uma descrio que define a prtica corrente dentro de uma empresa (Kogut & Zander, 1992). Por meio da informao, conhecimento pode ser transmitido sem perda de integridade, uma vez que as regras sintticas necessrias para decifr-la sejam conhecidas.
Para Hamel e Prahalad (1995, 229), as competncias essenciais de uma organizao so: um conjunto de habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado benefcio a seus clientes. As competncias essenciais fornecem s organizaes acesso potencial a uma ampla variedade de mercados. A capacidade de gerenciar os ativos existentes e os recursos (explotao) e o desenvolvimento de novas competncias (explorao) so, indiscutivelmente, um dos mais relevantes fatores de sucesso de novos produtos.
A explorao consiste em procurar, descobrir, pesquisar, estudar, produzir e desenvolver um negcio na rea em questo, isto , a busca do conhecimento das coisas que podem vir a ser conhecidas (Levinthal & March, 1993). Ambas so relevantes para os processos operacionais e para aqueles que envolvem mudanas organizacionais. Segundo March (1991), a explorao est associada necessidade das organizaes em desenvolver, experimentar e aprender a partir da tentativa de coleta e aquisio de novos conhecimentos. A explotao est associada ao uso do conhecimento existente em prol da eficincia e da experincia interna e dos ganhos em competitividade (March, 1991).
Observa-se que as abordagens das capacidades dinmicas so relevantes para os processos organizacionais. Porm, a dificuldade reside em balancear os recursos que sero destinados a ambas e
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a energia suficiente que ser dedicada para garantir sua viabilidade futura (Levinthal & March, 1993). As empresas que possurem a capacidade de lidar com esse conjunto de fatores, so tratadas na literatura como empresas ambidestras (ambidextrous organizations).
Para OReelly e Tushman (2007) as capacidades necessrias para que as empresas sejam bem sucedidas como ambidestras, coincidem com os princpios defendidos por Teece, envolvendo deteco, apreenso e reconfigurao. Para uma empresa ambidestra a exigncia que a explorao e explotao sejam aplicadas em simultneo, com subunidades distintas, modelos de negcios, e alinhamentos distintos para cada uma, levando-se em conta o alinhamento coerente de competncias, estruturas, sistemas de incentivos e cultura voltados para a explorao e explotao, alm, de uma equipe de gestores seniores para estabelecer e garantir ambos. Ainda, para Prahalad e Hamel (2005), uma empresa deve ser vista no apenas com um portflio de produtos ou servios, mas tambm com um portflio de competncias.
1.2 Natureza dos Projetos de Inovao e Desenvolvimento de Produtos
Para Shenhar e Dvir (2007), o sucesso organizacional depende cada vez mais de projetos. Para diferenci-los, eles propem distingui-los pela sua tecnologia, tamanho, risco, ambiente, tipo de consumidor, contrato, complexidade, as habilidades envolvidas, a geografia e demais aspectos inerentes, os quais tm uma meta e um tempo limitado. Eles propem trs direcionadores-chave para classific-los: meta, tarefa e ambiente. A meta compreende o resultado exato, ou produto que este projeto deve alcanar; o produto final. A tarefa est relacionada ao trabalho exato que precisa ser feito, o quo difcil ele , o quanto se conhece deste projeto, a complexidade e a disponibilidade de tempo.
O ambiente est relacionado ao ambiente comercial, o mercado, a tecnologia disponvel e a indstria especfica. Inclui aqui tambm o ambiente econmico, poltico e geogrfico; o ambiente interno da empresa: a cultura, as pessoas, as habilidades e os procedimentos. Os projetos variam de tipo, tamanho e exigncias especficas. Uma receita de sucesso adotada para um, no serve para todos. Ao longo do seu desenvolvimento, mudanas acontecero e os planos devero ser ajustados.
Baseados na teoria clssica de contingncia, Shenhar e Dvir (2007) definem trs dimenses que caracterizam cada projeto: a incerteza, a complexidade e o ritmo. Para eles a incerteza est relacionada com o estado da informao sobre as metas, as tarefas e o ambiente do projeto. A complexidade tratada como uma medida do escopo do projeto que est relacionado com o nmero de tarefas e o grau
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de interdependncia entre elas, e finalmente o ritmo, que est relacionado dimenso de tempo e prazos que impulsionam o projeto. De acordo com o exposto, estes autores desenvolveram um modelo o qual batizaram de diamante, cuja nomenclatura NTCR (novidade, tecnologia, complexidade e ritmo). O modelo como foi definido por eles uma estrutura que os gerentes podem usar quando tomam decises sobre projetos e como eles devem ser gerenciados. A estrutura do Diamante apresentada na figura 2.
Figura 2: Modelo Diamante. Fonte: adaptado de Shenhar e Dvir (2007)
3 METODOLOGIA
O principal objetivo deste trabalho consiste em identificar a relao das competncias de uma empresa de alta tecnologia com as caractersticas de seus projetos em termos da classificao dos mesmos, como novidade, tecnologia, complexidade, ritmo, forma de conduo (interno ou cooperado), entre outros.
Analisa-se tambm, o grau de ambidestralidade da empresa investigada e como as estratgias de desenvolvimento de produtos (desenvolvimento interno versus cooperado) se relacionam com as dimenses de explorao e explotao. Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliogrfica sobre os temas: So tambm discutidas as estratgias de desenvolvimento de produtos por meio de
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desenvolvimento interno ou cooperado, incluindo as capacidades dinmicas e o uso de competncias existentes e novas no desenvolvimento de produtos, a natureza dos projetos de inovao e desenvolvimento de produtos e a relaes entre competncias e o tipo de inovao. A anlise dos resultados segue uma estratgia que parte do amplo para o especfico, onde so analisadas trs dimenses: entendimento da empresa, dados de gesto de pesquisa e desenvolvimento de produtos na empresa e anlise das relaes propostas no problema de pesquisa.
3.1 Delineamento da Pesquisa
O estudo em questo tem natureza exploratrio-descritiva. Como mtodo utiliza-se o estudo de caso. Para Yin (2010), o estudo de caso pode ser empregado em muitas situaes, o qual contribui para o nosso conhecimento sobre uma srie de fenmenos, sejam eles, individuais, grupais, organizacionais, sociais, polticos e afins.
Segundo Schramm (1971):a essncia de um estudo de caso, a tendncia central entre todos os tipos de estudo de caso, que ele tenta esclarecer uma deciso ou um conjunto de decises: por que elas foram tomadas, como foram implementadas e com que resultado (p. 6).
De acordo com Eisenhardt e Graebner (2007), o estudo de caso uma estratgia de pesquisa que envolve o uso de um ou mais casos para criar construtos tericos, proposies e/ou teorias baseadas em casos com evidncia emprica. De acordo com Yin (2010, p.22), o estudo de caso uma das vrias maneiras de realizar a pesquisa de cincia social. uma forma de se fazer pesquisa emprica tendo como enfoque fenmenos contemporneos no contexto da vida real em situaes em que o investigador tem pouco controle sobre os eventos, onde se utilizam mltiplas fontes de evidncia.
3.2 Relao entre o problema de pesquisa e o mtodo seleccionado
Tendo em vista que o mtodo de estudo de caso lida com fenmenos onde o contexto importante e onde no existam evidncias a priori que permitam a construo de hipteses que possam vir a sustentar a construo de novas teorias, este estudo utiliza a abordagem metodolgica de estudo de caso nico incorporado em uma nica empresa, tendo trs projetos como unidade de anlise, gerando proposies tericas de direcionamento das anlises. Nesse sentido a utiliza como meio de abordar, sob a ptica das capacidades dinmicas e competncias de desenvolvimento de produtos, se as
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proposies feitas so corretas ou se algum conjunto alternativo de explanaes pode ser mais relevante no processo de mudana que tem ocorrido nas organizaes. Para tanto este estudo ir buscar o entendimento do desenvolvimento e manuteno de competncias relacionadas com o desenvolvimento de produtos, tendo como suporte os conceitos de capacidades dinmicas, explorao e explotao, como tendncias e prticas de renovao organizacional para a busca da competitividade e sobrevivncia das organizaes num mundo em constante mutao.
Segundo Yin (2010), o estudo de caso nico alm de ser decisivo para ilustrar o fenmeno, pode representar uma contribuio significativa para a formao do conhecimento e da teoria. Ainda, segundo este autor, um caso pode ser definido como um fenmeno de certa natureza ocorrendo num dado contexto. Este estudo com mltiplos projetos tornou-se mais apropriado pois permitiu lidar com uma completa variedade de evidncias, documentos, entrevistas e observaes e o enfoque foi baseado na comparao de semelhanas e destaque das diferenas entre os casos, tendo os projetos como unidades de anlises, e buscando analisar as similaridades e divergncias relacionadas s competncias no desenvolvimento de produtos.
3.3 Modelo conceitual da pesquisa
O modelo conceitual da pesquisa, ilustrado na figura 3, apresenta as variveis do estudo.
Caracterstica do Projeto
Variveis Independentes
Desenvolvimento interno
Tecnologia Cooperado (tipo de parceiro)
Complexidade
Nova
Desenvolvimento Interno
Ritmo Cooperado (tipo de parceiro)
Figura 3: Modelo conceitual da pesquisa. Fonte: Desenvolvido pelos autores
3.4 Operacionalizao das variveis
Apresentam-se nos quadros 2 e 3 as variveis de pesquisa, seu conceito e a operacionalizao de sua mensurao. Por meio de elementos extrados da reviso bibliogrfica realizada e, tendo em mente que o estudo de natureza exploratrio-descritiva, estabelecem-se aqui algumas proposies tericas iniciais, a serem checadas no estudo de campo, e que auxiliaro na anlise comparativa dos
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Caracterstica das Competncias Variveis Dependentes Novidade
Existente
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projetos acessados. Essas proposies esto associadas natureza inerente dos conceitos de explorao e explotao.
Quadro 2: Variveis independentes
Varivel Independente - Caractersticas dos Projetos
Varivel Conceito / Base Terica Operacionalizao
Novidade
Quo novo o produto para o consumidor. Representa a incerteza do objetivo do projeto (Shenhar e Dvir, 2010).
Escala nominal de 3 pontos, desde: derivativa, plataforma, Inovao. (1) (2) (3)
Complexidade Mede a complexidade do produto, a tarefa e a
organizao (Shenhar e Dvir, 2010).
Escala nominal de 3 pontos, desde: montagem, sistema, matriz. (1) (2) (3)
Tecnologia
Grau de novidade tecnolgica da tecnologia chave para desenvolver o projeto (Shenhar &
Dvir, 2010).
Escala nominal de 4 pontos, desde: baixa, mdia, alta e altssima. (1) (2) (3) (4)
Ritmo
Representa a urgncia do projeto. (Shenhar & Dvir, 2010). identificada a durao do projeto.
Escala nominal de 4 pontos, desde: baixo, regular, mdio, alto. (1) (2) (3) (4) Fonte: Desenvolvido pelos autores.
Quadro 3: Variveis dependentes
Varivel dependente - Caractersticas das Competncias
Varivel Conceito / Base Terica Operacionalizao
Grau de competnciasexistentes. (GCE) So aquelas j disponveis na
empresa (March, 2001).
Participao relativa versus competncias existentes para desenvolver o projeto
Grau de competncias novas. (GCN)
So aquelas necessrias para o desenvolvimento do projeto (March, 2001).
Participao de competncias novas para desenvolver o projeto
Ambidestralidade.
Capacidade da empresa para perseguir simultaneamente tanto a inovao incremental e descontnua como a mudana (Tushman & OReilly, 1996).
Nvel de competncias explotativas e explorativas
Grau de Ambidestralidade. (GA)
Capacidade da empresa gerir os diferentes usos de competncias, explotativa e explorativa (Garcez & Hourneaux, 2010).
Nvel de Ambidestralidade da empresa: GA = GNC/GCE (% Competncias Novas / % Competncias. Existentes)
Tipo de Parceiro Agente ou parceiro que a empresa
busca para o desenvolvimento
Universidade, Institutos de Tecnologias, Empresa de outro setor, Clientes, Financiadores.
Grau de cooperao Intensidade de atividades dos
parceiros nos projetos.
Grau de participao do parceiro no projeto.
Fonte: Desenvolvido pelos autores
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3.5 Proposies tericas do estudo
Por meio de elementos extrados da reviso bibliogrfica realizada e, tendo em mente que o estudo de natureza exploratrio-descritiva, estabelecem-se aqui algumas proposies tericas iniciais, a serem checadas no estudo de campo, e que auxiliaro na anlise comparativa dos projetos acessados. Essas proposies esto associadas natureza inerente dos conceitos de exploration (uso de recursos e competncias novas) e exploitation (uso de recursos e competncias existentes). Formulam-se assim as seguintes proposies tericas, de forma indutiva, para verificao subsequente:
P.1. Novidade: Quanto mais novidade agregada ao produto, maior o grau de competncias novas.
P.2. Complexidade: Quanto mais alto o nvel de complexidade, maior o grau de competncias novas. P.3. Tecnologia: Quanto maior o grau de novidade tecnolgica, menor o grau de competncias novas. P.4. Ritmo: Quanto maior o grau de urgncia de desenvolvimento, menor o grau de competncias novas.
P.5. Novidade: Quanto mais novidade agregada ao produto, maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
P.6. Complexidade: Quanto mais alto o nvel complexidade maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
P.7. Tecnologia: Quanto maior o grau de novidade tecnolgica, maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
P.8. Ritmo: Quanto maior o grau de urgncia de desenvolvimento, menor o grau de cooperao no desenvolvimento.
3.6 Caracterizao da Empresa
A empresa estudada pertence ao segmento veterinrio, ou seja, de sade animal, que altamente competitivo e relativamente descentralizado em termos de sua estrutura industrial, com muitas empresas competindo e com o mercado relativamente aberto concorrncia internacional. uma empresa de porte mdio com atuao no mercado interno e externo. Seu faturamento de cerca 120 milhes de reais/ano. Conta com aproximadamente 390 funcionrios. As linhas de produo da organizao oferecem ao redor de 85 produtos. pertinente verificar que se trata de uma empresa com liderana em alguns produtos no mercado, constituda por capital nacional e que investe sistematicamente na rea de tecnologia de forma a acompanhar a grande concorrncia do setor, que se
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destaca na economia brasileira de forma singular, dado o volume de produo para consumo interno e externo. Alm de ser uma empresa do setor que reconhecidamente um dos que mais investem em tecnologia e inovao, houve a grande oportunidade de investigar este caso dada a facilidade de acesso s informaes que foram fornecidas por um diretor e gerentes dos projetos investigados, o que garantiu a riqueza de detalhes e informaes. Garantiu-se o sigilo do nome dos respondentes e da empresa.
3.7 Limitaes do Estudo
Segundo Yin (2010), em determinados estudos de caso, a generalizao de um caso particular para uma proposio terica no deve ser perseguida pelo cientista. Neste estudo, a limitao do estudo se deu devido ao pequeno nmero de casos, os projetos, todos relacionados a uma nica empresa. Assim, relevante notar que os casos fornecem pouca base para generalizaes tericas e mesmo implicaes para o estudo de outros setores e muito menos sua inferncia para o universo das empresas. Porm, h que se notar que este estudo possui natureza exploratria e buscou construir proposies baseadas na literatura. O alcance da pesquisa limitado do ponto de vista determinstico, porm tem um valor intrnseco para a cincia ao trabalhar de forma exploratria e indutiva uma nova conexo, das capacitaes dinmicas analisadas sob a ptica da gesto de projetos.
4 DISCUSSO DOS RESULTADOS
4.1 Estratgias de desenvolvimento de produtos na empresa
No incio de suas atividades a empresa se colocou como empresa seguidora, explorando o que o mercado estava traando por entender que este oferecia uma srie de vantagens competitivas. Para eles, ser seguidor de mercado tem vantagens porque todos os problemas j foram resolvidos pelo lder, o inovador. A estratgia usada para se preparar e entrar no mercado sobre o qual tinham domnio das atividades essenciais para o desenvolvimento, alm das habilidades mercadolgicas, era acompanhar a evoluo das patentes. Assim que a mesma j estivesse em domnio pblico, o produto j estaria pronto e testado para no momento pr-estabelecido coloc-lo no mercado, podendo inclusive aperfeio-lo ou promover a inveno de outra soluo. Quando a empresa comeou a ter um desempenho satisfatrio, ela passou a adentrar em produtos de inovao.
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A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
De forma a buscar novas ideias para o desenvolvimento de novos produtos, a empresa conta com o pessoal de campo que presta assistncia nas fazendas, o pessoal de escritrio alocado na rea comercial, o pessoal de marketing, o pessoal de tecnologia e tambm conta com apoio externo por meio de consultores. As ideiass que chegam empresa so separadas em duas categorias:
A primeira o que mercado enxerga e solicita, o market pull (o mercado demandando). A segunda o que a cincia traz de implicaes prticas, o science push (a cincia induzindo).
Outro ponto fundamental para eles no projeto de desenvolvimento de novos produtos o time to market (tempo decorrido entre o incio do desenvolvimento e o momento em que o produto apresentado ao mercado). De acordo com o exposto, a empresa definiu sua rota tecnolgica de desenvolvimento de produtos em cinco nveis conforme apresentado no quadro 4.
Para enfrentar os desafios de desenvolvimento de novos produtos, a empresa classifica os tipos de projetos que desenvolve em trs nveis:
Seguidor de mercado (anlogos plataforma de produtos), os quais so projetos de media complexidade que norteiam as linhas de produtos da empresa;
Projetos derivativos ou incrementais; Projetos de inovao radical.
Quadro 4: Rota tecnolgica
Rota Tecnolgica de Desenvolvimento
N V
E
I S
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Microbiolgica
Processos de fermentao
Processos de separao
Processos de formulao
Controle da qualidade
Fonte: Desenvolvido pelos autores a partir de entrevistas e documentos da empresa.
De acordo com a classificao de projetos citada acima, juntamente com a rota tecnolgica, os principais critrios adotados para a seleo de projetos esto associados com o atendimento ao segmento de mercado, ao retorno de investimentos e ao payback. O payback refere-se ao tempo decorrido entre o http://pt.wikipedia.org/wiki/Investimento
Web End =investimento inicial e o momento no qual o http://pt.wikipedia.org/wiki/Lucro
Web End =lucro lquido acumulado se iguala ao valor desse investimento, ou seja, quanto tempo o investidor ir precisar para recuperar o investimento
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realizado. Para o julgamento do atendimento dos projetos a esses critrios, existe um frum maior da empresa, do qual as reas de P&D, Marketing e Tecnologia (produo) participam, sendo as reas de P&D e o marketing prioridade na deciso. O P&D apontando o que a cincia est mostrando ao mundo e o Marketing o que o mercado demanda, compatibilizando assim a cincia com as necessidades do mercado.
4.2 Relao das variveis dos projetos
A relao das variveis foi extrada dos projetos descritos a seguir onde sero apresentadas tambm em um quadro as variveis para comparao, anlise e interpretao dos dados. Os projetos analisados so:
Projeto 1: Desenvolvimento de um produto de aplicao oral, a ser administrado aos animais para aumentar a produtividade do gado leiteiro;
Projeto 2: Desenvolvimento de um produto que oferecesse vitaminas ao animal, mantendo uma concentrao plasmtica durante vrios meses, permitindo a recuperao do animal depauperado e aumentando a produtividade;
Projeto 3: Produo de vacinas em sistemas de fermentador com reciclo ou microcarregadores permite trabalhar com um fermentador de alto desempenho e ter timo controle do processo, produo mais simples e de menor custo.
4.3 Anlise e interpretao dos dados
A anlise e interpretao dos dados foram estruturadas em funo do modelo conceitual da pesquisa, composta de trs partes: natureza do projeto (variveis independentes); natureza das competncias (variveis dependentes); e setor empresarial (varivel de controle). Foram utilizados os construtos conforme o quadro 5, contendo as variveis que serviram como instrumentos de estudo para avaliar as caractersticas dos projetos de inovao tecnolgica e o grau de competncias necessrias para seu desenvolvimento.
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A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
Quadro 5: Caractersticas dos projetos e relao das variveis.
Caractersticas dos Projetos
Projetos1 2 3
Novidade do produto inovao inovao derivativo Grau de
Tecnologia alta mdia mdia Nvel deComplexidade mdia alta mdia
Ritmo dedesenvolvimento mdio regular mdio Incerteza no inicio doprojeto mdia mdia alta Investimento total doprojeto alto alto alto
Competncias necessrias
Existente (GCE)
Novas (GCN)
Existent e (GCE)
Novas (GCN)
Existente (GCE)
Novas (GCN)
40% 60% 20% 80% 40% 60%
Cooperado ICT/ Universidade/
Fornecedores
50% 50% 30% 70% 80% 20% Fonte: Levantamento de dados feitos pelos autores.
Na figura 4 posicionam-se os 3 projetos no modelo diamante proposto por Shenhar e Dvir (2007). Figura 4: Classificao dos projetos no Modelo Diamante.
Fonte: Modelo de Shenhar e Dvir (2007) dados da pesquisa
Desenvolvimento Cooperado
Empresa Cooperado
Universidade Empresa
Cooperad o ICT/ Forneced or
Empresa
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Os valores apresentados na figura 4 referem-se escala nominal apresentada nos quadros de variveis e do suporte para que se possa medir o grau de ambidestralidade dos projetos, bem como o da empresa. O quadro 6 apresenta a mensurao do grau de ambidestralidade dos projetos.
Quadro 6: Mensurao do grau de ambidestralidade dos projetos.
Projetos Competncias
Novas (GCN)
Competncias Existentes (GCE)
Grau de Ambisdestralidade GA = GCN/GCE
Consideraes
Projeto 1 60% 40% GA=60/40 = 1,5 Relativo predominio de
competncias novas
Projeto 2 80% 20% GA=80/20 = 4 Alto predominio de
competncias novas
Projeto 3 60% 40% GA=60/40 = 1,5 Relativo predominio de
competncias novas Fonte: Modelo desenvolvido pelos autores dados da pesquisa
A caracterizao da ambidestralidade do projeto pode ser classificada segundo seu posicionamento apresentado nos critrios a seguir:
Se GA = 1 (Total ambidestralidade ) Se GA > 1 (Predomnio de competncias novas) Se GA < 1 (Predomnio de competncias existentes)
Observando-se o quadro 6, percebe-se que para o desenvolvimento dos projetos, h uma predominncia por novas competncias. A rigor, como apontado na literatura, a abordagem de explorao reflete a necessidade das organizaes em desenvolver, experimentar e aprender a partir da tentativa de coleta e aquisio de novos conhecimentos. Esta situao por sua vez gera demandas por projetos de investimentos, tais como anlise de novas tecnologias e processos. Os projetos analisados esto condicionalmente atrelados a esta abordagem. Portanto, h uma relao forte entre os projetos desenvolvidos com os conceitos de explorao. Calcula-se assim a ambidestralidade da empresa:
GAp1+ GAp2+ GAp3
GAe = mdia GAp = Nmero de projetos = 2,33
Onde: (GAe = Grau de ambidestralidade da empresa) e GAp = Grau de ambidestralidade do projeto).
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A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
O resultado obtido reflete a importncia da busca de novas competncias pela empresa de forma a possuir maior equilbrio. Percebe-se pelo resultado que a empresa tem usado praticamente o dobro de competncias novas em relao s competncias existentes. Idealmente, para a empresa melhor tirar proveito da combinao de competncias, deveria haver um balanceamento do uso dos princpios de explorao e explotao no portfolio completo de seus projetos, que se constituiria como suporte central para a empresa ser considerada ambidestra. Para que a empresa possa ser considerada totalmente ambidestra, o grau de ambidestralidade deveria ser igual 1. No entanto, nesse estudo s se acessaram 3 projetos da empresa, tidos como essenciais. Dado que a mesma se insere no setor farmacutico, caracterizado por alta taxa de inovao, era de se esperar que as novas competncias sobressassem. A empresa busca desenvolver essas novas competncias por meio de projetos cooperados junto a Universidade, fornecedores e Institutos de tecnologias. Percebe-se ainda que a empresa possui oportunidades de aumento da internalizao das novas competncias transformando-as em existentes, com possibilidades de aumento de sua ambidestralidade, por meio do desenvolvimento de competncias internas, o que parece ser um caminho lgico a ser perseguido por ela. Pretendia-se ponderar o grau de investimento dos projetos, porm no foi necessrio, dado que os 3 projetos em anlise apresentam nveis de investimento semelhantes.
O quadro 7 apresenta a verificao das proposies tericas proposta neste estudo, comparando entre si os projetos de acordo com a sua natureza (variveis independentes) e a natureza das competncias (variveis dependentes,) propostas no modelo conceitual da pesquisa. Ressalta-se que os projetos so comparados por meio da separao de um projeto com atribuio extrema em uma das variveis, com os outros dois, para os quais estabelecida a mdia na varivel de comparao.
O que se observa em termos mais essenciais que novas competncias esto efetivamente relacionadas a todas as variveis e que complementarmente o desenvolvimento cooperado est tambm correlacionado com o que foi levantado em termos de relevncia. As competncias existentes esto tambm relacionadas com o desenvolvimento cooperado, o que significa uma complementaridade bastante razovel no mundo da inovao tecnolgica.
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P1. Quanto mais novidade agregada ao produto, maior o grau de competncias novas.
Novidade Grau de competncias
novas. (GCN) Mdia Consideraes Projeto 1 inovao =3 60% 70% Houve suporte
Projeto 2 inovao =3 80%
Projeto 3 derivativo =1 60% 60%
Projetos
P3. Quanto maior o grau de novidade tecnolgica, maior o grau de competncias novas.
Tecnologia Grau de competncias
novas. (GCN) Mdia Consideraes Projeto 2 tecnologia =2 80% 70% No houve suporte
Projeto 3 tecnologia =2 60%
Projeto 1 tecnologia =3 60% 60%
Projetos
P5. Quanto mais novidade agregada ao produto, maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
Novidade Grau de cooperao. Mdia Consideraes Projeto 1
Projeto 2
P6. Quanto mais alto o nvel de complexidade, maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
Complexidade Grau de cooperao Mdia Consideraes Projeto 1 complexidade =2 50% 35% Houve suporte
Projeto 3 complexidade =2 20%
Projeto 2 complexidade =3 70% 70%
Projetos
P7. Quanto maior o grau de novidade tecnolgica, maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
Tecnologia Grau de cooperao Mdia Consideraes Projeto 1 Tecnologia =3 50% 50%
Houve suporte
Projeto 2 Tecnologia =2 70% 45
Projeto 3 Tecnologia =2 20%
Projetos P8. Quanto maior o grau urgncia, maior o grau de cooperao no desenvolvimento.
Ritmo Grau de cooperao Mdia Consideraes Projeto 1 Ritmo =3 50% 35% No houve suporte
Projeto 3 Ritmo =3 20%
Projeto 2 Ritmo =2 70% 70%
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Quadro 7: Proposies tericas.
Projetos
P2. Quanto mais alto o nvel de complexidade, maior o grau de competncias novas.
Complexidade Grau de competncias
novas. (GCN) Mdia Consideraes Projeto 1 complexidade =2 60% 60% Houve suporte
Projeto 3 complexidade =2 60%
Projeto 2 complexidade =3 80% 80%
Projetos
P4. Quanto maior o grau de urgncia, maior o grau de competncias novas.
Ritmo Grau de competncias
novas. (GCN) Mdia Consideraes Projeto 1 inovao =3 60% 60% No houve suporte
Projeto 2 inovao =3 60%
Projeto 3 derivativo =2 80% 80%
Projetos
50%70% 60% Houve suporte Projeto 3 derivativo =1 20% 20%
Projetos
inovao =3 inovao =3
A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
Dessa forma, observando as mdias obtidas nos quesitos grau de competncias e grau de cooperao apresentados no quadro 7, elas confirmam as proposies tericas. As concluses esto restritas ao contexto investigado. As principais relaes relacionadas com o modelo conceitual da pesquisa so sumarizadas no quadro 8, de forma a facilitar a visualizao das relaes evidenciadas.
Quadro 8: Principais relaes entre as variveis.
Variveis Novidade Tecnologia Complexidade Ritmo Competncias
existentes
Fonte: Elaborao dos autores com dados da pesquisa
Assim, os resultados apresentados no quadro 8 refletem as principais relaes entre as variveis e sua relao com os tipos de competncias, com base nas caractersticas dos projetos. Observa-se, por exemplo, que o ritmo exigido pelo projeto e o grau de cooperao possuem relao negativa, porque projeto com maior ritmo est mais associado com competncias existentes (desenvolvimento interno e no cooperado). As demais relaes apresentadas com sinal negativo seguem o mesmo principio.
5 PRINCIPAIS EVIDNCIAS ENCONTRADAS
1: Quanto mais novidade agregada ao produto, maior o grau de competncias novas. 2. Quanto mais alto o nvel de complexidade, maior o grau de competncias novas. 3. Quanto maior o grau de novidade tecnolgica, menor o grau de competncias novas. 4. Quanto maior o grau de urgncia de desenvolvimento, menor o grau de competncias novas. 5. Quanto mais novidade agregada ao produto, maior o grau de cooperao no desenvolvimento. 6. Quanto mais alto o nvel complexidade maior o grau de cooperao no desenvolvimento. 7. Quanto maior o grau de novidade tecnolgica, maior o grau de cooperao no desenvolvimento. 8. Quanto maior o grau de urgncia de desenvolvimento, menor o grau de cooperao no desenvolvimento.
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Competncias novas
Desenvolvimento Cooperado
Novidade - + +
Tecnologia + - +
Complexidade - + +
Ritmo + - -
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Verificando as principais evidncias encontradas, cinco das oito proposies foram confirmadas. Entre as que no receberam suporte, identifica-se, por exemplo, que para a proposio P3 aplicada aos projetos estudados, a empresa possua grande proficincia tecnolgica, o que pode ter acarretado nessa direo inversa esperada. J nas proposies P4 e P8, percebe-se que h uma prevalncia no uso de competncias existentes e menor cooperao em projetos de maior grau de urgncia. As evidncias encontradas vm reforar que de fato existe na empresa investigada uma forte preocupao em se adaptar s novas oportunidades de mercado e processos tecnolgicos utilizando os conceitos de capacidades dinmicas.
6 CONSIDERAES FINAIS
Este estudo teve como objetivo investigar a natureza dos projetos de desenvolvimento de produtos em termos das suas caractersticas essenciais, como novidade, tecnologia, complexidade, ritmo, forma de conduo (cooperado ou no), entre outros. Ademais, buscou verificar a sua relao com os tipos de competncias com base no seguinte construto: analisar o grau de ambidestralidade da empresa investigada e como as estratgias de desenvolvimento de produtos (desenvolvimento interno versus cooperado) se relacionam com as diferentes dimenses de explorao e explotao. Conforme proposta inicial, proposies foram construdas a partir da literatura e empiricamente verificadas. Para isso, foi realizado um estudo de caso, com base em entrevista com os principais responsveis pela inovao e desenvolvimento de produtos dentro da organizao. Os resultados confirmam algumas proposies formuladas.
O estudo mostrou que de fato existe na empresa investigada o desenvolvimento e a capacidade de se adaptar a novas oportunidades utilizando capacitaes dinmicas, credenciando-a a tirar proveito em ambientes que mudam rapidamente, como o caso da indstria veterinria. Para concretiz-las, investimentos nas reas possveis fazem parte da estratgia das empresas. As competncias essenciais na organizao so constitudas de um conjunto de habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado benefcio a seus clientes, mas verificou-se que h sempre a necessidade de a empresa estar aberta na busca de novos conhecimentos, nas universidades, institutos de pesquisas e fornecedores. As competncias essenciais fornecem s organizaes acesso potencial a uma ampla variedade de mercados.
O desenvolvimento de novos produtos uma forma que as empresas tm em perceber os problemas que podem ser solucionados e preencher lacunas de mercado. O desenvolvimento e
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A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
lanamento de um novo produto exigem disciplina e uma estratgia. Na empresa investigada claro o ordenamento das prioridades e a forma relativamente bem organizada de tratar tais prioridades. O termo novo produto refere-se a todos os novos produtos e servios, que se propem resolver os problemas dos clientes e tornar maior a amplitude de mercado. O termo desenvolvimento est associado a todas as atividades que ocorrem entre o momento em que a empresa v uma oportunidade para um novo produto e quando ele apresentado ao mercado. No caso investigado, est claro que a empresa se comporta de forma racional e estrategicamente eficiente. As organizaes que utilizam mtodos modernos de suporte deciso podem ganhar e manter uma vantagem competitiva em liderana e gesto global de relaes comerciais que so influenciadas pela rpida evoluo das tecnologias.
Na competio nos ambientes de negcios a mudana acontece em vrios aspectos. A globalizao dos mercados, as rpidas mudanas tecnolgicas, reduo de ciclos de vida do produto e da crescente agressividade de concorrentes, tem exigido que as empresas respondam de forma flexvel e rpida. A estratgia de desenvolvimento de produtos um dos processos mais importantes e vitais para o negcio da empresa, so aquelas que comportam as capacidades dinmicas combinando as abordagens de explorao e explotao. por meio desta combinao que a empresa se credencia para criar novos produtos em menor tempo, mais competitivos e com a finalidade de atender expectativa do mercado.
Os resultados indicam que de fato existe na empresa investigada o desenvolvimento e a capacidade de se adaptar a novas oportunidades utilizando capacitaes dinmicas, credenciando-a a tirar proveito em ambientes que mudam rapidamente, como o caso da indstria veterinria. As competncias essenciais na organizao so constitudas de um conjunto de habilidades e tecnologias que permitem empresa oferecer um determinado benefcio a seus clientes. Verificou-se tambm que h sempre a necessidade da empresa estar aberta busca de novos conhecimentos, nas universidades, institutos de pesquisas e fornecedores. As competncias essenciais fornecem s organizaes acesso potencial a uma ampla variedade de mercados.
Em termos do grau de presena de competncias novas nos desenvolvimentos, o estudo apontou as seguintes relaes: (i) quanto mais novidade agregada ao produto e mais alto o nvel de complexidade, maior o grau de competncias novas presentes nos desenvolvimentos, e (ii): quanto maior o grau de novidade tecnolgica e maior o grau de urgncia de desenvolvimento, menor o grau de competncias novas.
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J em relao ao grau de cooperao nos desenvolvimentos, temos que: (iii) quanto mais novidade agregada ao produto, mais alto o nvel complexidade e maior o grau de novidade tecnolgica, maior o grau de cooperao no desenvolvimento, e (iv) quanto maior o grau de urgncia de desenvolvimento, menor o grau de cooperao no desenvolvimento.
Este estudo atingiu o objetivo de investigar a natureza dos projetos de desenvolvimento de produtos em termos das suas caractersticas essenciais, como novidade, tecnologia, complexidade, ritmo, forma de conduo (cooperado ou no), entre outros. Tambm abordou a sua relao com os tipos de competncias com base no seguinte construto: mensurar o grau de ambidestralidade da empresa investigada, e como as estratgias de desenvolvimento de produtos (desenvolvimento interno versus cooperado) relacionam-se com as diferentes dimenses de explorao e explotao. O estudo de caso em uma empresa baseado em entrevistas com os principais responsveis pela inovao e desenvolvimento de produtos dentro da organizao, mostrou que esta uma abordagem que pode ser mais bem explorada nos estudos sobre inovao e que os resultados apontados mostram uma importante relao entre a estratgia inovadora e a forma especfica de utilizao de recursos que estes construtos permitem.
Estes projetos analisados em uma nica empresa esto associados s capacidades dinmicas (dynamic capabilities), entendidas como um conjunto de atributos que permite s organizaes reduzir custos de produo e de transao (de negcios, patentes, busca por competncias, entre outros) e obter novas oportunidades de mercado, especificamente tirando proveito de competncias distintivas e do balanceamento do uso dos princpios de explorao e de explotao.
As contribuies do estudo podem ser elencadas em duas dimenses: tericas e prticas. As contribuies tericas so constitudas pelo estudo das capacitaes dinmicas no mbito da gesto de projetos de inovao tecnolgica, trazendo relaes em um campo pouco estudado, que validam a proposio terica com novos dados e informaes que podem ser replicadas em outros estudos similares. Embora seja um estudo limitado ao nmero de casos, a um determinado setor e restrito a uma nica empresa, um dos primeiros estudos que busca relacionar o tipo de competncias com as caractersticas dos projetos. Do ponto de vista prtico, o estudo traz um framework para anlise e desenvolvimento de novos estudos sobre o processo de inovao de novos produtos e processos em ambientes concorrenciais, que pode servir de apoio para a comunidade gerencial. Espera-se que os resultados estimulem outros estudos, como estudos de caso mltiplos comparativos incorporando novas variveis organizacionais, bem como analisando distintos setores.
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A relao entre as caractersticas de projetos de desenvolvimento de novos produtos e as competncias: um
estudo de caso no setor farmacutico
RELATIONSHIPS BETWEEN THE CHARACTERISTICS OF NEW PRODUCT DEVELOPMENT PROJECTS AND COMPETENCES: ONE CASE STUDY IN THE PHARMACEUTICAL SECTOR
ABSTRACT
The new product development (NPD) and innovation processes encompass a range of activities that
contribute to find opportunities for new products and more efficient ways to produce them. In this
sense, new ways of looking at the process of product development may be associated to dynamic
capabilities, understood as a set of attributes that enable organizations to reconfigure its businesses and set of competences, reducing production and transactions costs and gaining new market opportunities, including distinctive competencies in the use of balanced exploration and exploitation.
So, this study departs from the literature review on the dynamic capabilities and the concepts on
exploration and exploitation. It aims to understand the contribution of these approaches in the
development and maintenance of skills in the search for survival and competitiveness of enterprises in
a changing environment. It is carried out one case study based in three NPD projects in a
pharmaceutical local company, identifying relationships between the necessary competences and the
characteristics of projects.
Keywords: Innovation; Competences; Product development; Dynamic capabilities.
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Data do recebimento do artigo: 20/02/2012
Data do aceite de publicao: 15/06/2013
Revista de Administrao e Inovao, So Paulo, v. 10, n.2, p.262-289, abr./jun. 2013. 289
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2013
Abstract
The new product development (NPD) and innovation processes encompass a range of activities that contribute to find opportunities for new products and more efficient ways to produce them. In this sense, new ways of looking at the process of product development may be associated to dynamic capabilities, understood as a set of attributes that enable organizations to reconfigure its businesses and set of competences, reducing production and transactions costs and gaining new market opportunities, including distinctive competencies in the use of balanced exploration and exploitation. So, this study departs from the literature review on the dynamic capabilities and the concepts on exploration and exploitation. It aims to understand the contribution of these approaches in the development and maintenance of skills in the search for survival and competitiveness of enterprises in a changing environment. It is carried out one case study based in three NPD projects in a pharmaceutical local company, identifying relationships between the necessary competences and the characteristics of projects. [PUBLICATION ABSTRACT]
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