Resumo
A representatividade da mulher em altos cargos vem aumentando ao longo dos anos, mas as dificuldades ainda persistem. O objetivo deste artigo é identificar os obstáculos que se apresentam ao longo da carreira da mulher brasileira e entender como ela se reconhece na posiçao de líder, quais sao seus principais desafios e como ela pode superá-los para atingir a igualdade - nao apenas no trabalho, mas também no lar. Trata-se de uma pesquisa de campo. Selecionamos, por meio de rede social própria, 15 mulheres que atuavam como líderes em organizaçöes públicas e privadas no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2016. Os resultados mostraram que essas mulheres tinham uma noçao mais andrógina de liderança do que a sugerida pela literatura e que elas se viam como merecedoras desse papel, apesar de sofrerem vários tipos de preconceito em suas trajetórias.
Palavras-chave: Expectativas de genero. Liderança. Mulheres. Preconceito.
Abstract
The representation of women in senior management positions has increased over the years, but the obstacles still remains. This study aims to understand how Brazilian women see themselves as leaders and what the main challenges are and how to overcome them to achieve equality not only in the workplace but also at home. To meet the objective of the research, we opted for a field research methodology. Were selected 15 women to interview, which worked at public and private organizations as leader, in Rio de Janeiro, between years 2014 and 2016. The results showed that women have a more androgynous notion of leadership than what was suggested by the literature and that they see themselves as worthy of this role despite suffering several cases of prejudice in their careers.
Keywords: Gender expectations. Leadership. Women. Prejudice.
Resumen
La representatividad de la mujer en altos cargos viene aumentando a lo largo de los años, pero los obstáculos aún persisten. El objetivo de esta investigación que es cómo la mujer brasileña se reconoce en la posición de líder y cuáles son sus principales desafíos, cómo superarlos para llegar a la igualdad no sólo en el trabajo, sino también, en casa. En la metodología se utilizó un trabajo de campo. Seleccionamos, a través de una red social propia, 15 mujeres, que trabajaban en organizaciones públicas y privadas como líderes, en Río de Janeiro, entre los años 2014 y 2016. Los resultados mostraron que las mujeres tenían una noción más andrógena de liderazgo que la sugerida por la literatura y que ellas se veían como merecedoras de ese papel, a pesar de sufrir varios tipos de prejuicios en sus trayectorias.
Palabras clave: Expectativas de género. Liderazgo. Mujeres. Prejuicio.
INTRODUÇÂO
Ao longo dos anos, as mulheres vem acumulando conquistas importantes no mercado de trabalho. Por outro lado, as desigualdades históricas de genero em termos ocupacionais persistem, sobretudo se mencionarmos que as mulheres constituem minoría nas ocupaçöes de maior status, como, por exemplo, cargos de alta gerencia e posiçöes executivas, como chief executive officer (CEO), chief financial officer (CFO), chief operations officer (COO), além dos boards de diretores. Segundo estudo da Mckinsey & Company (2015), dados de 2012, sobre 60 corporaçöes americanas revelam que, apesar da presença mais frequente da mulher no topo das grandes empresas, elas ainda se encontram sub-representadas nos níveis seniores.
No Brasil, a realidade nao poderia ser diferente: poucas sao as mulheres que ocupam a posiçao de CEO, diretora de board ou mesmo executiva de segunda ou terceira linha. Apenas 4,5% dos diretores de board de empresas brasileiras sao mulheres - a média em países emergentes é de 7,2% (GMI RATINGS, 2012). Além disso, em 2016, o Brasil ficou com o 85° lugar no índice de desigualdade de genero (IDG), na comparaçao entre 159 países, ficando bem atrás da Bolívia (65°) e da Nicarágua (50°), que melhoraram seu IDG nos últimos 10 anos (BBC BRASIL, 2016). A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2016, mostrou que, na populaçao ocupada com mais de 16 anos, as mulheres dedicam 20,3 horas semanais na jornada doméstica, enquanto os homens gastam apenas 10 horas - outro fator que tem impacto direto na trajetória da mulher como profissional.
Neste estudo, com base na teoria do labirinto da liderança de Eagly e Carli (2007), buscou-se identificar os obstáculos que se apresentam ao longo da carreira da mulher brasileira, bem como entender seu discurso sobre boa liderança em um cargo e em sua vida. Há evidencias de que a falta de confiança que as mulheres tem em si próprias, reforçada pelas características que sao atribuídas a homens e mulheres, pode ter grande influencia no modo como a mulher se percebe e é percebida pelos outros no mercado de trabalho.
Além disso, a incompatibilidade entre comportamentos considerados mais femininos, como empatia e bondade, e comportamentos associados aos líderes, como confiança e assertividade, pode levar a uma distorçao no que se espera de uma líder feminina. Acredita-se que a mulher deva se manter feminina e, ao mesmo tempo, aderir ao comportamento de um líder tradicional - o que pode ser fonte de preconceito no ambiente de trabalho.
LİDERANÇA e genero
Segundo Adair (2003), a gestao pode ser definida como a escolha do que deve ser feito e o fato de executar o que deve ser feito com eficiencia. A visao tradicional do líder eficiente como uma pessoa carismática, egoísta e de forte personalidade vai contra o comportamento observado em alguns líderes atuais, que apresentam traços de humildade, disciplina, concentraçao, boa comunicaçao, ausencia de narcisismo e personalidade discreta (WILLIAMS, 2005). De acordo com Goleman (1998, p. 94, traduçao nossa), "líderes eficazes sao parecidos em uma maneira crucial: além de apresentarem habilidades técnicas, todos eles tem um elevado grau de inteligencia emocional".
Eagly (2007, p. 2, traduçao nossa) define os estilos de liderança como um "padrao consistente de interaçao social que tipifica líderes como indivíduos". Os estilos de liderança nao sao comportamentos fixos, mas um conjunto de comportamentos que tem determinado sentido. Isso nao significa que as pessoas mantenham esse tipo de comportamento associado as suas características de liderança em qualquer situaçao. No caso de uma crise, por exemplo, um líder participativo pode ser mais decisivo e delegar menos se for necessária uma açao mais rápida.
Estudiosos da teoria situacional de liderança defendem que o estilo de liderança a ser utilizado depende do contexto no qual o líder se encontra. Características do local, como valores, cultura organizacional e natureza da tarefa, podem ditar qual seria a forma mais apropriada de agir (EAGLY, 2007). Segundo Eagly (2007), no entanto, independente da situaçao, a liderança é historicamente definida em termos masculinos. Shein, Mueller, Lituchy et al. (1996) comprovam essa visao com sua pesquisa "think manager - think male" (pense no gerente - pense no sexo masculino), que analisou as respostas de estudantes de administraçao em 5 países (EUA, Reino Unido, Alemanha, China e Japao). Schein, Mueller, Lituchy et al. (1996) concluíram que, apesar das diferenças entre os 5 países analisados, a visao de que - entre os estudantes de administraçao - as mulheres apresentam menor probabilidade de ter características de liderança em comparaçao aos homens é global (nos EUA, as mulheres viam atitudes de gerentes como mais andrógenas e nao mais masculinas ou femininas). Por causa disso, podem ser erguidas barreiras para o avanço feminino no mercado de trabalho global, uma vez que esses estudantes se tornem gerentes e tomem decisoes baseadas nos estereótipos em que acreditam (SCHEIN, MUELLER, LITUCHY et al., 1996). Schein (2007), ao atualizar sua pesquisa, observou resultados similares a pesquisa anterior para os 5 países, evidenciando que, apesar de todas as mudanças legais, sociais e organizacionais, os gerentes do sexo masculino ainda eram associados as gerencias de sucesso.
Eagly, Johannesen-Schmidt e Engen (2003) compararam mulheres e homens quanto a adoçao dos estilos de liderança transformacional, transacional e laissez-faire. O Quadro 1 apresenta as deflniçoes dos estilos transformacional, transacional e laissez-faire de liderança descritas no Multifactor Leadership Questionnaire (MLQ-5X), propostas por Avolio e Bass (2002) e adaptadas por Eagly, Johannesen-Schmidt e Engen (2003). O MLQ-5X mede os estilos de liderança mencionados e foi utilizado em inúmeros estudos desde sua criaçao.
Em referencia ao Quadro 1, os estilos de liderança transformacional e o componente de recompensa contingente do transacional tem correlaçao positiva com a liderança considerada boa. Já a gerencia por exceçao do transacional e o laissez-faire tem correlaçao negativa. Os resultados para as mulheres foram melhores do que os dos homens em todos os componentes transformacionais, menos em influencia idealizada (comportamento). Nenhum dos aspectos menos eflcazes de liderança foi a característica principal de um dos sexos, no entanto, os 2 foram encontrados mais comumente nos homens. Isso comprova que as mulheres tem a habilidade de liderar tao bem quanto - ou melhor do que - os homens nas organizaçoes contemporáneas (EAGLY, JOHANNESEN-SCHMIDT e ENGEN, 2003).
Uma explicaçao para a ocorrencia mais comum de mulheres com estilos melhores de liderança pode ser porque os homens tem mais acesso a cargos de liderança, o que faz com que mulheres tenham de ser mais qualificadas do que os homens para conseguir os mesmos cargos (EAGLY, JOHANNESEN-SCHMIDT e ENGEN, 2003; EAGLY, 2007). Outra explicaçao oferecida por Eagly (2007) é a procura da mulher por um estilo que nao seja, particularmente, masculino ou feminino. Como o estilo transformacional é mais andrógeno, pode ser mais adotado por mulheres em busca de um estilo neutro que nao provoque preconceito por parecer incompatível com a visao tradicional de mulher gentil e de líder agéntico.
METODOLOGIA
Esta pesquisa tem caráter qualitativo e encaixa-se, específicamente, em uma pesquisa de campo, realizada em diferentes organizaçoes públicas e privadas no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2016. Entrevistamos 15 mulheres em posiçao de liderança, para obter um entendimento detalhado dos desafios enfrentados por elas ao longo de suas carreiras. Segundo Martinho Rodrigues (2007), entrevistas estruturadas direcionam a conversa para o objetivo da pesquisa e buscam respostas mais breves e compreensíveis.
As idades das entrevistadas variaram entre 32 e 70 anos; 9 das 15 entrevistadas eram casadas e 8 tinham filhos; 2 eram solteiras e 3 eram divorciadas. Para preservar sua confidencialidade, os nomes verdadeiros das entrevistadas nao sao divulgados. A seleçao da amostra foi feita por acessibilidade, sendo selecionadas, exclusivamente, profissionais do sexo feminino que exercessem ou tivessem exercido algum cargo de liderança em sua trajetória ocupacional, residindo e trabalhando no Rio de Janeiro.
A partir do material coletado nas entrevistas, a interpretaçao foi feita com base nas 5 barreiras identificadas por Eagly e Carli (2007) em seu estudo sobre o labirinto da liderança: a) Vestigios de Preconceito; b) Resistencia a Liderança da Mulher; c) Problemas com Estilo de Liderança; d) Demandas da Vida Familiar; e e) Pouco Investimento em Capital Social. Outras 3 barreiras foram acrescentadas as barreiras originais propostas por Eagly e Carli (2007): i) Maternidade; ii) Aparéncia Pessoal; e iii) Divisao de Tarefas na Infância. Assuntos específicos que nao correspondiam a nenhuma barreira criada por Eagly e Carli (2007) foram adicionados como novos obstáculos, quais sejam: Questao de Opçao; Mulheres sem Filhos Sofrem Menos Preconceito; A Mulher Tem de Ser Melhor do que o Homem para Ser Chefe; Falta de Ambiçao Explícita; Atribuiçao do Sucesso a Fatores Externos; e Falta de Confiança em Açoes Afirmativas.
RESULTADOS
A interpretaçao inicial foi dividida de acordo com as barreiras encontradas por mulheres ao longo de suas carreiras descritas por Eagly e Carli (2007) em seu trabalho sobre o labirinto da liderança, como veremos a seguir.
Vestigios de preconceito
Os homens ainda tém o beneficio de salários mais altos e progressoes mais rápidas de carreira do que as mulheres (EAGLY e CARLI, 2007). As entrevistadas reconheceram o fato das mulheres ganharem menos do que homens, porém, apenas uma delas sabia de algum caso real em que isso tinha acontecido, o que indica a falta de ciéncia das próprias mulheres de suas desvantagens:
Tem um cara que é menos graduado, com um trabalho mais fácil do que o de outra técnica e eles ganham igual. [...] Isso porque ele conseguiu dialogar com o chefe e conseguiu isso. (Renata)
Nao é porque ele é homem que ele vai ganhar mais, ele tem um status e por isso ganha mais. (Flávia)
Quanto a questao dos homens conseguirem promoçoes mais rápidas, a maior parte das entrevistadas disse nao ter conhecimento de alguma desvantagem. Uma das únicas entrevistadas a reconhecer já ter passado por experiéncias claras de preconceito, por atuar em área extremamente masculina, foi uma engenheira e chefe de departamento:
Em alguns momentos, eu perdi oportunidades porque, quando era mais jovem, o fato de ser mulher interferia no ponto de vista dos outros porque eles questionavam se uma mulher novinha poderia fazer aquelas coisas. [...] e eu já era engenheira formada, coisa que nunca teria acontecido com um homem. (Débora)
Além desses 2 vestigios de preconceito analisados por Eagly e Carli (2007), nas entrevistas também encontramos outras ocorréncias frequentes de preconceito. Algumas foram tao citadas que as transformamos em categorias, como preconceitos que advém da maternidade e da aparéncia - seja ela boa ou ruim.
Maternidade
Muitas relataram a licença-maternidade como um problema, sobretudo quando relacionada a substituiçao no trabalho. Nesse sentido, cria-se uma barreira única a mulher que jamais fará parte da realidade do homem:
A minha equipe é muito feminina, todo mundo casado, perto de 30 anos, entao, assim, há pouco tempo eu abri uma vaga e eu confesso que eu estava preferindo um homem, e talvez eu tenha uma vaga daqui a pouco tempo que eu vou estar preferindo um homem. Tem a questao da licença-maternidade [...] (Helena)
A mulher fica de 4 a 6 meses fora. Nao tem milagre, alguém vai ter que assumir a responsabilidade. Pra cargo de liderança, o tempo disponível de um homem e de uma mulher, a mulher vai ficar um tempo sem trabalhar. É discriminaęao, sim, mas eu entendo. (Camila)
As entrevistadas, segundo esse discurso, achavam que a sua situaçao era diferente da encontrada pela maioria das mulheres, imaginavam-se como exceçao. Esta postura, muitas vezes, faz com que as mulheres nao percebam sua inserçao em um ambiente preconceituoso.
Aparéncia pessoal
A aparéncia foi outro tópico muito abordado como motivador de preconceito. Desde comentários sobre o cabelo ou o jeito de vestir-se até exigéncias de mudança.
Já teve chance que eu falava: vou deixar o meu cabelo branco [...] na empresa me falavam: vai pintar esse cabelo branco! (Flávia)
Homem ninguém repara muito [...] Mulher tem que estar sempre maquiada e ao mesmo tempo trabalhando que nem uma louca. (Gabriela)
Uma moça da área de planejamento foi estimulada a emagrecer. (Júlia)
Outro aspecto da aparéncia foi que os colegas, geralmente, fazem associaçao de promoçöes no trabalho aos atributos físicos das mulheres e a casos amorosos com os chefes, desmerecendo a atuaçao dessas mulheres. Também houve associaçao de mulher bonita com mulher burra, que prefere gastar tempo se arrumando em vez de estudando ou trabalhando.
Heilman (2001) cita o desmerecimento da mulher como um grave problema. Atribuir o sucesso da mulher a fatos externos a ela a torna uma exceçao, como se isso nao pudesse ter acontecido sem circunstâncias especiais.
Resisténcia a liderança da mulher
Para Eagly e Carli (2007), o que está por trás da discriminaęao contra as mulheres sao as associaçöes mentais feitas sobre mulheres, homens e líderes. As mulheres sao consideradas mais comunais, portando traęos como empatia e bondade, enquanto os homens sao mais agénticos, manifestando confiança, agressividade e autonomia (EAGLY, 2007; HEILMAN, 2001). As entrevistadas confirmaram tais estereótipos. Quando perguntadas sobre as características mais observadas em mulheres e homens líderes, as mulheres líderes receberam como atributos principais determinaçao, dedicaçao e comunicaçao. Os homens líderes receberam ambiçao, força e autoconfiança como suas principais características. Assim, as mulheres foram consideradas mais comunais e os homens mais agénticos, como a literatura sugere. Além disso, empatia, boa aparéncia e otimismo foram características mais ligadas as mulheres do que aos homens, apesar de nao estarem entre as mais citadas. Inovaçao, também, apesar de nao ser uma característica que definiu os homens líderes, foi mais associada aos homens do que as mulheres.
A dedicaçao e atençao ao trabalho sao características esperadas de mulheres, logo, um comportamento atencioso por parte de um homem é notável, enquanto que uma mulher com o mesmo comportamento nao o é. Os homens nao sao julgados por nao ajudar, enquanto as mulheres sao (EAGLY e CARLI, 2007).
Se preocupar menos com as consequéncias de suas atitudes pode ser considerado um comportamento arriscado. Hoyenga e Hoyenga (1993) argumentam que homens tém maior preferéncia por riscos do que as mulheres, o que pode explicar essa conduta mais brusca masculina. A questao da autoconfiança, também associada majoritariamente aos homens, é importante. Segundo Bennett (1997), os homens superestimam suas capacidades, enquanto as mulheres tendem a subestimá-las. Isso pode explicar a conduta mais arriscada dos homens e mais segura das mulheres. Também pode dar aos homens maior confiança em suas decisoes, tornando-os mais práticos e objetivos, algo que foi notado pelas entrevistadas.
O homem é mais prático e depois daquilo tá discutindo futebol, a mulher tá sempre pensando, discutindo relaçoes. (Gabriela)
Certamente, acho os homens mais objetivos, menos emotivos, mais fáceis de lidar porque a rivalidade com a mulher é de outra ordem. (Júlia)
Acho que é uma preocupaçao menor com o coletivo e maior com o pessoal. (Maria)
A dificuldade de chefiar das mulheres é uma realidade, há constante questionamento, teste e preconceito. Para uma mulher, gerenciar homens, principalmente os mais velhos, pode ser um desafio, nao é algo comum e as pessoas ainda nao estao acostumadas a esse tipo de relacionamento. Por esse motivo, quando as pessoas se deparam com tal situaçao, elas podem agir com estranheza e nao ser tao receptivas ou respeitosas.
Quando me tornei chefe, eu tive que encarar muita gente que nao gostou [...] Porque eu passei a chefiar pessoas muito mais velhas e porque eu era mulher em um universo masculino. (Débora)
Como a visao tradicional de um líder está muito associada ao sexo masculino (EAGLY, 2007), muitas vezes eles sao considerados líderes naturais. Também há muito mais homens nos altos cargos das empresas do que mulheres, o que os torna o padrao, enquanto as mulheres serao sempre o outro. Ser o outro, ou um token, coloca a mulher em evidéncia, tendo suas açoes escrutinizadas e analisadas com muito mais frequéncia, aumentando a pressao sofrida no trabalho (OAKLEY, 2000).
Eu acho que os homens sao mais bem aceitos como líderes do que as mulheres. (Mariana)
Percepçao muito inata do ser humano de que as mulheres nao suportariam alguns cargos [...] as coisas acontecem muito naturalmente, e acho que a fiscalizaçao é muito intensa sobre as mulheres e as exigencias. (Flávia)
Nunca pensei quero ser uma gestora numa equipe, as coisas simplesmente foram acontecendo e acho em algum momento quero dar o próximo passo, mas nao agora. (Giulia)
Quando nos referimos a pressoes, entendemos que as mulheres tém de suportar comentários preconceituosos no trabalho. Esses comentários vao de assédio a ofensas pessoais - muitas vezes associados a estereótipos e a maternidade.
Quanto ao assédio, muitas mulheres já relataram ter sofrido de algum tipo. Tais comentários sao, muitas vezes, tratados como "elogios", tanto pelos homens como pelas mulheres, que nao conseguem enxergar o preconceito em um comentário sobre a aparéncia de uma mulher no meio de uma reuniao de trabalho:
Meu primeiro cargo de liderança foi o de coordenaçao na fábrica [...] Em tres anos, eu virei coordenadora de quem me viu como estagiária da área, entao, nao foi uma experiencia fácil e sofri muito [...] Nao em relaçao a ser mulher, mas em relaçao a ser muito nova [...] um dos preconceitos que eu sofri era de dizerem que minha promoçao foi devido ao meu casamento e nao pela minha capacidade. (Ana)
Em relaçao a ofensas pessoais, um exemplo é chamar a mulher de "histérica" quando ela tem que falar mais alto ou ser mais assertiva, algo que difícilmente acontecería com um homem. Outra entrevistada, Flávia, chama atençao para o fato de que os comentários sao geralmente ofensas pessoais pouco relacionadas a capacidade da mulher. Heilman (2001) confirma que é mais difícil distorcer as realizaçöes concretas de uma pessoa do que desvirtuar julgamentos de personalidade, o que geralmente ocorre:
Ninguém questiona o poder de trabalho das mulheres que chegaram lá. O que eu ouço é uma vaca. Sao pequenas ofensas pessoais quando está irritado. Porque quem chega lá trabalhou muito. (Flávia)
Alguns comentários demonstram sua natureza preconceituosa mais claramente, eles estao associados ao fato da mulher ser mais fraca, mais frágil, ou nao ser boa o suficiente. Esse tipo é mais facilmente percebido pelas pessoas e marca mais, apesar de nem todas se sentirem ofendidas ou prejudicadas, entao, muitas preferem nao intervir. Essa conduta gera normalizaçao do preconceito, fazendo com que seja difundido cada vez mais como uma brincadeira inofensiva e nao como algo agressivo e que insulta.
Problemas com estilo de liderança
A visao tradicional de um líder está, geralmente, mais associada ao comportamento masculino (EAGLY, 2007), as entrevistadas, no entanto, demonstraram ter uma visao diferente quando classificaram o comportamento ideal de líderes. As características consideradas chave para um bom líder foram caráter, determinaçao, autoconfiança e comunicaçao. Uma visao que inclui uma característica mais neutra, como caráter, que pode ser igualmente atribuida a qualquer género, uma característica típicamente masculina, a autoconfiança, uma mais feminina, a comunicaçao, e uma que foi associada a todos, a determinaçao - apesar desta ter sido muito mais associada as mulheres. Isso demonstra uma visao muito mais integrada de liderança por parte das mulheres, que estao evoluindo do conceito de liderança totalmente masculino para uma mistura de comportamentos masculinos e femininos que possam formar um líder mais completo.
Muitas das entrevistadas, no entanto, disseram nao achar que homens e mulheres tenham características diferentes ao liderar:
Depende do homem e depende da mulher. Uma questao de pessoa, nao é uma questao de género. (Carla)
Eu acredito que nao [tenha características diferentes de liderar entre homens e mulheres]. Eu acho que a mulher está sempre tendo que provar muito mais coisas que o homem, mas nao tem muita diferença, nao. (Débora)
Essas mesmas entrevistadas das falas acima se contradisseram quando marcaram as 4 características mais observadas em líderes homens e líderes mulheres. Atribuíram características como otimismo, dedicaçao, empatia e comunicaçao as mulheres e força, ambiçao e autoconfiança aos homens, demonstrando uma clara diferença. Essa é uma diferenciaçao importante, o discurso da pessoa e o que seu inconsciente acredita ser verdade. Tende-se a adotar estereótipos como base e perpetuar a ideia de que mulheres sao mais comunais e homens mais agénticos, mesmo que se acredite nao haver diferença na prática.
Segundo Eagly, Johannesen-Schmidt e Engen (2003), as mulheres foram mais associadas aos estilos transformacionais de liderar, que sao os mais associados a liderança eficiente e, nao por acaso, sao os mais andrógenos. Com esta pesquisa, nao se pode definir o estilo de liderança de nenhuma das mulheres entrevistadas. Por outro lado, foram mencionados vários aspectos ligados a esses estilos, por exemplo, a importância e a tentativa de motivar a equipe, comunicar valores e objetivos claramente, tentar passar otimismo e entusiasmo e o desenvolvimento de subordinados:
Um desafio que eu me dou muito grande é ter generosidade [...]. Comandar uma equipe exigindoresultados, mas sem perder a generosidade e treinar os meus chefes e gerentes abaixo pra eles serem mais generosos. (Flávia)
Conseguir ter todos juntos comigo, acreditando nesta visao da área. Tenho cada vez mais conversado com cada um individualmente pra deixar claro pra todo mundo qual é esta visao e alinhar as expectativas [...]. (Camila)
Outras entrevistadas acreditavam que tiveram que mudar um pouco sua maneira de liderar e adaptar-se ao estilo masculino em alguns momentos. Até a sociedade aceitar mais as mulheres como líderes, com novos estilos de liderança, algumas terao de adaptar-se ao estilo vigente e ser, talvez, mais agressivas do que normalmente seriam para ser consideradas boas líderes. Mesmo que isso tenha um impacto negativo na percepçao de sua personalidade.
Demandas da vida familiar
Segundo Eagly e Carli (2007), a demanda familiar é a barreira com a qual a maior parte das mulheres se depara em algum momento de suas trajetórias. As mulheres continuam gastando muito mais horas por semana com tarefas domésticas e cuidando dos tilhos do que os homens. Essa diferença ticou clara nas entrevistas com as mulheres casadas, sobretudo as que tinham tilhos, quando foi perguntado como era a divisao de tarefas na casa delas. Dentre as mulheres casadas e com tilhos, apenas 1 disse dividir as tarefas igualmente com o marido, tanto a parte dos tilhos quanto a doméstica. Entretanto, todas as entrevistadas casadas tinham empregada, o que ajuda na parte doméstica e, muitas vezes, com os tilhos também. As mulheres, no entanto, ainda exerciam grande parte do controle, por exemplo, durante os tinais de semana, e era geralmente a pessoa da casa que se comunicava com a empregada.
Algo que muitas das entrevistadas mencionaram é que elas sentiam que a pressao de cuidar dos tilhos recaía sobre a mae. Inclusive, uma delas mencionou que essa responsabilidade primária passa para o marido quando ela está viajando - e ele se sente muito mais pressionado:
Filho, fica doente, liga pra mae. Eu acho que a gente é mais marcada por isso [ter tilhos]. (Júlia)
Acho que isso vai ser uma coisa muito dificil de ser igual. A mulher tem isso, essa ligaçao, uma proteçao diferente. Embora eu tenha um marido que participe. Engraçado que, quando eu viajo, eu vou pro MBA, e o meu marido fica sozinho, ele fica com essa pressao na cabeça. (Camila)
O que as essas mulheres relataram é que há maior interesse de seus maridos com eles mesmos, no inconsciente deles as tarefas do lar ainda sao responsabilidade delas, mesmo que elas tenham responsabilidades fora do lar. A mulher moderna nao só tem de buscar o sustento da família, como o homem fazia - e faz -, mas também deve manter praticamente todas as suas tarefas dentro de casa. Ela tem uma jornada dupla - e muitas vezes até tripla - que os homens simplesmente nao percebem, seja por falta de atençao, ou por conveniencia:
Eu nao vejo meu marido fazendo isso [...] ler um livrinho com a minha filha antes de ir pra escola, vou abrir mao do que eu tinha que fazer, vou deixar de fazer exercício pra ficar com ela. Nao passaria pela cabeça dele. (Helena)
Ele tem um horário flexível, embora nao faça nada [para ajudar com os tilhos], entao, vale muito mais como presencial em casa do que com açoes de suporte. (Flávia)
Tarefas mundanas sao das mulheres no inconsciente coletivo dos homens. (Flávia)
Segundo as entrevistadas casadas, nao sao apenas os homens que acreditam ser tarefa da mulher cuidar dos tilhos e da casa, nossa sociedade também espera isso da mulher. Quando as mulheres precisam chegar mais tarde do trabalho a família nota mais, os tilhos e os maridos reclamam. Como é mais comum homens terem de trabalhar mais, já é esperado esse comportamento deles, porém, quando é uma mulher, a escolha pelo trabalho causa estranheza.
Por causa dessas expectativas, a mulher acaba tendo de fazer mais opçoes em prol da família do que o homem. Quando tem tilhos pequenos, elas tentam diminuir a carga de trabalho, nao fazem cursos depois do trabalho para poder passar mais tempo no lar e até abrem mao de oportunidades no trabalho. Se a divisao no lar fosse mais equilibrada, homens e mulheres poderiam dividir o cuidado dos tilhos, dando oportunidade a ambos para prosseguir suas carreiras da melhor forma possível, sem deixar de proporcionar um ambiente estável para os tilhos.
Interferiu porque quando eu tive filhos eu fiz questao de ter uma atividade profissional leve pra ter mais tempo pra estar com eles. (Mariana)
Abriría mäo de determinados trabalhos se tivesse que viajar muito. Na época que eu nao tinha filho, eu trabalhava de uma maneira diferente da que eu trabalho hoje. A diferença é ter ou nao terfilho, no caso do homem, a mulher acaba fazendo na frente. (Camila)
Nao fiz mais cursos por causa dos meus filhos, por conta do horário, pra näo chegar tarde em casa. (Clara)
Observamos que essas mulheres sao gerentes, consultoras, chefes de departamento e diretoras e tém trabalhos que consomem bastante tempo e cargos muito importantes dentro da hierarquia de suas empresas; mesmo assim, ainda tém de cuidar de todos os outros assuntos relacionados a casa e a família. Algumas entrevistadas relataram que só tém tempo sozinhas quando estao na academia, ou seja, 2 horas por semana. Maes em cargos de liderança se consideraram multitarefas, pois nao vivem o trabalho e a família como 2 vidas separadas, mas como uma integraçao das 2 em 1 só (HALPERN e CHEUNG, 2010).
Divisāo de tarefas na infancia
Uma questao que influencia o modo como adultos se comportam é como seus pais se comportaram durante sua infância. Ver a mae trabalhando, por exemplo, mostra para a fllha - e o fllho - que mulheres podem, sim, trabalhar e ter uma família, que os dois se complementam e nao sao mutuamente exclusivos. Por outro lado, uma educaçao machista indica para a criança que aquela é a realidade e que sua vida futura também deve ser assim:
Eu quis trabalhar sempre porque eu via a minha mae sempre trabalhando. (Clara)
[...] o modelo mental que eu tenho da mamae fazendo tudo, sendo responsável por tudo. E fora isso, eu também acho que é o modelo do meu marido, porque apesar da mae dele ser uma pessoa que trabalha fora [...] eu acho que a educaçao que ele teve, bem machista, no sentido de nao precisar dividir, sabe [...] de nao estar disponível [...]. Já desisti, näo é muito o perfil dele. (Helena)
Outras mulheres, no entanto, carregavam o oposto do que viam, relatando que nao era aquilo que queriam para elas. Para um homem que está acostumado a ter tudo feito, sobretudo pela mae, pode ser difícil mudar e passar a se responsabilizar por mais tarefas do que está acostumado. Talvez por isso muitos homens tendam a carregar esse tipo de comportamento para seus relacionamentos e nao consigam ou nao queiram mudar:
Eu carreguei negativamente, carreguei o oposto. Minha mäe sempre colocou isso de buscar a minha independencia. O que eu vi de uma mulher totalmente dependente sempre me influenciou pra näo querer aquilo. (Débora)
Por mais que os dois vivessem muito bem juntos, dava pra perceber um dominio do financeiro. E eu pensava "eu nao quero isso pra mim, eu quero ser dona do meu próprio nariz". (Priscila)
A maior parte das entrevistadas teve uma mae dedicada ao lar e aos filhos, talvez por isso muitas participantes do estudo se identificavam com as responsabilidades do lar. No entanto, muitas maes falavam com suas filhas sobre ser independentes e a importância disso, o que pode té-las ajudado a ver o trabalho como algo nao apenas positivo, mas necessário - apesar de também se manter o trabalho doméstico.
Pouco investimento em capital social
Segundo Eagly e Carli (2007), o resultado mais destrutivo da dupla jornada das mulheres é o pouco tempo que sobra para a socializaçao com colegas e networking. Falar de si e reafirmar seu status e sua competéncia nao é um comportamento comunal esperado das mulheres, isso causa estranheza, enquanto os homens podem exultar suas realizaçöes; a modéstia é esperada até de mulheres muito bem-sucedidas (EAGLY e CARLI, 2007).
Muitas mulheres tém dificuldade de criar uma relaçao próxima ao chefe, que, em níveis mais altos, geralmente é homem. Nesse sentido, as mulheres acabam perdendo espaço nas promoçöes de cargo e salário:
Voce tem que estar o tempo todo puxando o saco do juiz, conversando com o desembargador [...] nao gosto desse relacionamento social. [...] Nao quería [ser chefe] pela responsabilidade, por ter que puxar o saco. (Gabriela)
Näo me via num cargo de chefia, primeiro porque näo tenho esse perfil de ficar indo aos superiores, conversando, nao tenho. (Débora)
Como homens nao sofrem com a expectativa de modéstia e podem ressaltar seu talento sem represália, eles acabam se beneficiando. Além disso, eles também tem a chance de cultivar relaçoes mais próximas a chefes homens, por compartilhar interesses e nao ter a chance de alguém achar que a relaçao profissional entre ele e o chefe é uma relaçao amorosa inapropriada - como muitas vezes se pensa sobre as mulheres.
Dando continuidade a análise, destacaram-se na pesquisa outras barreiras, que identificamos como: Questao de Opçao; Mulheres sem Filhos Sofrem Menos Preconceito; A Mulher Tem de Ser Melhor do que o Homem Para Ser Chefe; Falta de Ambiçao Explícita; Atribuiçao do Sucesso a Fatores Externos; e Falta de Confiança em Açoes Afirmativas.
Questäo de opçao
Foi atribuido as escolhas da própria mulher o fato de nao haver muitas mulheres em altos cargos de liderança. Com a pressao extra que a mulher sofre no lar, é muito mais difícil ter uma ascensao suave no trabalho. Porque, por mais que as mulheres optem pelo trabalho, sempre haverá um homem a frente dela que poderá assumir facilmente o trabalho, já que elas tem muitas responsabilidades na vida pessoal e menos foco no trabalho. Por outro lado, muito do que envolve as decisoes de promoçao nao sao açoes visíveis, mas nosso inconsciente, o que faz com que os preconceitos fiquem ainda mais escondidos e difíceis de enxergar, sendo fácil confundir um condicionamento social com uma escolha consciente da mulher:
Se voce olhar o número de homens líderes e de mulheres líderes, tem muito mais homem do que mulher, mas eu nao sei se é uma opçao. As vezes a mulher opta por ir até determinado cargo de liderança exatamente por nao querer assumir algo que ela nao possa entregar. (Camila)
Nao sei se esse quadro muda, muito por uma questao de qualidade de vida. Das mulheres optarem por isso pra poder ficar com os filhos [...] porque os homens nao tem isso intrínsecamente. Nao será por preconceito, será por opçao. (Flávia)
Mulheres sem filhos sofrem menos preconceito
As entrevistadas que nao tiveram filhos consideraram que o fato de nao te-los permitiu que elas focassem mais no trabalho e fossem menos vítimas de preconceito. Nao coincidentemente, 3 delas tem os cargos mais altos dentre as entrevistadas: a primeira é diretora de RH de uma grande empresa de midia e tem passagens por diversos boards de grandes empresas; a segunda é chefe de departamento de planejamento e gestao de operaçoes de uma grande estatal, o que a faz a segunda pessoa no comando de planejamento do Rio de Janeiro, atrás apenas do diretor da empresa; e a terceira é chefe do departamento jurídico de um banco, fazendo-a a pessoa de maior nivel hierárquico de seu departamento no Rio de Janeiro. Com isso, percebemos que, para a mulher se equiparar pelo menos em alguns pontos ao homem casado e com filhos, muitas vezes ela precisa nao se casar e decidir nao ter filhos. Essa nao pode ser a única maneira de ter mulheres no topo; a mulher nao deveria ter de optar entre trabalho e familia enquanto o homem consegue alcançar sucesso tendo os dois simplesmente porque nao é esperado dele o mesmo nivel de compromisso com a familia que se espera da mulher:
Eu nunca deixei de aceitar uma oportunidade profissional porque era em Säo Paulo. Meu marido sabia que eu nunca abriria mao de alguma oportunidade por causa dele, nao seria justo com o casal. (Priscila)
Ele [o chefe] até entende que a mulher tem filho, mas se começar a dar problema ele vai mandar embora. Nao cogito [ter filhos] mas eu teria problemas com ele, certamente. (Renata)
A mulher tem de ser melhor do que o homem para ser chefe
Por causa de todas as desvantagens da mulher, para ela ter as mesmas chances que um homem em promoçoes, ela precisa ser melhor do que ele. Porque se ela nao for, pode nao ser considerada, já que o homem tem a vantagem de ter menos responsabilidades fora do trabalho, entao, para compensar sua carga pessoal, a mulher tem de ser melhor do que o homem com o qual está competindo:
A mulher líder tem que ser mais inteligente do que o homem líder, porque o fato de ser homem já é uma espécie de convite para assumir um papel de liderança. (Mariana)
Por todas as dificuldades que ela passa, a mulher, pra se tornar chefe, tem que ser excelente, reconhecida. Nao basta ser boa, tem que ser excelente. (Débora)
Eu acho que o homem trabalha sem pensar muito sobre a realizaçao, as mulheres quando chegam a um cargo de liderança é porque elas batalharam muito na vida. (Flávia)
Falta de ambiçâo explícita
Muitas mulheres ainda tem medo de dizer que querem determinadas posiçoes, por medo de falhar e nao consegui-las. Quando nao se ve pessoas como voce no topo é mais difícil se imaginar naquela posiçao, isso vale para qualquer minoría, mulheres, gays, negros e diversos outros. Desde crianças, somos condicionados a pensar que existe certo trabalho que devemos desempenhar e é difícil mudar isso mesmo depois de adulto. Talvez por isso poucas mulheres se permitam assumir que querem, sim, um cargo mais alto do que tem no momento:
Nao quero criar expectativas e de repente me frustrar. (Helena)
Qualquer coisa que vem pra mim eu nunca digo "nao", nunca digo "nao sei", mas eu nao almejo. Quanto maior o teu cargo, menos vida voce tem. O meu diretor, ele tem o poder, em compensaçao ele entra ás 7 da manha e nao tem hora pra sair. Eu nao quero isso pra mim. (Débora)
Outro grande problema é a falta de confiança que muitas mulheres tem em sua capacidade de assumir novos desafíos. Nao se consideram preparadas para determinados cargos e deixam de procurar promoçoes, enquanto homens se arriscam mais e, muitas vezes, superestimam suas habilidades (BENNETT, 1997) e conseguem a funçao.
Atribuiçâo do sucesso a fatores externos
As mulheres tendem a atribuir seu sucesso a fatores externos, como sorte, conhecer as pessoas certas ou estar no lugar certo; já os homens tendem a creditar seu sucesso a eles mesmos (SANDBERG, 2013). Ao fazer isso, as mulheres acabam desmerecendo seu trabalho e esforço, admitem que estudaram e investiram bastante, mas creditam a sorte como o fator que as permitiu alcançar suas atuais posiçoes. Isso também denota a necessidade das mulheres apresentarem-se com modéstia para nao ser julgadas como arrogantes (EAGLY e CARLI, 2007):
Foi tudo acontecendo por sorte na minha vida. Eu estudava muito, investi nisso. Gostava de ser considerada uma das melhores. Mas foi sorte, nunca busquei a chefia. (Gabriela)
Nao podemos creditar as coisas que acontecem na nossa vida apenas á nossa capacitaçao, tinham outras pessoas tao capacitadas quanto eu. Eu sempre valorizei muito as outras pessoas [...] Tem isso de estar no lugar certo na hora certa. [...] Pra passar tem que saber, mas a sorte pode fazer a diferença. (Débora)
Falta de confiança em açöes afirmativas
A grande maioria das entrevistadas se declarou contra as açoes afirmativas, especificamente as cotas gerenciais. As entrevistadas mencionaram a meritocracia como a única maneira correta de atingir um cargo executivo e se a mulher for "boa o suficiente" ela conseguirá. Isso pressupoe que hoje em dia quase nenhuma mulher seja boa o suficiente, já que a grande maioria dos cargos executivos das empresas das entrevistadas era composta por homens. Outra explicaçao dada por elas para essa falta de mulheres em cargos mais altos foi a opçao da mulher nao querer um trabalho que consumisse tanto seu tempo. O problema da meritocracia como o único método de atingir igualdade é que ele ignora o legado cultural de séculos de discriminaçao que grupos desfavorecidos carregam. A meritocracia se baseia em um discurso de igualdade e oportunidade justa, porém, ela nao leva em consideraçao que homens e mulheres partem de lugares diferentes no nosso sistema social (JONSEN, MAZNEVSKI e SCHNEIDER, 2010) e tem de passar por caminhos e obstáculos distintos ao longo de suas carreiras:
Sou a favor da meritocracia, nao gosto de cota. (Mariana)
Nao deve ter política de incentivo a mulheres, incentivo tem que ser pra todo mundo, incentivo de estudo, cota nao. (Renata)
Algumas pessoas pensam que as oportunidades tem de ser iguais e as cotas nao devem existir, porque supostamente nao há mais a diferenciaçao entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Mesmo que isso fosse verdade, ainda há a diferenciaçao no lar, onde as mulheres tem muito mais responsabilidades, mesmo trabalhando fora, o que já torna diferente seu posicionamento quanto ao trabalho.
A maioria das entrevistadas também mencionou que ter os beneficios seria pior para as mulheres, porque elas se tornariam alvo de mais preconceitos por ter conseguido promoçöes de modo teoricamente mais fácil. Algumas acreditam que quanto mais beneficios forem dados as mulheres, pior será, porque se tornará mais caro contratar uma mulher, o que aumentaría a discriminaçao. A cota também poderia ser interpretada como uma desqualificaçao do trabalho da mulher, ao implicar que elas apenas conseguiriam promoçöes por meio de açöes afirmativas:
Se a gente quer direitos iguais, tem que ser igual em tudo, em responsabilidades, deveres. Eu sou supercontra cota. Já tem essa questao da licença-maternidade, que é só pra mulher. Ter beneficios seria pior pra gente, porque se for mais caro ter mulheres, aí que a gente nao vai conseguir mesmo. (Helena)
Criar essa diferença [cotas] eu acho que seria pior. (Flávia)
Duas funcionárias públicas entrevistadas mencionaram programas de incentivo adotados em suas empresas. Nos dois casos, a aceitaçao foi difícil, porém, com os anos, a política foi incorporada as atitudes gerenciais e seu cumprimento nao necessitava mais de esforço, tornou-se parte da cultura organizacional.
Observamos que, quanto mais altos os cargos, maior a discriminaçao sofrida pelas mulheres, desde preconceito ao constante questionamento de sua posiçao. A discriminaçao, porém, começa desde o momento que a mulher entra no mercado de trabalho - o labirinto será sua trajetória, sofrendo, muitas vezes, um preconceito óbvio e outras discriminaçöes de modo mais velado. Muitas nem percebem a situaçao na qual se encontram e nao consideram certos comentários no dia a dia algo ofensivo, mesmo estando presentes. Enquanto a mulher nao se manifestar e se posicionar contra as discriminaçöes e contra a divisao desigual de tarefas domésticas e com filhos, as mulheres no topo das empresas continuarlo sendo exceçöes e casos individuais de sucesso.
CONCLUSÄO
O objetivo deste estudo foi identificar os obstáculos que se apresentam ao longo da carreira da mulher brasileira e o que ela percebe como boa liderança em um cargo e em sua vida. O que muda no discurso das mulheres é a definiçao de líder que passa a ter características mais andrógenas, misturando atributos comunais e agenticos, como comunicaçao e autoconfiança. Elas também conseguem se enxergar na posiçao de líder e veem o líder contemporáneo como uma pessoa mais transformacional, assim como veem a si próprias. Ainda assim, em seu discurso, o homem parece ser um líder natural. Schein, Mueller, Lituchy et al. (1996) já tinham confirmado a visao mundial de que os homens sao vistos como líderes naturais por possuir mais características associadas as dos líderes. Talvez por isso as mulheres sejam tao testadas, até mesmo pela própria equipe, em uma tentativa de provar que elas nao deveriam estar naquela posiçao de liderança.
A mulher que busca ser líder, além de ter salários mais baixos e menos promoçöes, muitas vezes ela nao percebe o preconceito a sua volta. Por nao sofrerem sempre um preconceito aberto, muitas acham que ele só existe com outras pessoas e nao entendem certas açöes maliciosas como preconceito.
Temos ciencia de que a promoçao da diversidade pode trazer diversos benefícios para a organizaçao como um todo (COX, 1994). Entretanto, grande parte das entrevistadas nao percebem a mulher como parte de um grupo de minorías na sociedade e acreditam que açöes afirmativas para garantir sua inclusao em cargos de liderança, nao sao necessárias, mesmo aquelas que afirmam nao considerar a proporçao entre homens e mulheres justa em tais cargos. Muitos entraram na questao de meritocracia, afirmando que as mulheres sao tao competentes quanto os homens e capazes de chegar aos cargos de liderança. A falácia da meritocracia se encontra na falsa igualdade de oportunidades sociais para os dois generos (BARBOSA, 1999), ou seja, desconsidera-se que homens e mulheres enfrentam obstáculos distintos em sua trajetória profissional.
Por fim, este artigo contribuiu apenas com uma visao inicial da situaçao das mulheres em posiçao de liderança e abre espaço para novos estudos capazes de envolver, inclusive, os homens e seus discursos sobre liderança.
Lygia Gonçalves Costa Hryniewicz
Doutora em Sociologia (IUPERJ-UCAM);Professora na Escola Brasileira de Administraçao Pública e de Empresas, Rio de Janeiro - RJ, Brasil. E-mail: lygia.costa@fgv.br
Maria Amorim Vianna
Mestre em Antropologia Digital (University College London - UCL);DreamWorks Marketing na NBCUniversal, Londres, Reino Unido. E-mail: mariaamorim@icloud.com
REFERENCIAS
ADAIR, J. The concise Adair on leadership. London: Thorogood, 2003.
AVOLIO, B.; BASS, B. Manual for the Multifactor Leadership Questionnaire (Form 5X). Redwood City: Mindgarden, 2002.
BARBOSA, L Igualdade e meritocracia. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
BBC BRASIL. Calculadora revela desigualdade de genero no mundo. 2016. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/videos_e_ fotos/2015/11/151118_100w_calculator_vj_2015>. Acesso em: 1 abr. 2018.
BENNETT M. Self-estimates of ability in men and women. Journal of Social Psychology, v. 52, n. 1, p. 540-541, 1997.
COX, T. Cultural diversity in organizations: Theory, research, and practice. San Francisco: Berrett Koehler, 1994.
EAGLY, A. Female leadership advantage and disadvantage: resolving the contradictions. Psychology of Women Quarterly, v. 31, n. 1, p. 1-12, 2007.
EAGLY, A.; CARLI, L. Women and the labyrinth of leadership. Harvard Business Review, v. 85, n. 9, p. 62-71, 2007.
EAGLY, A.; JOHANNESEN-SCHMIDT, M.; VAN ENGEN, M. Transformational, transactional, and laissez-faire leadership styles: a meta-analysis comparing women and men. Psychological Bulletin, v. 129, n. 4, p. 569-591, 2003.
EAGLY, A.; KARAU, S. Role congruity theory of prejudice toward female leaders. Psychological Review, v. 109, n. 3, p. 573-598, 2002.
GMI RATINGS. GMI Ratings' 2012 women on boards survey. 2012. Disponível em: <http://library.constantcontact.com/download/get/ file/1102561686275-86/GMIRatings_WOB_032012.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2014.
GOLEMAN, D. What makes a leader? Harvard Business Review, v. 76, n. 6, p. 93-102, nov./dez. 1998.
HALPERN, D. F.; CHEUNG, F. M. Women at the top. London: WileyBlackwell, 2010
HEILMAN, M. Description and prescription: how gender stereotypes prevent women's ascent up the organizational ladder. Journal of Social Issues, v. 57, n. 4, p. 657-674, 2001.
HOYENGA, K. B.; HOYENGA K. T. Gender-related differences: origins and outcomes. Boston: Allyn & Bacon, 1993.
JONSEN, K.; MAZNEVSKI, M.; SCHNEIDER, S. Gender differences in leadership: believing is seeing - implications for managing diversity. Equality, Diversity and Inclusion: An International Journal, v. 29, n. 6, p. 549-572, 2010.
MARTINHO RODRIGUES, R. Pesquisa academica: como facilitar o processo de preparaçao de suas etapas. Sao Paulo: Atlas, 2007.
MCKINSEY & COMPANY. A CEO's guide to gender equality. 2015. Disponível em: <https://www.mckinsey.com/global-themes/leadership/ a-ceos-guide-to-gender-equality>. Acesso em: 1 maio 2018.
OAKLEY, J. Gender-based barriers to senior management positions: understanding the scarcity of female CEOs. Journal of Business Ethics, v. 27, n. 4, p. 321-334, 2000.
SANDBERG, S. Lean in: women, work and the will to lead. New York: Random House, 2013.
SCHEIN, V. Women in management: reflections and projections. Women in Management Review, v. 22, n. 1, p. 6-18, 2007.
SCHEIN, V. et al. Think manager - think male: a global phenomenon?. Journal of Organizational Behavior, v. 17, n. 1, p. 33-41, 1996.
WILLIAMS, M. Leadership for leaders. London: Thorogood, 2005.
Women and leadership: obstacles and gender expectations in managerial positions
LYGiA GONÇALVES COSTA HRYNiEWiCZ1
María Amorím Víanna2
1 FUNDAÇAO GETULIO VARGAS (FGV EBAPE) / ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA E DE EMPRESAS, Rio DE JANEIRO- RJ, BRAZIL
2 NBCUNIVERSAL, LONDRES, UNITED KINGDOM
Abstract
The representation of women in senior management positions has increased over the years, but the obstacles still remain. This study aims to understand how Brazilian women see themselves as leaders and what the main challenges are and how to overcome them to achieve equality not only in the workplace but also at home. To meet the objective of the research, we opted for a field research methodology. Were selected 15 women to interview, which worked at public and private organizations as leader, in Rio de Janeiro, between years 2014 and 2016. The results showed that women have a more androgynous notion of leadership than what was suggested by the literature and that they see themselves as worthy of this role despite suffering several cases of prejudice in their careers.
Keywords: Gender expectations. Leadership. Women. Prejudice.
Mulheres em posiçao de liderança: obstáculos e expectativas de genero em cargos gerenciais
Resumo
A representatividade da mulher em altos cargos vem aumentando ao longo dos anos, mas as dificuldades ainda persistem. O objetivo deste artigo é identificar os obstáculos que se apresentam ao longo da carreira da mulher brasileira e entender como ela se reconhece na posiçao de líder, quais sao seus principais desafios e como ela pode superá-los para atingir a igualdade - nao apenas no trabalho, mas também no lar. Trata-se de uma pesquisa de campo. Selecionamos, por meio de rede social própria, 15 mulheres que atuavam como líderes em organizaçöes públicas e privadas no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2016. Os resultados mostraram que essas mulheres tinham uma noçao mais andrógena de liderança do que a sugerida pela literatura e que elas se viam como merecedoras desse papel, apesar de sofrerem vários tipos de preconceito em suas trajetórias.
Palavras-chave: Expectativas de genero. Liderança. Mulheres. Preconceito.
Mujeres en posición de liderazgo: obstáculos y expectativas de género en cargos gerenciales
Resumen
La representatividad de la mujer en altos cargos viene aumentando a lo largo de los años, pero los obstáculos aún persisten. El objetivo de esta investigación que es cómo la mujer brasileña se reconoce en la posición de líder y cuáles son sus principales desafíos, cómo superarlos para llegar a la igualdad no sólo en el trabajo, sino también, en casa. En la metodología se utilizó un trabajo de campo. Seleccionamos, a través de una red social propia, 15 mujeres, que trabajaban en organizaciones públicas y privadas como líderes, en Río de Janeiro, entre los años 2014 y 2016. Los resultados mostraron que las mujeres tenían una noción más andrógena de liderazgo que la sugerida por la literatura y que ellas se veían como merecedoras de ese papel, a pesar de sufrir varios tipos de prejuicios en sus trayectorias.
Palabras-clave: Expectativas de género. Liderazgo. Mujeres. Prejuicio.
INTRODUCTION
Over the years, women have conquered important achievements in the workplace. However, historical gender inequalities, as far as representativity is concerned, still persist. This is seen, especially, in senior management and executive positions where women remain a minority such as chief executive officer (CEO), chief financial officer (CFO), chief operations officer (COO), and board of directors. According to Mckinsey & Company (2015) in a study of 60 US corporations using data from 2012, despite the ongoing presence of women in top positions of large companies, they are still underrepresented at senior levels.
This reality is also true for Brazil: few women occupy the position of CEO, board director or second or third executive levels. Only 4.5% of the board directors of Brazilian companies are women - the average in emerging countries is 7.2% (GMI RATINGS, 2012). In addition, in 2016, Brazil ranked 85th in the gender inequality index (GII), comparing 159 countries, behind Bolivia (65th) and Nicaragua (50th), which improved their GII in the last 10 years (BBC BRASIL, 2016). The 2016 National Household Sample Survey (PNAD) showed that, in the employed population over 16 years of age, women spend 20.3 hours a week on householed chores, while men spend only 10 hours - another factor that has a direct impact on women's careers.
Based on the labyrinth of leadership theory by Eagly and Carli (2007), this study sought to identify obstacles that occur throughout the career of Brazilian women, as well as understand what they consider to be good leadership in their professional and personal life. It is obvious that women's lack of self-confidence, reinforced by the characteristics that are attributed to men and women, can have a major influence on how women perceive themselves and are perceived by others in the workplace.
In addition, the incompatibility between behaviors considered more feminine, such as empathy and kindness, and behaviors associated with leaders, such as self-confidence and assertiveness, can lead to a distortion of expectations of a female leader. The mindset is that women should remain feminine and at the same time present behaviors attributed to traditional leadership, a perspective that may be the cause of prejudice in the workplace.
LEADERSHIP AND GENDER
According to Adair (2003), management can be defined as the choice of what should be done and the its efficiently execution. The traditional idea of an efficient leader is a charismatic, selfish, and strong-willed person but that goes against the behavior observed in some current leaders who demonstrate humility, discipline, concentration, good communication, are not ego centered, and have a discreet personality (WILLIAMS, 2005). According to Goleman (1998, p. 94,), "effective leaders are all alike in one crucial way: they all have a high degree of what has come to be known as emotional intelligence."
Eagly (2007, p. 2) defines leadership styles as a "relatively consistent patterns of social interaction that typify leaders as individuals. Leadership styles are not fixed behaviors, but encompass a range of behaviors that have a particular meaning". This does not mean that people maintain the type of behavior associated with their leadership characteristics in any situation. In the case of a crisis, for example, a participative leader can be more decisive and delegate less if more rapid action is needed.
Researchers of situational theory of leadership argue that the leadership style used depends on the context in which the leader finds themself. Local characteristics, such as values, organizational culture and the nature of the task, can dictate the most appropriate form of action (EAGLY, 2007). According to Eagly (2007), however, regardless of the situation, leadership is historically defined in masculine terms. Shein, Mueller, Lituchy et al. (1996) corraborate this point of view with their research "think manager - think male", which analyzed responses of administration students in 5 countries (USA, UK, Germany, China and Japan). Schein, Mueller, Lituchy et al. (1996) concluded that, despite the differences among the 5 countries analyzed, the point of view that - among administration students - women are less likely to have leadership characteristics than men, is global (in the US, women saw attitudes of managers as more androgynous and not more masculine or feminine). Considering these students will become managers and the stereotypes they believe in will shape their decision making, women have indeed to overcome many barriers to advance their careers (SCHEIN, MUELLER, LITUCHY et al., 1996). Schein (2007), in updating her research, observed results similar to the previous one conducted in the 5 countries, showing that, despite all legal, social and organizational changes, male managers were still associated with successful management.
Eagly, Johannesen-Schmidt and Engen (2003) compared the leadership styles of women and men: transformational, transactional, and laissez-faire. Box 1 presents the definitions of the transformational, transactional and laissez-faire leadership styles described in the Multifactor Leadership Questionnaire (MLQ-5X), proposed by Avolio and Bass (2002) and adapted by Eagly, Johannesen-Schmidt and Engen (2003). The MLQ-5X measures the three leadership styles and has been used in numerous studies.
Box 1 shows that the transformational leadership style and the contingent reward component of the transactional style have a positive correlation with what can be considered as good leadership. On the other hand, transactional exception management and laissez-faire have negative correlation. The outcomes for women were better than those for men in all transformational components, except for idealized influence (behavior). The two less effective leadership styles cannot be considered as a determinant characteristic of men or women, however these styles can be observed more often in men. This proves that women are able to lead as well as - or better than - men in contemporary organizations (EAGLY, JOHANNESENSCHMIDT and ENGEN, 2003).
One explanation for more women having better leadership styles may be because men have more access to leadership positions, which means that women have to be more skilled than men to achieve the same positions (EAGLY, JOHANNESENSCHMIDT and ENGEN, 2003; EAGLY, 2007). Another explanation offered by Eagly (2007) is that women search for a style that is not, particularly, masculine or feminine. As the transformational style is more androgynous, it can be adopted by women in search of a neutral style avoiding the prejudice of being incompatible with the traditional idea of a kind woman and of an agentic leader.
METHODOLOGY
This qualitative study was based on field research conducted in different public and private organizations in Rio de Janeiro between 2014 and 2016. Interviews were conducted with 15 women in leadership positions to obtain a detailed understanding of the challenges faced by them throughout their careers. According to Martinho Rodrigues (2007), structured interviews direct the conversation towards the research objective, obtaining shorter and more understandable answers.
The ages of the interviewees varied from 32 to 70 years; 9 of the 15 interviewees were married and 8 had children; 2 were single and 3 were divorced. To maintain confidentiality, the true names of the respondents were not disclosed. The sample was selected in accordance with the following criteria: reachable female professionals who hold or previously held a leadership position in their professional career, residing and working in Rio de Janeiro.
From the material collected during the interviews, the interpretation was based on the five barriers identified by Eagly and Carli (2007) in their study on the labyrinth of leadership: a) Vestiges of prejudice; b) Resistance to women's leadership; c) Issues of leadership style; d) Demands of family life; and e) Underinvestment in social capital. Three additional barriers were added to the original barriers proposed by Eagly and Carli (2007): i) Motherhood; ii) Personal Appearance; and (iii) Division of Childhood Tasks. Specific issues that did not correspond to any barriers created by Eagly and Carli (2007) were added as new obstacles, which are: question of option; women without children suffer less prejudice; woman must be better than men to be boss; lack of explicit ambition; attribute their success to external factors; and lack of confidence in affirmative actions.
RESULTS
The initial interpretation was divided according to the barriers encountered by women throughout their careers described by Eagly and Carli (2007) in their work on the labyrinth of leadership, shown below.
Vestiges of prejudice
Men still benefit from higher wages and faster career advancement than women (EAGLY and CARLI, 2007). Respondents recognized the fact that women earned less than men, but only one of them knew of any real case in which this had happened, which indicates women's lack of consciousness of their disadvantages:
There is a guy who is less qualified, with a job easier than the one of another [woman] technical staff, and they earn the same. [...] That is because he was able to talk to the boss and got it. (Renata)
It is not because he is a man that he will earn more, he has a status, and because of that [the stauts] he earns more. (Flavia)
As for the issue of men getting faster promotions, most respondents said they were not aware of any disadvantages. One of the only interviewees to acknowledge having had clear experiences of prejudice, for working in an extremely masculine area, was an engineer and head of department:
I sometimes missed opportunities because when I was younger, being a woman interfered in the others' [work colleagues] point of view, who questioned whether a young woman could do those things. [...] and I was a graduated engineer, something that would never have happened to a man. (Deborah)
In addition to the two vestiges of prejudice analyzed by Eagly and Carli (2007), the interviews demonstrated additional cases of prejudice. Some have been mentioned so often that new categories have been created for them: motherhood and appearance.
Motherhood
Many of the respondents mentioned maternity leave as an issue, especially when it comes to their replacement at work. In this sense, a unique barrier has been created for woman, which would never occur for men in the same position:
My team is very feminine, everyone is married, around 30 years old, so, a short time ago I opened a vacancy and I confess that I prefered a man, and soon I'll have another vacancy and I will prefer to select a man for that position. Maternity leave is an issue [...] (Helena)
Woman take 4 to 6 months off. There is no miracle, someone will have to take responsibility. In a leadership position, time availability is different for a man and a woman, the woman will go some time without working. It's called discrimination, yes, but I understand. (Camila)
The respondents felt that their situation was different from most women, they imagined themselves as an exception. When taking this posture, women may not realize they are inserted in a prejudiced environment.
Personal appearance
Appearance was another topic that respondents mentioned as a motivator of prejudice. From comments about their hair or the way they are dressed, to requests for them to chang.
There have been moments I've said: I will leave my hair white [...] and at work someone told me: please go dye this white hair! (Flavia)
No one looks at mens appearance [...] Woman must always wear her make up even if she works like mad. (Gabriela)
A woman from the planning departement was encouraged to lose weight. (Julia)
Another aspect about women's appearance is that colleagues usually associate job promotions with the physical attributes of women and with love affairs with bosses, ignoring their performance. There was also an association that a beautiful woman is a dumb woman, who prefers to spend time dressing instead of studying or working.
Heilman (2001) cites the demerit of women as a serious problem. To attribute a woman's success to external factors makes her an exception, as if this could not have happened without special circumstances.
Resistance to women's leadership
For Eagly and Carli (2007), behind discrimination against women are the mental associations made with women, men and leaders. Women are considered more communal, demonstrating characteristics such as empathy and kindness, while men are more agentic, showing confidence, aggressiveness and autonomy (EAGLY, 2007; HEILMAN, 2001). The interviewees confirmed such stereotypes. When asked about the characteristics most observed in women and men leaders, women leaders were given the main attributes of determination, dedication and communication. As for the men leaders, attributes such as ambition, strength and self-confidence appear as their main characteristics. Thus, women were considered more communal and men more agentic, as the literature suggests. In addition, empathy, good looks and optimism were characteristics more related to women than to men, although they were not among the most cited. Innovation, too, though not a defining feature of men leaders, was more associated with men than women.
Dedication and attention to work are characteristics expected of women. Therefore, attentive behavior on the part of a man is remarkable, while a woman with the same behavior is not. Men get away with being unhelpful, while women do not (EAGLY and CARLI, 2007).
Worrying less about the consequences of your attitudes can be considered risky. Hoyenga and Hoyenga (1993) argue that men have a higher risk preference than women, which may explain men's more abrupt behavior. The issue of self-confidence, which is also largely associated with men, is important. According to Bennett (1997), men overestimate their abilities, while women tend to underestimate theirs. This may explain the riskier conduct of men and safer conduct of women. It can also give men greater confidence in their decisions, making them more practical and objective, something that was noted by the interviewees.
Men are more practical and afterwards discuss football, women are always thinking, talking about relationships. (Gabriela)
Certainly, I find men more objective, less emotional, easier to deal with because the rivalry between women is on another level. (Julia)
I think there is less concern with the collective than with personal things. (Maria)
The difficulty for women to lead is a reality, there is constant questioning, testing and prejudice. For a woman, managing men, especially those older than herself, can be challenging. It is not yet common, and people are not accustomed to such relationships. For this reason, when people are faced with such a situation, they may act strangely and not be so receptive or respectful.
When I became a boss, I had to face many people who did not like it [...] Because I started to lead much older people and because I was a woman in a male universe. (Deborah)
As the traditional image of a leader is strongly associated with the male gender (EAGLY, 2007), they are often considered natural leaders. There are also more men in top corporate positions than women, which makes them the standard, while women will always be the other. Being the other, or a token, makes the woman stand out, all her actions are scrutinized and analyzed much more frequently, increasing the pressure she bears at work (OAKLEY, 2000).
I think men are more accepted as leaders than women. (Mariana)
There is an inherent perception that women would not bear some jobs' responsibilities [...] things happen very naturally, and I think the pressure on women and their requirements is very intense. (Flavia)
I never thought I wanted to be a team manager, things just happened and I think at some point I want to take the next step, but not now. (Giulia)
Pressure is understood here as the fact that women have to endure prejudiced comments in the workplace. These comments range from harassment to personal insults - often associated with stereotypes and motherhood.
Many women reported to having suffered harrassment. Such comments are often treated as "compliments" by both men and women who cannot see the prejudice in a comment about the appearance of a woman in the middle of a business meeting:
My first leadership position was coordinating a factory [...] In three years, I was coordinating people that had me as an intern in the area, so it was not an easy experience and I suffered a lot [...] Not because I am a woman, but because I was very young [...] one of the prejudices I suffered was to hear that my promotion was due to my marriage and not to my ability. (Ana)
In relation to personal insults, an example is to call the woman "hysterical" when she has to speak louder or be more assertive, something that would not happen to a man. Another interviewee, Flavia, draws attention to the fact that the comments are usually personal insults little related to the woman's ability. Heilman (2001) confirms that it is more difficult to distort a person's concrete achievements than to discredit personality judgments, which is what usually occurs:
No one questions the working power of the women who got there. What I hear is: She is a cow! These are minor personal insults when you are angry. Because those who get there, have worked a lot. (Flavia)
Some comments demonstrate a clearer prejudiced nature, when they are associated with the idea that the woman is weaker, more fragile, or not good enough. This type of comment is more easily perceived by people and impacts more, although not everyone feels offended or harmed, so many prefer not to intervene. This behavior generates a normalization of prejudice, making it more and more widespread as harmless play and not as aggressive and insulting.
Issues of leadership style
The traditional view of a leader is usually more associated with male behavior (EAGLY, 2007). The interviewees, however, provided a different view when asked about their ideal behavior for leaders. For them, the key characteristicsof a good leader were character, determination, self-contidence, and communication. A view that includes a more gender-neutral characteristic such as character,a typically masculine characteristic, self-confidence, a more feminine, communication, and one associated with both genders, determination - although it has been more associated with women. This demonstrates a much more integrated view of leadership by women, who are evolving from the all-male leadership concept to a mix of male and female behaviors that can form a better leader.
Many of the respondents, however, said they did not feel that men and women had different leadership characteristics:
It depends on the man and depends on the woman. It is a matter of the person, not of gender. (Carla)
I believe there are none [different characteristics of being a men or women leader]. I think the woman is always having to prove a lot more things than the man, but there is not much difference, no. (Deborah)
These same interviewees contradicted themselves when they marked the four characteristics most observed in men and women leaders. They attributed characteristics such as optimism, dedication, empathy and communication to women and strength, ambition and self-contidence to men, showing a clear difference. It is important to consider that there is a difference between what a person says and what they intimaly believe to be true. The tendency is to adopt stereotypes that perpetuate the idea that women are more communal and men more agentic, even if one believes that there is no difference in practice.
According to Eagly, Johannesen-Schmidt, and Engen (2003), women were more closely associated with the transformational styles of leadership, which are related to efficient leadership, and not by chance, are the most androgynous. In this research, it is not possible to define the leadership style of any of the women interviewed. However, several aspects related to these styles were mentioned during the study, for example, the importance and the attempt to motivate the team, communicate values and objectives clearly, try to promote optimism and enthusiasm and the development of team members:
I challenge myself a lot to be generous [...]. Leading a team demand results without loosing generosity, I train leaders and managers under my responsibility to be more generous. (Flavia)
To get everyone on the same line, believing in the same vision. I speak more and more to each one individually to make it clear to everyone what the vision is and to align expectations [...]. (Camila)
Other interviewees believed that they had to change their way of leading and sometimes to adapt to the masculine style. Until society accepts more women as leaders with new leadership styles, they will have to adapt to the traditional one and perhaps be more aggressive than would normally be considered in good leaders. Even if this has a negative impact on the perception of their personality.
Demands of family life
According to Eagly and Carli (2007), demands of family life is the barrier most women face at some point in their career. Women continue to spend a lot more hours a week than men on household chores and looking after their children. This difference was clear in the interviews with married women, especially those who had children, when asked how the household chores are shared in their house. Among married women with children, only one said the chores and child care were shared equally with her husband. However, all the married respondents had a housekeeper, which helped in the household chores and, often, with looking after the children. Women, however, still exercised much of the control, for example, on weekends, and was usually the person in the household who communicated with the housekeeper.
One thing that many of the interviewees mentioned is that the pressure to care for children is on the mother. One of them even mentioned that when she is travelling, her husband takes on this responsibility and actually expressed feeling this pressure:
The child gets sick, call the mum. I think we are more impacted by this [having children]. (Julia)
I think this is going to be a very difficult thing to be equal. The woman has this, this connection, a different protection. Although I have a husband who participates. Funny that when I travel, I go to the MBA course, and my husband is alone, he feels this pressure. (Camila)
What these women have reported is that their husbands are more interested in themselves, that they assume the household chores are women's responsibility, even if women have responsibilities outside the home. The modern woman not only has to support the family financially, as the man did - and does - but she must also be responsible for all the household chores. She has a double - and often even triple - work load and men simply do not realize, either from lack of attention or for convenience:
I do not see my husband doing this [...] read a book with my daughter before going to school, I have to give up what I had to do for me, I don't go to the gym so I stay with her. It would not cross his mind. (Helena)
He has a flexible schedule, although he does nothing [to help with the children], so it is good because he is at home but he does not do any of the tasks at all. (Flavia)
In the men's mind, household chores are for women. (Flavia)
According to the married interviewees, it is not only the men who believe that it is the woman's job to take care of the children and the house, society also expects this from women. When women need to return later from work, the family notices more, children and husbands complain. As it is more common for men to work loner hours, their behavior is already expected, but when it is a woman, the choice to work is thought unusual.
Because of these expectations, women end up having to make more choices for the family than men. When they have small children, they try to reduce their workload, do not participate in after work courses so they can spend more time at home, and even give up professional opportunities. If the responsibilities around the house were more balanced, men and women could share the care of their children, giving them the opportunity to pursue their careers in the best possible way, while still providing a stable environment for their children.
When I had children I made a point of having a light professional activity to have more time to be with them. So this interfered with my career (Mariana)
I'd give up certain jobs if they required me to travel a lot. Before I had a child, I worked in a different way. The difference is having and not having a child, for the man, the woman ends up doing everything upfront. (Camila)
I did not participate in any more courses because of my children, because of the schedule, so as not to gethome late. (Clara)
We note that these women are managers, consultants, heads of departments, and directors. They have time-consuming jobs and very important positions within the hierarchy of their companies; even so, they still have to take care of household and family matters. Some interviewees reported that they only have time alone when they are at the gym, that is, 2 hours a week. Mothers in leadership positions were considered multitasking, since they do not experience work and family as two separate lives (HALPERN and CHEUNG, 2010).
Childhood experiences on sharing household chores
One issue that influences how adults behave is how their parents behaved during their childhood. Seeing the mother at work, for example, shows the daughter - and the son - that women can work and have a family, that the two complement each other and are not mutually exclusive. On the other hand, a sexist education presents to the child another reality and shapes their future life:
I always wanted to work because I always saw my mother working. (Clara)
[...] the mental model I have is of my mother doing everything, being responsible for everything. And aside from that, I also think that it is my husband's model, because although his mother is a person who works [...] I think the education he had, is very sexist, in the sense of not seeing the need to share [household chores and child care], you know [...] he is not available for that [...]. I already gave up, it's not his thing. (Helena)
Other women, however, currently live the opposite of what they have experienced in their childhood, reporting that they wanted something different for themselves. A man who is used of having everything done for him, especially by his mother, can And it difficult to change and become responsible for more tasks than he has been used to. Perhaps that's why many men tend to reproduce this experience in their relationships and cannot or will not change:
It is the opposite for me. My mother always motivated me to be independent. Seeing women being dependent led to not wanting that for myself. (Deborah)
As much as the two of them lived very well together, I could feel a financial dependence. And I thought, "I do not want that for myself, I want to earn my own money". (Priscila)
Most of the interviewees had a mother devoted to the home and children, so perhaps many of the participants identified the role of women with household responsibilities. However, many mothers talked to their daughters about the importance of being independent, which may have helped them to perceive work not only as positive but as necessary - although they also keep up with the household chores.
Underinvestment in social capital
According to Eagly and Carli (2007), the most destructive result of women's double work load, is the little time left for socializing with peers and networking. To promote work and confirm status and competence is not a communal expected behavior for women, it is unusual. While men can exhibit their achievements; modesty is expected even from very successful women (EAGLY and CARLI, 2007).
Many women And it difficult to create a close relationship with their boss, who, at higher levels, is usually a man. In this sense, women end up further from job and salary promotions:
You have to be political all the time, talking to the judge... I do not like this social relationship. [...] I did not want [to be a boss] because of the responsibility, because I had to be political. (Gabriela)
I could not project myself in a position of leadership, first because I do not feel like talking to the bosses all the time. (Deborah)
As men are not expected to be modest and can emphasize their talent without being criticized, they end up in advantage. In addition, they also have the opportunity to maintain close relationships with male bosses, to share interests, and are not blamed for having an inappropriate/romantic relationship with the boss - as is often thought of women.
Continuing the analysis, other barriers were highlighted in the research, which we identified as: the question of choice; women without children suffer less prejudice; women must be better than men to be a boss; lack of explicit ambition; attribute their success to external factors; and lack of confidence in affirmative actions.
A matter of choice
The fact that there are few women in high leadership positions was attributed to their own choices. With the extra pressure a woman suffers at home, it is much harder to have a smooth promotion. Even if women choose to work, there will always be a man ahead of them who can easily take over the job, since women have many responsibilities in their personal lives and are less work-centered. On the other hand, much of what involves a promotion decision is not a visible action, but influenced unconsciously, which makes the prejudice and biases even more difficult to perceive and it is easier to confuse social conditioning with the woman's conscious choice:
If you look at the number of men and women leaders, there are many more men than women, but I do not know if it is a choice. Sometimes a woman chooses to go to a specific leadership position just because she does not want to take on something she can not deliver. (Camila)
I do not know if it is a matter of quality of life or if women make this choice to be able to stay with their children [...] because men do not feel like this intrinsically. It is not necessarily prejudice, but choice. (Flavia)
Women without children suffer less prejudice
Respondents who did not have children felt that not having children allowed them to focus more on work and that they were not victims of prejudice to the same degree. It is not a coincidence that three of the women that did not have children held the highest positions among the interviewees: one is the HR director of a large media company who went through various boards of large companies; another is the head of department of planning and operations management of a large state-owned company, which makes her the second person in charge of planning in the city of Rio de Janeiro, behind only the director of the company; and the third is head of a bank's legal department, making her the highest ranking person in her department in Rio de Janeiro. We realize that a woman often needs to be unmarried and decide not to have children if she wants to reach some positions, decisions that are not demanded from a man that wants to achieve the same status. These decisions, however, should not be mandatory for women to achieve leader positions; they should not have to choose between work and family while men are not confronted with the same issue:
I never stopped accepting a professional opportunity because it was in Sao Paulo. My husband knew I would never give up any opportunity because of him, it would not be fair to either of us. (Priscila)
He [the boss] understands that the woman has a child, but if problems start, he will fire her. I do not think of it [to have children] but I would certainly have problems with him. (Renata)
Women must be better than men to be a boss
Due to all the disadvantages of being a woman, to access the same opportunities as a man to be promoted, a woman needs to be way better than him. If she is not, she may not be considered for the position as the man has the advantage of having fewer responsibilities out of work, so to compensate for his personal burden, the woman has to be way better than the man she is competing with:
A woman leader has to be smarter than the man leader, because being a man is already a kind of invitation to take a leadership role. (Mariana)
For all the difficulties she experiences, the woman, to become a boss, has to be excellent, acknowledged. It is not enough to be good, she has to be excellent. (Deborah)
I think the man works without thinking much about achievement, when a woman gets a leadership position it is because she has struggled a lot in life. (Flavia)
Lack of explicit ambition
Many women are still afraid to say they want certain positions, they fear they will fail and not manage. When you do not see people like you at the top it is harder to imagine yourself in that position, this is true for all minorities, women, LGBT, black people, and so on. As children, we are conditioned to think that there are certain jobs that we must do and it is difficult to change that even in adulthood. Perhaps that is why few women allow themselves to assume that they want a higher position than they currently have:
I do not want to create expectations and suddenly get frustrated. (Helena)
Anything that comes to me I never say "no", I never say "I do not know", but It is not my goal. The higher your position, the less life you have. My director, he has the power, in compensation he arrives at 7 in the morning and we never know when he leaves. I do not want this for myself. (Deborah)
Another major problem is the lack of confidence that many women have in their ability to take on new challenges. They do not consider themselves prepared for certain jobs and stop pursuing promotions, while men risk more and often overestimate their abilities (BENNETT, 1997) and get the job.
Attributing success to external factors
Women tend to attribute their success to external factors such as luck, meeting the right people or being at the right place; men tend to credit their success to themselves (SANDBERG, 2013). In doing so, women end up reducing the merit of their job and achievement. They admit that they studied and invested a lot, but attribute their current position to luck. This also denotes the need for women to be modest in presenting themselves in order to avoid being considered arrogant (EAGLY and CARLI, 2007):
It all happened by chance in my life. I studied a lot, I invested in it. I wanted to be considered one of the best. But it was luck, I never sought leadership. (Gabriela)
We cannot credit the things that happen in our lives only to our training, there were other people as trained as I am. I always value other people very much [...] there is the factor of being in the right place at the right time. [...]You have to have the knowledge to get access, but luck can make a difference. (Deborah)
Lack of confidence in affirmative actions
The vast majority of respondents were against affirmative action, specifically managerial quotas. The interviewees mentioned meritocracy as the only correct way to achieve an executive position and if the woman is "good enough" she will succeed. This presupposes that nowadays almost no woman is good enough, since the great majority of the executive positions of the companies where the interviewees work were held by men. Another explanation given by the respondents for the lack of women in higher positions was the woman's choice to have a job that did not consume so much of her time. The problem of meritocracy as the only method of achieving equality is that it ignores the cultural legacy of centuries of discrimination that disadvantaged some groups. Meritocracy is based on a speech of equality and fair opportunity, but it does not take into account that men and women depart from different places in our social system (JONSEN, MAZNEVSKI and SCHNEIDER, 2010) and have to follow different paths and obstacles throughout their careers:
I am in favor of meritocracy, I do not like quotas. (Mariana)
There should not be an incentive policy for women, incentive has to be for everyone, encourage study, not quotas. (Renata)
Some people think that opportunities have to be equal and quotas should not exist because there is, supposedly, no longer a differentiation between men and women in the workplace. Even if this were true, there are still differences when it come to the roles at home, where women have a lot more responsibilities, which influences their performance at work.
Most interviewees mentioned that having benefits would be worse for women because they would become the target of more prejudices for theoretically having facilities to achieve promotions. Some believe that the more benefits women gain, the worse it will be, because it will become more expensive to hire a woman, and increase discrimination. A quota could also be interpreted as disqualification of women's work, implying that they would only get promotions through affirmative action:
If we want equal rights, we have to be equal in everything, in responsibilities and duties. I'm against quota. You already have this issue of maternity leave, which is only for women. Having benefits would be worse for us, because if it will get even more expensive to hire women, we won't get the job anyway. (Helena)
I think it would be worse creating this difference [quotas]. (Flavia)
Two of the interviewees were civil servants and they mentioned incentive programs adopted in their companies. In both cases, acceptance was difficult, but over the years, the policy was incorporated into managerial attitudes and its fulfillment did not require much effort, it became part of the organizational culture.
We observed that the higher the positions, the greater the discrimination suffered by women, from prejudice to the constant questioning of their position. Discrimination, however, starts from the moment women enter the workplace, -their journey is a labyrinth where they often suffer from obvious prejudice and other discriminations in a more veiled way. Many do not even realize the situation in which they find themselves and do not consider certain comments in their daily lives offensive, even when they are present. While women do not come forward and stand up to discrimination and the unequal division of household chores and child care, women at the top will remain exceptions and isolated cases of success.
CONCLUSION
The objective of this study was to identify obstacles that occur throughout the career of Brazilian women and what they perceive as good leadership in their professional and personal life. What changes in the narrative collected from women, is the definition of a leader that gains more androgynous characteristics, mixing communal and agentic attributes such as communication and self-confidence. The women interviewed can see themselves as leaders and consider the contemporary leader as a more transformational person, characteristic that they attribute to themselves. Yet in the narrative observed from the interviews, men seem to be natural leaders. Schein, Mueller, Lituchy et al. (1996) confirmed the worldwide view that men are seen as natural leaders because they have more characteristics associated with leadership. Maybe that is why women are so tested, even by the team itself, in an attempt to prove that they should not be in the position of leader.
Women who seek to be leaders, in addition to having lower salaries and fewer promotions, often do not realize the prejudice around them. Because they do not always suffer from open prejudice, many find that it only exists with other people and do not understand certain malicious actions as prejudice.
Promoting diversity can bring diverse benefits to the organization as a whole (COX, 1994). However, most interviewees do not perceive women as part of a minority group in society and believe that affirmative action to ensure their inclusion in leadership positions is not necessary, even those who say they do not consider the ratio between men and women fair in such positions. Many argue meritocracy, stating that women are as competent as men and able to attain leadership positions. The fallacy of meritocracy lies in the false equality of social opportunities for both genders (BARBOSA, 1999), that is, it is not clear that men and women face different obstacles in their professional career.
Finally, this article contributed with an initial view of the situation of women in leadership positions, encouraging further studies involving men and their narrative about leadearship.
REFERENCES
ADAIR, J. The concise Adair on leadership. London: Thorogood, 2003.
AVOLIO, B.; BASS, B. Manual for the Multifactor Leadership Questionnaire (Form 5X). Redwood City: Mindgarden, 2002.
BARBOSA, L Igualdade e meritocracia. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1999.
BBC BRASIL. Calculadora revela desigualdade de genero no mundo. 2016. Available at: <http://www.bbc.com/portuguese/videos_e_ fotos/2015/11/151118_100w_calculator_vj_2015>. Accessed on: 1 Apr. 2018.
BENNETT M. Self-estimates of ability in men and women. Journal of Social Psychology, v. 137, p. 540-541, 1997.
COX, T. Cultural diversity in organizations: Theory, research, and practice. San Francisco: Berrett Koehler, 1994.
EAGLY, A. Female leadership advantage and disadvantage: resolving the contradictions. Psychology of Women Quarterly, v. 31, p. 1-12, 2007.
EAGLY, A.; CARLI, L. Women and the labyrinth of leadership. Harvard Business Review, v. 85, n. 9, p. 62-71, 2007.
EAGLY, A.; JOHANNESEN-SCHMIDT, M.; VAN ENGEN, M. Transformational, transactional, and laissez-faire leadership styles: a meta-analysis comparing women and men. Psychological Bulletin, v. 129, p. 569-591, 2003.
EAGLY, A.; KARAU, S. Role congruity theory of prejudice toward female leaders. Psychological Review, v. 109, p. 573-598, 2002.
GMI RATINGS. GMI Ratings' 2012 women on boards survey. 2012. Available at: <http://library.constantcontact.com/download/get/ file/1102561686275-86/GMIRatings_WOB_032012.pdf>. Accessed on: 17 Nov. 2014.
GOLEMAN, D. What makes a leader? Harvard Business Review, v. 76, n. 6, p. 93-102, Nov./Dec. 1998.
HALPERN, D. F.; CHEUNG, F. M. Women at the top. London: WileyBlackwell, 2010
HEILMAN, M. Description and prescription: how gender stereotypes prevent women's ascent up the organizational ladder. Journal of Social Issues, v. 57, n. 4, p. 657-674, 2001.
HOYENGA, K. B.; HOYENGA K. T. Gender-related differences: origins and outcomes. Boston: Allyn & Bacon, 1993.
JONSEN, K.; MAZNEVSKI, M.; SCHNEIDER, S. Gender differences in leadership: believing is seeing - implications for managing diversity. Equality, Diversity and Inclusion: An International Journal, v. 29, n. 6, p. 549-572, 2010.
MARTINHO RODRIGUES, R. Pesquisa academica: como facilitar o processo de preparaçao de suas etapas. Sao Paulo: Atlas, 2007.
MCKINSEY & COMPANY. A CEO's guide to gender equality. 2015. Available at: <https://www.mckinsey.com/global-themes/leadership/ a-ceos-guide-to-gender-equality>. Accessed on: 1 May 2018.
OAKLEY, J. Gender-based barriers to senior management positions: understanding the scarcity of female CEOs. Journal of Business Ethics, v. 27, p. 321-334, 2000.
SANDBERG, S. Lean in: women, work and the will to lead. New York: Random House, 2013.
SCHEIN, V. Women in management: reflections and projections. Women in Management Review, v. 22, n. 1, p. 6-18, 2007.
SCHEIN, V. et al. Think manager - think male: a global phenomenon?. Journal of Organizational Behavior, v. 17, p. 33-41, 1996.
WILLIAMS, M. Leadership for leaders. London: Thorogood, 2005.
Lygia Gonçalves Costa Hryniewicz
PhD in Sociology (IUPERJ-UCAM); Professor at the Brazilian School of Public Administration and Business, Rio de Janeiro - RJ, Brazil. E-mail: lygia.costa@fgv.br
Maria Amorim Vianna
Master in Digital Anthropology (University College London- UCL); DreamWorks Marketing at NBCUniversal, London, UK. E-mail: manaamorim@idoud.com
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
© 2018. This work is published under https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/ (the “License”). Notwithstanding the ProQuest Terms and Conditions, you may use this content in accordance with the terms of the License.
Abstract
A representatividade da mulher em altos cargos vem aumentando ao longo dos anos, mas as dificuldades ainda persistem. O objetivo deste artigo é identificar os obstáculos que se apresentam ao longo da carreira da mulher brasileira e entender como ela se reconhece na posiçao de líder, quais sao seus principais desafios e como ela pode superá-los para atingir a igualdade - nao apenas no trabalho, mas também no lar. Trata-se de uma pesquisa de campo. Selecionamos, por meio de rede social própria, 15 mulheres que atuavam como líderes em organizaçöes públicas e privadas no Rio de Janeiro, entre 2014 e 2016. Os resultados mostraram que essas mulheres tinham uma noçao mais andrógina de liderança do que a sugerida pela literatura e que elas se viam como merecedoras desse papel, apesar de sofrerem vários tipos de preconceito em suas trajetórias.
Alternate abstract:
The representation of women in senior management positions has increased over the years, but the obstacles still remains. This study aims to understand how Brazilian women see themselves as leaders and what the main challenges are and how to overcome them to achieve equality not only in the workplace but also at home. To meet the objective of the research, we opted for a field research methodology. Were selected 15 women to interview, which worked at public and private organizations as leader, in Rio de Janeiro, between years 2014 and 2016. The results showed that women have a more androgynous notion of leadership than what was suggested by the literature and that they see themselves as worthy of this role despite suffering several cases of prejudice in their careers.
Alternate abstract:
La representatividad de la mujer en altos cargos viene aumentando a lo largo de los años, pero los obstáculos aún persisten. El objetivo de esta investigación que es cómo la mujer brasileña se reconoce en la posición de líder y cuáles son sus principales desafíos, cómo superarlos para llegar a la igualdad no sólo en el trabajo, sino también, en casa. En la metodología se utilizó un trabajo de campo. Seleccionamos, a través de una red social propia, 15 mujeres, que trabajaban en organizaciones públicas y privadas como líderes, en Río de Janeiro, entre los años 2014 y 2016. Los resultados mostraron que las mujeres tenían una noción más andrógena de liderazgo que la sugerida por la literatura y que ellas se veían como merecedoras de ese papel, a pesar de sufrir varios tipos de prejuicios en sus trayectorias.
You have requested "on-the-fly" machine translation of selected content from our databases. This functionality is provided solely for your convenience and is in no way intended to replace human translation. Show full disclaimer
Neither ProQuest nor its licensors make any representations or warranties with respect to the translations. The translations are automatically generated "AS IS" and "AS AVAILABLE" and are not retained in our systems. PROQUEST AND ITS LICENSORS SPECIFICALLY DISCLAIM ANY AND ALL EXPRESS OR IMPLIED WARRANTIES, INCLUDING WITHOUT LIMITATION, ANY WARRANTIES FOR AVAILABILITY, ACCURACY, TIMELINESS, COMPLETENESS, NON-INFRINGMENT, MERCHANTABILITY OR FITNESS FOR A PARTICULAR PURPOSE. Your use of the translations is subject to all use restrictions contained in your Electronic Products License Agreement and by using the translation functionality you agree to forgo any and all claims against ProQuest or its licensors for your use of the translation functionality and any output derived there from. Hide full disclaimer
Details
1 FUNDAÇAO GETULIO VARGAS (FGV EBAPE) / ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇAO PÚBLICA E DE EMPRESAS, Rio DE JANEIRO- RJ, BRASIL
2 NBCUNIVERSAL, LONDRES, REINO UNIDO