* RESUMO: Este trabalho utiliza como corpus de análise os dados coletados pela equipe do Projeto Atlas Linguístico do Brasil em très regiöes: Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Os dados referem-se às cidades do interior e às capitais de cada estado, coletados junto a informantes selecionados segundo o perfil estabelecido. Nesta oportunidade, objetiva-se discutir a distribuiçâo diatópica das variantes lexicais para a questáo 132 - "Criança pequenininha, a gente diz que é bebé. E quando ela tem de 5 a 10 anos, do sexo masculino? " - do Questionário Semântico-Lexical (COMITÉ NACIONAL DO PRO JETO ALIB, 2001). A metodología utilizada envolveu análises descritivas e inferenciais pertinentes ao estudo. Para tanto, oito hipóteses foram testadas no sentido de averiguar o comportamiento e a distribuiçâo diatópica das cinco variantes mais produtivas no conjunto de respostas. Os principáis resultados observados indicam que as variantes apresentam comportamiento distinto nas très regiöes: (i) a variante "menino" apresenta distribuiçâo homogénea nos dez estados; (ii) as formas lexicais "guri" e "piá" possuem distribuiçâo heterogénea na regiâo Sul; (iii) as variantes de etimología indígena ("guri" e "piá") sâo mais representativas nas regiöes Sul e Centro-Oeste; (iv) há urna maior representatividade da variante "moleque" (étimo africano) na regiâo Sudeste, principalmente em Sâo Paulo e Minas Gerais.
* PALAVRAS-CHAVE: Projeto ALiB. Dialetologia. Variantes lexicais.
Introduçâo
O léxico de urna lingua é o conjunto de palavras criadas e assimiladas pelo homem no decorrer da historia e resulta do processo de nomeaçâo e de interaçâo daquele com o meio em que vive. É gerado ao longo do tempo e, por meio de seu estudo, é possível detectar influencias socioculturais e históricas adquiridas em seu processo de formaçâo. Segundo Isquerdo (2007), o léxico representa aínda um aspecto diferenciador no que se refere à variaçâo lingüística, sobretudo, a geográfica, pois além de evidenciar diferenças de urna regiâo para outra, demonstra também a conséquente mobilidade dessas diferenças de um espaço para outro. Dessa forma, verificar as especificidades lexicais de cada área geográfica é urna tarefa desafiadora, dada a dinamicidade da lingua e a disseminaçâo de variantes.
Os dados coletados para a elaboraçâo do Atlas Lingüístico do Brasil1 tém contribuido para a descriçâo do léxico das diversas regiöes do país. Dentre os trabalhos mais recentes, citam-se como exemplos os de Isquerdo (2009), Romano e Aguilera (2009), Aguilera (2010), Süva e Aguilera (2010), Paim (2011),Yida (2011), Silva-Costa e Isquerdo (2012) e Marins (2012), dentre outros. Esses trabalhos apontam para as diferenças regionais do léxico do portugués brasileño, ora confirmando a proposta de divisäo dialetal de Nascentes (1953), sob a perspectiva lexical, ora evidenciando particularidades que caracterizam cada urna das regiöes, sobretudo, por influencias sócio-históricas do processo de ocupaçâo e povoamento.
Interessa-se, neste estudo, verificar a variaçâo lexical dos designativos para "a criança que tem entre cinco e 10 anos do sexo masculino" relativa à questäo 132 do Questionário Semántico Lexical (QSL) do ALiB junto a informantes naturais de très regiöes brasüeñas: Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Busca-se, portanto, na historia social de cada urna dessas regiöes, os indicios da motivaçâo para a predomináncia de urna variante em detrimento de outras.
Breve quadro histórico: os processos de ocupaçâo
O povoamento e desenvolvimiento das regiöes Sudeste, Centro-Oeste e Sul do Brasü deve-se a très importantes movimientos de ocupaçâo humana: ás Bandeñas, ao Tropeirismo e à Marcha para o Oeste. Esses movimientos deixaram marcas em cada um dos estados interferindo na cultura e nos hábitos dos grupos humanos que ali se formaram, dentre as quais interessam-se as deixadas no léxico, que evidenciara rastros da sócio-história.
Sabe-se que a ocupaçâo do interior do Brasü näo ocomeu inmediatamente à chegada dos portugueses à nova tema, pois, inicialmente, o processo de ocupaçâo deu-se "[...] em face das condiçôes apresentadas pelo meio físico." (DIÉGUES JÚNIOR, 1960, p.38). Assim, de inicio, os colonizadores ocuparam o litoral do país, desenvolvendo a vida colonial em dois núcleos principáis, um localizado ao nordeste (Pemambuco/Bahia) e um ao sul (Sao Paulo).
De acordo com Ribeiro (1995, p.364), "[...] enquanto os núcleos açucareiros da costa nordestina cresciam e enriqueciam, a populaçâo paulista revolvia-se numa economia de pobreza.", desenvolvendo-se ali urna sociedade esparsa.
Essa pobreza, que está na base tanto das motivaçôes quanto dos hábitos e do caráter do paulista antigo, é que fazia deles um bando de aventúrenos sempre disponível para qualquer tarefa desesperada, sempre mais predispostos ao saqueio que à produçâo. (RIBEIRO, 1995, p.365).
No afä de aprisionar indios añedios e principalmente encontrar metáis preciosos, a populaçâo paulista começou a se deslocar para o interior. Ñas palavras de Diégues Júnior (1960, p.235), "Saem de Säo Paulo as bandeiras que vâo devassar os sertôes; penetraçâo que se inicia no sáculo XVI, se desenvolve no XVR e alcança a sua fase de esplendor no sáculo XVIII." Assim, foi a partir da capitanía de Säo Vicente que se inadiou a ocupaçâo territorial para o sul e para o centro; igualmente para o oeste.
Em direçâo norte de Säo Paulo o bandeirismo realizou a empresa de desbravamento do territorio atual das Minas Gerais. E em direçâo oeste foram alcançados por um caminho, Cuiabá, e por outro - éste, através do territorio mineiro - Goiás. (DIÉGUES JÚNIOR, 1960, p.272).
Em direçâo ao sul do país, nâo foi diferente a motivaçâo dos bandeirantes paulistas; porém, se nâo encontravam ouro, encontravam os bandeirantes outro motivo para continuaren! a caminhada: apareceram campos e campiñas adequados para a criaçâo de animais de carga.
Sabe-se que, já nos começos do sáculo XVII, bandeirantes paulistas assolavam o territorio que é hoje o Paraná, seguindo-se para a ilha de Santa Catarina, atualmente Florianópolis; e, nessa marcha para o sul, chegaram à Laguna (DIÉGUES JÚNIOR, 1960). Porém, com o passar do tempo, muitos homens bandeirantes que inicialmente se dedicavam ao apresamento dos indígenas e à exploraçâo de metáis preciosos se fixaram em terras no sul e, paulatinamente, foram se integrando ao pequeño comércio praticado ali no lombo de muías.
Ao longo do sáculo XVm, a economia colonial crescia e consequentemente acentuava-se a necessidade de abastecimento de géneros alimenticios das cidades que floresciam, principalmente, em Minas Gerais. Com o advento das minas de ouro, houve um aumento da demanda de came (charque) e também de couro para os alforjes do transporte do ouro à corte portuguesa. A soluçâo foi recorrer ao transporte desses materiais às muías, animais resistentes à carga e às longas distâncias em caminhos muitas vezes impraticáveis, vindos do sul para a regiäo mineradora. Dessa forma, surgiu urna nova economia baseada no transporte e comércio desses animais, oTropeirismo.
Os tropeiros saíam do Rio Grande do Sul, cruzavam o Paraná, com destino a Sorocaba, no Estado de Sáo Paulo, onde ocorriam durante todo o ano grandes feiras para a comercializaçâo dos animais e géneros para os garimpeiros e exploradores. Urna das rotas mais importantes é o denominado Caminho de Viamäo, que safa de Campos de Viamäo (RS), passando por Vacaria (RS), Lages e Curitibanos (SC), Rio Negro, Lapa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul e Jaguariaíva (PR), Itapetininga e Sorocaba (SP). Além desse movimiento efetuar o escoamento da produçâo económica, deve-se a ele a difusäo de hábitos e costumes, haja vista que os tropeiros levavam consigo a sua cultura por onde passavam, sendo responsáveis pelo florescimento de cidades que se iniciaram com os ranchos das tropas (STECA; FLORES, 2002). Porém, com o passar do tempo, o desenvolvimiento da sociedade cafeeira e o investimiento dos grandes baróes na rede ferroviária, atrelado às melhorias no transporte fluvial, levaram o movimiento das tropas ao declínio, sendo gradativamente absorvido por outras formas de transporte.
Se, na regiäo Sul, houve a intensiva influência dos tropeiros no processo de ocupaçâo e povoamento; no Centro-Oeste, foi marcante a influência do movimiento denominado Marcha para o Oeste, plano govemamental que teve seu inicio durante o Estado Novo no mandato do presidente Getúlio Vargas.
No cenário da Segunda Guerra Mundial, difundia-se a ideia do "Espaço Vital", ou seja, o ideal de que os países mais desenvolvidos deveriam ocupar áreas pouco exploradas pertencentes aos países menos desenvolvidos, o que colocava a regiäo Centro-Oeste do Brasil como um alvo potencial para ocupaçâo (MANDEL, 1989). Ameaçado por esse prognóstico, o govemo brasileño decidiu promover a ocupaçâo e o progresso do Centro-Oeste, subsidiando o acesso às terras com a finalidade de diminuñ o desequüíbrio demográfico e incentivar a migraçâo para as áreas que produziam a matéria-prima e os alimentos, o que contribuñia, consequentemente, à industrializaçâo do Sudeste do país. Dessa forma, essa regiäo até entäo pouco habitada passou a receber migrantes de todos estados brasüeños, o que promoveu um intenso progresso e um aumento demográfico significativo (DUARTE, 1989).
Assim, esses movimientos de ocupaçâo e povoamento deixaram marcas na economia e, principalmente, na cultura dessas regióes, bem como rastros de um mosaico lexical que se compöe e evidencia traços da sócio-história de cada regiäo.
Registro das principáis variantes nas fontes lexicográficas
0 questionário do Projeto ALiB apresenta 15 questöes referentes à subárea semántica "Ciclos da Vida", das quais, para este trabalho, foi selecionada a questáo de n° 132, que traz no caput a seguinte formulaçâo: "Criança pequemninha, a gente diz que é bebé, e quando ela tem de 5 a 10 anos, do sexo masculino?" (COMITÉ NACIONAL DO PRO JETO ALIB, 2001, p.31). Dentre as possíveis respostas, espera-se que os informantes apresentem itens lexicais como:"menino", "garoto", "moleque", "guri" e "piá", dependendo da localidade ou até mesmo do sexo, idade ou escolaridade dos informantes.
Cada urn desses itens apresenta diferentes formaçôes etimológicas e diferentes dataçôes na lingua portuguesa, o que revela tragos da formagáo sóciohistórica do portugués. Assim, foram consultados sete dicionários para verificar as acepçôes, a dataçâo e a etimologia de cada um dos vocábulos, a saber: dois dicionários antigos,Bluteau (1728) e Silva (1813); dois dicionários contemporáneos gérais do portugués, Houaiss e Villar (2001) e Ferreira (2004); dois etimológicos, Nascentes (1966) e Cunha (1986), e um dicionário histórico específico em palavras de origem tupi, Cunha (1999).
O vocábulo "menino" está registrado tanto em Bluteau (1728) quanto em Silva (1813) corn a mesma acepçâo "Rapaz, que ainda näo chegou aos sete anos de idade" (BLUTEAU, 1728, p.422) e "Diz-se da idade do homem até 7 annos" (SILVA, 1813, p.288). Nascentes (1966) afirma que o vocábulo tem origem controversa e, de acordo com Cunha (1986) e Houaiss e Villar (2001), data do século xm, documentado ñas fichas do Vocabulário Portugués Medieval. Sobre a etimologia do vocábulo, Houaiss e Villar (2001) afirmam que Coraminas rejeita a hipótese de a palavra "menino", em portugués, ser um empréstimo do espanhol; para o dicionarista, trata-se de um de tantos termos acariciativos que as máes inventara para os seus filhos e, nessas condiçôes, explica-se que o vocábulo seja aparentado com o francés antigo mignot (sXIII), modificado para mignon, "gracioso, gentil, bonito", no cataláo (sXEI) apresenta-se como minyó "rapaz"] forma histórica. sXIII menino, sXIII menyo, sXIII mininno, 1345, meninho, sXIV menihos, sXV mynyno.
O vocábulo "garoto", nos dicionários consultados, apresenta dentre outras acepçôes algumas que se referem à criança, na maioria das vezes, com sentido pejorativo. Bluteau (1728) näo registra esse vocábulo e somente em Silva (1813) se encontra o primeiro registro na lingua. Segundo o lexicógrafo, o vocábulo refere-se ao "rapaz brejeiro, mal criado, petulante" (SILVA, 1813, p.80). Em Houaiss e Villar (2001), o verbete "garoto" apresenta quatro acepçôes, das quais duas concemem à criança do sexo masculino, sendo urna de caráter depreciativo: (i) "diz-se do rapaz ou menino que brinca ou anda vadiando pelas ruas"; e (ii) "rapaz imberbe, `adolescente, menino". Em Ferreira (2004), dentre as sete acepçôes abonadas, destacam-se très, das quais duas também atribuem um caráter negativo à forma lexical: (i) "que brinca ou anda vadiando pelas ruas; travesso"; (ii) "rapaz sem educaçâo, que anda a vadiar pelas ruas"; e (iii) "rapaz imberbe" (FERREIRA, 2004). Segundo Cunha (1986), a origem etimológica do vocábulo é obscura; porém, Nascentes (1966, p.351) afirma que "José Pedro Machado vé em -oto um sufixo diminutivo e relaciona o radical com o francés gars.", ou seja, garçon, vocábulo este usado na lingua francesa, de acordo com o Dicionárío Larousse (GALVEZ, 2005, p.159), para designar o "menino", assim como gamin.
O item lexical "moleque" demonstra a influéncia das línguas africanas no léxico do portugués. Bluteau (1728, p.541) näo considera esse vocábulo como urna forma típica do portugués europeu, pois, no verbete "moleque", afirma que "Veyo-nos esta palavra do Brasil". Cunha (1986, p.528) registra que esse vocábulo veio do quimbundo muíeke, para designar o "menino", "rapazote" corn a dataçâo de 1731 e, no século XIX, essa forma lexical já se encontrava dicionarizada, pois Silva (1813, p.310) registra que "moleque" é o "pretinho, negro pequeño". Ferreira (2004) apresenta dez acepçôes para o vocábulo, das quais destacam-se as quatro primeiras: "l.Negrinho. 2.Bras. Individuo sem palavra, ou sem gravidade. 3.Bras. Canalha, patife, velhaco. 4.Bras. Menino de pouca idade." (FERREIRA, 2004). Houaiss e Villar (2001), por sua vez, apresentam dezessete acepçôes para o verbete "moleque" das quais 13 säo para emprego como substantivo masculino e quatro como adjetivo. Merecem destaque as seguintes acepçôes: "1. menino novo, de raça negra ou mista. 2. garoto de pouca idade. 3. menino criado à solta; menino de rúa. 4. garoto travesso." (HOUAISS; VILLAR, 2001). Segundo este mesmo lexicógrafo, a forma lexical "moleque" é usada também em Moçambique para designar o empregado doméstico geralmente em fase escolar.
As outras duas formas lexicais ("piá" e "guri"), por sua vez, evidenciam a influéncia das línguas indígenas no portugués. Nenhuma das duas formas se encontra documentada em Bluteau (1728) e Silva (1813). De acordo com Cunha (1986), a forma lexical "guri" veio do tupi ü ï'ri com a acepçâo que designa o "bagre novo" (tipo de peixe), por extensäo de sentido, a criança. Aínda nesta entrada, o etimologista remete o usuário ao verbete "guiri - 'sm bagre' / curi 1587, guori datada aproximadamente 1631". Houaiss e Villar (2001), em contrapartida, registram a dataçâo de 1890, documentada no Dicionárío Etimológico da Lingua Portuguesa de José Pedro Machado (1952). Para o lexicógrafo, dentre outras acepçôes, trata-se de um regionalismo brasileño para designar o "menino", a "criança". Ferreña (2004), apesar de apresentar a mesma acepçâo para o vocábulo, traz outra etimologia. Segundo o dicionarista, o vocábulo "guri" também vem do tupi, porém com o sentido de pequeño, näo fazendo, portanto, alusäo ao peixe. No entanto, Nascentes (1966) esclarece que o vocábulo "guri" veio do tupi ki 'rí "pequeño" e afirma que se trata do "bagre novo", por metáfora: "criança", portanto, em consonáncia ao que afirma Cunha (1986).
Quanto ao vocábulo "piá", os dois dicionários mais antigos da lingua portuguesa, Bluteau (1728) e Silva (1813), e os dois dicionários de Cunha, um etimológico (1986) e um histórico sobre as palavras portuguesas de origem tupi (1999), nao registram o verbete. Encontra-se em Nascentes (1966, p.578) que o item é de origem tupi, p'i'á, e designa o "coraçâo, estómago, entranhas, vetrecha, miúdos" e, por extensäo, o "produto das entranhas". De acordo com Houaiss e Villar (2001), o verbete refere-se ao menino indígena e, análogamente, é empregado para se referir ao menino mestigo de indígena com branco ou mesmo qualquer changa do sexo masculino. Aínda segundo o lexicógrafo, trata-se de um regionalismo de Santa Catarina e Rio Grande do Sul para designar o peáo menor de idade que náo é de raga branca (HOUAISS; VILLAR, 2001). Ferreira (2004) traz como um brasileirismo para designar o indio jovem ou mestigo jovem de branco com indio; pequeño caboclo. Nessa mesma entrada, remete o usuário ao verbete "menino", tratando-se, pois, de um sinónimo. Em Santa Catarina e Rio Grande do Sul é urna variante usada para designar "qualquer menor que náo é branco e trabalha como peáo de estáncia" (FERREIRA, 2004), ou seja, a mesma acepgáo dada por Houaiss e Villar (2001).
Observa-se, assim, que as informagóes constantes dos dicionários ratificam a influencia de fatores sociais e históricos na constituigáo do léxico portugués evidenciando, inclusive, os tragos deixados pelos indígenas e africanos que, em conjunto com o elemento portugués, constituirán! a base da sociedade brasileña.
Materials e métodos
Os dados analisados foram coletados pela equipe do ALiB em 135 municipios brasüeños ñas regióes Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Em cada urna das unidades da Federagáo, foram selecionadas como pontos de inquéritos diferentes cidades, considerando-se a importáncia histórico-cultural da localidade e, também, a densidade demográfica do estado. Assim, o número de pontos lingüísticos em cada unidade dñere de urna para a outra. Em cada ponto, foram entrevistados quatro informantes de ambos os sexos com nivel de escolaridade fundamental,2 perfazendo um total de 527 informantes.3 Desse modo, teve-se acesso aos dados relativos a nove localidades do estado do Mato Grosso; seis do Mato Grosso do Sul; nove de Goiás; 17 municipios de Minas Gerais;4 38 de Säo Paulo; cinco localidades do Espirito Santo; nove do Rio de Janeiro;517 municipios do Paraná; 10 localidades de Santa Catarina; e, por fim, 15 do Rio Grande do Sul.6
Para o armazenamento e análise dos dados coletados foi utilizado o software SPSS7 (Statistical Package for the Social Sciences) versäo 17.0 (SPSS, 2008), o que possibilitou estabelecer as análises descritivas e inferenciais pertinentes ao estudo.
As variáveis numéricas, ou seja, o número de ocorrências de cada variante, foram expressas em média e desvio padräo. Quanto às variáveis categóricas, aqui representadas pelas variantes lexicais, foram utilizadas, para sumarizá-las, frequéncias simples e relativas (números e porcentagens) e intervalo de confiança de 95%. Utilizou-se o teste estatístico de Kolmogorov-Smimov (KS) para avaliar o pressuposto de normalidade, isto é, verificar a aderéncia das variáveis estudadas à distribuiçâo de probabilidade normal. Valores de p-valor8 maiores que 0,05 indicam que a variável tem adesâo à distribuiçâo normal. Para a comparaçâo de médias entre grupos, necessária para os testes de hipóteses relativas às variáveis categóricas, foi considerada a adesâo das variáveis à distribuiçâo normal. Para tanto, utilizou-se o teste de Kruskall-Wallis para comparar mais que dois grupos independentes, no caso os estados e, em alguns casos, as mesorregiöes desses estados. Os dados referentes a cada variante seräo analisados segundo sua ocorréncia. Os resultados säo considerados estatisticamente significantes se p-valor < 0,05.
Análise dos dados
Contextualizaçâo da análise estatística
A análise estatística dos resultados obtidos constituí um importante instrumento na validaçâo desses dados. Resumidamente, o objetivo consiste em extrapolar os resultados da análise para a populaçâo estudada, neste caso, os informantes representativos do falar de cada regiäo brasileña. Este trabalho apresenta alguns testes de hipóteses explorados visando a inferir conclusóes sobre esta populaçâo. Na prática, os testes de hipóteses säo utüizados para realizar inferencias estatísticas. No caso das inferencias, por meio do intervalo de confiança, busca-se delimitar o parámetro populacional desconhecido. Assim, formula-se urna hipótese quanto ao valor do parámetro e, com base nos elementos amostráis, aplica-se um teste que indicará a aceitaçâo ou rejeigäo da hipótese formulada.
Em um teste de hipóteses, podem-se manipular duas categorías: hipótese nula e hipótese alternativa. A primeira refere-se à hipótese que se deseja provar como sendo verdadeira, ao passo que a segunda consiste na negaçâo da primeira. O teste pode conduzir à aceitaçâo ou à rejeigäo da hipótese nula, que corresponde, respectivamente, à negaçâo ou à afirmaçâo da hipótese alternativa. Neste ámbito, encontra-se aplicado o nivel de signiflcáncia de um teste, que consiste na probabilidade máxima de rejeitar a hipótese nula. Ou seja, o nivel de signiflcáncia de 5% (amplamente utilizado em pesquisas experimentáis) corresponde à probabilidade máxima de se rejeitar a hipótese nula quando, de fato, ela é verdadeira, caracterizando o erro tipo I (MAGALHÄES; LIMA, 2001).
No estudo, oito hipóteses foram testadas com base nos dados coletados: (1) as ocorréncias das variantes das très regiöes apresentam comportamiento homogéneo; (2) a variante "menino" apresenta homogeneidade em sua distribuiçâo nos dez estados; (3) a variante "moleque" apresenta distribuiçâo homogénea na regiäo Centro-Oeste; (4) a variante "guri" apresenta distribuiçâo homogénea nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; (5) as variantes "moleque" e "garoto" apresentam homogeneidade no estado do Rio de Janeño; (6) a variante "garoto" apresenta distribuiçâo homogénea no estado de Säo Paulo; (7) a variante "guri" apresenta homogeneidade na regiäo Sul; (8) a variante "piá" possui distribuiçâo homogénea na regiäo Sul.
Tratamento dos dados
Para a questäo 132 do QSL foram documentados 960 registros, distribuidos em nove variantes lexicais,9 conforme se observa na Tabela 1.
A variante mais produtiva, no universo de todas as respostas, é "menino", que representa 40,52% do corpus, seguida de "moleque" (18,85%), "guri" (15,94%), "garoto" (11,25%), e "piá" (8,44%). Em menor produtividade, encontramse "rapazinho" (2,08%), "pivete" (1,77%) e, corn menos de um por cento de representatividade, foram documentadas as variantes "homenzinho" (0,73%) e "pirralho" (0,42%). A Figura 1 apresenta a produtividade dessas variantes por regido administrativa.
"Menino" apresentou-se como a variante mais produtiva nas très regiöes: Sudeste (48,13%), Centro-Oeste (41,48%) e Sul (29,48%). No Centro-Oeste e no Sul, a segunda variante mais produtiva foi "guri" com 26,14% e 27,05%, respectivamente. A forma lexical "moleque" foi a segunda variante mais produtiva nos municipios da regido Sudeste, representando 25,27% das respostas, seguindo-se da variante "garoto" (14,95%). Essas formas ("moleque" e "garoto"), no Centro-Oeste, sao as terceira e quarta mais produtivas, com 15,91% de produtividade para "moleque" e 8,52% para "garoto". Na Regido Sul, por sua vez, destaca-se a variante "piá" (21,58 %) como a terceira mais representativa. As outras variantes pouco produtivas "rapazinho", "pivete" e "homenzinho" estiveram presentes nas très regiöes com baixo índice de representatividade e a forma lexical "pirralho" ocorreu em algumas localidades do Centro-Oeste e do Sudeste, também com baixo índice percentual (0,57% e 0,66%, respectivamente).
Com vistas a facilitar a representaçâo cartográfica e o tratamento estatístico dos dados, a análise apresentada no estudo se atém mais detalhadamente a cinco variantes mais produtivas: "menino", "moleque", "guri", "garoto" e "piá". Para o teste das hipóteses formuladas na pesquisa, fez-se necessário analisar o comportamento das referidas variantes caracterizadas como variáveis aleatorias dependentes em diferentes contextos. Para isso, foi utilizado o teste KS objetivando verificar se os dados apresentam aderência à distribuido de probabilidade normal. A Tabela 2 apresenta os resumos estatísticos segundo os grupos de regiöes.
Neste momento, é importante destacar que a distribuiçâo normal é uma das mais importantes distribuiçôes da estatística, sendo também conhecida como distribuiçâo de Gauss ou Gaussiana, e possui grande uso na estatística inferential.
A partir dos dados apresentados na Tabela 2, nota-se que, na regido CentroOeste, as variantes "menino", "moleque" e "guri" apresentam aderência à distribuiçâo normal (p-valor > 0,05). No Sul, apenas as variantes "guri" e "piá" apresentam o mesmo comportamiento. Pode-se destacar, a partir dos dados, que na regido Sudeste nenhuma variante adere à normal. Portanto, como nem todas as formas apresentam aderência a essa distribuiçâo de probabilidade, considerase que os itens lexicais estudados ndo apresentam aderência à normal, sendo necessária a aplicaçâo de testes estatísticos ndo paramétricos para testar as hipóteses formuladas no estudo. Vale ressaltar que a aplicaçâo de testes ndo paramétricos ocone quando a populaçâo dos dados a serem analisados ndo possui distribuiçâo normal.
Outro aspecto importante a ser verificado diz respeito à análise de variáncia, que consiste na comparaçâo de dois ou mais grupos em relaçâo à localizaçâo. Para exemplificar, pode-se considerar a situaçâo em que se pretende avaliar se très grupos apresentam desempenhos similares em urna determinada avaliaçâo. A análise de variáncia procura responder a questôes deste tipo por meio da comparaçâo das localizaçôes dos diferentes grupos. Esta comparaçâo é feita a partir da dispersäo presente no conjunto de dados (VIEIRA, 2006).
Com o objetivo de verificar se as variâncias das ocorrências säo homogéneas nas très regiöes analisadas foi aplicado o teste de Kruskall-Wallis (Tabela 3). 0 resultado mostra que o teste alcançou um nivel significativo, podendo-se assumir que as variâncias dos grupos näo säo homogéneas. A partir da análise de variância, nota-se que há diferença significativa entre as médias de todas as variantes (p-valor < 0,05). Assim, de acordo com os dados apresentados, conduise que as regiöes näo apresentam comportamiento homogéneo e a hipótese nula 1 pode ser rejeitada.
Devido ao fato de "menino" ser a variante mais produtiva, presente em todos os estados, a próxima hipótese averiguada consistiu em verificar se a referida forma lexical apresenta distribuiçâo homogénea nos dez estados considerando as mesorregiöes contempladas pela rede de pontos.10 Novamente foi aplicado o teste de Kruskall-Wallis (Tabela 4).
Os resultados mostram que o teste näo alcançou um nivel significativo, podendo-se assumir que as variâncias dos estados sao homogéneas. A partir da análise de variância (Tabela 5), nota-se que näo há diferença significativa entre as médias da variante "menino" (p-valor > 0,05). Assim, de acordo com os dados apresentados, conclui-se que os estados apresentam comportamiento homogéneo e a hipótese nula 2 pode ser aceita. A seguir, passa-se a apresentar os dados considerando individualmente cada urna das très regiöes do país, bem como os estados que as constituem.
Dos 960 registros documentados no cómputo geral das oconéncias, 176 referem-se aos dados coletados nos municipios da regido Centro-Oeste, distribuidos pelos très estados: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. Em cada urn desses estados, as variantes lexicais obtiveram diferentes índices de oconência. Em dados percentuais, apresenta-se a distribuiçâo visualizada na Figura 2.
Observa-se que a variante "menino" predominou nos très estados, obtendo maior produtividade em Goiás (52,73%). A variante "moleque" também foi mais produtiva nesse estado (23,64%), ao passo que "guri" näo foi täo significativa (5,45%) se comparada com a produtividade dessa variante em Mato Grosso (36,23%) e Mato Grosso do Sul (34,62%), que apresentaram índices percentuais próximos.
Corn exceçâo do ponto 105 (Diamantino-MT), a variante "menino" esteve presente em todas as outras 23 localidades que compöem essa regido. Assim, para a representaçâo cartográfica, essa variante foi desconsiderada por apresentar urna distribuiçâo diatópica homogénea na regido Centro-Oeste. A Figura 3 mostra a distribuiçâo diatópica de quatro variantes lexicais, a saber: "moleque", "guri", "garó to" e "piá".
Os dados da carta lingüística (Figura 3) ratificam as informaçôes constantes da Figura 2, ou seja, há urna continuidade na distribuiçâo diatópica da variante "guri" na rede de pontos do Mato Grosso e do Mato Gosso do Sul (oconência em todos os pontos), adentrando apenas duas localidades goianas, ponto 124 (Jataí) e ponto 125 (Cataläo), localizadas na Mesonegiâo do Sul Goiano. Ou seja, a forma lexical "guri" näo esteve presente em sete das nove localidades que compöem a rede de pontos em Goiás, que, por sua vez, apresenta urna distribuiçâo uniforme da variante "moleque", pois há registros dessa variante em todas as localidades selecionadas. Nesse sentido, a terceira hipótese do estudo consistiu em averiguar se "moleque" apresenta homogeneidade em sua distribuiçâo na regiäo CentroOeste. Os dados obtidos pelo teste de Kruskal-Wallis revelam que a hipótese nula 3 pode ser aceita (x2= 1,082; df = 2; p-valor = 0,582).
A continuidade na distribuiçâo diatópica de "guri" nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul é conoborada pelos resultados oriundos do teste de Kmskal-Wallis (p-valor = 0,271 em MT e p-valor = 0,407 em MS) quando aplicado nos dados dos referidos estados. Dessa forma, a hipótese nula 4 pode ser aceita, ou seja, "guri" apresenta distribuiçâo homogénea nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A variante "moleque" adentra cinco pontos lingüísticos do estado do Mato Grosso: dois localizados na Mesorregiáo do Nordeste Mato-grossense (ponto 104 - Säo Félix do Araguaia e ponto 109 - Barra do Garças), no Centro Sul Matogrossense (ponto 108 - Cuiabá), na Mesorregiáo do Sudeste Mato-grossense (ponto 106 - Poxoréu) e no Sudoeste Mato-grossense (ponto 107 -Bela Vista da SantíssimaTrindade). Essa variante expande-se também pelo Mato Grosso do Sul em quatro localidades: duas na Mesorregiáo do Centro Norte do Mato Grosso do Sul (ponto 112 - Coxim e 115 - Campo Grande), urna na regiäo dos Pantanais Sul Mato-grossenses (ponto 113 - Corumbá) e ocorre em um ponto do leste do Mato Grosso do Sul (ponto 114 -Paranaíba). Observa-se, aínda, que há a predomináncia da variante "garoto" nos estados de Goiás e Mato Grosso do Sul, pois ocorreu na maioria dos pontos lingüísticos desses estados e está registrada em apenas quatro das nove localidades do estado do Mato Grosso. A variante "piá", por sua vez, näo foi documentada em Goiás, registrada em très localidades sul-matogrossenses e em apenas urna localidade do Mato Grosso.
Portanto, os dados apontam que na regiäo Centro-Oeste näo é possível tragar urna área de isoléxica para quatro variantes:
(i) Para "menino", pois apresenta distribuiçâo homogénea em todo o territorio.
(ii) Para "moleque", porque, apesar de concentrar maior distribuiçâo em Goiás, os dados demonstrara que näo há urna distribuiçâo continua dessa variante nos outros estados.
(iii) Para "garoto", pois apresenta urna distribuiçâo irregular, ou seja, näo há urna continuidade dessa variante no territorio, oconendo também isoladamente no norte do Mato Grosso (ponto 103 - Aripuanä).
(iv) Para "piá", pois está registrada em duas localidades ao norte (pontos 112 - Coxim e 113 - Commbá), urna ao sul do Mato Grosso do Sul (ponto 117 - Ponta Porä) e em apenas urna localidade ao norte do Mato Grosso (Aripuanä), portanto, em urna faixa territorial descontinua. Além disso, os relatos de alguns informantes indicara que se trata de urna variante de caráter diatópico, referente ao estado do Paraná. Apesar de urna informante do sexo feminino pertencente à primeria faixa etária (18-30 anos) do ponto 103 - Aripuanä - afirmar veementemente que usa a variante "piá" em seu idioleto,11 há o registro na fala de um informante dessa mesma localidade de que a variante "piá" tem um caráter diatópico, ou seja, pertence a outra regiäo, neste caso, ao estado do Paraná, conforme se observa no discurso transcrito ipsis litterís, a seguir:12
INF.-Ah, nóis já chama ele de Maciel: "oh Macielzinho vem cá" ele já cresceu... ((referindo-se ao neto))
INQ.- É, mas e se o senhor näo sabe o nome dele, na rúa...
INF.- Ah, näo nói chamamo... éh... na nossa, na nossa linguage, nóis chamava assim: "oh minino, vem cá", né, nóis chamava 'oh minino' [mi'ninu] vem cá. Já na lingua do pessoal aqui, daqui pra frente principalmente da regiäo do Paraná chama piá né: " oh piá [pi'a] vem cá".
INQ.- Mas aqui é menino?
INF.- Aqui é menino, na nossa trediçâo...(?=tradiçâo).
Por outro lado, a distribuigäo diatópica da variante "guri", conforme já observado, permite o tragado de urna área de isoléxica que contempla todo o estado do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul adentrando ao sul do estado de Goiás, o que revela, portanto, urna diferenga lingüística entre Goiás e os outros estados que compöem essa regiäo. Essa diferenga lingüística é evidenciada, inclusive, no discurso dos informantes, conforme se observa no trecho transcrito relativo à fala de um informante13 de Goiánia (ponto 123):
INQ.- O senhor chama assim: "Ô changa, venha pra cá?", se for do sexo masculino?
INF.- Minino [mi'ninu], assim num tem né...
INQ.- Menino?
INF.- É.
INQ.- Conhece por algum outro nome?
INF.- Parece que no Mato Grosso fala guri [gu'ri] né.
INQ.- É?
INF.- É, o guri. Chama de guri.
INQ.- Aqui fala guri?
INF.- Näo, aqui num chama de guri näo, já vi falá em guri éh... no Mato Grosso, que eu tenho urna cumade lá e a gente ía pra lá, ela chamava os minino déla de guri.
INQ.- Aqui näo?
INF.- Aqui num... nunca vi falá näo.
Por fim, aínda no Centro-Oeste, das 176 oconéncias documentadas, 10 délas referem-se a quatro variantes menos produtivas, a saber: "rapazinho" (cinco registros), "pivete" (très registros) e "homenzinho" e "pinalho" como oconéncias únicas. Essas formas lexicais oconeram esparsamente por todo o tenitório: "rapazinho" esteve presente nos pontos 111 - Alto Araguaia-MT, 114 -ParanaíbaMS e 120 - Aruanä-GO. A variante "pivete" foi documentada nos pontos 121 - Formosa-GO, 132 - Goiânia-GO e 108 - Cuiabá-MT. As oconéncias únicas do Centro-Oeste foram documentadas no ponto 103 - Aripuanä-MT ("homenzinho") e em Formosa-GO, ponto 121 ("pinalho").
Regiäo Sudeste
Nos municipios da regiäo Sudeste, foram documentados 455 registros com diferentes índices de oconéncias. Em dados percentuais, apresenta-se a produtividade dessas oconéncias por meio da Figura 4.
Este gráfico revela um comportamento semelhante das variantes em cada um dos quatro estados que compöem a regiäo. Assim, pode-se apontar très pontos principáis: (i) a predomináncia da variante "menino" nos quatro estados, com produtividade acima de 50% em très deles: Rio de Janeiro (63,64%), Espirito Santo (60%) e Minas Gerais (52,59%); (ii) a baixa produtividade da variante "guri" em très estados: Säo Paulo (4,63%), Espirito Santo (4%) e Minas Gerais (3,45%), näo oconendo nos municipios do Rio de Janeiro; (iii) a presença da variante "garoto" com percentual próximo em Minas Gerais (18,97%), Rio de Janeiro (18,18%) e diferentes índices no Espirito Santo (16%) e Säo Paulo (12,81%).
Assim como no Centro-Oeste, no Sudeste a variante "menino" também ocorreu em todos os pontos lingüísticos. Dessa forma, para a cartografía, essa forma lexical foi desconsiderada, haja vista que a sua distribuiçâo diatópica é homogénea em toda a regiäo. A Figura 5 apresenta a distribuiçâo das quatro variantes ("moleque", "guri", "garoto", "piá") nos pontos lingüísticos do Sudeste.
A principio, observa-se que, no mapa, há seis pontos lingüísticos em que näo ocorre nenhuma das quatro variantes elencadas na legenda (ponto 129 - Pedra Azul/MG, 193 - Itaperuna/RJ, 197 - Nova Friburgo/RJ, 199 - Valença/RJ, 204 - Arraial do Cabo/RJ e ponto 205 - Barra Mansa/RJ). Isso se deve ao fato de que, nesses pontos, houve a ocorréncia quase que exclusiva da variante mais produtiva do corpus, "menino", pois, nos pontos 197 e 204, além de "menino" ocorreu também urna variante menos produtiva, "rapazinho".
Dentre as quatro variantes escolhidas para representaçâo cartográfica, destaca-se a forma lexical "moleque", que apresenta urna distribuiçâo mais uniforme no estado de Säo Paulo, em comparaçâo aos outros estados, pois dos 38 pontos lingüísticos que compöem a rede de pontos em Säo Paulo, apenas em dois deles essa variante näo ocorreu (ponto 155 -Andradina, ao noroeste, e no ponto 175 -Taubaté, situado a leste). Em Minas Gerais, dos 17 pontos a que se teve acesso, em quatro deles näo há a ocorréncia da variante "moleque", a saber: ponto 137 - Campiña Verde, localizado no Triángulo Mineiro; 141 - Formiga, situado ao sul do estado e em dois municipios localizados no nordeste mineiro, 129 - Pedra Azul, e ponto 133 - Teófilo Otoni. No Espirito Santo, a variante "moleque" näo ocorreu na capital - Vitoria, ponto 190, e no ponto 192 - Guaçui, divisa política com os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Por fim, no Rio de Janeiro, a produtividade da variante "moleque" foi baixa (12,12%), conforme atestam os dados da Figura 4, e esteve presente apenas em très dos nove municipios a que se teve acesso. Essa variante figurou na capital - Rio de Janeiro (ponto 202) e nos pontos 200 - Petrópolis e 203 - Niterói. Essa disparidade em relaçâo aos outros estados deve-se ao fato de, no Rio de Janeiro, predominar o uso da variante "menino" com representatividade de 63,64% das respostas, conforme se verifica na Figura 4. Apesar disso, o teste de homogeneidade de variâncias indicou que a hipótese 5 pode ser aceita (3^=7,714; df = 5; p-valor = 0,173), ou seja, os resultados do teste evidencian! a homogeneidade da distribuigäo das variantes "moleque" na rede de pontos a que se teve acesso. Porém, vale ressaltar que a coleta de dados nesse estado ainda näo foi concluida pela equipe do Projeto ALiB, portanto, tal hipótese se aplica aos dados analisados e sua possível generalizagäo dependerá do corpus completo do estado do Rio de Janeiro.
Assim, pode-se afirmar que, embora se verifique no mapa (Figura 5) urna continuidade da distribuigäo diatópica da variante "moleque" (desde o estado de Säo Paulo adentrando ao Triángulo Mineiro, centro de Minas Gerais até o Norte do Espirito Santo), näo é possível tragar urna linha de isoléxica. Em virtude da auséncia dos dados referentes a seis localidades mineiras e cinco localidades fluminenses,14 näo é possível verificar se essa variante está documentada ñas localidades do sul e leste de Minas Gerais, bem como ñas demais cidades do Rio de Janeiro que integram a rede pontos do Projeto AliB nos referidos estados.
O uso da variante "moleque" esteve atrelado ao caráter ofensivo para se referir à changa dependendo do contexto; portanto, em algumas situagóes há a preferencia pela variante "moleque" em detrimento de "menino", conforme se observa no discurso de alguns informantes como os reproduzidos a seguir:
INF.- Minino [mi'ninu].
INQ.- Tem outro nome pra menino, aqui?
INF.- Tem. Muleque [mu'leki], pivete [pi'vetji]. Depende do estado da criança. Se a gente vê que é minino, a gente fala que é minino, né, mai' se a gente vê que é mai' crescidin, ai já... pivete, é muleque.
INQ.- Chamar urna criança de moleque, isso é ofensivo?
INF.- Ah, pra mim sei là né, é falta de educaçâo né, criança, criança é criança.
INQ.- Se você por exemplo tivesse um filho e falar "eu tenho um moleque là em casa".
INF.- Ai já nâo. Depende do lugar né, depende da hora, você nâo vai sair na rua e chamar o minino de muleque, né, daí tem o pai do menino, o pai vai vim querê tirá satisfaçâo, daí já tá ofendendo.15
INQ.- Tem outro nome pra menino?
INF.- Muleque [mu'leki].
INQ.- Moleque é ofensivo? Se você falar assim:"Eu tenho dois moleques". É ofensivo?
INF.- Eu num acho.
INQ.- Nâo né, nâo ofende. "Eu tenho dois moleques."
INF.- É, sem maldade nenhuma.
INQ.- Como que é corn maldade?
INF.- Por exemplo, "eu tenho dois muleques", eh... daí 'cê fala, sem maldade, ai corn maldade 'cê fala... eh... por exemplo: "Aquele dois muleque nâo qué sabê de nada",((torn de voz mais alto)), ai já é uma ofensi... urna ofensa, né.
INQ.- Às vezes você fala para o teu namorado: "Você parece um moleque". Ai é ofensivo, né?
INF.- É.16
A variante "guri", por sua vez, obteve baixa produtividade no Sudeste, registrada em 12 municipios, dos quais oito säo paulistas, localizados em diferentes regiöes do estado como, por exemplo, no ponto 156 - Araçatuba - ao noroeste, nos ponto 170 - Bernardino de Campos e 181 - Itararé - no sudoeste do estado, em dois municipios localizados no Vale do Ribeira, pontos 185 - Ribeira e 187 - Registro, nos pontos 177 e 178, Itapetininga e Sorocaba, e no ponto 168 - Mogi Mirim, localizado no nordeste paulista. Já no estado de Minas Gerais, säo très os municipios em que a variante "guri" foi documentada: ponto 137 - Campiña Verde, localizado no Triángulo Mineiro; ponto 144 - Lavras, ao sul do estado; e na capital, Belo Horizonte, ponto 138. Por fim, no Espirito Santo, essa variante ocorreu somente em Barra de Sao Francisco - ponto 188, localizado na fronteira política do estado do Espirito Santo com Minas Gerais, no norte do estado.
Assim, pode-se inferir que nao é possível tragar urna linha de isoléxica para essa variante na regido Sudeste, pois sua distribuigäo espacial näo apresenta urna concentragáo específica em determinada área. Porém, a presenga da variante "guri" em determinadas localidades paulistas, tais como Itararé, Itapetininga e Sorocaba, pode ser explicada pela influencia vinda do sul do país, haja vista que algumas dessas localidades eram pontos pertencentes à antiga rota proveniente do Caminho das Tropas, pela consequéncia do Tropeirismo no Paraná.17
A terceira variante mais produtiva no Sudeste ("garoto") encontra-se registrada na grande maioria dos pontos lingüísticos do estado de Sao Paulo, nao ocorrendo no ponto 150 - Jales, ao noroeste, e no ponto 164 - Teodoro Sampaio, além de ocorrer em urna faixa territorial que vai desde o ponto 160 - Mococa, localizado no nordeste paulista até o ponto 182 - Capáo Bonito, situado ao sul do estado, conforme se observa na Figura 6.
Portanto, dos 38 municipios paulistas, em apenas oito deles essa variante näo foi documentada ou näo foi reconhecida pelos informantes como urna forma típica para denominar a changa do sexo masculino na localidade. A ocorréncia dessa variante, no territorio paulista, portanto, apresenta urna distribuiçâo homogénea evidenciada pela aplicaçâo do teste de Kruskal-Wallis (x2 = 7,377; df = 15; p-valor = 0,946) e a hipótese 6 pode ser aceita.
Em Minas Gerais, a variante "garoto" näo esteve presente em apenas dois pontos lingüísticos: ponto 129 -Pedra Azul, no nordeste mineiro, em que a variante exclusiva foi "menino", e no ponto 134 - Diamantina, localizado no centro do estado, em que houve a ocorréncia das variantes "menino" e "moleque". No Espirito Santo, essa variante circunscreve-se a duas localidades: na capital - ponto 190 (Vitoria) e na fronteira com Minas e Rio de Janeiro - ponto 192 - Guaguí. Portanto, näo há registro da variante "garoto" em dois municipios capixabas localizados ao norte, pontos 188 e 189 - Barra do Säo Francisco e Säo Mateus, e também em um municipio da regiäo central do estado - ponto 191 - Santa Teresa. No Rio de Janeiro, por sua vez, dos nove pontos a que se teve acesso, em quatro deles essa variante foi documentada, a saber: pontos 198 -Macaé, 200 -Petrópolis, 202 - Rio de Janeiro e 203 - Niterói. Novamente, foi aplicado o teste de KruskalWallis para verificar a homogeneidade de "garoto" no estado do Rio de Janeiro. O resultado mostra que a variante apresenta distribuiçâo homogénea (x2 = 7,556; df = 5; p-valor = 0,182) e a hipótese nula 5 pode ser aceita.
Por fim, a variante "piá" näo apresentou urna distribuiçâo diatópica uniforme nos estados que compöem a regiäo Sudeste. O único estado em que ocorre essa variante é Säo Paulo, presente nos pontos 177 - Itapetininga, 182 - Capäo Bonito, 185 - Ribeira e 186 - Registro, ou seja, a forma lexical piá restringe-se a urna área específica do estado, podendo, de certa forma, indicar urna área de isoléxica (Figura 7). A presenga dessa variante nessas localidades possivelmente justifica-se porque alguns desses municipios pertenciam ao Caminho dosTropeiros, assim como foi afirmado acerca da variante "guri".
Aínda no Sudeste, foram registradas outras quatro variantes menos produtivas, distribuidas esparsamente por todos os estados da regido. Assim, foram documentadas 12 ocorréncias da variante "pivete" das quais oito foram em cidades paulistas, e quatro em municipios de Minas Gerais. O uso dessa variante, geralmente, está associado ao caráter ofensivo que lhe é atribuido para se referir à criança, conforme se observa no discurso de urna informante transcrito a seguir:
INQ.- Pra menino, pode dar um outro nome?
INF.- Moleque [mo'leki],
INQ.- Que mais?
INF.- Hum, pivete [pi'vetji].
INQ.- É ofensivo?
INF.- Pivete é.
INQ.- E moleque?
INF.- Moleque também eu acho que é.
INQ.- Você, por exemplo, se você tivesse um, "ah eu tenho um molequinho lá em casa." Isso é ofensivo?
INF.- Ah, dependendo da forma que fala nâo, se você fala assim: Ah eu tenho um molequinho là em casa, e se você fala: O moleque sai daí, jà tô of endeudo, säo as formas de falâ.18
A variante "rapazinho", por sua vez, näo recebe esse caráter ofensivo; foi registrada no corpus do Sudeste com 11 oconências: urna em Minas, um registro no estado do Espirito Santo, um no Rio de Janeiro e oito oconências no estado de Säo Paulo. Foram documentadas quatro oconências para "homenzinho" no estado de Säo Paulo e, por fim, très oconências para "pinalho", das quais duas em Säo Paulo e uma em Minas Gerais.
Regiäo Sul
No Sul do Brasil, foram documentados 329 registros com diferentes índices de representatividade para cada uma das variantes. Assim, destacam-se très variantes principáis, dependendo do estado, conforme se observa na Figura 8.
Contrariamente ao que ocorreu no Sudeste, a variante "menino" nao predominou em todos os estados que compöem a regido Sul, pois essa forma lexical obteve maior produtividade no estado de Santa Catarina (39,73%), enquanto, no Rio Grande do Sul, "guri" se apresentou como a forma majoritária (47,57%), ao passo que, no estado do Paraná, "piá" obteve maior índice de representatividade (29,41%). Observa-se também neste estado que a segunda e a terceira variantes mais produtivas foram "menino" (26,14%) e "moleque" (17,65%). A forma "guri" apresentou-se como a quarta variante mais produtiva nas cidades paranaenses (16,99%).
Em Santa Catarina, figuraram como segunda e terceira mais produtivas as formas lexicais "guri" (19,18%) e "piá" (13,7%). A quarta variante mais produtiva foi "moleque" (12,33%). Já, no Rio Grande do Sul, a segunda e a terceira variantes corn mais representatividade foram "menino" (27,18%) e "piá" (15,53%). A variante "garoto", ñas localidades gaúchas, apresenta-se como a quarta variante, porém com baixo índice de representatividade (4,85%). Esta forma lexical, no estado do Paraná e de Santa Catarina, manteve-se com percentual próximo, 9,15% e 8,22%, respectivamente.
A Figura 9 apresenta a distribuigáo diatópica das quatro principáis variantes documentadas no corpus, excetuando-se a variante "menino", pois, das 42 localidades consultadas, em apenas duas a referida variante nao foi registrada: pontos 237 - Vacaría e 247 - Santana do Livramento, no estado do Rio Grande do Sul.19
Observa-se que, no ponto 232 - Criciúma/SC, nao há registro de nenhuma das quatro variantes elencadas na legenda. Isso se deve ao fato de que nessa localidade houve a ocorréncia exclusiva da variante "menino". As sim, a Figura 9 apresenta urna concentragäo da variante "moleque" no estado do Paraná e em Santa Catarina, pois, dos 17 municipios paranaenses constantes da rede de pontos do estado, esta variante nao foi registrada em apenas dois deles, ponto 219 - Guarapuava e 223 -Barracáo, localizados no centro e ao sudoeste paranaense. Em Santa Catarina, das dez localidades que contemplam a rede de pontos, esta variante nao está presente em cidades próximas ao litoral sul do estado, pontos 230 - Florianópolis, 232 -Tubaráo e 233 - Criciúma, e em urna localidade no oeste catarinense, ponto 226 - Sao Miguel do Oeste. Ao contrário, no Rio Grande do Sul, "moleque" foi registrada apenas em duas localidades, em Porto Alegre - ponto 243 e em Santa Maria - ponto 242; portanto, nao se constitui como urna forma típica dos gaúchos para denominar a crianga do sexo masculino, haja vista que ñas localidades gaúchas a referida variante obteve baixa representatividade.
Já "guri", assim como a variante "menino", apresentou urna melhor distribuigäo na regiäo Sul, contemplando o estado do Rio Grande do Sul, adentrando o estado de Santa Catarina, com excegäo dos pontos 231 - Lages e 232 - Tubaräo. No Paraná, foi documentada em 13 pontos lingüísticos, näo registrada somente em quatro municipios, dos quais très estäo localizados ao noroeste paranaense (ponto 207 - Nova Londrina, 210 - Umuarama e 212 - Campo Mouräo) e um no centro do estado (ponto 218 - Imbituva), conforme se observa na Figura 10.
No entanto, em resposta à hipótese nula 7, o teste de Kruskal-Wallis indicou que "guri" näo apresentou urna distribuigäo homogénea na regiäo Sul, apesar de ocorrer na maioria das localidades (Tabela 5). Tal fato pode ser explicado pela grande concentragäo de ocorréncias dessa variante no Rio Grande do Sul (49 registros) se comparada aos estados de Santa Catarina (14 ocorréncias) e Paraná (26 ocorréncias). Desse modo, a hipótese 7 pode ser rejeitada.
A variante "garoto" apresentou urna maior concentragáo no Paraná e em Santa Catarina. No tenitório paranaense, foi registrada em nove pontos lingüísticos localizados ao norte e a leste do estado, näo ocorrendo nos municipios localizados ao sudoeste. Em Santa Catarina, essa variante ateve-se a duas cidades litoráneas, ponto 228 (Itajaí) e ponto 230 (Florianópolis), além de oconer em urna localidade a oeste do estado, ponto 229 - Concordia. No Rio Grande do Sul, "garoto" também foi registrado em très cidades: 239 - Sao Borja, 245 - Uruguaiana e 242 - Santa Maria.
Observa-se, ainda, na Figura 9, que "piá" se distribui no Paraná principalmente nos pontos lingüísticos localizados no centro e no sul do estado, o que permite o tragado de urna linha de isoléxica que nao contempla os pontos localizados ao norte e leste paranaense: pontos 207 - Nova Londrina, 208 - Londrina, 209 - Terra Boa, 214 - Piraí do Sul e 216 - Adrianópolis. A ausência dessa variante em cidades próximas à fronteira política com o estado de Sao Paulo pode ser explicada pelas influéncias lingüísticas oriundas desse estado no norte do Paraná, haja vista que a variante "piá" nao é urna forma lexical típica dos paulistas. As influéncias advindas principalmente de Santa Catarina evidenciara a presenga da forma "piá" em municipios do centro e do sul do Paraná, pois, em Santa Catarina, "piá" ocorre em quatro pontos do interior 224 - Porto Uniáo, 226 - Sao Miguel do Oeste, 229 - Concordia e 231 - Lages e na capital, ponto 230 - Florianópolis. Porém, no territorio "gaúcho", a variante "piá" apresentou urna distribuigáo esparsa, ou seja, näo ocorreu em urna área continua do estado. Assim, dos 15 pontos a que se teve acesso, a forma lexical "piá" foi registrada em sete municipios, a saber: 237 - Vacaria, 238 - Ijuí, 239 - Sao Borja, 243 - Porto Alegre, 247 - Santana do Livramento, 248 - Bagé e 250 - Chuí, conforme se observa na Figura 11.
A hipótese nula 8 consistiu em verificar se "piá" apresenta distribuigáo homogénea na regiäo Sul. De acordo com os dados das Tabelas 6 e 7, existem evidéncias estatísticas significantes de urna diferenga entre as regióes e a hipótese pode ser rejeitada (p-valor = 0,002). Assim como ocorreu com a variante "guri", foi verificada urna maior concentragäo de ocorréncias de "piá" no estado do Paraná (45 registros), se comparada aos estados de Santa Catarina (10 registros) e Rio Grande do Sul (16 registros), o que justifica tal resultado.
Por fim, na regiäo Sul, houve o registro de quatro variantes menos produtivas. Foram documentadas cinco ocorréncias da forma lexical "rapazinho" nos pontos 225 - Säo Francisco do Sul/SC (très registros), 229 - Concórdia/SC (ocorréncia única) e no ponto 248 - Bagé/RS (ocorréncia única). A variante "homenzinho" obteve duas ocorréncias, urna no ponto 236 - Pas so Fundo/RS e outra no ponto 248 -Bagé/RS. A forma "pivete" foi documentada em Guarapuava/PR e em Lages/ SC. Finalmente, como hapaxlegomena, houve a ocorréncia da variante "bambino" em Adrianópolis/PR.
Consideraçôes fináis
Embora näo se utilize o corpus do Projeto ALiB em sua totalidade, este estudo comprova diferengas lingüísticas entre os estados e as regiöes investigadas. A variante mais difundida na norma lexical do portugués brasileño para a questäo analisada, considerando o corpus investigado, é "menino", registrada em quase todos os pontos lingüísticos.
A pesquisa evidenciou que, no Centro-Oeste, há diferengas lingüísticas entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso em relagäo ao estado de Goiás. Nos dois primeños, além da predomináncia da variante "menino", há um índice considerável de registros da variante "guri", típica da regiäo Sul, o que ressalta a semelhanga desses estados em alguns aspectos com o Rio Grande do Sul devido a fluxos migratorios. Em Goiás, por sua vez, o índice de ocorréncia da variante "guri" é menor, haja vista que esse estado recebeu influências também de outros gmpos, além dos bandeirantes paulistas durante o seu processo de ocupagäo.
A variante "moleque" difunde-se pelas très regiöes, constituindo-se como a segunda variante mais produtiva. Essa forma lexical está presente, sobretudo, nos estados em que houve a intensa atuagäo dos bandeñantes durante o período de escravizagäo do indio e, principalmente, do negro ñas áreas mineradoras. Essa variante de etimología africana näo obteve índice de ocorréncia considerável no Rio Grande do Sul.
Na regiäo Sul, há très variantes que se destacam: (i) "guri" é a forma mais difundida e mais produtiva no Rio Grande do Sul; (ii) em Santa Catarina, há maior índice de ocorréncia da variante "menino"; e (üi) "piá" é a forma lexical mais produtiva no estado do Paraná. Neste estado, a ocorréncia dessa variante concentra-se em municipios do centro e sul, näo ocorrendo em cidades do norte e leste paranaense. A näo ocorréncia de "piá" nesta área justifica-se por sua proximidade lingüística com o estado de Säo Paulo.
Por fim, no Sudeste, além de outras formas, há a ocorréncia esparsa da variante "guri" em cidades paulistas, mineñas e capixabas, näo possibilitando o tragado de isoléxica. "Piá", por sua vez, ocorreu exclusivamente em quatro localidades paulistas localizadas no Vale do Ribeña, o que permite o tragado de urna área de isoléxica. A presenga dessa variante nessa regiäo do estado, principalmente em Itapetininga, revela tragos da sócio-história, pois sabe-se que o Caminho das Tropas que vinham do Rio Grande do Sul tinha como ponto de passagem algumas cidades paulistas antes de alcangar o destino final, Sorocaba. Portanto, o estudo ratifica a importáncia de associar aspectos sócio-históricos a dados lingüísticos, contribuindo, desse modo, para a melhor compreensäo e descrigäo do portugués brasileño.
ROMANO, V. P.; SEABRA, R. D. Menino, guri or piá? a diatopic study on regions Midwest, Southeast and South from the data of Project Linguistic Atlas of Brazil. Alfa, São Paulo, v.58, n.2, p.463-497, 2014.
* ABSTRACT: This paper uses as corpus of analysis the data collected by the Project Linguistic Atlas of Brazil team in three regions: Midwest, Southeast and South. These data refer to the country cities and to the capitals of each state; they were collected from informants who were selected according to established profiles. On this occasion, the objective was to discuss the diatopical distribution of lexical variants for question number 132-A very young child is called baby. However, when this small kid is 5-10 years old and also is a male person, how is the most commonly used term for calling him? - of Lexical-Semantic Questionnaire (COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALIB, 2001). The methodology involved descriptive and inferential analysis which were pertinent to the study. Thus, eight hypotheses were tested in order to analyze the behavior and the diatopical distribution of the five most productive variants in the set of answers. The main results indicated that those variants exhibited different behaviors in three different regions: (i) the variant menino showed homogeneous distribution in ten states; (ii) the lexical forms guri and piá had a heterogeneous distribution in the Southern region; (iii) variants of indian etymology (guri and piá) are more representative in the South and Midwest; (iv) there is a greater representation of variant moleque (African etymon) in the Southeast, especially in São Paulo and Minas Gerais.
* KEYWORDS: ALiB Project. Dialectology. Lexical variants.
1 O Piojeto Atlas Lingüístico do Brasil, doravante ALiB, é um projeto de pesquisa nacional e interinstitucional, com sede na Universidade Federal da Bahia, sob a presidência da Dra. Suzana Alice Marcelino Cardoso e dirigido por um Comité Nacional formado por pesquisadores de universidades de oito estados. O Projeto ALiB visa a descrever a variante brasileira da lingua portuguesa nos níveis fonético-fonológico, semántico-lexical e morfossintático, por meio da aplicaçâo de questionários a informantes de todo tenitório nacional, para, assim, formar um banco de dados que posteriormente será utilizado para a elaboraçâo de um Atlas Lingüístico de ámbito nacional. Mais informaçôes podem ser obtidas em: <http://twiki.ufba.br/twiki/bin/view/Alib/ WebHomex
2 Nas capitals somam-se, a esses quatro, informantes de nivel superior. Este estudo nâo se atém à análise considerando as variáveis sociolinguísticas, pois o foco principal do trabalho é a distribuiçâo diatópica.
3 Em funçâo da abstençâo de resposta, nao constam dados de alguns informantes.
4 Faz parte aínda da rede de pontos do ALiB mais seis localidades mineiras (Ipatinga, Ouro Preto, Viçosa, Säo Joäo Del Reí, Muriaé e Juiz de Fora) cujos inquéritos näo estavam finalizados na ocasiäo da elaboraçâo deste trabalho, portante, näo fazem parte do corpus analisado.
5 Na ocasiäo da elaboraçâo deste trabalho, a coleta de dados näo havia sido concluida em cinco localidades fluminenses: Säo Joäo da Baña, Campos dos Goytacazes, Très Rios, Nova Iguaçu e Parati, portante, näo fazem parte do corpus analisado..
6 Näo constam do corpus os dados referentes a Osório e Santa Cruz do Sul.
7 Software de análise estatística amplamente utilizado em pesquisas experimentáis aplicadas nas mais variadas áreas do conhecimento humano.
8 Valor estatístico utilizado para sintetizar o resultado de um teste de hipóteses.
9 Nao foram consideradas as variantes que apresentaram oconéncia única no corpus-, "mociriho", "bambino" e "bichiriho".
10 Em Minas Gerais, très mesorregiöes näo säo contempladas pela rede de pontos a que se teve acesso: Central Mineira, Zona da Mata e Vale do Rio Doce. No estado do Rio Grande do Sul, apenas a mesonegiäo Centro Oriental Rio-grandense näo é contemplada.
11 Por idioleto entende-se: "[...] conjunto de usos de urna lingua própria de um individuo, num momento determinado." (DUBOIS et al, 1991, p.329).
12 Transcriçâo grafemática e fonética. As siglas INQ. e INF. indicam os tumos da conversaçâo do inquiridor e do informante, respectivamente. Esse trecho refere-se ao discurso do informante 3 de Aripuanä - ponto 103 (homem pertencente à segunda faixa etária - 50 a 65 anos - com ensino fundamental).
13 Homem, pertencente à segunda faixa etária (50 a 65 anos), com ensino fundamental. Os trechos sublinhados indicam sobreposiçâo das vozes.
14 Na ocasiäo da elaboraçâo deste trabalho, a equipe do Projeto ALiB näo havia concluido a coleta de dados nos pontos 139 - Ipatinga, 142 - Ouio Preto, 143 - Viçosa, 145 - Säo Joäo Del Rei, 146 - Muriaé, 148 - Juiz de Fora, do estado de Minas Gerais, e nos pontos 194-Säo Joäo da Baña, 195-Campo de Goytacazes, 196-Très Rios, 201 - Nova Iguaçu e 206 - Parati, no estado do Rio de Janeiro.
15 Trecho do inquérito 135/1 - Uberlándia/MG. Informante do sexo masculino, de 18 a 30 anos com ensino fundamental de escolaridade.
16 Tfecho do inquérito 176/2 - Guaratinguetá/SP. Informante do sexo feminino, de 18 a 30 anos, com ensino fundamental de escolaridade.
17 O chamado Caminho das Tropas consistiu em urna antiga via tenestre de acesso ao Rio Grande do Sul, na época do Brasil colónia usado principalmente para o transporte de muarés. O Caminho do Viamäo era o mais utilizado, partía de Viamâo/RS e atravessava os campos do Paraná adentrando ao estado de Sao Paulo passando por Itararé, Itapetininga até o destino final, Sorocaba.
18 Trecho do inquérito 137/2 - Campiña Verde/MG. Informante do sexo feminino, de 18 a 30 anos, com ensino fundamental de escolaridade.
19 Assim como em algumas localidade de Minas Gerais e Rio de Janeiro, na ocasiâo da elaboraçâo deste trabalho, nâo estavam disponíveis os dados referentes a duas localidades gaúchas 241 - Santa Cmz do Sul e 244 - Osório.
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Recebido em janeiio de 2013.
Aprovado em maio de 2013.
Valter Pereira ROMANO*
Rodrigo Duarte SEABRA**
* UEL - Universidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e Ciéncias Humanas. Londrina - PR - Brasil. 86051-980 - [email protected]
** UNIFEI - Universidade Federal de Itajubá. Instituto de Matemática e Computaçâo. Itajubá - MG - Brasil. 37500-903 - [email protected]+
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Copyright Universidade Estadual Paulista - UNESP, Departamento de Estudos Linguísticos e Literários, Campus de Sáo José do Rio Preto 2014
Abstract
This paper uses as corpus of analysis the data collected by the Project Linguistic Atlas of Brazil team in three regions: Midwest, Southeast and South. These data refer to the country cities and to the capitals of each state; they were collected from informants who were selected according to established profiles. On this occasion, the objective was to discuss the diatopical distribution of lexical variants for question number 132-A very young child is called baby. However, when this small kid is 5-10 years old and also is a male person, how is the most commonly used term for calling him? - of Lexical-Semantic Questionnaire (COMITÊ NACIONAL DO PROJETO ALIB, 2001). The methodology involved descriptive and inferential analysis which were pertinent to the study. Thus, eight hypotheses were tested in order to analyze the behavior and the diatopical distribution of the five most productive variants in the set of answers. The main results indicated that those variants exhibited different behaviors in three different regions: (i) the variant menino showed homogeneous distribution in ten states; (ii) the lexical forms guri and piá had a heterogeneous distribution in the Southern region; (iii) variants of indian etymology (guri and piá) are more representative in the South and Midwest; (iv) there is a greater representation of variant moleque (African etymon) in the Southeast, especially in São Paulo and Minas Gerais.
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