RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v8i3.808
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
GESTO DE CONHECIMENTO E COMPETITIVIDADE NAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE DO SETOR DE COMRCIO EXTERIOR DE AUTOPEAS: UM ESTUDO
EXPLORATRIO
Helio Morrone Cosentino
Doutor em Tecnologia Nuclear pela Universidade de So Paulo USP
Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie MACKENZIE
Patrcia Gomes Vidal
Doutora em Administrao de Empresas pela Boston University, Paris
Professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie MACKENZIE
mailto:[email protected]
Web End [email protected]
Salvatore Benito Virgillito
Mestre em Administrao e Planejamento pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
PUC/SP
Professor da Universidade So Judas Tadeu USJT
RESUMO
O presente trabalho teve como objetivo estudar as singularidades da tecnologia da informao (TI)
quanto forma de subsidiar insumos e estruturas para a prtica de Gesto de Conhecimento em
empresas de pequeno porte do setor de comrcio exterior de autopeas de reposio. O estudo,
realizado sob a modalidade de pesquisa exploratria, selecionou 15 empresas deste setor e buscou
identificar, descrever e verificar a existncia e funcionalidade da gesto do conhecimento nas empresas
avaliadas. A anlise das respostas permitiu identificar a presena da gesto do conhecimento nas
empresas, verificar qual a abordagem dada tecnologia da informao nas organizaes e, por ltimo,
procurou evidenciar o possvel alinhamento ou no da gesto do conhecimento com a gesto da
tecnologia da informao. Observou-se que a formao de conhecimento no passiva e espontnea a
todo momento, mas um processo baseado em fluxos que podem ser regulados por meio das estruturas
organizacionais, sistemas e competncias individuais dos colaboradores internos e externos.
Palavras-chave: Prticas de gesto; Conhecimento; Gesto do Conhecimento; Tecnologia da
Informao.
Gesto de Conhecimento e Competitividade nas Empresas de Pequeno Porte do Setor de Comrcio Exterior de Autopeas: Um Estudo Exploratrio
1 INTRODUO
A crise global que impactou amplamente todos os setores econmicos no binio 2008/2009 ainda carece de avaliaes mais ponderadas. Alguns sinais de reaquecimento da economia mundial voltaram a acelerar o mercado nacional automotivo e o setor de autopeas, que, apesar de indicadores promissores, tem sofrido instabilidades com o valor do cmbio e a concorrncia internacional.
O aumento da demanda e as novas oportunidades surgidas nesse cenrio sugerem um clima propcio para empreendedorismo nas empresas nacionais que lidam com o comrcio exterior de autopeas, o que nos motivou a tentar compreender, a partir deste trabalho, como se configura a Gesto do Conhecimento nas empresas de pequeno porte deste setor.
Segundo Montibeller Filho, Macedo, e Fialho (2006), somente a constante adaptabilidade do ser humano aos novos paradigmas de gesto que permitir o seu sucesso na Sociedade do Conhecimento, e o sucesso das empresas estaria diretamente ligado aos recursos humanos e ao conhecimento disponvel. Por isso, necessrio desencadear esse processo de mudana, tanto em nvel pessoal quanto empresarial, por meio de aes que busquem a formao e consolidao de uma cultura empreendedora. Nessa perspectiva, o mesmo autor pressupe ainda o empreendedorismo como quesito ligado perspectiva de aprendizagem contnua, baseada nos princpios da Gesto do Conhecimento, e a adaptao de constantes mudanas no mundo atual fundamentada nos conceitos da sustentabilidade.
Segundo o Departamento Intersindical de Estatstica e Estudos Socioeconmicos (DIEESE, 2009), a indstria automobilstica mundial passou por profundas instabilidades nos ltimos 12 anos, com consequncias diretas no setor produtivo nacional de autopeas. Em 1997 as vendas de automveis no Brasil chegaram a 1,9 milho de unidades, acarretando uma onda de otimismo com a instalao, no pas, de 11 novas fbricas e sete novas montadoras de veculos leves e pesados, construdas a um custo estimado em 16 bilhes de dlares. Previa-se ento que o mercado local absorveria rapidamente a capacidade instalada no pas de 3 milhes de carros produzidos por ano. Essa onda de otimismo alavancou investimentos em toda a cadeia produtiva de veculos, ignorando a feroz concorrncia chinesa e a indiana que comeava a despontar no cenrio mundial. A economia nacional foi afligida por crises externas em srie, resultando em oscilaes e uma queda de 40% das vendas at 2005, quando as montadoras e o setor de autopeas possuam ento uma capacidade instalada quase trs vezes superior demanda.
Nesse contexto, uma vez que o capital intelectual emerge como fator fundamental nos conceitos de produtividade e competitividade, o objetivo geral deste trabalho estudar as
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singulariedades da tecnologia da informao (TI) quanto forma de subsidiar insumos e estruturas para a prtica de Gesto de Conhecimento em empresas de pequeno porte do setor de comrcio exterior de autopeas de reposio.
2 REVISO DE LITERATURA
2.1 GESTO DO CONHECIMENTO
Porter (1989), ao discutir a estrutura de competitividade das empresas, afirma que elas podem competir genericamente de duas formas: no preo ou na diferenciao dos seus produtos. Diante de um ambiente em que as margens de lucro de diversas indstrias tm encolhido ao longo dos anos, a estratgia de diferenciao parece apresentar-se como alternativa vivel sobrevivncia das organizaes.
Jonash e Sommerlatte (1999) afirmam que responsabilidade, flexibilidade e a inovao passaram a ser necessidades para o sucesso da organizao. A necessidade de diferenciao, independentemente do aspecto no qual a organizao deseja se diferenciar, parece ter demandado o desenvolvimento de novas formas organizacionais com estruturas muito distintas dos formatos tradicionais. Surgem as organizaes em rede (Miles, Snow, Meyer, & Coleman Jr., 1978), a organizao com gerenciamento matricial (Bartlett & Ghosall, 1990), grupos de redes (Charan, 1991), as equipes focadas em tarefas (Katzenbach & Smith, 1992), organizao horizontal (Ostrof & Smith, 1992), organizao de aprendizagem (Mills & Friesen, 1992), dentre outras estruturas.
Apesar das particularidades que cada uma dessas formas organizacionais traz consigo, a gesto do conhecimento se apresenta como o ponto de interseo dessas estruturas de gesto. Definida brevemente como a estratgia que transforma os bens intelectuais das organizaes em maior rendimento, novos valores e aumento da competitividade (Murray, 1996), a gesto do conhecimento apresenta-se como fonte de vantagem competitiva aos setores mais avanados da economia ao criar a competncia organizacional e incorporar os indivduos para criao de conhecimento e solues de problemas (Rodrigues, 2002). O capital intelectual converte-se no principal patrimnio das organizaes bem-sucedidas (Brooking, 1996).
Stewart (2002) argumenta que a gesto desse capital intelectual se traduz na capacidade de estabelecer constantes processos de criao de conhecimento e valor superior aos clientes e organizao, resultantes da interao entre o capital humano, organizacional e o baseado em clientes,
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que corresponde ao valor dos relacionamentos com os stakeholders da organizao.
A gesto do conhecimento, dessa forma, compe-se de um procedimento sistmico e organizacionalmente especfico para a aquisio, organizao e comunicao de conhecimento, tanto do tcito como do explcito, dos colaboradores e funcionrios da organizao, para que estes possam us-lo de forma mais efetiva (Terra, 2000). O conhecimento, sob essa perspectiva, passa a ser visto como o principal fator de produo das economias atuais, e a competitividade das firmas fortemente determinada pelo capital intelectual acumulado, ou seja, seu conhecimento, experincia, especializao e diversos ativos intangveis, o oposto do capital tangvel (Kim, 1998).
Nessa nova abordagem gerencial, o conhecimento torna-se um recurso estratgico (Garvin, 1993) no qual as empresas tm a tarefa simultnea de organiz-lo, com o propsito de gerar vantagem competitiva, e proteg-lo de seus concorrentes. A necessidade das organizaes serem inteligentes diante das mudanas constantes da sociedade da informao e do ambiente de negcios faz com que elas tambm se modifiquem, o que requer o planejamento de suas informaes (Parsons, 1983). Conforme argumenta Kim (1998), a gesto do conhecimento estaria relacionada ao capital intelectual, a partir do qual as empresas competem entre si.
Para Stewart (2002), o conhecimento dos indivduos de uma organizao que forma o seu capital intelectual, ou seja, o conhecimento no estaria contido em sistemas ou tecnologias, mas nas pessoas que o processam e o transformam em resultados diariamente. Nesse contexto, complementa o autor, caberia s organizaes definir qual conhecimento deve ser desenvolvido, para posteriormente desenvolver aes de criao, integrao e transferncia de conhecimento e maneiras de proteo desse conhecimento. Com isso, consegue-se desenvolver competncias estratgicas e manter um esforo permanente para sustentar a vantagem competitiva, mesmo em um ambiente dinmico.
As prticas de gesto do conhecimento, portanto, tornam-se necessrias no somente para administrar o conhecimento, mas para tambm auxiliar na tomada de deciso das organizaes. Para Davenport e Prusak (1998), essas prticas envolveriam aspectos tais como a visualizao da organizao como um sistema, a construo de comunidades de aprendizado, foco em questes de desenvolvimento pessoal e a criao de estruturas organizacionais menos hierrquicas e at mesmo planejamento com o uso de cenrios. Terra (2000) complementa a viso desses autores ao afirmar que a gesto do conhecimento nas organizaes deve inicialmente compreender as caractersticas e demandas do ambiente competitivo e entender necessidades individuais e coletivas, de forma a integrlas adequadamente aos processos de aprendizado.
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Fleury e Oliveira Jr. (2001) propem o gerenciamento do conhecimento nas organizaes a partir de trs processos bsicos: aquisio e desenvolvimento de conhecimentos, disseminao do conhecimento e construo da memria. Nessa mesma vertente, Nonaka e Takeushi (1997) trazem o modelo da espiral do conhecimento a qual abrange os quatro modos de converso do conhecimento: socializao, externalizao, combinao e internalizao.
Embora essas e outras propostas para gerir o conhecimento sejam fundamentais para o sucesso da estratgia empresarial, a mensurao e a valorao desse ativo uma dificuldade inerente ao prprio processo de gesto do conhecimento. Nos anos 1990 foram realizados alguns estudos com o intuito de gerenciar e avaliar a dimenso intangvel das organizaes. Entre os mtodos que surgiram nesse perodo, destacam-se os trabalhos de Edvinsson e Malone (1998) e Sveiby (1998) em introduzir um novo formato para o gerenciamento dos ativos intangveis das organizaes.
A contribuio de Sveiby (1998) reside na introduo do conceito de conhecimento organizacional como um ativo intangvel e na defesa de uma nova contabilidade, voltada ao registro dos ativos invisveis da organizao. Para o autor, esses ativos, tambm titulados de ativos de conhecimento, so complexos e de difcil avaliao.
A ausncia de um padro formal dificulta a gesto e a mensurao dos ativos de conhecimento, assim, torna-se pertinente desenvolver maneiras de identific-los e classific-los, j que podem gerar valor para a organizao (Sveiby, 1998).
A proposta do autor, conhecida como monitor de ativos intangveis, consiste em uma representao grfica de uma srie de indicadores que podem ser empregados pela alta gesto de uma organizao.
O estabelecimento de indicadores para a mensurao dos ativos de conhecimento foi empregado para a acepo do valor de mercado de uma organizao, constitudo pela soma do seu patrimnio tangvel e seus ativos intangveis (Sveiby, 1998).
Edvinsson e Malone (1998) tambm desenvolveram um instrumento para mensurao dos ativos intangveis. Trata-se do navegador de capital intelectual, um utenslio de suporte tomada de deciso, que permite captar o valor existente na organizao. O navegador tem o objetivo de evidenciar um novo mtodo de avaliao do desempenho organizacional, por meio de indicadores no financeiros. Nesse sentido, a avaliao de ativos intangveis requer, alm do retrato presente, o estabelecimento de projees e a observao do passado que, por sua vez, permitem definir qual o caminho a ser coberto e qual foi o aprendizado.
Em sntese, o navegador contribui como um pertinente instrumento de divulgao e melhor visualizao do capital intelectual existente na organizao, por meio de uma nova proposta de
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avaliao dos intangveis. O navegador no substitui o modelo contbil tradicional de avaliao financeira, apenas o complementa no suporte tomada de deciso (Edvinsson & Malone, 1998).
A contribuio desses trabalhos reside no conceito de conhecimento organizacional como um ativo intangvel e na defesa de uma nova contabilidade, voltada ao registro dos ativos invisveis da organizao. Esses ativos, tambm titulados de ativos de conhecimento, so complexos e de difcil avaliao. A ausncia de um padro formal dificulta a gesto e a mensurao dos ativos de conhecimento e, assim, torna-se pertinente desenvolver maneiras de identific-los e classific-los. O estabelecimento de indicadores para a mensurao desses ativos permite aferir o valor de mercado de uma organizao, composto pela soma do seu patrimnio tangvel e seus ativos intangveis.
2.2 TECNOLOGIA E SISTEMA DE INFORMAO
A acessibilidade, a navegao e o gerenciamento das informaes necessrias para dar suporte ao processo de gesto do conhecimento so elementos crticos em um ambiente em que a tomada de deciso demanda velocidade e eficincia. Nesse sentido, o processo gerencial de qualquer modalidade de organizao facilitado sobremaneira pela Tecnologia da Informao (TI), que, em sua concepo mais ampla, significa um conjunto de componentes tecnolgicos individuais, normalmente organizados em sistemas de informao baseados em computador (Turban, Rainer Jr., & Potter, 2005). O processo de TI focaliza os aspectos dinmicos do gerenciamento da informao e responde questo de como as organizaes procedem para se tornarem mais explcitas e sistmicas em suas formas de identificar, adquirir, avaliar, analisar, organizar e disseminar a informao (McGee & Prusak, 1994). Assim, impossvel dissociar o conhecimento e sua gesto eficaz das prticas da TI.
A TI um elemento impulsionador e facilitador da informao na organizao, mas, sozinha, no resolve problemas. A TI coadjuvante, e no o elemento central. Dessa forma, ela precisa estar orientada a pessoas inseridas no seu ambiente, com necessidades e culturas especficas. A abordagem competitiva deve estar voltada para as pessoas (Davenport & Prusak, 1998; Teixeira Filho, 1998). Turban et al. (2005) complementam, sustentando que os Sistemas de TI so parte integrante e indissocivel do processo gerencial de todas as reas funcionais de uma empresa. Assim, por exemplo, em Finanas e Contabilidade, os sistemas podem ser teis no desempenho de atividades voltadas para projeo de resultados e gerenciamento de caixa; em Marketing e Vendas, eles representam um instrumento indispensvel como suporte ao processo decisrio relativo s vrias controlveis de
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marketing produto/desenvolvimento de novos produtos, preo, promoo e distribuio e gesto do relacionamento com clientes.
A classificao do diferentes tipos de sistemas de informao uma tarefa essencialmente arbitrria e por isso formas de divises distintas tm sido propostas por diversos autores, como Turban et al. (2005).
Independentemente da escolha do sistema, Laudon e Laudon (2004) recomendam que a escolha do sistema considere sempre a interligao dos Sistemas de Informao com os diferentes subsistemas e nveis da organizao, uma vez que eles se relacionam entre si e interagem com a Tecnologia da Informao. Embora isso seja til para que a informao flua facilmente entre diferentes elementos da organizao, o processo pode ser dispendioso e complexo.
Considerando as variveis externas do sistema empresa, percebe-se que o ambiente competitivo e a globalizao influenciam o posicionamento estratgico da empresa, exigindo, concomitantemente, uma adequao no posicionamento estratgico da rea de TI. Esse posicionamento deve, pois, ajustarse, com flexibilidade e efetividade, ao posicionamento estratgico da organizao (Benjamin & Blunt, 1992; Bessa, 2005; Braga & Gomes, 2004).
McGee e Prusak (1994) afirmam que, na economia da informao, a concorrncia entre empresas est baseada na capacidade de cada uma de levantar, tratar, interpretar e utilizar a informao de maneira eficaz, e, por isso, a TI pode ser um fator importante no aperfeioamento do uso da informao. Seu valor est condicionado informao e ao papel desta na organizao. A informao d origem a mais informao, e o conhecimento a mais conhecimento.
A TI tem alterado formas, processos e, com frequncia, estilo de vida, podendo aperfeioar o aprendizado individual e captar o conhecimento em benefcio da organizao. Para isso, alm da comunicao e da colaborao dos indivduos para a concretizao de transferncia/compartilhamento do conhecimento, necessrio o desenvolvimento de mtodos de coleta e preservao das experincias. A sofisticao no gerenciamento e uso da informao cria um elo positivo de feedback (McGee & Prusak, 1994).
Davenport e Prusak (1998) defendem que o valor da tecnologia da informao depende da informao e do papel por ela desempenhado nas organizaes. A informao capaz de criar valor significativo, possibilitando o desenvolvimento de novos produtos e servios, e aperfeioando a qualidade do processo decisrio em toda a organizao. Dessa forma, segundo o autor, antes de se considerar a tecnologia, indispensvel lidar com os processos de negcio e com as informaes que as pessoas consideram relevantes para a tomada de deciso.
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A TI , portanto, um fator que potencializa a informao, tendo revolucionado os conceitos de tempo e de espao e, com isso, tambm os conceitos de criao, captao, organizao, distribuio, interpretao e comercializao da informao. Apesar de sua importncia para o uso da informao, vrios autores, como Davenport e Prusak (1998) e McGee e Prusak (1994) insistem em que ela deva ser interpretada como suporte informao e ir ao encontro das necessidades da organizao.
A gesto da informao interpretada como um processo que trata de um conjunto estruturado de atividades, as quais incluem o modo como as empresas obtm, distribuem e usam a informao e o conhecimento. Tratando-se de processo, preciso definir algum que o gerencie e que atue de maneira a conseguir a cooperao necessria entre os vrios setores da organizao e satisfao do cliente da informao, o que torna a administrao informacional realmente efetiva (Davenport & Prusak, 1998).
Com respeito ao fator satisfao do cliente, relevante mencionar a possibilidade de conflito de interesses entre os responsveis pelo desenvolvimento dos Sistemas de Informao e os clientes/usurios. Trata-se da possibilidade concreta de surgimento de tenses entre o pessoal de TI e os usurios, em decorrncia das fontes de conflito. Assim que, os usurios costumam ser inclinados a ter foco no atendimento de necessidades de curto prazo e na resoluo de problemas imediatos, em detrimento dos aspectos de longo prazo relacionados com a arquitetura de TI, as necessidades de manuteno e os desdobramentos ordenados. Os responsveis da rea de TI, por sua vez, tendem a se preocupar com padronizao de solues, domnio tecnolgico, dificuldades de manuteno e outros elementos tcnicos. O balanceamento de tenses entre os dois grupos difcil de conseguir, em razo dos inmeros fatores a serem levados em considerao, incluindo a cultura da empresa, os impactos estratgicos da TI e o grau de urgncia dos problemas de curto prazo (Applegate, Austin, & McFarlan, 2003).
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
O presente estudo foi conduzido segundo os preceitos indicados por Rudio (1978), e utilizou-se de uma pesquisa qualitativa emprica de carter exploratrio e descritivo como proposto por Richardson (1999) e Vieira e Zouain (2006). As 15 empresas envolvidas foram escolhidas por convenincia, de acordo com sua acessibilidade e disposio de seus gestores em contribuir com o estudo. Trata-se, portanto, de uma amostra no probabilstica.
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A coleta de dados foi efetuada por meio de entrevistas focalizadas e observaes no participantes, ambas com o auxlio de um protocolo composto por roteiro de investigao semiestruturado versando sobre os interesses do estudo.
Em virtude da confidencialidade das informaes solicitada pelas empresas envolvidas, os participantes no foram identificados, porm os respondentes constituam sempre o segundo ou terceiro escalo decisrio das empresas (oito diretores e sete gerentes). Os dados fornecidos para o trabalho foram mantidos exclusivamente para uso acadmico, no permitindo qualquer divulgao em outros meios.
Por se tratar de uma pesquisa de natureza exploratria descritiva, vale recordar a limitao dos resultados encontrados, que s podero ser conclusivos para as empresas estudadas e no devem ser generalizados para outras empresas do setor.
A anlise das respostas foi dividida em trs categorias de anlise distintas (itens 4.1 a 4.3). A primeira permitiu identificar a presena da gesto do conhecimento nas empresas. A segunda permitiu verificar qual a abordagem dada tecnologia da informao e a terceira, por sua vez, evidenciou o possvel alinhamento da gesto do conhecimento com a gesto da tecnologia da informao nas empresas estudadas.
4 RESULTADOS
As empresas estudadas apresentam um faturamento anual mdio de R$ 1,2 milho (desviopadro de R$ 0,3 milho) e esto localizadas primordialmente (92%) na grande So Paulo. Atuam no comrcio internacional de importao e exportao de componentes automotivos de reposio de veculos leves. De forma geral suas carteiras de produtos so bastante diversificadas, ocorrendo inclusive o atendimento a solicitaes especficas do consumidor direto.
4.1 O SISTEMA DE GESTO DO CONHECIMENTO
Quanto primeira categoria, referente presena de um sistema de gesto do conhecimento, a totalidade das empresas estudadas afirmou possuir ampla viso do sistema competitivo (fornecedores, concorrentes e clientes) no planejamento de seus negcios, pois buscam regularmente informaes sobre os pontos fortes e fracos de seus concorrentes. O resultado corrobora a viso de Murray (1996) e Rodrigues (2002), conforme seo 2.1.
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Acreditam que o sistema de recuperao das informaes, no entanto, no to gil, pois afirmam que as informaes nem sempre esto disponveis para acesso imediato. Tal fato impede um fluxo adequado de informao que possibilite a gerao de conhecimento e a tomada de deciso, especialmente pela inexistncia de mecanismos formais de consolidao de fluxo de informaes. Muitas vezes as informaes so transmitidas por e-mail ou de maneira informal durante reunies e telefonemas e no permitem e gerao de histricos que acompanham a evoluo dos cenrios de interesse das empresas. O fator tempo foi citado como principal limitador desse fluxo, ou seja, as empresas citaram a falta de tempo como principal obstculo na alimentao, gerenciamento e consequente falta de acesso conveniente aos dados. Tais observaes estariam em contraposio com as ideias de Stewart (2002) que preconizam planejamento e organizao do fluxo de conhecimento, conforme consta na seo 2.1.
As empresas afirmam ser geis para detectar mudanas nas necessidades dos clientes e na cadeia de valor clientes/ fornecedores, alm de detectar mudanas significativas na prpria indstria (ex. competio, tecnologia, regulamentao), uma vez que os nveis decisrios das organizaes encontram-se em contato prximo e permanente com os clientes.
Dentre as empresas estudadas, a ampla maioria no possui um departamento responsvel por receber informaes competitivas para a sua organizao. Na viso da maioria dos entrevistados, a no existncia de um departamento interno responsvel pela centralizao das informaes obtidas e pela criao de mecanismos para obteno de outras informaes de mercado no prejudicaria o desempenho da organizao nem a formulao de estratgias, dada a proximidade em suas atuaes junto aos clientes.
consenso dentre os entrevistados que as informaes so compartilhadas, analisadas e distribudas frequentemente pelo corpo diretivo da empresa para embasar as decises, ou seja, as informaes geram o conhecimento necessrio para a tomada de deciso demandada em determinado momento. Esse ponto bastante relevante para a caracterizao do sistema de inteligncia competitiva, pois embora as empresas no possuam um departamento especfico de gesto de conhecimento, elas tm culturalmente implantadas a necessidade de distribuir ao corpo diretivo a informao previamente analisada.
No h periodicidade de reunies que permitam monitorar, com rapidez, o alinhamento das decises especficas que cada departamento toma e nem questes estratgicas do negcio. As prticas da gesto do conhecimento, no formato utilizado pelos entrevistados, auxiliam na tomada de deciso,
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apesar da criao e existncia de estruturas organizacionais menos hierrquicas, corroborando a viso de Davenport e Prusak (1998), conforme consta na seo 2.1.
Foi constatado junto aos gestores entrevistados que as informaes sobre o mercado, em linha geral, so independentemente obtidas, e muitas vezes existe redundncia ou mesmo inconsistncia de dados. Os departamentos realmente possuem informaes especficas, geradas independentemente e que no seguem padres de alinhamento com a tomada de deciso. Tais fatos tornam o processo de deciso mais lento, pois muitas vezes as informaes no so estruturadas de maneira correta para que todos possam entender e estudar rapidamente o efeito no negcio. Sempre que os departamentos necessitam informaes sobre o mercado, aes da concorrncia e mudanas polticas precisam recorrer prpria base de informaes (relatrios gerenciais, relatrios de empresas de pesquisa, notcias em jornais e revistas). Ou seja, no existe uma base nica de dados e uma arquitetura de informao que seja universalmente entendida no mbito de atuao regional da empresa. Percebe-se, portanto, que as empresas possuem uma arquitetura da informao deficitria, no possuindo infraestrutura tecnolgica que permita o processamento e disseminao da informao para os demais usurios de maneira adequada e confivel. A falta de organizao e padronizao das informaes contrape-se aos processos bsicos de gerenciamento das informaes indicados por Fleury e Oliveira Jr. (2001), especialmente no que tange disseminao do conhecimento e construo de uma memria, conforme consta na seo 2.1.
A necessidade de implantao de sistemas tecnolgicos confiveis para o gerenciamento das informaes visto pela ampla maioria dos entrevistados como necessrios para a continuidade do negcio, apesar de regularmente citarem que possivelmente no poderiam arcar com seus custos e que o fator tempo (novamente) seria um grande obstculo sua implantao e uso.
4.2 ABORDAGEM DE TI NAS EMPRESAS
Quanto segunda etapa da anlise das respostas, o estudo permitiu verificar qual a abordagem dada tecnologia da informao nas empresas.
Com relao ao estilo gerencial da tecnologia da informao que sustenta a gesto do conhecimento, identificou-se que os fatos acontecidos com clientes, fornecedores, indstria e a prpria unidade de negcio tornam-se de conhecimento de todos, em um curto espao de tempo. Assim, proporciona bases para os departamentos compartilharem e planejarem respostas s possveis mudanas no ambiente competitivo, conforme defendido por McGee e Prusak (1994) na seo 2.2. Entretanto, nem sempre o fato de a informao rapidamente ser conhecida pelos departamentos
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significa que estes a processaro de forma rpida, para que seja tomada uma deciso imediata como forma de preveno ou ajuste a cenrios duvidosos. Dessa forma, muitas das decises so tomadas independentemente pelos departamentos, e acabam refletindo posteriormente nas demais reas. Isso ocorre porque os departamentos agem de forma autnoma na avaliao dos novos fatos luz da base de informaes que detm consigo. Verifica-se que essa forma de agir no considera os cuidados sugeridos por Laudon e Laudon (2004) na seo 2.2.
Os planos estratgicos departamentais so implantados em curto espao de tempo e muitas vezes no possuem coerncia entre si nem alinhamento com macropolticas do negcio.
Os funcionrios no so instrudos para observar e obter informaes sobre a concorrncia, pois as gerncias no incentivam tal procedimento. Como fonte de informaes, os gerentes e diretores tornam-se as pessoas responsveis no desempenho desse papel durante reunies, jantares, networking com clientes. Cabe aos demais nveis hierrquicos manter o sigilo da informao e a participao na deciso apenas no que se refere aos processos operacionais dos sistemas de processamento de dados.
Dessa forma, cada departamento tende a desenvolver a prpria base de dados para que possa consultar e criar. Os departamentos, portanto, comportam-se como feudos e em muitas ocasies no compartilham as informaes claramente no cotidiano.
importante frisar que os departamentos criam as formas de analisar e arquivar as informaes. No compram solues externas, tais como softwares, design de plataformas de business intelligence. Segundo os avaliados, os departamentos sentem-se confortveis nas informaes que possuem, concordando, assim, com a interpretao de Davenport e Prusak (1998) e McGee e Prusak (1994) na seo 2.2.
Os departamentos estariam conseguindo criar meios junto ao departamento de TI para fornecimento de know-how de desenvolvimento de ferramentas internas de arquivo e distribuio das informaes regionalmente, a fim de evitar o domnio das operaes para atendimento exclusivo das necessidades individuais. Foi identificada uma forte tendncia dos departamentos de TI e de alguns executivos manterem bloqueados os benefcios de controle do usurio, ao que est sendo alterada, pois uma poro considervel das empresas afirma estar iniciando o processo de descentralizao de determinados acessos s bases de dados da intranet. Alm disso, consideram que com isso estaro permitindo que o usurio contribua tambm para a discusso e desenvolvimento da plataforma de informao. A nova adequao no posicionamento estratgico da rea de TI dentro das organizaes deve ajustar-se com flexibilidade e efetividade ao posicionamento estratgico da empresa, conforme preconizado por diversos autores na seo 2.2 (Benjamin & Blunt, 1992; Bessa, 2005; Braga &
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Gomes, 2004). Com essa tendncia, as empresas, por meio dos departamentos de TI e solicitaes da alta direo, esforam-se em contribuir para a transferncia de tecnologias, que ainda so interdepartamentais, para o contnuo aprendizado gerado pela experincia e proximidade operacional dos usurios.
importante frisar que os sistemas existentes da empresa no so de fcil integrao com os novos sistemas propostos para compartilhamento de informaes, o que agravado pelo fato de nenhuma das empresas possuir uma pessoa encarregada especificamente do gerenciamento da informao.
4.3 ALINHAMENTO ENTRE TECNOLOGIA DE INFORMAO E GESTO DO CONHECIMENTO
A terceira etapa do estudo, por sua vez, procurou evidenciar o possvel alinhamento da gesto do conhecimento com a gesto da tecnologia da informao nas empresas estudadas.
Considerados os fatos expostos nas etapas anteriores, de forma geral pde-se observar que no existem, portanto, formas das empresas minimizarem a redundncia de informaes nem como avaliar sua qualidade. A informao gerenciada por cada departamento que cria seu prprio mtodo com os recursos da empresa, o que identifica aspectos da forma feudalista de gerenciamento da informao. O modelo feudalista de gerenciamento da informao caracteriza-se pela predominncia de termos, categorias e elementos de dados que possuem o mesmo significado em toda organizao, porm so poucos padronizados na forma de sua abordagem. Embora existam esses esforos de alinhamento, as empresas avaliadas carecem da disseminao da padronizao de termos. Segundo os entrevistados, esses problemas eram muito mais acentuados no passado e as empresas tm se mostrado federelistas no sentido da busca de integridade e padronizao de vocabulrios.
Em relao ao acesso e eficincia das informaes, no existe uma via padronizada de fluxo nem a definio do campo onde a informao deve estar presente. Faltam claramente premissas e polticas de informao que possam ser utilizadas nas comunicaes gerenciais.
Os avaliados aceitam o fato de que o interesse dos departamentos de deixarem de prover algumas informaes possa existir, provocado pelo receio de demonstrarem fragilidade nos processos internos do prprio departamento.
Em geral, os respondentes no identificaram uma unidade proprietria do processo de coleta e anlise de dados do mercado, no entanto identificam que cada departamento tem sua metodologia de obteno, anlise e distribuio das informaes. Como mencionado anteriormente, o estilo feudalista
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ainda existente na empresa, tem forte contribuio para que as tomadas de decises tornem-se lentas e pouco precisas pela falta de padronizao da informao entre departamentos, o que dificulta a criao de relatrios gerenciais nicos.
Como os sistemas de informaes ou solues eletrnicas de acesso so deficientes, por no proverem de forma qualitativa e rapidamente a informao, parte significativa das empresas procura obter auxlio do departamento de tecnologia com o intuito de implantar melhorias nos atuais bancos de dados existentes. Essa tentativa de alinhamento de cada departamento com a TI importante, porm nem sempre traz resultados positivos, uma vez que carecem de uma poltica estratgica de gesto e disseminao das informaes. Nesse momento ocorre a criao de focos de tenso entre o pessoal de TI e os usurios, como previsto por Davenport e Prusak (1998) na seo 2.2.
consenso entre os respondentes que no possvel definir precisamente quem deve possuir informaes, e para qual finalidade sero utilizadas. No so claramente identificados potenciais benefcios. As informaes so departamentalmente elegveis e no consensualmente, porm, tem ocorrido um esforo na manuteno e participao de todos os departamentos (vendas, planejamento, marketing, produtos, finanas, manufatura e expedio) a fim de buscarem um alinhamento e uniformidade na arquitetura de informaes sobre o negcio.
Por no possuir a sistemtica de avaliaes peridicas das informaes pelos usurios, torna-se deficiente o alinhamento da estratgia da empresa com as informaes disponibilizadas. Segundo avaliao dos respondentes, as empresas investem periodicamente na manuteno/atualizao do processamento de dados, mas so deficientes na disseminao da informao. Os meios de distribuio mais utilizados pela empresa para disseminar informao so: e-mails, telefonemas, reunies semanais, newsletters, boletins eletrnicos e disponibilizao de relatrios globais na intranet.
Observa-se que as empresas apresentam, ainda de forma incipiente, um sistema de gesto do conhecimento. Importante salientar que, considerando o modelo do Sistema de Processo de Gesto do Conhecimento de Laudon e Laudon (2004) na seo 2.2, as empresas enfatizam o compartilhamento e a distribuio do conhecimento pela atual infraestrutura de tecnologia, porm, aparentemente, com pouca eficincia, pelo fato de toda a infraestrutura de tecnologia no obedecer a padres comuns entre seus departamentos. No se trata, neste ponto, do fato do departamento de TI no disponibilizar recursos, ou mesmo monopolizar informaes em bases de dados. Trata-se sim, de limitaes estratgicas de implantaes de sistemas eficientes de gesto do conhecimento.
Tendo em vista essa limitao, tais fatos contribuem para a formao do desequilbrio entre dominncia de usurio e dominncia de TI. A TI, portanto, no tem desempenhado um papel efetivo
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como suporte aprendizagem organizacional e ao desenvolvimento de estratgias competitivas, quando se considera sua utilizao no processo de monitoramento das variveis que compem o ambiente competitivo da empresa. Geram-se assim perdas e inconsistncias de dados que prejudicam a estruturao de medidas capazes de antecipar as mudanas do ambiente competitivo. O balanceamento entre os grupos antagnicos considerado difcil por Applegate et al. (2003) dadas as caractersticas de cada empresa, conforme consta na seo 2.2.
5 CONSIDERAES FINAIS
O presente trabalho procurou estudar as singularidades da tecnologia da informao (TI) quanto forma de subsidiar insumos e estruturas para a prtica de Gesto de Conhecimento em empresas de pequeno porte do setor de comrcio exterior de autopeas de reposio.
Acredita-se que a maior contribuio deste estudo refere-se formao de uma anlise crtica sobre o uso da Gesto de Conhecimento nas empresas, com a formulao de novos insights, dentro dos objetivos propostos. O estudo tambm passa a constituir mais um item de relevncia no tratamento da pequena empresa, uma vez que na viso de Carvalho (2000) a ampla maioria dos estudos em gesto do conhecimento costumeiramente est vinculada a grandes estruturas organizacionais.
Por meio de uma reviso bibliogrfica e da execuo de uma pesquisa exploratria, junto a 15 organizaes brasileiras, procurou-se conhecer o funcionamento e o cumprimento das funes da gesto do conhecimento em suas estruturas organizacionais. Buscou-se tambm estudar algumas peculiaridades inerentes tecnologia de informao como ferramental tecnolgico que sustenta e viabiliza a gesto do conhecimento.
Uma das constataes do trabalho foi que o conhecimento algo que pode ser criado, comprado ou adquirido, ao mesmo tempo em que pode se ampliar quando compartilhado. Junto a essa caracterstica, a sua gerao est diretamente associada experincia, intuio e aos valores individuais e corporativos e podem ser explcitos ou tcitos.
Na presente discusso foi defendida que a formao de conhecimento no passiva e espontnea a todo momento, mas um processo baseado em fluxos que podem ser regulados por meio das estruturas organizacionais, sistemas e competncias individuais dos colaboradores internos e externos. Portanto, as organizaes podem planejar a aquisio do conhecimento por meio de um processo organizado de aprendizagem, assim como aprender e administrar sua manuteno e internalizao.
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Perante a lgica de que a formulao e manuteno do conhecimento um fator mpar na obteno e gerao de novos diferenciais competitivos, surge a necessidade de uma administrao organizada e sistmica, apoiada pelas novas tecnologias da informao (TI). Em especial, o estudo ajudou a compreender melhor o papel das ferramentas de TI dentro dos fluxos de aprendizagem e na consolidao e formalizao do conhecimento. A gesto do conhecimento apresentou-se como uma capacidade das organizaes de implantar procedimentos compostos pela interao entre o capital humano, o capital organizacional e o capital formado pelos relacionamentos com os clientes, fornecedores e outros atores, para a criao de valor para os stakeholders da organizao.
Em consonncia com a ideia de que o conhecimento gerado ao ser compartilhado, ao contrrio de uma mercadoria que se desgasta com o uso, uma das atribuies mais importantes dessa gesto a organizao e sistematizao da sua aprendizagem. Como exemplo das possibilidades envolvidas nesse processo, verificou-se nas organizaes estudadas indcios que a gesto do conhecimento suportada pela TI facilitam e aperfeioam a aquisio de habilidades ou know-how nessas empresas. Alm disso, pode-se especular que essas atividades serviam de facilitadores para a compreenso e percepo da existncia da gesto do conhecimento, mesmo que de modo muitas vezes informal.
Nesse contexto, o presente estudo poder suscitar a novas questes sobre o tema, especialmente quanto forma de criao do conhecimento, sua manuteno e difuso. Poder buscar tambm aferir caractersticas intrnsecas a cada cluster ou unidade organizacional avaliada e buscar novas formas de compartilhamento da informao que maximizem sua ampliao de forma eficaz.
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KNOWLEDGE MANAGEMENT AND COMPETITIVENESS IN SMALL BUSINESS
SECTOR AUTOMOTIVE TRADE: AN EXPLORATORY STUDY
ABSTRACT
This exploratory study examines the characteristics of information technology (IT) as a means to
support and provide inputs and structures for knowledge management in small businesses. It focuses
on fifteen companies in the automobile spare parts import/export sector to identify, describe, and
confirm the existence and functionality of knowledge management within the companies. Analysis of
the responses identifies the presence of knowledge management in companies and the approach to
information technology used by the companies and highlights the possible alignment, or lack thereof,
of knowledge management with information technology management. The study shows that
knowledge collection is not always passive and spontaneous but a process based on flows that can be
regulated with the organizational structures and systems as well as the individual competencies of both
company and third-party employees.
Keywords: Management practices; Knowledge; Knowledge management; Information technology.
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Data do recebimento do artigo: 01/06/2011
Data do aceite de publicao: 05/09/2011
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2011
Abstract
This exploratory study examines the characteristics of information technology (IT) as a means to support and provide inputs and structures for knowledge management in small businesses. It focuses on fifteen companies in the automobile spare parts import/export sector to identify, describe, and confirm the existence and functionality of knowledge management within the companies. Analysis of the responses identifies the presence of knowledge management in companies and the approach to information technology used by the companies and highlights the possible alignment, or lack thereof, of knowledge management with information technology management. The study shows that knowledge collection is not always passive and spontaneous but a process based on flows that can be regulated with the organizational structures and systems as well as the individual competencies of both company and third-party employees. [PUBLICATION ABSTRACT]
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