RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v8i3.785
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
EMPREENDEDORISMO E DESENVOLVIMENTO: UMA RELAO EM ABERTO
Eda Castro Lucas Souza
Doutora em Sociologia pela Faculdade Latino Americana de Cincias Sociais FLACSO/UNB
Professora da Universidade de Braslia UNB
mailto:[email protected]
Web End [email protected]
Gumersindo Sueiro Lopez Jnior
Mestre pela Universidade de Braslia UNB
Administrador do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES
RESUMO
O objetivo deste trabalho analisar a relao entre os indicadores de empreendedorismo divulgados
pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) apoiados na Total Entrepreneurship Activity (TEA) e o
ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) de pases selecionados. No quadro terico so discutidos
os conceitos de empreendedorismo e de desenvolvimento, este, especificamente a partir de uma viso
mais ampla do que puramente a questo econmica. Metodologicamente, para relacionar esses
indicadores, foram utilizados dados dos relatrios do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade
(IBQP) e do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e foi realizada anlise de
correlao de Pearson. O principal resultado deste estudo mostra que todas as correlaes encontradas
so negativas. Com isso, foi possvel inferir que pases considerados na pesquisa GEM como mais
empreendedores, ocupando os primeiros lugares no ranking de empreendedorismo, portanto com alto
ndice de TEA, so pases com o IDH mais baixo. Isso remete a uma reflexo sobre a relao
estabelecida de empreendedorismo com desenvolvimento e a concepo terica utilizada para
conceituar empreendedorismo na relao estabelecida de empreendedorismo com desenvolvimento na
pesquisa GEM.
Palavras-chave: Empreendedorismo; Desenvolvimento; ndice de Desenvolvimento Humano.
Empreendedorismo e Desenvolvimento: Uma Relao em Aberto
1 EMPREENDEDORISMO E DESENVOLVIMENTO: COMO IDENTIFICAR AS
RELAES
Contextos sociais altamente complexos em permanente processo de mudana, principalmente os que se tem vivido com a crise financeira mundial, instalada em torno de 2008, levam a demandas por novas lgicas econmicas e sociais, que respaldem essencialmente as atividades produtivas.
Por outro lado, novas tecnologias e a criao de novos produtos motivam o surgimento de empreendimentos, que buscam entrar competitivamente no mercado nacional e mundial. A concretizao do novo um processo que est sujeito a uma srie de influncias internas e externas organizao. Sendo importante para inovar uma liderana bem definida, todo esse processo depende fortemente da capacidade de inovao, de um modo geral, dos atores sociais e, especificamente, dos empreendedores. Nesse quadro, torna-se evidente a importncia de ambincias propcias ao desenvolvimento de prticas reais inovadoras, as quais podem ser consideradas manifestaes culturais, ou mesmo manifestaes de uma cultura desenvolvida por atores empreendedores. Isso refora a importncia do papel do empreendedor no desenvolvimento de prticas organizacionais que representem uma cultura inovadora, e, consequentemente, considerada empreendedora.
O poder de uma cultura inovadora em uma organizao, afirmam Davila, Epstein e Shelton (2007), possibilita a construo de uma fonte vital de energia competitiva, bem como uma fora energizante para todos os que integram a companhia (p. 248). Essa fora induz os atores sociais a buscarem novas oportunidades, assumirem riscos para realizarem novos empreendimentos com autonomia para criar, explorar e inovar. Essa definio coincide com a viso de vrios autores, como Davidsson (2004), com a do empreendedor, elemento fundamental no processo de inovao.
Schumpeter (1982) considerou o ator social que empreende de forma inovadora o empreendedor inovador o principal propulsor do desenvolvimento econmico. Na viso de Schumpeter (1982), pode-se dizer que a inovao o diferencial do empreendedor, ou, ainda, que sua caracterstica principal inovar, sejam novos produtos, servios, mercados ou uma nova fonte de matria-prima. Interpretando as palavras desse autor, convm ressaltar que o ato e o processo de empreender geram desenvolvimento econmico, o que amplamente difundido e aceito por estudiosos do tema.
Essa premissa passa a embasar pesquisas como a destacada pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBPQ, 2009), quando afirma que a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor GEM foi concebida como uma avaliao abrangente do papel do empreendedorismo como principal propulsor do crescimento econmico (p. 133). A convico dessa premissa confirmada,
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em 2003, no prefcio do relatrio brasileiro do GEM, ao ser afirmado que o empreendedorismo a alavanca endgena dos desenvolvimentos social e econmico (IBPQ, 2004, p. v). Isso reforado no relatrio de 2008, no qual tanto o processo de empreender como o ator social, o empreendedor, so apresentados como pilares de mudana, conduzindo as transformaes econmicas, sociais e ambientais.
A concepo de empreendedorismo altamente heterognea, sendo suas diferentes perspectivas refletidas nos distintos conceitos utilizados na literatura para defini-lo. No entanto, essa diversidade conceitual possui algo de comum que a relao do ato de empreender com a capacidade de inovar, a qual est vinculada ao conceito de desenvolvimento.
No entanto, embora o conceito de desenvolvimento, em uma viso clssica e mesmo neoclssica, possua como referencial o modelo capitalista industrial de reproduo, baseado, essencialmente na taxa de crescimento dos fatores de produo, as novas relaes estabelecidas entre o Estado, o setor produtivo e a sociedade reconceituam o termo desenvolvimento com base nas relaes sociais de produo. Identifica-se, por exemplo, uma inverso da relao taxa de desemprego e crescimento econmico, tornando-se negativa, essencialmente pelo impacto do desenvolvimento tecnolgico e da nova dinmica dos padres de produo provocada pela mundializao em pases em desenvolvimento. Alm disso, a distribuio de renda to importante quanto o simples crescimento econmico, sobretudo no Brasil que possui alta concentrao de renda. Fenmenos como esses colocam em pauta novas reflexes e debates centrados no desenvolvimento econmico e social, permeado por componentes culturais.
Nesse sentido, a partir de uma conceituao mais ampla de desenvolvimento, indo alm da questo puramente econmica, utilizou-se neste trabalho o IDH para avaliar desenvolvimento, ndice esse que inclui o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, corrigido pelo poder de compra da moeda local, levando em conta a expectativa de vida ao nascer e a educao, avaliada, esta, pelo ndice de analfabetismo e pela taxa de matrcula em todos os nveis de ensino (Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento [PNUD], 2007).
Essa escolha baseou-se, principalmente, na concepo de que as polticas pblicas de uma nao apresentam como finalidade a oferta de melhores condies de vida sua populao, o que, em tese, seria potencializado por uma maior atividade empreendedora, dada sua influncia no crescimento econmico, gerao de empregos e distribuio de renda.
Dessa forma, o objetivo deste artigo foi analisar a relao entre os indicadores de empreendedorismo divulgados pelo GEM apoiados na TEA e o IDH de pases selecionados. O IDH composto pelas variveis PIB per capita, longevidade e educao, que para fins deste trabalho
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considerado o indicador de desenvolvimento e a TEA utilizada como indicador de empreendedorismo na pesquisa GEM.
Para essa anlise, a seguir, ser tratado o conceito de empreendedorismo, um dos conceitoschave deste trabalho.
2 EMPREENDEDORISMO
Considerando que o desenvolvimento econmico pode advir no s da criao de novos empreendimentos, mas tambm da sustentabilidade destes e que empreendedorismo, na viso de Schumpeter (1982), a mola mestra desse desenvolvimento, torna-se fundamental a realizao de estudos sobre esse conceito, possibilitando com isso a criao de ambientes e condies para a formao de competncias empreendedoras.
Carland, Hoy, Boulton, e Carland (1984) consideram que um dos principais problemas nos estudos de empreendedorismo a definio e a identificao do que ser empreendedor, pois, sugerem que muitos estudos no distinguem adequadamente entre empreendedores e, principalmente, proprietrios de pequenos negcios. Isso pode ocorrer em razo dos conceitos de empreendedorismo e, mesmo de empreendedor, ainda no estarem consolidados.
Schumpeter (1982), por sua vez, enfatizando a importncia da capacidade empreendedora como fomentadora de mudanas econmicas e geradora de empregos, vincula empreendedorismo inovao e considera a criatividade como o impulso da inovao, tornando-se essencial s mudanas socioeconmicas.
Stevenson e Gumpert (1985) entendem empreendedorismo como parte de um contexto de variao de comportamento, em que o indivduo se situa em um continuum que possui, em um dos extremos, o administrador voltado para a manuteno do status quo e, no outro, o administrador com perfil empreendedor, orientado para a mudana, a inovao e a identificao de oportunidades. Carland, Carland, e Hoy (1992) reforam a viso do continuum, concordando que esta perspectiva possibilita uma descrio mais apropriada desse fenmeno.
consenso entre pesquisadores desse tema (Carland et al., 1984; Davidsson, 2006; Filion, 1999; Gimenez, Incio Jr. & Sunsin, 2001; Souza, 2001) que o empreendedorismo um tema emergente, altamente heterogneo, ao qual concerne mltiplos nveis de anlise, o que pode explicar o fato de ainda no possuir um conceitual terico universal, ou uma teoria consolidada, como destaca Souza (2001, p. 30): tudo est em criao, inclusive a prpria conceituao e, especialmente, uma
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metodologia para o desenvolvimento dessa competncia que envolve bem mais do que a aquisio de conhecimento, mas o aprender a aprender, a ser, a fazer e, principalmente, a conviver.
Nessa mesma linha de pensamento, Gimenez et al. (2001) consideram o empreendedorismo um atributo subjetivo e afirmam que uma tarefa difcil quantificao de um atributo subjetivo, no havendo um teste ou instrumento universal que possa ser considerado o estado da arte no campo (p. 12).
Slevin e Covin (1990) apresentam como fatores do empreendedorismo correr risco, ou seja, preferncia para desenvolver projetos de alto risco, e proatividade, como a iniciativa para realizar aes e obter resultados. Para a pesquisa GEM, empreendedorismo qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou novo empreendimento (IBPQ, 2009).
Para fazer referncia ao ator que empreende, procurou-se, aqui, trazer o pensamento de Schumpeter (1982) ao dizer que o empreendedor deixa de ser o agente do equilbrio e do desequilbrio para vir a ser aquele que cria outro estado de equilbrio para a inovao. O empreendedor, ainda na viso desse autor, um lder econmico encarregado de fazer acontecer as novas possibilidades de produo.
Para alcanar o objetivo deste trabalho, ou seja, de analisar, dentre as diferentes medidas de empreendedorismo, aquela utilizada e desenvolvida no GEM, essa pesquisa apresentada a seguir.
3 GLOBAL ENTREPRENEURSHIP MONITOR
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) uma pesquisa sobre a atividade empreendedora, realizada desde 1999 a partir da iniciativa conjunta entre a Babson College e a London Business School e apoio do Kaufman Center for Entrepreneurial Leadership, tem como objetivo facilitar as comparaes entre os pases a respeito da atividade empreendedora, estimar o papel da atividade empreendedora no crescimento econmico, determinar as condies responsveis pelas diferenas entre os pases em relao ao nvel de empreendedorismo e facilitar polticas que possam ser eficazes no incremento dos negcios. Para isso, segundo o IBQP (2009), desde a criao da pesquisa foram mantidos a base conceitual e os principais procedimentos, mesmo que aprimoramentos tenham sido realizados por meio do refinamento de algumas medidas e instrumentos.
No primeiro relatrio GEM 1999 , a pesquisa apresentou resultados de estudos em dez pases, incluindo Dinamarca, Finlndia e Israel e os pases do G7 Alemanha, Canad, Estados Unidos, Frana, Itlia, Japo e Reino Unido. No relatrio GEM 2000, alm desses dez pases, foram
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includos mais 11, entre estes o Brasil. J em 2001 a pesquisa contava com 29 pases e em 2002 com 37, sendo 19 da Europa, nove da sia, quatro da Amrica Latina, dois da Amrica do Norte, dois da Oceania e um da frica. O relatrio de 2003 teve a participao de 31 pases representando a maior parte do PIB mundial, variadas culturas e nveis de desenvolvimento econmico (IBPQ, 2004, p. ix).
Ao analisar os dados do GEM, por meio de seus relatrios, observa-se em 2004 a participao de 34 pases. Mais recentemente, a anlise do relatrio GEM de 2008 apresenta a participao de 43 pases, representantes de todos os continentes e das principais economias do mundo, com exceo da China.
Tendo como foco principal o comportamento do indivduo, a pesquisa GEM adota como definio de empreendedorismo: qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autnoma, uma nova empresa ou a expanso de um empreendimento existente por um indivduo, grupos de indivduos ou por empresas j estabelecidas (IBPQ, 2009).
Desde o primeiro relatrio, a pesquisa GEM tem destacado como condies de estmulo ou no da atividade empreendedora determinados contextos nacionais que desempenham um papel crtico na criao de um ambiente favorvel ou restritivo a atividade empreendedora (IBPQ, 2004, p. 5).
O modelo conceitual da pesquisa GEM, dito em seus relatrios, busca identificar condies que afetam a atividade empreendedora, influenciam a abertura de novos negcios e o crescimento das pequenas empresas. Essas condies, denominadas de Condies Nacionais que Afetam o Empreendedorismo, combinadas s habilidades e motivao daqueles que desejam iniciar um novo negcio, influenciam o processo empreendedor que, como resultado final, afetar positivamente o crescimento econmico mundial. A Fgura 1 apresenta o modelo conceitual da pesquisa GEM.
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Figura 1 - Modelo Conceitual da Pesquisa GEM
Fonte: IBPQ (2009, p. 135).
A metodologia GEM est dividida em trs diferentes pesquisas que so: pesquisa em fontes secundrias, pesquisa com a populao adulta e pesquisa com especialistas no tema empreendedorismo de cada pas. A pesquisa em fontes secundrias tem como objetivo descrever um panorama do pas com base em um conjunto de indicadores que possibilitem a comparao nos diferentes pases participantes. Entre os principais indicadores analisados destacam-se a competitividade e as variveis que a compem, como crescimento econmico e tamanho da economia, qualidade de vida da populao, qualidade e alcance do sistema educacional, qualidade da infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento tecnolgico utilizando fontes nacionais e internacionais (IBPQ, 2004, p. 9).
A pesquisa com a populao adulta (18 a 64 anos) de cada pas aplicada a, no mnimo, 2 mil pessoas de acordo com a distribuio geogrfica, analisando sempre uma capital, uma cidade mdia e uma cidade pequena em cada regio pesquisada. Nessa pesquisa utilizado um questionrio formado por perguntas fechadas. Em funo desses dados coletados calculada a taxa total de atividade empreendedora (TEA) que se desdobra em outras taxas (IBPQ, 2004).
Entre as diferentes medidas realizadas pela pesquisa GEM h a classificao dos empreendedores em diferentes categorias, que pode ser quanto ao estgio do empreendimento, inicial ou estabelecido, ou quanto motivao para empreender, por oportunidade ou por necessidade (IBPQ, 2009).
Empreendedores iniciais so aqueles que esto frente de negcios com at 42 meses de vida (trs anos e meio). Esses empreendedores subdividem-se em dois tipos: os nascentes, aqueles que esto frente de um negcio em implantao a busca de espao, a escolha de um setor, realizando estudo
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de mercado, etc.; e os novos, cujos negcios j esto em funcionamento e geraram remunerao por pelo menos trs meses. Os empreendedores estabelecidos, por sua vez, so aqueles que esto frente de empreendimentos com mais de 42 meses (IBPQ, 2009).
Quanto motivao para empreender, os empreendedores so classificados na pesquisa GEM em dois tipos: o denominado empreendedor por oportunidade, aquele indivduo motivado pela percepo de um nicho de mercado em potencial, e o empreendedor por necessidade, ou seja, aquele motivado pela falta de alternativa satisfatria de trabalho e renda (IBPQ, 2009).
A pesquisa com especialistas nacionais utiliza dois instrumentos que so empregados em todos os pases participantes da pesquisa. O primeiro um questionrio composto por grupos de questes fechadas sobre as condies que favorecem ou dificultam a dinmica empreendedora no pas (IBPQ, 2004, p. 13). O segundo instrumento trata-se de um roteiro de entrevista semiestruturada que permite captar informaes qualitativas sobre as condies para o empreendedorismo presentes no primeiro instrumento (IBPQ, 2004, p. 13).
A anlise das respostas dos dados obtidos por esses instrumentos prope-se a: 1) verificar recorrncias acerca dos limites, contribuies e sugestes dos especialistas em relao s condies para o empreendedorismo; 2) cruzar e correlacionar as inferncias obtidas com os dados coletados na pesquisa com a populao adulta e 3) comparar essas inferncias com os dados obtidos em anos anteriores.
Os diferentes relatrios publicados pela pesquisa GEM apresentam um resultado comum que so as taxas relativamente altas do TEA para os pases em desenvolvimento ou subdesenvolvidos e baixas taxas para os pases desenvolvidos, o que caracteriza os primeiros como mais empreendedores que os segundos. O quadro abaixo apresenta os cinco pases mais e menos empreendedores nas ltimas edies da GEM.
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2003 2004 2005 2006 2007 2008
Maiores Taxas de Empreendedorismo no Mundo
Uganda Peru Venezuela Peru Repblica
Dominicana
Bolvia
Venezuela Uganda Tailndia Colmbia Venezuela Peru
Argentina Equador Nova
Zelndia
Filipinas Colmbia Colmbia
Chile Jordnia Jamaica Jamaica Peru Angola
Nova Zelndia Nova Zelndia Chile Indonsia Tailndia Repblica
Dominicana Menores Taxas de Empreendedorismo no Mundo
Hong Kong Sucia Eslovnia Emirados
rabes
Frana Dinamarca
Itlia Blgica Sucia Itlia Blgica Romnia Japo Hong Kong Blgica Sucia Porto Rico Alemanha Crocia Eslovnia Japo Japo Rssia Rssia Frana Japo Hungria Blgica ustria Blgica
Quadro 1 - As Cinco Maiores e as Cinco Menores Taxas de Empreendedorismo de 2003 a 2008.
Fonte: IBPQ (2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009).
Segundo os dados obtidos pela pesquisa GEM, publicados entre 2003 e 2008, a posio relativa de paises com economias fortes e desenvolvidas, como Alemanha, Frana, Japo e Itlia, contrasta com a posio de pases de economias pouco desenvolvidas, como Uganda, Tailndia, Angola e Venezuela, considerados estes, segundo o ndice TEA, significativamente mais empreendedores do que aqueles. Ao observar-se no quadro 1, acima, que o segundo grupo de pases, ainda conforme o ndice TEA, compe o ranking dos pases menos empreendedores, a relao direta da influncia do empreendedorismo sobre o desenvolvimento econmico no facilmente percebida. Esse resultado passa a ser questionado, principalmente ao considerar que a pesquisa se baseia na linha shumpeteriana, associando empreendedorismo ao desenvolvimento econmico, e os pases desse segundo grupo apresentam os ndices de desenvolvimento humano (IDH) mais elevados.
Para melhor embasar a reflexo sobre os resultados da pesquisa GEM, ser apresentado a seguir o indicador IDH, utilizado, neste trabalho, para representar desenvolvimento, embora se tenha conhecimento da complexidade e da natureza multivariada desse conceito.
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4 NDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH)
Os indicadores de desenvolvimento humano so calculados pelo PNUD e objetivam avaliar o desenvolvimento a partir de um conceito mais amplo que o puramente econmico, oferecendo uma avaliao geral das metas alcanadas pelos pases em variadas reas do desenvolvimento humano.
O IDH um ndice que mede a mdia de metas alcanadas pelo pas nas dimenses vida longa e saudvel, mensurada por meio da esperana de vida nascena, acesso educao, medido atravs da alfabetizao entre os adultos e a escolarizao bruta, combinada nos nveis de ensino primrio, secundrio e superior, e as condies de vida digna, medidas pelo produto interno bruto per capita em Poder de Paridade de Compra (PPC) em dlares americanos (PPC US$). Esse ndice representa uma alternativa poderosa ao PIB per capita enquanto medida sumria de desenvolvimento humano, ainda que o conceito de desenvolvimento humano seja por demais amplo para ser medido por um nico ndice, qualquer que seja ele (PNUD, 2007, p. 227).
O relatrio de 2007/2008 do PNUD traz os dados referentes a 175 Estados-membros das Naes Unidas mais Hong Kong e Autoridade Palestina. Os dados utilizados para a elaborao das tabelas so aqueles disponibilizados ao Gabinete do Relatrio de Desenvolvimento Humano (GRDH) utilizando bases de dados internacionais que possuem a misso, os recursos e competncia para recolherem e compilarem dados internacionais sobre indicadores estatsticos especficos (PNUD, 2007).
Os dados referentes ao PIB per capita so fornecidos pelo Banco Mundial com base em dados de preos do ltimo inqurito do Programa de Comparao Internacional (PCI) e do PIB em moeda local dos dados contabilsticos nacionais, j convertidos em termos de PPC para eliminar as diferenas nos nveis de preos nacionais. Esse relatrio classifica os pases sob os aspectos de nvel de desenvolvimento humano, de rendimentos, dos principais grupos mundiais e por regio e destaca que estas designaes no exprimem necessariamente um juzo sobre o estgio de desenvolvimento de um pas ou rea em particular (PNUD, 2007, p. 224).
Quanto ao nvel de desenvolvimento humano, os paises so classificados em desenvolvimento humano elevado (IDH de 0,800 ou maior), desenvolvimento humano mdio (IDH de 0,5 a 0,799) e desenvolvimento humano baixo (IDH inferior a 0,5). Sob o aspecto de rendimentos, os pases so agrupados utilizando a classificao do Banco Mundial em que rendimento elevado corresponde a rendimento nacional bruto per capita de US$ 10726,00 ou superior, rendimento mdio entre US$ 876,00 e US$ 10725,00 e rendimento baixo US$ 875,00 ou menor (PNUD, 2007).
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As principais classificaes mundiais utilizadas so os pases em via de desenvolvimento, Europa Central e Oriental e a Comunidade de Estados Independentes (CEI) e a Organizao para a Cooperao e para o Desenvolvimento (OCDE), e essas classificaes no so mutuamente exclusivas. A classificao regional uma subdiviso da classificao dos pases em via de desenvolvimento em Estados rabes, sia Oriental e Pacfico, Amrica Latina e as Carabas (includo o Mxico), Sul da sia, Sul da Europa e frica Subsaariana (PNUD, 2007).
Acerca da metodologia e da comparao entre os diferentes relatrios de desenvolvimento humano, o PNUD (2007) faz a ressalva de que as estatsticas apresentadas em diferentes edies do Relatrio podem no ser comparveis em virtude de revises dos dados ou mudanas na metodologia. Assim, desaconselha fortemente uma anlise de tendncias baseada em dados fornecidos por diferentes edies e completa afirmando que: do mesmo modo, os valores e nveis do IDH no so comparveis entre as edies do Relatrio (PNUD, 2007, p. 224).
5 METODOLOGIA
Foi analisada a relao entre os resultados da GEM obtidos por meio do ndice TEA, que classificou pases como mais e menos empreendedores e os pases com o maior ndice de desenvolvimento humano, definidos por meio do ndice IDH. Os dados utilizados foram os disponveis nos relatrios publicados pelo IBQP, responsvel pela pesquisa GEM no Brasil e pelo PNUD, responsvel pelo Relatrio de Desenvolvimento Humano, ambos disponveis nos stios das duas instituies.
Os dados referentes ao IDH foram levantados no Relatrio de Desenvolvimento Humano 2007/2008 que apresenta ndice de desenvolvimento humano desde 2005. Desse relatrio foram extrados os dados referentes ao IDH e ao PIB per capita dos pases participantes da pesquisa GEM.
Quanto aos dados da pesquisa GEM, estes foram obtidos no relatrio Empreendedorismo no Brasil (IBPQ, 2009), o qual traz as sries histricas referentes aos anos 2001 a 2008 da pesquisa. E, em razo do dado mais atualizado do IDH ser de 2005, optou-se por utilizar somente os dados da GEM entre os anos 2001 e 2004. Essa deciso baseia-se no objetivo do artigo, de identificar a relao entre empreendedorismo e desenvolvimento, entendendo-se empreendedorismo conforme definido pela pesquisa em anlise, e da premissa da qual essa pesquisa parte. Ou seja, respectivamente, empreendedorismo como qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autnoma, uma nova empresa ou a expanso de um
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empreendimento existente por um indivduo, por um grupo de indivduos ou por empresas j estabelecidas (IBPQ, 2009, p. 134), e a premissa bsica da pesquisa, embasada em Schumpeter (1982), de ser o empreendedorismo o principal propulsor do crescimento econmico.
As tabelas contendo os dados utilizados na pesquisa esto no anexo A.
Para anlise dos dados utilizou-se como mtodo estatstico a correlao de Pearson (r de Pearson), medida linear entre duas variveis quantitativas que permite medir o grau de correlao e a direo dessa correlao, ressaltando que a correlao positiva presume o crescimento das variveis conjuntamente e a negativa permite interpretar que aumentando uma varivel a outra diminui. Foi realizada avaliao da normalidade pelo teste Shapiro-Wilk (n<50) para confirmar a distribuio normal das variveis.
As medidas disponibilizadas pela pesquisa GEM (empreendedores iniciais, empreendedores nascentes, empreendedores novos, empreendedores iniciais por oportunidade e empreendedores iniciais por necessidade) dos anos 2001, 2002, 2003 e 2004 foram correlacionadas com as variveis IDH e PIB per capita disponibilizadas pelo relatrio de desenvolvimento humano (PNUD, 2007), buscando identificar diferentes relaes entre as variveis. Os resultados so apresentados a seguir.
6 RESULTADOS E DISCUSSO
As correlaes das taxas de empreendedorismo disponibilizadas pela pesquisa GEM dos anos 2001, 2002, 2003 e 2004 com o IDH de 2005 so apresentados na Tabela 1, a seguir.
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IDH 2005
Correlao de Pearson Sig. (2 tailed) N
Empreendedores Iniciais 2001 -0,215 0,272 28 Empreendedores Iniciais 2002 -0,442** 0,007 36 Empreendedores Iniciais 2003 -0,603** 0,000 31 Empreendedores Iniciais 2004 -0,635** 0,000 34 Empreendedores Nascentes 2001 -0,293 0,131 28 Empreendedores Nascentes 2002 -0,453** 0,005 36 Empreendedores Nascentes 2003 -0,487** 0,005 31 Empreendedores Nascentes 2004 -0,540** 0,001 34 Empreendedores Novos 2001 -0,050 0,802 28 Empreendedores Novos 2002 -0,322 0,056 36 Empreendedores Novos 2003 -0,704** 0,000 31 Empreendedores Novos 2004 -0,695** 0,000 34 Emp. Iniciais Oportunidade 2001 0,078 0,695 28 Emp. Iniciais Oportunidade 2002 -0,256 0,133 36 Emp. Iniciais Oportunidade 2003 -0,441* 0,013 31 Emp. Iniciais Oportunidade 2004 -0,470** 0,007 32 Emp. Iniciais Necessidade 2001 -0,636** 0,000 28 Emp. Iniciais Necessidade 2002 -0,582** 0,000 36 Emp. Iniciais Necessidade 2003 -0,772** 0,000 31 Emp. Iniciais Necessidade 2004 -0,799** 0,000 32
* Correlao significante ao nvel de 0.05 ** Correlao significante ao nvel de 0.01
Fonte: Elaborado pelos autores
Conforme se observa na Tabela 1, grande parte das correlaes entre as diferentes taxas de empreendedorismo e o IDH so significantes e com uma relao negativa. Do total de 20 possveis relaes, 14 so significantes e negativas, indicando uma possvel relao inversa entre os dois ndices.
As correlaes significantes variaram entre 0,441 e 0,799. As maiores correlaes foram encontradas nas taxas de empreendedores iniciais por necessidade, dos quatro anos analisados, 0, 636, 0,582, 0,772 e 0,799. As correlaes significantes mais fracas foram encontradas nas taxas de
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Tabela 1 - Correlaes GEM e IDH
GEM
Empreendedorismo e Desenvolvimento: Uma Relao em Aberto
empreendedores iniciais por oportunidade, 0,441 e 0,470, dos anos 2003 e 2004 e de empreendedores iniciais de 2003 de 0,442.
No houve significncia nas correlaes entre o IDH e as seguintes taxas de empreendedorismo: empreendedores iniciais 2001, empreendedores nascentes 2001, empreendedores novos 2001, empreendedores novos 2002, empreendedores iniciais por oportunidade 2001 e empreendedores iniciais por oportunidade 2002. Todas as demais relaes apresentaram correlaes significativas e negativas.
Como a premissa implcita da relao entre empreendedorismo e desenvolvimento econmico base dos principais estudos na rea de empreendedorismo, efetuou-se tambm o clculo das correlaes entre as taxas de empreendedorismo e o PIB per capita utilizado como uma das bases para o clculo do IDH. Os resultados encontrados so apresentados na Tabela 2 a seguir.
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Tabela 2 - Correlaes GEM e PIB per capita.
GEM IDH 2005
Correlao de Pearson Sig. (2 tailed) N
Empreendedores Iniciais 2001 -0,342 0,075 28 Empreendedores Iniciais 2002 -0,485** 0,003 36 Empreendedores Iniciais 2003 -0,578** 0,001 31 Empreendedores Iniciais 2004 -0,611** 0,000 34 Empreendedores Nascentes 2001 -0,378* 0,047 28 Empreendedores Nascentes 2002 -0,443** 0,007 36 Empreendedores Nascentes 2003 -0,527** 0,002 31 Empreendedores Nascentes 2004 -0,544** 0,001 34 Empreendedores Novos 2001 -0,201 0,306 28 Empreendedores Novos 2002 -0,410* 0,013 36 Empreendedores Novos 2003 -0,571** 0,001 31 Empreendedores Novos 2004 -0,610** 0,000 34 Emp. Iniciais Oportunidade 2001 0,010 0,958 28 Emp. Iniciais Oportunidade 2002 -0,257 0,131 36 Emp. Iniciais Oportunidade 2003 -0,442* 0,013 31 Emp. Iniciais Oportunidade 2004 -0,525** 0,002 32 Emp. Iniciais Necessidade 2001 -0,755** 0,000 28 Emp. Iniciais Necessidade 2002 -0,612** 0,000 36 Emp. Iniciais Necessidade 2003 -0,673** 0,000 31 Emp. Iniciais Necessidade 2004 -0,633** 0,000 32
* Correlao significante ao nvel de 0.05 ** Correlao significante ao nvel de 0.01
Fonte: Elaborado pelos autores
Os dados apresentados na Tabela 2 demonstram que a grande maioria das correlaes entre as taxas de empreendedorismo e o PIB per capita so significantes e negativas. Do total de 20 possveis relaes, 16 so significantes e negativas, indicando uma relao inversa entre os dois ndices.
As correlaes significantes variaram entre 0,410 e 0,755. As maiores correlaes significantes foram encontradas nas taxas de empreendedores iniciais por necessidade dos anos 2001 a 2004, 0,755, 0,612, 0,673 e 0,633, e as mais fracas encontradas foram nas taxas de empreendedores nascentes 2001 e empreendedores novos 2002, 0,378 e 0,410.
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No se identificou correlao significante entre o PIB per capita e as seguintes taxas de empreendedorismo: empreendedores iniciais 2001, empreendedores novos 2001, empreendedores iniciais por oportunidade 2001 e empreendedores iniciais por oportunidade 2002. Todas as demais relaes apresentaram correlaes significantes e negativas.
Na comparao entre as Tabelas 1 e 2, os resultados encontrados so semelhantes e com a mesma tendncia de identificao de uma relao significante inversa entre IDH e PIB per capita e as taxas de empreendedorismo calculado pela pesquisa GEM. Ou seja, os resultados apresentados demonstram: relao inversa entre IDH e as taxas de empreendedorismo, e relao inversa entre o PIB per capita e as taxas de empreendedorismo, indicando que quanto maior um dos ndices menor o outro.
Resumindo: os resultados encontrados nas Tabelas 1 e 2 mostram que todas as correlaes foram negativas, indicando que pases considerados na pesquisa GEM como mais empreendedores, como a Bolvia, ocupando, segundo a TEA, o primeiro lugar no ranking, so pases com IDH mais baixo.
7 CONCLUSES
Este artigo, que analisou a relao entre empreendedorismo e desenvolvimento, busca provocar o debate sobre a heterogeneidade e a complexidade concernente ao fenmeno empreendedorismo com seus mltiplos nveis de anlise.
Longe de ser conclusivo, o intuito do texto estimular crticas e sugestes que possam contribuir para o aprofundamento do estudo desse conceito e de seu papel na economia de um pas. O que pode ser justificado por autores como Hisrich, Lagan-Fox e Grant (2007), que consideram o empreendedorismo a maior fonte de crescimento econmico e de inovao, promovendo produtos e servios de qualidade, competio e flexibilidade econmica. Dana (1993), Davidsson (2006) e Shapero (1984) reforam a importncia dessa reflexo ao afirmar que o impacto do empreendedorismo em empresas e regies se d em termos de crescimento de desempenho econmico.
Assim, as anlises aqui realizadas levam a uma reflexo sobre os resultados da relao empreendedorismo e desenvolvimento da pesquisa GEM que: de um lado, possui como premissa, baseada no pensamento schumpeteriano, que o empreendedorismo a alavanca endgena do desenvolvimento social e econmico (IBPQ, 2004), e de outro lado, apresenta correlao inversamente
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proporcional do ndice de empreendedorismo, TEA, criado na prpria pesquisa, com o ndice de desenvolvimento, representado pelo IDH.
Embora sejam mltiplas e distintas as variveis de desenvolvimento e empreendedorismo, o que recomenda a no reduo de anlises apenas com dois indicadores, a TEA e o IDH, essa correlao merece ser analisada com mais profundidade, principalmente por ser a TEA a escala de medida apresentada no GEM e o IDH um indicador reconhecido como importante mundialmente.
Tentar compreender o desenvolvimento a partir de um nmero reduzido de variveis pode ser por demais restrito, e esperar uma relao linear entre uma varivel comportamental e o desenvolvimento ao longo de um grande nmero de paises pode no ser a melhor maneira de avaliar essa relao. importante ressaltar que a anlise das correlaes aqui realizadas no garante uma relao causal, mas os resultados apresentados indicam uma relao contrria quela que se entende ser a esperada em muitas pesquisas sobre empreendedorismo e, sobretudo, na pesquisa GEM, visto a sua premissa inicial.
Os conceitos de desenvolvimento e suas formas de mensurao fazem parte de um debate frequente e aberto, como , tambm, o caso do conceito de empreendedorismo, plenamente discutido pela academia em diferentes pases, permitindo em distintas condies relacionar o vigor econmico de um pas com a sua capacidade de criar e desenvolver negcios sustentveis de mdio e longo prazo. Por outro lado, pesquisa como a realizada por Castro (1996) traz resultados que possibilitam divergncias a respeito da afirmativa que o empreendedorismo gere desenvolvimento e crescimento econmico. evidente que outras variveis a so consideradas, como investimentos derivados do crescimento direcionados para a tecnologia de automao e a substituio do homem por mquinas, mudando padres de produo.
Entretanto, inmeras maneiras de compreender o empreendedorismo e as tentativas por demais amplas de analisar o fenmeno podem levantar dvidas, por excelncia, quanto s categorias de anlise e relaes entre o empreendedorismo e o desenvolvimento, sendo uma dessas dvidas evidenciada nas correlaes apresentadas entre o IDH e o PIB per capita e as taxas de empreendedorismo medidas pelo GEM que apresentam diversas relaes significativas, contrariando algumas premissas da prpria pesquisa.
A questo aqui a coerncia entre a definio de empreendedorismo, ou seja, qualquer tentativa de criao de um novo negcio ou novo empreendimento, como, por exemplo, uma atividade autnoma, uma nova empresa ou a expanso de um empreendimento existente por um indivduo, grupos de indivduos ou por empresas j estabelecidas (IBPQ, 2009, p. 134), utilizada na pesquisa
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GEM, e a premissa shumpeteriana que evidencia a grande relao, por exemplo, da inovao com o empreendedorismo.
Ao ser analisada a relao entre a TEA, Donos de Novos Negcios, Donos de Novos Negcios Estabelecidos e Atividade Empreendedora Nascente com o crescimento do PIB, Castro e Gonalves (2008) encontraram uma correlao positiva fraca e idntica entre o TEA e crescimento do PIB e Donos de Novos Negcios e crescimento do PIB (coeficiente de Pearson = 0,296, p=0,060). Para a Atividade Empreendedora Nascente e o crescimento do PIB (coeficiente de Pearson = 0,234, p=0,140) e Donos de Negcios Estabelecidos e crescimento do PIB (coeficiente de Pearson = 0,165, p=0,302) a correlao foi no estatisticamente significativa.
Ao comparar o TEA 2005 com o crescimento do PIB de 2006, Castro e Gonalves (2008) no encontraram uma correlao estatisticamente significativa, entretanto, quando analisada a relao entre TEA e o crescimento do PIB de 2004 foi identificada uma correlao positiva moderada (coeficiente de Pearson = 0,557, p=0,001), o que pode sugerir que a deciso de empreender esteja sendo influenciada pelo crescimento econmico anterior e no o contrrio.
Dvidas acerca do tipo de empreendedorismo necessrio para estimular o desenvolvimento surgem a partir dos resultados apresentados neste texto e podem ser reforados pelos resultados da pesquisa de Castro e Gonalves (2008). Seguramente existem diversos outros fatores que podem influenciar nessa relao, como as taxas de desemprego, taxa de mortalidade de empresas, fatores institucionais e de assistncia social, alm de diferenas culturais e de valorizao do papel do empreendedor em cada pas ou cultura. Cabe aqui ressaltar que estudos sobre atividades empreendedoras em determinados grupos sociais so pouco aplicveis a outros, e que a escolha de definies de empreendedorismo levam a diferentes interpretaes desse fenmeno. Ao observar o ranking de pases mais e menos empreendedores apresentados pela pesquisa GEM, importante tambm lembrar que naes desenvolvidas apresentam um IDH mais elevado, estando em melhor situao na promoo de maiores taxas de esperana de vida nascena e de acesso educao, inclusive a de nvel superior e gerencial.
Embora no sendo clara a concepo do indicador TEA e as escalas de medida utilizadas na pesquisa GEM e, portanto, torna-se difcil analisar seus resultados e validar seus instrumentos de coleta de dados pela comunidade cientfica, esta pesquisa uma iniciativa de importncia e traz luz uma srie de informaes relevantes para a anlise e o estudo do empreendedorismo.
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ENTREPRENEURSHIP AND DEVELOPMENT: AN OPEN RELATIONSHIP
ABSTRACT
This study aims to analyze the relationship between entrepreneurship indicators published by the
Global Entrepreneurship Monitor (GEM), supported by the Total Entrepreneurship Activity (TEA),
and the Human Development Index (HDI) of selected countries. The theoretical framework discusses
the concepts of entrepreneurship and development specifically from a broader perspective than the
purely economic issue. Data from reports of UNDP and IBQP were used to relate these indicators and
a Pearson correlation analysis was performed. The result of this study shows that all correlations are
negative, thus it is possible to infer that countries considered in the GEM survey are more
entrepreneurial. The countries in the GEM survey occupy the first places in the ranking of
entrepreneurship, therefore countries with the lowest HDIs were the ones reported with high TEA.
This points out to a reflection on the relationship established between development and
entrepreneurship and the theoretical framework used to conceptualize entrepreneurship in the
relationship established between development and entrepreneurship in the GEM study.
Keywords: Entrepreneurship; Development; Human Development Index.
___________________
Data do recebimento do artigo: 15/06/2011
Data do aceite de publicao: 10/09/2011
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Anexo A - Dados relatrio GEM e IDH
Taxa
Empreendedores
Novos
2001
9,4 6,5 4,3 5,4 7,3 4,7 2,7 3,9 2,2 2 2 1,6 6 3,3 2,9 2,8 3 2,4 1,5 2,4 0,674 11110
2 Alemanha 8 5,2 5,2 4,5 5,6 3,5 3,5 2,9 2,4 2,1 2,1 2,1 5,6 3,9 3,7 3,1 2 1,2 1,2 1,2 0,935 29461
3 Argentina 11,1 14,2 19,7 12,8 8,4 8,5 12,4 9,2 2,7 6,2 8,5 4,5 6,2 6,8 11,9 9,1 4,7 7,1 7,5 3,7 0,869 14280
4 Austrlia 15,5 8,7 11,6 13,4 8,5 3,8 6,6 8 7 5,2 5,4 5,8 12 6,7 9,9 10,7 2,9 1,5 1,6 2,5 0,962 31794
5 Blgica 4,5 3 3,9 3,5 3,3 2,1 2,8 2,2 1,2 1,1 1,2 1,4 3,6 2 3,3 2,9 0,8 0,3 0,3 0,2 0,946 32119
6 Brasil 14,2 13,5 12,9 13,5 9,2 5,7 6,5 5 5 8,5 6,9 8,9 8,5 5,8 6,9 7 5,7 7,5 5,5 6,2 0,8 8402
7 Canad 11 8,8 8 8.9 7 5,9 5,1 6 3,9 3,6 3,8 3,6 7,6 7,4 6,7 7,3 3 1,1 1,1 1,4 0,961 33375
8 Chile 15,7 16,9 10,4 10,9 5,5 7,1 8,5 10,5 6,7 5,6 0,867 12027
9 China 12,3 11,6 5,5 4,3 7,4 7,4 5,6 5,5 7 6,1 0,777 6757
10 Cingapura 6,6 5,9 5 5,7 4,2 4 3 3,1 2,3 2 2,3 3 5,1 4,9 3,9 5 1,2 0,9 1 0,6 0,922 29663
11 Coreia 14,9 14,5 7,7 5,9 7,2 9,3 8 8,6 5,8 4,1 0,921 22029
12 Crocia 3,6 2,6 3,7 2,8 1,8 2,7 0,9 0,9 1,1 2,2 1,7 2 0,9 0,6 1,6 0,85 13042
13 Dinamarca 8 6,5 5,9 5,3 5,3 3,6 3,1 2,5 2,7 3,1 3,3 2,8 6,6 5,9 5,3 4,8 0,5 0,4 0,4 0,4 0,949 33973
14 Equador 27,2 16,9 11,1 18,2 8,4 0,772 4341
15 Eslovnia 4,6 4,1 2,5 3,3 3 1,9 1,5 1,1 0,7 3,3 3,1 2 1,4 0,8 0,5 0,917 22273
16 Espanha 8,2 4,6 6,8 5,2 5,6 2,2 4,4 2,1 2,6 2,5 2,5 3,1 5,6 3,4 6,1 4,5 1,9 1 0,5 0,6 0,949 27169
17 Estados
Unidos
1 frica do
Sul
11,6 10,5 11,9 11,3 8,2 7,1 8,1 7,5 3,4 4,6 4,9 4,8 10,3 9,1 9,1 9,5 1,3 1,2 1,7 1,5 0,951 41890
18 Finlndia 7,7 4,6 6,9 4,4 5 2,7 4,1 2,7 2,7 2,1 3,1 1,8 6,2 3,9 5,8 3,5 0,6 0,3 0,6 0,3 0,952 32153
19 Frana 7,4 3,2 1,6 6 6,5 2,4 0,9 4,9 0,9 0,9 0,7 1,6 3,8 2,8 1,1 4,6 1,4 0,1 0,4 1,4 0,952 30386
20 Grcia 6,8 5,8 2,9 3,7 3,9 2,2 4,2 3,8 2,6 1,7 0,926 23381
21 Holanda 6,4 4,6 3,6 5,1 2,6 2,6 1,7 3 3,8 2,1 1,9 2,2 5,4 4 3 4,3 0,4 0,5 0,4 0,7 0,953 32684
22 Hong
Kong
3,4 3,2 3 2 1,7 1,5 1,4 1,6 1,6 2,3 2,2 2 1,2 1,1 1 0,937 34833
23 Hungria 11,4 6,6 4,3 7,8 3,5 2,7 3,6 3,6 1,6 7,9 4 2,8 3,3 2,1 1,2 0,874 17887
24 ndia 11,6 17,9 7,9 10,9 3,6 7,5 3,9 12,4 7,7 5 0,619 3452
25 Irlanda 12,2 9,1 8,1 7,7 7,3 5,7 5,1 4,4 4,9 4,2 3,8 3,6 9,3 7,8 6,7 6,6 2,1 1,4 1,3 1 0,959 38505
26 Islndia 11,3 11,2 13,6 5,7 7,3 7,7 6,2 4,4 6,2 8,6 9,4 12 0,9 0,8 0,7 0,968 36,51
27 Israel 5,7 7,1 6,6 1,1 3,4 4,3 4,6 3,9 2,5 2 5,2 4,8 0,6 1,4 1,5 0,932 25864
28 Itlia 10,2 5,9 3,2 4,3 7,8 3,7 2 2,5 2,4 2,4 1,3 2,1 7,8 3,3 2,9 2,1 0,5 0,2 0,941 28529
29 Japo 5,2 1,8 2,8 1,5 4,4 0,9 1,4 0,5 0,8 1 1,5 1 2,3 1,2 2 1,1 2,2 0,5 0,5 0,2 0,953 31267
30 Jordnia 18,3 10,4 8,3 14,5 2,6 0,773 5530
31 Mxico 20,7 12,4 13,3 9,2 7,4 3,2 12,9 8,3 7,1 2,7 0,829 10751
32 Noruega 8,8 8,7 7,5 7 5,8 5,2 4 4 3 4,4 3,9 3,3 7,4 7,4 6,7 5,8 0,2 0,4 0,7 0,9 0,968 41420
33 Nova
Zelndia
18,1 14 13,6 14,7 10,8 9,1 9,3 8,4 7,3 6,1 5,2 8,3 14,9 11,6 11,5 12,3 2,8 2,3 1,7 2,1 0,943 24996
34 Peru 40,3 31,4 12,9 26,9 13,1 0,773 6039
35 Polnia 10 4,4 8,8 7,4 3,7 3,9 2,6 0,8 5,2 4,7 2,8 5,7 4,9 1,3 3,1 0,87 13847
36 Portugal 4 2,2 1,8 3 1 0,897 20410
37 Reino
Unido
7,8 5,4 6,4 6,2 5 2,5 3,4 3,4 2,8 3,1 3,2 3,1 5,1 4,4 5,3 5,4 1,4 0,7 1 0,6 0,946 33238
38 Rssia 6,9 2,5 3,7 1,1 3,2 1,5 5,1 1,9 1,1 0,6 0,802 10845
39 Sucia 6,7 4 4,1 3,7 4,2 1,8 2 1,7 2,5 2,5 2,4 2,2 3,5 3,3 3,8 0,8 0,7 0,4 0,956 32525
40 Sua 7,1 7,4 4,4 4,3 3,3 3,7 6 6,3 0,9 1 0,955 35633
41 Tailndia 18,9 11,6 8,4 15,3 3,4 0,781 8677
42 Taiwan 4,3 1,3 3,1 3,3 0,7
43 Uganda 29,3 31,6 14,8 16 16,9 18 17,1 16,5 13,2 14,4 0,505 1454
44 Venezuela 27,3 19,2 9,7 16,1 11,6 0,792 6632
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Taxa Empreendedores
Nascentes
Taxa
Empreendedores
Iniciais -
Oportunidade
Taxa
Empreendedores
Iniciais -
Necessidade
IDH 2005
Ordem
Pases
Taxa
Empreendedores
Iniciais
2001
2002
2003
2004
2001
2002
2003
2004
2002
2003
2004
2001
2002
2003
2004
2001
2002
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PIB per
capita
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2011
Abstract
This study aims to analyze the relationship between entrepreneurship indicators published by the Global Entrepreneurship Monitor (GEM), supported by the Total Entrepreneurship Activity (TEA), and the Human Development Index (HDI) of selected countries. The theoretical framework discusses the concepts of entrepreneurship and development specifically from a broader perspective than the purely economic issue. Data from reports of UNDP and IBQP were used to relate these indicators and a Pearson correlation analysis was performed. The result of this study shows that all correlations are negative, thus it is possible to infer that countries considered in the GEM survey are more entrepreneurial. The countries in the GEM survey occupy the first places in the ranking of entrepreneurship, therefore countries with the lowest HDIs were the ones reported with high TEA. This points out to a reflection on the relationship established between development and entrepreneurship and the theoretical framework used to conceptualize entrepreneurship in the relationship established between development and entrepreneurship in the GEM study. [PUBLICATION ABSTRACT]
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