RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v8i4.793
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
DETERMINANTES DE INOVAES APOIADAS EM TECNOLOGIAS DE INFORMAO E COMUNICAO ADOTADAS POR HOSPITAIS
Antonio Isidro-Filho
Doutor em Administrao pela Universidade de Braslia UnB
Professor da Universidade de Braslia e Pesquisador do Programa de Ps-Graduao em
Administrao PPGA/UnB
Tomas de Aquino Guimares
Doutor em Sociologia pela Universidade de So Paulo USP
Professor da Universidade de Braslia UnB
Marcelo Gattermann Perin
Doutor em Administrao pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS
Professor da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul UFRGS
RESUMO
A inovao em servios de sade em geral e em hospitais em particular tem sido estudada com
intensidade nos ltimos anos, relevando o crescente interesse de pesquisadores sobre o tema. H
consenso entre estudiosos desse tema quanto ao carter complexo e dinmico das inovaes em
servios de sade, em especial no que se refere aos determinantes e s mudanas decorrentes de
inovaes. Assim, a compreenso da inovao em toda sua amplitude contribui para identificar fatores
que afetam o processo de inovao e seus efeitos sobre organizaes hospitalares, particularmente na
adoo de Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC). Assim, o artigo descreve a adoo de
inovaes apoiadas em TIC e seus determinantes, em trs hospitais. A pesquisa, de natureza
qualitativa, foi baseada em 11 entrevistas e analisou barreiras, facilitadores, benefcios e desafios
futuros de trs inovaes: Sistema de Gesto de Unidade de Terapia Intensiva, Pronturio Eletrnico
do Paciente e Sala Inteligente de Cirurgia. As barreiras que tiveram mais destaque no levantamento
foram: resistncia ao uso e desconhecimento de novas tecnologias. J os facilitadores principais foram:
comprometimento da alta administrao e comunicao entre equipes. Os benefcios mais relevantes
foram: diminuio de erros de diagnstico, prescrio e intervenes, e recuperao mais rpida de
pacientes. Por fim, os desafios identificados versaram sobre competncias emergentes que sugerem
mudanas em perfis de comportamento de profissionais de hospitais quanto ao uso de TIC, bem como
em relao ao servio hospitalar como um todo. Ao final do artigo, concluses e recomendaes de
ordem terica e prtica so apresentadas.
Palavras-chave: Inovao em Servios; Inovao em Hospitais; Tecnologia de Informao e
Comunicao; Competncias Profissionais.
Determinantes de Inovaes Apoiadas em Tecnologias de Informao e Comunicao Adotadas por Hospitais
1 INTRODUO
O nmero de pesquisas sobre inovaes em hospitais tem aumentado nos ltimos anos, mostrando que esse processo estudado, predominantemente, em nvel macro e em termos de mudanas nas estruturas organizacionais e de foras condicionantes da inovao (Lnsisalmi, Kivimki, Aalto & Rouranen, 2009). De acordo com Fleuren, Wiefferink e Paulussen (2004), h consenso entre pesquisadores quanto ao carter complexo e dinmico das inovaes em servios de sade. Assim, a compreenso de inovao em toda sua amplitude contribui para identificar fatores que afetam o processo de inovao e seus efeitos sobre as organizaes hospitalares.
Os hospitais tm introduzido constantes inovaes, principalmente as apoiadas em Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC), tanto para diagnstico e tratamento de doenas quanto para melhoria da qualidade assistencial e formao profissional, conforme destacam Djellal e Gallouj (2007a). Esse comportamento implica o desenvolvimento de competncias profissionais relevantes a ambientes intensivos em inovao.
Outro aspecto importante no setor de servios diz respeito s competncias de empregados que, em sua atuao profissional, transformam bens pertencentes s organizaes, ou seja, prestam servios (Gadrey, 2001), modificando a realidade de indivduos em termos de segurana, sade, conforto, entre outras caractersticas finais percebidas por consumidores, usurios ou clientes (Gallouj, 2002). De acordo com Zarifian (2001), a lgica da produo de um servio requer profissionais com qualificao mais ampla e no restrita ao posto de trabalho em que um conjunto de tarefas predeterminado.
A produo de um servio implica mudana de situao de uma pessoa ou de um bem, o que denota um conjunto de capacidades profissionais presentes na relao entre prestadores de servio e clientes-usurios (Hill, 1977; Zarifian, 2001). A partir da adoo de TIC em hospitais, percebe-se impactos diretos nas estruturas organizacionais, como tambm nas competncias de empregados que lidam direta e indiretamente com o atendimento ao paciente, e nas competncias requeridas aos usurios (acesso a um hemograma ou um mapeamento cerebral via internet, por exemplo). Nessa linha, o presente estudo tem por objetivo descrever a adoo de inovaes apoiadas em TIC, e seus determinantes, explorando ainda as competncias necessrias para o efetivao de tal processo.
A seguir so discutidas as bases tericas da inovao em servios e a relao entre inovao e TIC em contextos hospitalares. Na sequncia, descrevem-se os mtodos e tcnicas de coleta e anlise de dados; so apresentados e discutidos os resultados luz do referencial terico utilizado. No final, apresentam-se as concluses e recomendaes do estudo.
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2 REFERENCIAL TERICO
A literatura sobre inovao em servios tem seu marco com Barras (1986), ao destacar o importante papel das tecnologias de informao no desenvolvimento econmico. Esse autor reconhece que o setor de servios absorve mais apropriadamente os artefatos tecnolgicos do que o setor industrial e prope o ciclo reverso do produto como contraponto abordagem neoclssica de inovao industrial (Utterback,1996). Segundo Gallouj (2002), a abordagem de Barras caracterizada como uma viso tecnicista que contempla a importncia das TIC no crescimento de firmas, mas no engloba, de modo suficiente, as especificidades da inovao em servios, principalmente seu carter endgeno, bem como demonstra reduzir o processo de inovao noo inversa do setor industrial, mantendo a primazia desse setor em determinar as inovaes no setor de servios.
A abordagem da inovao baseada em servios surgiu em resposta ao enfoque tecnicista. De acordo com Hauknes (1996), a abordagem baseada nos servios enfatiza a fora com que as especificidades da relao de coproduo e imaterialidade dos servios produzem a inovao e superam seus aspectos tecnolgicos. Essa abordagem concebe a inovao, tambm, como um processo endgeno que responde, principalmente, s especificidades da interao entre provedor e usurio na relao de servio. E pressupe que o setor de servios e o setor industrial coexistem, mas guardam diferenas em termos de definio do produto do servio e o produto manufaturado.
Uma terceira abordagem da inovao em servios a abordagem integradora, que pressupe a prestao de servios como a mobilizao simultnea de caractersticas tcnicas (materiais e imateriais) e de competncias (internas e externas) para produzir caractersticas de servios (Gallouj, 2007; Gallouj & Weinstein, 1997). Na abordagem integradora, a inovao em servios constitui a adio de novos elementos ou a combinao de elementos existentes, passveis de reproduo, que resulta em novas solues ou em novas formas de prestao de um servio (Sundbo & Gallouj, 1998). Com base nessas proposies, so definidos vrios tipos de inovao em servios: radical, melhoria, incremental, recombinao, adocrtica, formalizao.
Para Gallouj (2007) e Gallouj e Weinstein (1997), a inovao radical a criao de servios totalmente novos, com caractersticas absolutamente distintas dos servios anteriores e que requeiram competncias distintas. A inovao de melhoria a alterao, para melhor, de caractersticas do servio, sem alterar o sistema como um todo. A inovao incremental representa a adio de algum incremento, marginal, supresso ou substituio de caractersticas ou de competncias, mantendo a estrutura geral do sistema. A inovao adocrtica refere-se: (a) a uma soluo ou a um conjunto de solues originais de ordem organizacional, jurdica, estratgica, social etc., em resposta a um
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problema, ou (b) a produo de novos conhecimentos e de novas competncias que se tornam reutilizveis em outras circunstncias. A inovao por recombinao baseia-se na criao de novos servios a partir de diferentes combinaes das caractersticas ou de servios existentes em novas aplicaes. Por fim, a inovao por formalizao representa a formatao e a padronizao das caractersticas, atribuindo certo grau de materialidade ao servio.
Essas diferentes abordagens sobre inovao em servios compem um arcabouo terico interdependente que apoia estudos em organizaes hospitalares, como o caso presente. Djellal e Gallouj (2005) afirmam que a inovao hospitalar refere-se a um espectro mais amplo de atores, instituies, produtos e servios. Esses autores destacam a ampliao da anlise de inovaes em hospitais em diferentes nveis organizacionais e propem a noo de princpios organizativos que dirigem as inovaes, ou, conforme Vargas (2006), as lgicas de inovao.
Para Djellal e Gallouj (2005, 2007a), as pesquisas sobre inovao em hospitais representam quatro grandes grupos em que as organizaes hospitalares recebem distintas nfases enquanto objeto de estudo. Na perspectiva de funes de produo, os hospitais so firmas como quaisquer outras, sujeitas s diferentes variveis econmicas e sociais, mobilizam e combinam diferentes recursos de produo para a criao de um servio. Na perspectiva de capacidades tecnolgicas e biofarmacolgicas, os hospitais so contextos ou ambientes em que inovaes tecnolgicas e medicinais so introduzidas e desenvolvidas. Sob o enfoque de sistemas de informao, os hospitais so organizaes sujeitas aos efeitos das TIC em termos de suas relaes com os novos paradigmas informacionais. Por fim, na nfase de provedores e distribuidores de servios de sade, os hospitais so organizaes que prestam outros servios alm da assistncia sade (alimentao, transporte, manuteno etc.).
Djellal e Gallouj (2007b) afirmam que a adoo de TIC em processos de apoio organizacional (back-office) impacta positivamente a produtividade do servio, mas ocorre o inverso em termos de competncias e emprego, pois h reduo de postos de trabalho, com a padronizao de procedimentos, e aumento da economia de escala. De outro lado, a adoo de TIC em processos finalsticos (front-office) impacta positivamente a produtividade do servio, as competncias e o emprego, uma vez que adiciona valor produo e entrega do servio.
Dentre estudos sobre inovaes apoiadas em TIC em hospitais, pode-se destacar alguns e seus principais resultados, de forma a embasar a realizao da presente pesquisa. Os estudos apontados a seguir descrevem os principais condicionantes das inovaes em hospitais, com destaque para a adoo de HIS (Hospital Information System), especialmente o Pronturio Eletrnico do Paciente
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(PEP). Kimberly e Evanisko (1981), ao estudarem condicionantes da adoo de novas tecnologias em um hospital, identificaram que o comprometimento da alta administrao cria condies para a alocao de recursos e reconhece a inovao como um elemento crucial para a melhoria da assistncia e desempenho de um hospital.
Corroborando aqueles autores, Damberg e colaboradores (2009) e Walker e Carayon (2009) identificaram que o comprometimento dos profissionais das equipes de adoo influencia positivamente a adoo de inovaes por mobilizarem o apoio e a aprendizagem dos demais profissionais de hospitais para a utilizao dos novos recursos tecnolgicos em benefcio de pacientes. Ainda para esses autores, a comunicao entre profissionais diretamente envolvidos na adoo e utilizao de uma inovao determinante para o sucesso da implantao de tecnologias de informao em servios hospitalares, visto que a escolha de uma TIC, a identificao de necessidades e a alocao de recursos para inovar dependem de quo efetiva a comunicao entre pares, entre setores e entre diferentes sistemas de um hospital.
Segundo os estudos de Menachemi e colaboradores (2007), Boaden e Joyce (2006) e Tomasi, Facchini e Maia (2004), as inovaes tecnolgicas em hospitais geram oportunidades de troca e criao de conhecimentos e experincias entre mdicos e outros profissionais de sade, alm de permitirem maior segurana na recuperao, proteo e controle de informaes de pacientes e procedimentos de assistncia. Por outro lado, esses autores mostram que tanto a estrutura organizacional quanto o grau de maturidade tcnica de um equipamento podem dificultar a adoo de uma nova tecnologia em hospitais.
Segundo os estudos de Chaudhry e colaboradores (2006) e Tomasi, Facchini e Maia (2004), a rapidez na prescrio de medicamentos e no acesso ao histrico de pacientes so benefcios intimamente relacionados ao tempo de recuperao de um paciente, uma vez que diagnsticos e intervenes se tornam mais seguros e efetivos quando h informaes disponveis e seguras para a tomada de deciso de mdicos e demais profissionais de sade. Os estudos de Goldswig, Towfigh, Maglione e Shekelle (2009) e Walker e Carayon (2009), Menachemi e colaboradores (2007), Boaden e Joyce (2006) e Chaudhry e colaboradores (2006) mostraram que a adoo de TIC em hospitais favorece a diminuio de erros mdicos (prescrio e interveno).
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3 MTODOS E TCNICAS
A presente pesquisa explora diversos aspectos envolvidos em inovaes em servios hospitalares e procura formar uma base de dados para trabalhos comparativos futuros e para a formulao de teoria (Eisenhardt, 1989; Godoy, 2006). A pesquisa qualitativa e buscou identificar, por meio de entrevistas individuais, percepes de funcionrios acerca de inovaes apoiadas em TIC adotadas por trs hospitais privados. A coleta de dados ocorreu entre os meses de setembro e novembro de 2009.
Para seleo das organizaes a serem estudadas, dois critrios foram estabelecidos: (a) o hospital prover pelo menos trs servios hospitalares; e (b) o hospital ter adotado ou desenvolvido, h, pelo menos um ano, alguma TIC aplicada a algum servio hospitalar. O primeiro critrio visou escolha de hospitais que tivessem servios em diferentes nveis de complexidade e de diferentes especialidades. O segundo foi estabelecido para favorecer o resgate de informaes sobre as inovaes identificadas, para permitir o acesso a pessoas diretamente envolvidas e para criar condies de acompanhamento de cada inovao e seus efeitos sobre as pessoas e as organizaes estudadas.
Dentre os cerca de 40 hospitais do Distrito Federal, para os quais foi enviada correspondncia na qual se solicitava informaes a respeito de inovaes adotadas, 21 (15 pblicos e seis privados) informaram que atendiam aos dois critrios estabelecidos e foram convidados a participar da pesquisa. Os hospitais pblicos recusaram-se a participar da pesquisa alegando motivos diversos. Dos seis hospitais privados, trs confirmaram a participao na pesquisa e compem o foco do estudo.
Esses hospitais no tm convnio com o Sistema nico de Sade, dois participam de programas de acreditao e/ou certificao de qualidade (A e C), e so vinculados a entidades representativas de organizaes hospitalares. O hospital A opera desde 1971 e presta os servios de emergncia, internao, ambulatrio, unidades de terapia intensiva, maternidade, diagnsticos, cirurgias, obstetrcia e outros servios hospitalares. O hospital B opera desde 2007 em servios de assistncia mdica, patologias cardacas, vasculares e pulmonares, incluindo servios de emergncia, internao, ambulatrio, unidades de terapia intensiva, medicina nuclear, diagnsticos e cirurgias, todos com nfase cardiovascular. O hospital C opera desde 1987 e presta servios de emergncia, internao, ambulatrio, unidades de terapia intensiva, maternidade, diagnsticos, cirurgias, obstetrcia, banco de sangue, banco de leite, atendimento odontolgico e outros servios hospitalares. Os hospitais A e B fazem parte de um mesmo grupo empresarial e compartilham processos
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administrativos e de suporte aos servios hospitalares (recursos humanos, faturamento, alimentao etc.).
Foram identificadas trs inovaes nesses hospitais: Sistema de Gesto de UTI (SGUTI) no hospital A, Pronturio Eletrnico do Paciente (PEP) no hospital B e Sala Inteligente de Cirurgia (SIC) no hospital C.
O SGUTI, hospital A, um software informatizado que armazena informaes de pacientes em unidades de tratamento intensivo e registra as intervenes de equipes de UTI realizadas durante o tratamento. O SGUTI semelhante ao PEP, porm tem sua utilizao restrita ao ambiente de UTI. Sua principal funo apoiar o registro de informaes de pacientes e de intervenes realizadas por mdicos, enfermeiros, fisioterapeutas e nutricionistas, bem como apoiar o diagnstico e as intervenes em ambientes de UTI. No hospital A, o SGUTI foi implantado em 2003 e sua adoo foi conduzida por uma equipe interna ao hospital composta por duas gestoras de enfermagem de UTI, um especialista em informtica e um mdico, chefe da UTI. Essa equipe tambm treinou os profissionais da UTI para manuseio da inovao.
As funes do PEP, adotado pelo hospital B, so: apoiar o processo de ateno sade, servindo de fonte de informao clnica e administrativa para tomada de deciso e meio de comunicao compartilhado entre todos os profissionais; registrar as aes mdicas; fornecer dados para pesquisas e para gerenciamento do custo. No hospital B, o PEP foi totalmente implantado em 2007 e sua adoo foi conduzida por uma equipe composta por uma gerente de nvel estratgico, duas gestoras de enfermagem e um consultor externo. Alm desses profissionais, dois representantes da empresa detentora dos direitos de propriedade e que desenvolveu o PEP participaram da implantao da inovao. Os trs profissionais do hospital, membros da equipe de adoo, foram entrevistados individualmente.
A Sala Inteligente de Cirurgia (SIC), hospital C, compreende um conjunto de equipamentos especficos (monitores de vdeo, cmeras de vdeo, microfones, iluminao e sonorizao) integrados para oferecer aos mdicos-cirurgies uma viso ampliada e de vrios ngulos da cirurgia, bem como acompanhar informaes durante a cirurgia, como exames diagnsticos, fluxo sanguneo e condies anestsicas. O hospital C adquiriu a SIC, em 2008, de um fornecedor norte-americano que participou da instalao dos equipamentos e do treinamento da equipe de implantao e oferece suporte tcnico desde ento. A principal funo da SIC agregar recursos tecnolgicos ao ambiente cirrgico para a diminuio de riscos e aumento da efetividade de intervenes cirrgicas. A equipe de implantao da SIC foi composta por duas enfermeiras supervisoras do centro cirrgico, pelo mdico-chefe do centro cirrgico e pelo gerente de tecnologia do hospital.
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A amostra da pesquisa foi de 11 sujeitos, sendo sete mulheres e quatro homens, todos com formao superior, com mdia de idade de 34 anos e com, pelo menos, trs anos de tempo de servio nos hospitais pesquisados. Esses profissionais ocupavam os seguintes cargos: duas gestoras de enfermagem de UTI, um especialista em informtica e um mdico-chefe da UTI entrevistados sobre o SGUTI; uma gerente de desenvolvimento de pessoas e duas gestoras de enfermagem entrevistadas sobre o PEP; duas enfermeiras supervisoras do centro cirrgico, um mdico-chefe do centro cirrgico e um gerente de tecnologia entrevistados sobre a SIC.
O tempo mdio de durao de cada entrevista foi de cinquenta minutos. O roteiro de entrevista semiestruturada foi elaborado a partir de Vargas (2006) e continha itens sobre caractersticas dos entrevistados e dos hospitais, sobre as inovaes implantadas nos hospitais, como descrio e funes da inovao, setores e profissionais envolvidos, barreiras e facilitadores da adoo da inovao, benefcios e desafios da inovao aps sua implantao. O roteiro continha, tambm, itens acerca das competncias profissionais advindas das inovaes descritas. Em cada entrevista, o conceito de competncia foi apresentado para facilitar o relato dos entrevistados.
Os dados coletados foram analisados como sugere Bardin (2009), por meio da anlise de contedo, realizada em trs fases distintas: pr-anlise, explorao do material e tratamento de resultados. Na pr-anlise, os dados foram organizados e sistematizados de acordo com os objetivos da pesquisa, visando fundamentar a interpretao final dos resultados. Na explorao do material, os dados foram codificados conforme as variveis descritas no roteiro de entrevista. No tratamento dos resultados, os dados brutos foram interpretados para torn-los inteligveis, traduzindo-os em quadros que descrevem os resultados em categorias analticas.
4 RESULTADOS E DISCUSSO
Nos trs hospitais estudados observou-se que as inovaes foram adotadas para melhorar a qualidade dos servios. Um termo recorrentemente utilizado pelos entrevistados, especialmente os gestores, para caracterizar essa melhoria foi agregar valor, seja para a gesto das informaes do paciente (PEP), para a qualidade assistencial em unidades de tratamento intensivo (SGUTI), seja para a qualidade de procedimentos cirrgicos (SIC).
Segundo a classificao de Gallouj e Weinstein (1997), o PEP e o SGUTI podem ser caracterizados como inovaes de melhoria e a SIC, como inovao incremental. Os resultados da
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pesquisa mostraram que, nos trs casos, houve a alterao de um dos elementos constituintes dos servios, em que o registro de informaes de pacientes passou a ser realizado de maneira mais gil e segura por meio de softwares (PEP/SGUTI). No caso da SIC, houve a adio de novos recursos tecnolgicos (monitores e cmeras de vdeo etc.), marginais, para o auxlio de mdicos e demais profissionais envolvidos em procedimentos cirrgicos.
As barreiras s inovaes estudadas referem-se a variveis individuais e organizacionais que incidiram negativamente sobre a adoo da inovao. Dentre as barreiras relatadas pelos entrevistados, as que ocorreram nos trs hospitais estudados so destacadas. Uma barreira refere-se resistncia ao uso de computadores e recursos tecnolgicos assemelhados. A necessidade de aprender como manusear novos equipamentos representa a ruptura de paradigmas informacionais (Djellal & Gallouj, 2007a) e demanda novas competncias por parte de profissionais de hospitais. O desconhecimento do funcionamento da inovao foi outra barreira identificada em relatos dos entrevistados. Muitas vezes os profissionais diretamente envolvidos na utilizao das inovaes desconhecem os recursos disponveis e ficam focados nas funes especficas nas quais se inserem. Outra barreira relatada foi a quantidade insuficiente de profissionais de suporte tcnico necessrio para soluo de problemas em equipamentos e softwares relacionados s inovaes.
Em relao ao PEP e ao SGUTI, trs barreiras comuns foram: a quantidade limitada de computadores disponveis nos hospitais, a ocorrncia frequente de problemas tcnicos (hardware e software) e erros de digitao ocorridos essencialmente nos primeiros meses de implantao das inovaes. Essas barreiras, segundo relatos dos entrevistados, contriburam para a ocorrncia de retrabalho, perda de informaes e lentido no processo de assistncia. Porm, aps alguns meses de utilizao das inovaes, segundo os relatos, os problemas tcnicos e de digitao foram minimizados. Essas barreiras encontradas corroboram os achados de Boaden e Joyce (2006), bem como as barreiras identificadas nesta pesquisa remetem a condies de suporte organizacional.
Os facilitadores das inovaes estudadas podem ser classificados como fatores individuais e organizacionais que incidiram positivamente sobre a adoo da inovao, favorecendo o sucesso da implantao e sua utilizao. Esses fatores, encontrados nos trs casos estudados, referem-se a: apoio da alta administrao dos hospitais ao processo de adoo da inovao; comprometimento dos profissionais envolvidos nas equipes de adoo das inovaes e facilidade de manuseio das inovaes adotadas nos hospitais. Esses resultados corroboram resultados de estudos anteriores. Conforme o estudo de Kimberly e Evanisko (1981), o comprometimento da alta administrao cria condies favorveis para a inovao em hospitais. Em adio, profissionais responsveis pela adoo de inovaes, ao estarem comprometidos, permitem a mobilizao de apoio e aprendizagem dos demais
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profissionais de hospitais para a utilizao de novas TIC em prol de usurios de servios de sade (Walker & Carayon, 2009).
A facilidade de manuseio dos recursos tecnolgicos exerceu um papel importante como facilitador das inovaes estudadas, pois, segundo relatos dos entrevistados, os sistemas implantados apresentavam interfaces semelhantes aos demais sistemas j existentes nos hospitais. Alm disso, os softwares adotados foram construdos com base em fluxos intuitivos em que os procedimentos de utilizao so encadeados numa sequncia lgica previamente determinada pelos prprios membros das equipes de adoo. No caso do PEP e da SIC, o suporte tcnico dos fornecedores dessas tecnologias foi decisivo para a implantao das inovaes, por permitirem a customizao das funes e procedimentos dos sistemas de acordo com o padro j adotado nos hospitais.
No tocante aos benefcios das inovaes estudadas, definiu-se essa categoria como consequncias ou impactos positivos na qualidade assistencial dos hospitais. Conforme relatos dos entrevistados, o principal benefcio das inovaes estudadas foi a gerao de conhecimentos e aprendizagem a partir das informaes advindas de casos clnicos. Ficou evidente que as informaes disponveis nos bancos de dados dos hospitais passaram a ser utilizadas em discusses acadmicoprofissionais internas e externas, resultando em melhorias nos protocolos de diagnsticos, prescries e intervenes.
Outro benefcio comum aos trs casos estudados diz respeito segurana das informaes de pacientes e de intervenes, diagnsticos e prescries. Esses resultados corroboram os achados de Goldswig, Towfigh, Maglione e Shekelle (2009), Chaudhry e colaboradores (2006) e Boaden e Joyce (2006). Esses autores mostraram que as inovaes: (a) geram oportunidades de troca e criao de conhecimentos e experincias entre mdicos e outros profissionais de sade; (b) permitem maior segurana na recuperao, proteo e controle de informaes de pacientes e procedimentos de assistncia; (c) promovem a diminuio de erros mdicos, tanto na prescrio como na interveno, como mostraram Walker e Carayon (2009) e Menachemi e colaboradores (2007).
Os benefcios comuns adoo do PEP e do SGUTI foram o rpido acesso ao histrico clnico do paciente, comunicao efetiva entre equipes de assistncia e rapidez na prescrio de medicamentos. Esses resultados confirmam os achados de Damberg e colaboradores (2009) e Walker e Carayon (2009), os quais mostraram que a comunicao entre profissionais que participam diretamente da adoo e utilizam uma inovao favorece a implantao de tecnologias de informao em hospitais.
A rapidez na prescrio de medicamentos e no acesso ao histrico de pacientes so benefcios intimamente relacionados ao tempo de recuperao de um paciente, uma vez que diagnsticos e
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intervenes se tornam mais seguros e efetivos quando h informaes disponveis e seguras para a tomada de deciso de mdicos e demais profissionais de sade, conforme destacaram Chaudhry e colaboradores (2006) e Tomasi, Facchini e Maia (2004). Com isso, percebe-se um benefcio que se estende ao prprio paciente. A agregao de valor nos servios torna-se evidente a partir de melhorias em suas caractersticas tcnicas ocasionadas por inovaes de cunho tecnolgico, como apontam Lnsisalmi, Kiwimki, Aalto & Ruoranen (2006).
A pesquisa permitiu identificar, tambm, os desafios futuros para os hospitais aps a adoo das inovaes. Houve unanimidade nos relatos quanto importncia de novas competncias para a correta utilizao dos novos recursos tecnolgicos nos hospitais estudados. Houve consenso entre os entrevistados cujo desafio, aps a implantao das inovaes, era treinar os profissionais direta e indiretamente envolvidos com a utilizao das novas tecnologias sobre o funcionamento de cada equipamento ou sistema, como manusear corretamente os recursos tecnolgicos, como inserir e acessar informaes, como cada tecnologia impacta os demais setores de um hospital, dentre outras competncias. Esses dados so consistentes com as proposies de Djellal e Gallouj (2007b) acerca dos impactos das TIC na produtividade e nas competncias dos profissionais de hospitais.
As competncias profissionais identificadas nas entrevistas foram descritas em termos de comportamentos produtivos no trabalho: (1) manusear sistemas, equipamentos e recursos tecnolgicos indicados para a prestao do servio hospitalar, corretamente, no dia a dia de trabalho; (2) descrever as caractersticas dos produtos e servios ofertados pelo hospital; (3) inserir informaes nos sistemas de forma correta e completa conforme os padres exigidos pelo hospital; (4) descrever corretamente as funcionalidades dos sistemas, equipamentos e recursos tecnolgicos que utiliza no dia a dia no hospital; (5) localizar rapidamente as informaes nos sistemas ou recursos tecnolgicos que utiliza no trabalho; (6) manter os sistemas que utiliza no hospital devidamente atualizados; (7) identificar solues para problemas causados pelo uso inadequado dos sistemas e equipamentos de trabalho; (8) demonstrar ateno no uso de sistemas e equipamentos no dia a dia de trabalho; (9) tomar decises rpidas diante de problemas na execuo de atividades; (10) identificar a contribuio da implantao de novas tecnologias para a qualidade do servio do hospital; (11) identificar possveis erros de funcionamento de sistemas, equipamentos e recursos tecnolgicos que utiliza no dia a dia de trabalho; (12) compartilhar informaes importantes com os colegas de trabalho; (13) demonstrar abertura para trabalhar em equipe; (14) comunicar-se de forma clara e objetiva com os colegas de trabalho; (15) demonstrar abertura para aprender novos conhecimentos e habilidades necessrios para a realizao de suas atividades no hospital; (16) descrever a contribuio do trabalho do setor em que atua para a qualidade do servio do hospital; (17) buscar integrao com os demais setores do hospital; (18)
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identificar como o seu trabalho impacta os demais setores do hospital; (19) identificar as contribuies do seu trabalho para a qualidade do servio do hospital; (20) contribuir para com a qualidade do servio do hospital a partir da realizao exemplar de suas atividades.
De acordo com as competncias descritas anteriormente, pode-se estabelecer algumas relaes entre estas e as inovaes estudadas. As competncias 1 e 6 relacionam-se com a barreira resistncia ao uso de computadores e outros recursos tecnolgicos, pois a dificuldade em se adaptar a novos paradigmas informacionais requer, por parte principalmente de mdicos, o desenvolvimento de competncias que permitam o uso correto de novas tecnologias de suporte ao servio hospitalar (Tomasi, Facchini & Maia, 2004). As competncias 2, 4, 5 e 11 esto relacionadas com a barreira desconhecimento do funcionamento da inovao, uma vez que, adotada uma TIC, os profissionais de hospitais precisam conhecer suas funes e como estas impactam seu dia a dia. Alm disso, como relataram os entrevistados, comum a ocorrncia de problemas tcnicos em recursos tecnolgicos. Saber identific-los pode contribuir para a soluo desses problemas, visto que outras barreiras citadas nas entrevistas, como a quantidade insuficiente de profissionais de suporte tcnico e a quantidade limitada de computadores, suscitam as competncias apontadas.
As competncias 3, 7, 8 e 9 relacionam-se barreira erros de digitao e aos benefcios decorrentes da adoo das inovaes. Segundo Goldswig, Towfigh, Maglione e Shekelle (2009), Walker e Carayon (2009) e Tomasi, Facchini e Maia (2004), a adoo de TIC em hospitais contribui para a diminuio de erros de registro de informaes, e, consequentemente, apoiam a mitigao de erros de diagnstico, prescrio e interveno. Porm, pode-se destacar que somente a implantao de uma nova tecnologia no garante esses resultados, j que parece necessrio o desenvolvimento de competncias que sustentem o uso correto de inovaes em hospitais.
As competncias 12, 13, 14 e 15 referem-se barreira comprometimento dos profissionais e ao benefcio comunicao efetiva entre os profissionais de assistncia, pois, conforme Walker e Carayon (2009) e Damberg e colaboradores (2009), a comunicao uma importante varivel no processo de adoo de TIC. Conforme Tomasi, Facchini e Maia (2004), o tempo de recuperao de um paciente pode estar relacionado a essas competncias, visto que a comunicao, o compartilhamento de informaes e o trabalho em equipe contribuem para uma assistncia sade mais segura e efetiva. Os estudos sobre adoo de TIC em hospitais tm mostrado que, ao inovar, um hospital agrega valor produo e entrega de seu servio a partir da mobilizao de competncias de seus profissionais. Dessa forma, as competncias 16, 17, 18, 19 e 20 mostram que as TIC suscitam comportamentos que
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contribuem para a utilizao das inovaes e consequente melhoria da qualidade assistencial de um hospital, conforme afirmam Fleuren, Wiefferink e Paulussen (2004).
As competncias descritas mostram o quanto o reconhecimento da importncia de uma inovao fundamental para que os benefcios sejam palpveis aos prestadores e usurios de servios hospitalares. Alm disso, como j destacavam Damberg e colaboradores (2009), Walker e Carayon (2009) e Djellal e Gallouj (2007b), a integrao de todos os setores de um hospital favorece a criao de um mix de servios mais alinhados s necessidades de seus usurios. Em sntese, os resultados mostraram que as TIC exercem um papel importante como catalisador de mudanas em estruturas, processos, procedimentos e competncias em organizaes hospitalares.
5 CONCLUSES E RECOMENDAES
O objetivo do presente artigo foi descrever a adoo de inovaes apoiadas em Tecnologias de Informao e Comunicao (TIC) e seus determinantes, em trs hospitais privados. Para alcanar o objetivo geral da pesquisa, foram identificadas trs inovaes, uma em cada hospital, totalmente implantadas h, pelo menos, um ano: pronturio eletrnico do paciente (PEP), sistema de gesto de unidades de tratamento intensivo (SGUTI) e sala inteligente de cirurgia (SIC).
A funo principal das inovaes estudadas promover melhorias na qualidade da assistncia hospitalar. Dentre as barreiras identificadas, a resistncia ao uso e o desconhecimento de novas tecnologias foram comuns s trs inovaes, aspecto recorrente em implantaes de TIC (Djellal & Gallouj, 2005; Tomasi, Facchini & Maia, 2004). No tocante aos facilitadores das inovaes, dois resultados confirmaram o que a literatura aponta sobre a importncia do comprometimento da alta administrao (Kimberly & Evanisko, 1981) e da comunicao entre as equipes (Walker & Carayon, 2009) para a adoo de TIC em hospitais.
Os benefcios advindos das inovaes estudadas corroboram resultados de pesquisas de Goldswig, Towfigh, Maglione e Shekelle (2009) e Walker e Carayon (2009). Esses estudos mostraram que a adoo de novas tecnologias de apoio a servios hospitalares contribui para a diminuio de erros de diagnstico, prescrio e intervenes, e para a recuperao mais rpida de pacientes. Importa destacar que, diante de um contexto de mudanas intensivas, surge a necessidade de novas competncias profissionais alinhadas tanto s caractersticas tcnicas dos servios quanto ao impacto dessas mudanas nas estruturas, nos processos e nos procedimentos de organizaes hospitalares.
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Assim, observou-se o desafio dos hospitais estudados, no sentido de capacitar os profissionais para atuarem com novas TIC.
As competncias identificadas nos relatos dos entrevistados evidenciaram mudanas nos perfis de comportamento de profissionais de hospitais quanto ao uso das novas tecnologias, bem como em relao ao servio hospitalar como um todo, conforme sugerem Djellal e Gallouj (2005). Dessa forma, pode-se inferir a relevncia da integrao de aes de aprendizagem com as estratgias de inovao, de modo a favorecer a formao de profissionais capacitados para atuaram em ambientes intensivos em inovao.
Os resultados do estudo permitem relacionar algumas recomendaes para pesquisas futuras. Recomenda-se a realizao de pesquisas que combinem mtodos qualitativos e quantitativos para analisar: (a) a relao entre adoo de inovaes e produtividade de hospitais; (b) os efeitos de TIC no emprego em hospitais; (c) o impacto de inovaes na qualidade da assistncia hospitalar percebida por usurios; (d) o retorno sobre os investimentos destinados s inovaes; (e) o papel de usurios na adoo de TIC. Recomenda-se, ainda, a realizao de estudos longitudinais, em profundidade, de inovaes para identificar nuanas inerentes ao processo de adoo em termos de foras internas e externas incidentes, do papel de atores envolvidos, das relaes de poder existentes, da tomada de deciso e planejamento da adoo de inovaes.
Ainda de acordo com os dados da pesquisa mais recomendaes de cunho gerencial e de novos estudos podem ser propostas. Inicialmente, importante pesquisar as competncias advindas de adoo de TIC em diferentes setores de hospitais a fim de identificar a amplitude do impacto de inovaes em perfis profissionais nessas organizaes. Seria importante, tambm, analisar a relao entre as competncias identificadas e as estratgias de aprendizagem adotadas por profissionais de hospitais para que se identifique como se aprende em um ambiente dinmico, complexo e intensivo em inovaes apoiadas em TIC. Em adio, identificar as variveis de suporte aprendizagem pode contribuir para a produo de conhecimentos acerca de processos de aprendizagem individual e organizacional em contextos hospitalares. Por fim, analisar de que forma variveis organizacionais, como tamanho, natureza, nvel de complexidade, nmero de empregados, podem impactar a forma como as pessoas aprendem e o grau de expresso de competncias advindas de inovaes em hospitais.
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DETERMINANTS OF INNOVATIONS IN INFORMATION AND COMMUNICATION TECHNOLOGIES ADOPTED BY HOSPITALS
ABSTRACT
Innovation, in health services in general and in hospitals in particular, has been studied intensely in
recent years, evidencing the growing interest of researchers in the subject. In the literature, there is a
consensus amongst scholars regarding the complex and dynamic nature of innovation in health
services, particularly regarding the determinants and the changes resulting from innovation. Therefore,
an understanding of innovation in its entire spectrum helps to identify factors that affect the innovation
process and its effects on hospital organizations, particularly in the adoption of Information and
Communication Technologies (ICT). Thus, the article describes the adoption of innovations supported
by ICT and its determinants in three hospitals. The research, of a qualitative nature, was based on 11
interviews and analyzed barriers, facilitators, benefits and future challenges for three innovations: the
Intensive Care Unit Management System, Electronic Patient Records and the Intelligent Surgery
Room. The highlighted barriers in the survey were: resistance to the use of, and lack of knowledge
about, new technologies. Conversely, the main facilitators were: the commitment of the high-level
administration and communication between teams. The most important benefits were: decreases in
errors of diagnosis, of prescription and of intervention, and faster recovery of patients. Finally, the
challenges identified were related to emerging competencies, which suggests changes in the behavior
profiles of hospitals professionals concerning the use of ICT, as well as to hospital services as a
whole. At the end of the article, conclusions and recommendations of a theoretical and practical order
are presented.
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Keywords: Innovation in Services; Innovation in Hospitals; Information and Communication
Technology; Professional Competencies.
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Data do recebimento do artigo: 26/07/2011
Data do aceite de publicao: 02/11/2011
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2011
Abstract
Innovation, in health services in general and in hospitals in particular, has been studied intensely in recent years, evidencing the growing interest of researchers in the subject. In the literature, there is a consensus amongst scholars regarding the complex and dynamic nature of innovation in health services, particularly regarding the determinants and the changes resulting from innovation. Therefore, an understanding of innovation in its entire spectrum helps to identify factors that affect the innovation process and its effects on hospital organizations, particularly in the adoption of Information and Communication Technologies (ICT). Thus, the article describes the adoption of innovations supported by ICT and its determinants in three hospitals. The research, of a qualitative nature, was based on 11 interviews and analyzed barriers, facilitators, benefits and future challenges for three innovations: the Intensive Care Unit Management System, Electronic Patient Records and the Intelligent Surgery Room. The highlighted barriers in the survey were: resistance to the use of, and lack of knowledge about, new technologies. Conversely, the main facilitators were: the commitment of the high-level administration and communication between teams. The most important benefits were: decreases in errors of diagnosis, of prescription and of intervention, and faster recovery of patients. Finally, the challenges identified were related to emerging competencies, which suggests changes in the behavior profiles of hospitals' professionals concerning the use of ICT, as well as to hospital services as a whole. At the end of the article, conclusions and recommendations of a theoretical and practical order are presented. [PUBLICATION ABSTRACT]
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