RAI Revista de Administrao e Inovao ISSN: 1809-2039
DOI: 10.5773/rai.v1i1.679
Organizao: Comit Cientfico Interinstitucional Editor Cientfico: Milton de Abreu Campanario Avaliao: Double Blind Review pelo SEER/OJS Reviso: Gramatical, normativa e de Formatao
ESTUDO DE CASOS SOBRE TRANSFERNCIA DE TECNOLOGIA PARA SPIN-OFFS
UNIVERSITRIOS EM PORTUGAL
Vasco Eiriz
PhD em Management the University of Manchester Institute of Science and Technology, Reino Unido
Professor Associado com Agregao, Departamento de Gesto, Escola de Economia e Gesto,
Universidade do Minho, Portugal
E-mail: mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Portugal)
Liliana Alves
Mestre em Marketing e Gesto Estratgica, Escola de Economia e Gesto, Universidade do Minho,
Portugal
E-mail: mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Portugal)
Ana Paula Faria
PhD em Economia the University of Nottingham, Reino Unido
Professora Auxiliar com Agregao, Departamento de Economia, Escola de Economia e Gesto,
Universidade do Minho, Portugal
E-mail: mailto:[email protected]
Web End [email protected] (Portugal)
RESUMO
A universidade uma fonte para o desenvolvimento de novos produtos e servios baseados no
conhecimento e tecnologia. A transferncia de tecnologia da universidade para a indstria pode ser
feita atravs de vrios mecanismos como a criao de spin-offs universitrios. Este artigo analisa
quatro spin-offs universitrios e os gabinetes de apoio transferncia de tecnologia e
empreendedorismo de duas universidades portuguesas, contribuindo, desta forma, para um melhor
conhecimento sobre um fenmeno emergente em vrios pases. Os resultados encontrados revelam que
a universidade se mostra mais presente na fase inicial do processo de transferncia. A entrada de
financiadores viabiliza os spin-offs, mas na maioria dos casos implica para o universitrio fundador a
perda da maioria do capital e do controlo do spin-off criado em contexto acadmico. No processo de
transferncia de tecnologia para os spin-offs universitrios identificaram-se ainda as seguintes
principais dificuldades: custos associados inovao, dfice de investimento, e conquista de
credibilidade e de parceiros estratgicos.
Palavras-chave: Tecnologia; Spin-off; Universidade; Transferncia.
Estudo de casos sobre transferncia de tecnologia para Spin-offs universitrios em Portugal
1 INTRODUO
Tecnologia, spin-off universitrio e empreendedorismo acadmico so fenmenos que tm ganho importncia no meio acadmico e fora dele. Para Ndonzuau et al. (2002) e Bercovitz e Feldmann (2006), Silicon Valley e Route 128 so a prova dos primeiros passos do empreendedorismo acadmico nos Estados Unidos da Amrica. Apesar de em muitos pases se encontrar ainda num estado menos desenvolvido, o spin-off acadmico tem vindo a alterar a cultura de ensino e investigao universitria desde a dcada de 1970 (Rothaermel et al., 2007).
A possibilidade de comercializar os resultados de pesquisas acadmicas reforou a ligao da universidade indstria e sua regio (Etzkowitz et al., 2000; Gras et al., 2008). Esta comercializao do conhecimento conheceu duas vagas. A primeira, na dcada de 1980, diz respeito criao de parques de cincia com o objectivo de atrair empresas de vanguarda e aumentar a colaborao com a indstria, contribuindo para o financiamento da pesquisa universitria. Apesar de as iniciativas da primeira vaga ainda serem actuais, surgiu uma segunda vaga na dcada de 1990 que se focou nos spinoffs e no processo de patentear e licenciar tecnologias. Esta vaga proporcionou aos investigadores um maior envolvimento na comercializao de conhecimento, trabalhando mais de perto com a presso que implica a transferncia de conhecimento e desenvolvimento de produtos com valor econmico (Rasmussen, 2006).
A criao de spin-offs universitrios tem por base a transferncia de tecnologia ou conhecimento da universidade para a nova empresa, constituda, na maioria das vezes, por professores, alunos e investigadores. Quando a transferncia tem base tecnolgica, esta pode estar ou no protegida legalmente atravs de patentes. A transferncia de tecnologias sob a forma de patentes um processo complexo. A multiplicidade de factores que condiciona este processo de transferncia de tecnologia torna-o com especial interesse de estudo. Este artigo contribui para a compreenso do processo de transferncia de tecnologia atravs do estudo de quatro spin-offs gerados em duas universidades e dos gabinetes que apoiam esse processo no seio das respectivas universidades.
O objectivo deste artigo , assim, compreender o processo de transferncia de tecnologia para spin-offs universitrios. Em particular, pretendeu-se: perceber quais as funes que os gabinetes universitrios de apoio transferncia de tecnologia e empreendedorismo desempenham no processo; compreender o processo de transferncia da tecnologia para spin-offs; identificar mecanismos de ligao do spin-off universidade; perceber o papel do financiamento no processo de transferncia e desenvolvimento do spin-off; e identificar as principais dificuldades associadas ao processo. Para atingir estes objectivos, o mtodo de pesquisa mais adequado o estudo de caso. Foram estudados quatro spin-offs universitrios e trs gabinetes universitrios de transferncia de tecnologia
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pertencentes Universidade do Minho e Universidade do Porto, duas das principais universidades portuguesas.
O presente artigo est organizado da seguinte forma: a seco 2 apresenta a reviso de literatura; a seco 3 descreve a abordagem metodolgica seguida na pesquisa emprica; a seco 4 apresenta e analisa os resultados; e, por ltimo, a seco 5 sintetiza os resultados e apresenta as concluses.
2 REVISO DA LITERATURA
2.1 SPIN-OFF COMO MECANISMO DE TRANSFERNCIA
A ligao da academia ao exterior desenrola-se atravs de diferentes mecanismos de transferncia de conhecimento. Os autores que investigaram estes mecanismos identificaram a criao de projectos de pesquisa e laboratrios financiados, as prticas de consultoria, o apoio industrial para a cincia, colaborando e gerindo em conjunto projectos de pesquisa, o patentear, o envolvimento comercial directo em parcerias com empresas, e a contratao de estudantes (Louis et al., 1989; Bercovitz e Feldmann, 2006; Martinelli et al., 2008).
Contudo, a transferncia de conhecimento e tecnologia no pode ser dissociada do seu acto criativo e do seu autor. Thursby e Thursby (2003) concluram que mais de metade das invenes licenciadas pelas universidades americanas no podem ser comercializadas sem a cooperao dos membros universitrios.
De acordo com Howells (1995), dois tipos de conhecimento so normalmente transferidos: o conhecimento codificado e o conhecimento tcito. O conhecimento codificado a parte mais visvel dos resultados de pesquisas, podendo assumir diversas formas tais como publicaes, programas de computador, artefactos tcnicos ou equipamentos (Pirnay et al., 2003). No entanto, o conhecimento codificado apenas um conhecimento formal e explcito que representa a ponta do iceberg de outro conhecimento mais profundo e de difcil transmisso: o conhecimento tcito (Howells, 1995; Gorman, 2002; Goldfarb e Henrekson, 2003; Pirnay et al., 2003; Fontes, 2005; Link e Scott, 2005).
O indivduo o recipiente deste conhecimento tcito e transferi-lo para o exterior por vezes s possvel com um contacto prximo e de grande frequncia. A sabedoria, a experincia e as capacidades que o investigador adquire ao longo da sua vida acadmica fazem parte das formas que o conhecimento tcito assume. ele que est na origem da tomada de uma deciso, em julgamentos, na organizao da informao, na ideia de um produto, e que acaba por no se resumir a uma frmula (Gorman, 2002; Pirnay et al., 2003). Neste sentido vrios autores defendem o contacto directo entre o
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inventor e o processo de desenvolvimento da ideia, pois existe um conhecimento tcito implcito que no pode ser ignorado, dando ao criador um papel decisor no sucesso da aplicao da sua ideia na indstria e mercado (Gartner, 1988; Shane, 2003).
A constituio de uma nova empresa para transferir conhecimento e tecnologia universitria o mecanismo que envolve maior ligao entre o inventor, a tecnologia transferida e o mercado em que esta aplicada (Bercovitz e Feldmann, 2006). A literatura focada em aspectos especficos do processo de criao e desenvolvimento do spin-off apresenta definies deste conceito que variam em certos pontos, mas que acabam por referir-se ao mesmo fenmeno (Pirnay et al., 2003; Bercovitz e Feldmann, 2006). Empresas formadas pela universidade, professores ou equipas acadmicas; empresas formadas em torno de uma licena universitria de propriedade intelectual; empresas start-up que desenvolvem projectos de pesquisa conjunta com a universidade; empresa iniciada por estudantes ou ps-doutorados em torno de uma pesquisa conduzida na universidade (Bercovitz e Feldmann, 2006) so algumas das definies encontradas.
Para Pirnay et al. (2003), o spin-off pode ser definido como sendo uma nova empresa criada para explorar comercialmente algum conhecimento, tecnologia ou resultado de pesquisa desenvolvida com a universidade. Os autores identificaram trs condies para que determinado fenmeno possa ser qualificado como spin-off: ter lugar numa organizao existente, geralmente apelidada de organizao me; um ou vrios indivduos possurem um estatuto ou funo na organizao me; os indivduos fundadores deixam a organizao me para criar uma nova empresa.
Clarysse e Moray (2004) argumentaram que o spin-off baseado em pesquisa possui duas dimenses comuns, sendo uma nova empresa que formada (1) por um membro do corpo docente, da equipa universitria ou por um estudante que partiu da universidade para fundar a empresa ou comeou a empresa enquanto estava ainda filiado com a universidade, e/ou (2) possui uma base tecnolgica (ou ideia) que transferida da organizao me. De acordo com a definio destes autores, o spin-off pode ser visto como um mecanismo de transferncia tecnolgica para a comercializao da tecnologia desenvolvida na universidade. As novas empresas baseadas em tecnologia so um exemplo do processo de transferncia tecnolgica da universidade para o mercado (Aguirre et al., 2006; Kirwan et al., 2006).
Vohora et al. (2004) defendem que o spin-off acadmico passa por um nmero distinto de fases durante o seu desenvolvimento. Este processo caracterizado por interactividade e pouca linearidade, onde a constante tomada de decises e superao de obstculos necessria. Durante a progresso entre fases, os autores identificaram quatro conjunturas crticas intrnsecas s fases de desenvolvimento do spin-off, relacionando-se estas com capacidades e recursos da nova empresa. As
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fases de desenvolvimento propostas so: (1) fase de pesquisa; (2) fase de enquadramento de oportunidade; (3) fase de pr-organizao; (4) estado de reorganizao, e por ltimo, (5) fase de retorno sustentvel. As quatro conjunturas crticas so: (A) o reconhecimento da oportunidade; (B) o compromisso empresarial; (C) a credibilidade e (D) os retornos sustentveis. Assim, o reconhecimento da oportunidade (A) surge como interface entre a fase de pesquisa e a fase de enquadramento da oportunidade. E assim sucessivamente.
Embora o spin-off seja um mecanismo de transferncia de conhecimento e tecnologia, o seu sucesso e a forma como gerido esse processo de transferncia dependem largamente das polticas de cada universidade e da ligao do spin-off universidade.
2.2 POLTICAS UNIVERSITRIAS E LIGAO DO SPIN-OFF UNIVERSIDADE
A relao entre o acadmico e a universidade pode influenciar a forma como o acadmico age dentro do seu meio, bem como a sua motivao para empreender (Brennan et al., 2005). A organizao me desempenha um papel crucial no incentivo e apoio do spin-off. Di Gregorio e Shane (2003) concluram que as razes pelas quais algumas universidades geram mais start-ups do que outras so a eminncia intelectual dos membros da universidade e as polticas universitrias praticadas no sentido de apoiar aces empreendedoras. Tais concluses justificam o facto de algumas universidades apresentarem um impacto muito reduzido na economia regional, com fraco ndice de aplicao dos benefcios das pesquisas em spin-offs (Feldman e Desrochers, 2003, 2004).
Assim, para que a universidade possua meios de transferncia de conhecimento, no se pode restringir a um quadro docente altamente qualificado. So necessrias medidas que tornem a transferncia vivel. Deste modo, as polticas universitrias so uma das variveis mais influentes no processo de transferncia tecnolgica (DeGroof e Roberts, 2004; Bercovitz e Feldmann, 2006). Neste sentido, uma das evidncias encontradas foi a de que a aco das polticas universitrias em torno da transferncia tecnolgica melhora os servios de licenciamento tecnolgico. O baixo valor de royalties e a propenso para fazer investimento de capital so as medidas com maior interferncia neste tipo de actividades (Di Gregorio e Shane, 2003).
Num estudo realizado no Reino Unido (Wright et al., 2003) foram identificados os seguintes promotores da actividade de criao de spin-offs: incentivos e recompensas para os acadmicos; competncias tcnicas, de negociao e em marketing que a equipa envolvida na explorao da propriedade intelectual possui; e processos internos relacionados com direitos de propriedade intelectual, constituio de novas empresas e conduo e desenvolvimento de negcios. Gras et al. (2008) indicam o baixo valor de royalties, apoios financeiros, servios de consultoria e formao,
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infraestruturas de apoio como parques tecnolgicos e incubadoras como sendo as medidas que mais influncia tm no sucesso dos spin-offs e do empreendedorismo acadmico, em geral.
De acordo com Shane (2004), a poltica de propriedade intelectual praticada pela universidade um factor preponderante na gerao deste tipo de empresa. Nos Estados Unidos da Amrica a lei Bayh-Dole Act permitiu que as invenes realizadas dentro do seio acadmico passassem a ter a assinatura da instituio acadmica em vez de do inventor. Na Europa, os estudos apontam as polticas nacionais que permitem a assinatura individual da inveno como inibidoras da atitude empresarial dos docentes e da actividade spin-off em geral (Wallmark, 1997; Goldfarb e Henrekson, 2003).
O envolvimento directo da universidade com as actividades de patentear e licenciar e a criao de gabinetes de transferncia de tecnologia mostraram-se um processo de sucesso (Shane, 2004; Sampat, 2006). Acrescentam-se os acordos com a indstria e linhas de aco no sentido de grande suporte e selectividade na promoo do spin-off como polticas de promoo da qualidade e garantia de sustentabilidade da nova empresa (DeGroof e Roberts, 2004). O grau de autonomia concedido aos centros de transferncia de tecnologia assim como a todos os que utilizam licenas em troca de capital o factor mais positivamente relacionado com a formao de novos empreendimentos. Tal sugere que as polticas da universidade e estratgias relativas estrutura dos centros de transferncia e estratgias desenvolvidas para valorizar a propriedade intelectual podem determinar os seus resultados relativos actividade do spin-off (Markman et al., 2005; Gras et al., 2008).
Todavia, se por um lado alguns autores como Di Gregorio e Shane (2003) e Clarysse et al. (2005) defendem que um elevado grau de envolvimento entre a universidade e o spin-off pode trazer benefcios tais como maiores probabilidades de sobrevivncia, melhor desempenho e efeitos positivos na sua reputao; por outro lado, Johansson et al. (2005) e Rothaermel e Thursby (2005) argumentam que o elevado envolvimento pode causar situaes de dependncia, danos na reputao e atraso no desenvolvimento.
Johansson et al. (2005) distinguem os laos fortes dos laos fracos entre a nova empresa e a universidade. Os laos fortes tendem a ser bidireccionais e informais, ajudando diariamente o spin-off, tornando o projecto vivel. Por sua vez, os laos fracos tendem a ser unidireccionais e formais, contribuindo para o acesso a aspectos importantes para a nova empresa. As relaes histricas profissionais levam a que o acadmico desenvolva laos fortes com a universidade onde trabalha. A proximidade geogrfica, a confiana e o esprito de cooperao entre os membros do seu departamento, assim como a partilha da mesma linguagem e conhecimento so as causas de os spinoffs acadmicos serem apoiados por um pequeno nmero de laos fortes desenvolvidos em torno da universidade.
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Perz e Snchez (2003) constataram que a organizao me tem um papel muito importante nas primeiras etapas da nova empresa, auxiliando no desenvolvimento do produto, prestando servios de consultoria e ajudando a atingir alguma experincia. No entanto, apesar deste papel preponderante da organizao me, a tendncia a de que com o passar dos anos a ligao universidade diminua, aumentando as relaes com os clientes. Rothaermel e Thursby (2005) defendem que as ligaes com a universidade asseguram um crescimento mais estvel mas que retardam o amadurecimento da nova empresa.
3 ESTUDO DE CASOS
O mtodo de investigao utilizado foi o estudo de caso. De acordo com Yin (2003), o estudo de caso uma investigao emprica que estuda um fenmeno dentro do seu contexto real, sendo desenvolvido especialmente quando as fronteiras entre o contexto e o fenmeno em estudo no so claras. Desta forma, procurou-se atravs do estudo comparativo entre casos acrescentar algo de novo ao tema, ainda que, naturalmente, os resultados alcanados no possam ser generalizados.
Os casos foram escolhidos por razes de convenincia e interesse dos investigadores. Por exemplo, a proximidade geogrfica das duas universidades foi considerada na medida em que isso favoreceu o contacto com as instituies no decorrer da investigao. A escolha recaiu sobre a Universidade do Minho e a Universidade do Porto. Esta escolha teve tambm em considerao a existncia de gabinetes com o objectivo de incentivar e apoiar a transferncia de conhecimento e criao de spin-offs nas duas universidades. Apesar de os autores deste estudo estarem vinculados a uma das universidades estudadas, nenhum deles exerce funes nos gabinetes e nos spin-offs estudados, nem sequer tm responsabilidades institucionais na rea, tendo sido garantida a imparcialidade e independncia entre autores e objecto de estudo. Alis, esta ligao a uma das universidades permitiu-lhes uma leitura mais informada do fenmeno.
O estudo desenrolou-se em torno do processo de transferncia de tecnologia sob a forma de patentes. Esta transferncia de conhecimento tecnolgico teria, por sua vez, de ser feita para spin-offs universitrios, procurando assim perceber os mecanismos que melhor contribuem para a transferncia de tecnologia da universidade. A pesquisa deste fenmeno num determinado contexto corrobora o facto de o estudo de caso ser o mtodo mais apropriado para o efeito. Yin (1994) caracteriza as questes de partida do estudo de caso como sendo de ordem exploratria, onde o como e o porqu esto habitualmente presentes.
A principal questo de pesquisa a que nos propusemos responder foi a seguinte: como se desenrola o processo de transferncia de tecnologia, sob a forma de patentes, para um spin-off
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universitrio? De forma mais particular, qual o papel dos gabinetes de transferncia neste processo? Que mecanismos de ligao existem entre as universidades e os spin-offs a gerados? Que papel exerce a necessidade de financiamento no processo de transferncia, criao e desenvolvimento dos spin-offs? Quais so as dificuldades associadas ao processo de transferncia atravs de spin-offs?
Em consequncia da principal questo exposta, torna-se importante esclarecer o conceito de spin-off universitrio adoptado no nosso estudo. Como a reviso de literatura evidenciou, o nmero de definies de spin-off universitrio grande, sendo que muitos autores referem-se ao mesmo fenmeno em termos diferentes (Pirnay et al., 2003; Bercovitz e Feldmann, 2006). A definio utilizada neste estudo a de Clarysse e Moray (2004), que apresentam o spin-off como uma nova empresa que formada por um membro do corpo docente da universidade ou por um estudante que partiu da universidade para fundar a empresa ou comeou a empresa enquanto estava ainda filiado universidade, e possui uma base tecnolgica (ou ideia) que transferida da universidade enquanto organizao me.
A seleco dos spin-offs estudados teve em conta outro critrio: a tecnologia transferida devia estar patenteada. A existncia de uma patente pressupe a proteco dos direitos industriais sobre determinado conhecimento tcnico, o que fez com que a escolha dos spin-offs tenha incidido em empresas tecnolgicas nascentes em diferentes reas da engenharia. Na escolha dos casos, a transferncia devia j ter sido concretizada, tendo o spin-off no mnimo trs anos de existncia, uma vez que consideramos que um spin-off em fase muito precoce de formao no apresenta uma experincia nem uma viso retrospectiva sobre o processo de transferncia e desenvolvimento da empresa to amadurecida como outros spin-offs em fases mais avanadas.
Foram estudados quatro spin-offs, dois da Universidade do Minho (Ambisys e Micropolis) e dois da Universidade do Porto (Medmat Innovation e Fluidinova). A Tabela 1 caracteriza esses spinoffs.
Caractersticas dos Spin-offs
Engenhariatxtil Biomateriais Engenharia qumica
Incio da investigao 1999 1998 1989 No disponvel N. investigadores 5 2 3 Vrios investigadores
Ligao fundadoruniversidade
Professora e aluno de doutoramento
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Universidade do Minho Universidade do Porto
Ambisys Micropolis Medmat
Innovation Fluidinova
rea Biotecnologia
ambiental
Professor e aluno de doutoramento
Professores investigadores
Professores investigadores
N. de pedidos depatentes 2 2 3 6 Fundao do spin-off 2007 2001 2002 2005 N. de investigadores 2 2 1 No disponvel
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empreendedores N. de patentesexploradas 1 1 3 2
Histrico de financiamento
Grupo privado (2007)
Capital de risco (2003) e business angel
(2007)
Grupo privado (2006) Capital de risco (2005)
Localizao actual em Portugal
Pvoa de
Varzim TecMaia Maia TecMaia Maia TecMaia Maia
Estado de desenvolvimento do spin-off
Experimentaoem empresas Comercializao Comercializao
Comercializao de amostras
Outras actividades do spin-off
Prestao de servios e consultoria
No aplicvel Biomodelao Consultoria
Tabela 1- Caractersticas dos spin-offs estudados.
Fonte: Elaborado pelos autores.
A recolha de dados baseou-se em trs fontes: a consulta dos stios na internet das universidades, dos spin-offs universitrios e dos gabinetes universitrios de apoio transferncia de tecnologia e ao empreendedorismo; a anlise de documentos dos gabinetes universitrios; e as entrevistas realizadas a estes ltimos e aos professores fundadores.
As duas primeiras fontes foram utilizadas para caracterizar de forma preliminar as empresas e os gabinetes de transferncia, e para preparar as entrevistas. Foram posteriormente realizadas quatro entrevistas a professores que estiveram envolvidos em cada uma das tecnologias transferidas, e que viveram o processo de proteco e transferncia da patente para o spin-off, bem como a criao deste. Para alm destas entrevistas, foram realizadas trs entrevistas nos gabinetes de transferncia das universidades.
A durao mdia destas sete entrevistas foi de 55 minutos. Todas as entrevistas foram gravadas em udio. A realizao das entrevistas foi apoiada por um guio com os seguintes tpicos de conversao: i) enquadramento do gabinete de transferncia e seu papel na universidade; ii) processo de transferncia, incluindo fases, motivos e dificuldades; iii) constituio do spin-off; iv) ligao entre o spin-off e a universidade; e v) financiamento do spin-off. Naturalmente, este guio foi adaptado em funo de o entrevistado ser um professor ou um tcnico do gabinete de transferncia.
O tratamento de dados seguiu o mtodo proposto por Miles e Huberman (1994). A primeira fase do tratamento dos dados das entrevistas consistiu na sua audio e transcrio integral para um documento MS Word. De seguida, os tpicos abordados nas entrevistas foram categorizados em tabelas nas quais foram estruturados os dados atravs de excertos das entrevistas e registo de ideiaschave que traduziram a nossa anlise e interpretao desses dados. Conseguiu-se desta forma uma
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simplificao dos dados recolhidos, tornando a anlise e comparao dos dados, bem assim como a interpretao dos resultados, mais fcil e evidente.
Os resultados so apresentados e discutidos na seguinte seco.
4 APRESENTAO E DISCUSSO DE RESULTADOS
4.1 FUNO DOS GABINETES DE TRANSFERNCIA
A origem universitria da patente confere particularidades ao processo interno de comunicao de inveno na universidade, anterior ao pedido legal de patente. A Universidade do Minho e a Universidade do Porto possuem gabinetes de apoio transferncia de tecnologia que auxiliam os investigadores a patentear as tecnologias.
A TecMinho uma associao que presta apoio Universidade do Minho, enquanto a Universidade do Porto Inovao (Upin) o gabinete de apoio da Universidade do Porto, sendo a TecMinho uma associao de direito privado e a segunda um departamento da reitoria. No caso da Universidade do Porto, destaca-se ainda a existncia de gabinetes internos de apoio nesta rea dentro de algumas faculdades, como o exemplo dos Servios de Cooperao da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Isto ocorre porque a Universidade do Porto uma instituio bem maior e mais antiga do que a Universidade do Minho e com uma tradio de autonomia das suas faculdades mais enraizada. A Universidade do Porto foi fundada em 1911, possuindo aproximadamente 29 mil estudantes e 2.300 professores e investigadores distribudos por 15 faculdades e 69 centros de investigao. A Universidade do Minho foi fundada em 1973, estando localizada nas cidades de Braga e Guimares, com uma populao estudantil de aproximadamente 16 mil alunos e 1.200 professores e investigadores repartidos por 11 faculdades e 35 centros de investigao.
Apesar de a reitoria de cada universidade ser a decisora no processo de pedido de patente, so os gabinetes mencionados que elaboram pareceres sobre o pedido de patente, organizam formao para os potenciais empreendedores e do o apoio necessrio no processo de pedido de patente e sua transferncia.
Sem prejuzo do reconhecimento da autoria da inveno, a titularidade da universidade sobre a inveno pressupe que o autor desta comunique ao reitor ou entidade por ele nomeada, no caso da Universidade do Minho, ou Upin, no caso da Universidade do Porto, a sua inveno ou criao. A deciso de patentear a inveno ou criao , em ambos os casos, da responsabilidade da universidade.
A Universidade do Minho por norma emite um parecer fundamentado sobre o seu posicionamento acerca da solicitao de patente, podendo recorrer para o efeito a uma terceira
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entidade. Na Universidade do Porto cabe Upin elaborar um parecer fundamentado acerca da solicitao da patente, que entregue ao reitor ou outrem por ele designado, sendo o reitor, com o auxlio das assessorias que considere oportunas, quem decide sobre o interesse da universidade de solicitar a patente.
Quando a deciso positiva, as despesas de proteco so nas duas universidades estudadas suportadas por estas. A Universidade do Minho paga estas despesas atravs dos seus servios centrais, enquanto no Regulamento de Propriedade Intelectual da Universidade do Porto est estabelecido o dever de a universidade suportar as despesas de proteco sem que seja mencionado nenhum servio ou organismo interno especfico para este pagamento. No decorrer do processo de patentear a inovao so a TecMinho e a Upin que trabalham junto com os inventores, pois, apesar de a escolha dos pases onde o direito sobre a patente vai vigorar ser dos autores, os gabinetes aconselham os autores neste processo.
No que diz respeito explorao da patente, a Universidade do Minho e a Universidade do Porto possuem a competncia de decidir sobre a explorao dos direitos de propriedade industrial e o poder de praticar todos os actos que levem explorao da mesma, de acordo com os seus regulamentos de propriedade intelectual. Similarmente, nas duas universidades, o inventor ou o inventor e a sua faculdade, no caso da Universidade do Porto, tm por sua vez o direito de serem informados sobre o processo decorrente da explorao dos direitos de propriedade da patente.
A explorao da patente feita atravs da transferncia da patente para uma empresa via licenciamento exclusivo. Este licenciamento tem como contrapartida o pagamento de royalties universidade licenciadora, passando a empresa exploradora da patente a pagar os custos da sua proteco nos pases em que o direito de propriedade industrial da inovao vigora.
Quando os autores da patente decidem acompanhar esta at ao mercado e criam um spin-off que tem por base a patente da qual so autores, a Universidade do Minho e a Universidade do Porto no financiam as novas empresas, sendo o apoio que prestam a nvel de servios e da disponibilizao de espaos incubadores. Nestes casos, a TecMinho e a Upin auxiliam atravs do encaminhamento para entidades financiadoras, organizao de aces de formao e indicao de parceiros que podem prestar apoio no desenvolvimento do plano de negcios. Neste sentido, os gabinetes universitrios tm um papel de intermedirios entre o fundador do spin-off e potenciais parceiros deste. O acesso a redes de contactos importantes assim uma das funes desempenhadas pelos gabinetes.
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4.2 LIGAO DOS SPIN-OFFS UNIVERSIDADE
Para alm do auxlio anteriormente identificado, a universidade pode tambm conceder a sua marca ao spin-off, sendo que a Universidade do Minho possui a marca Spin-off da Universidade do Minho, enquanto a Universidade do Porto concede a chancela Spin-off U. Porto. O estatuto de spinoff da Universidade do Minho concedido quando o spin-off tem uma ligao com a universidade. A concesso da chancela Spin-off U. Porto est sujeita a critrios estabelecidos no regulamento especfico para a concesso da chancela. Ao contrrio do que acontece na Universidade do Minho, na Universidade do Porto a chancela Spin-off U. Porto est sujeita a um regulamento prprio, no dependendo apenas da filiao dos fundadores universidade.
Na Universidade do Porto, a concesso da chancela passa ainda por um processo administrativo que envolve a anlise e elaborao de um parecer pela Upin e uma comisso de acompanhamento que delibera sobre o parecer de atribuir ou no a chancela. A concesso da marca mostra-se mais fcil na Universidade do Minho, pois, enquanto nesta universidade existiam no momento da recolha de dados 34 spin-offs com o estatuto anteriormente referido, na Universidade do Porto existia apenas um spinoff com a chancela Spin-off U. Porto, apesar de outros spin-offs usufrurem do apoio e laos com a Universidade do Porto. Nas duas universidades, o uso da marca por tempo indefinido, no existindo um limite temporal estabelecido para o spin-off deixar de poder usar a marca da universidade.
A ligao universidade mostrou-se mais evidente na fase inicial do spin-off atravs dos gabinetes de apoio transferncia de tecnologia e empreendedorismo da universidade. Este vnculo tornou-se importante na rede de contactos da nova empresa. No caso da Ambisys, esta estabelece a sua rede de contactos atravs da universidade, grupo financiador e via comercial. A Micropolis, por seu lado, desenvolveu a sua rede de contactos atravs dos contactos pessoais do professor e dos contactos da empresa de capital de risco, tendo tambm sido estabelecidos contactos atravs da universidade.
O papel da universidade no desenvolvimento da rede de contactos foi tambm referido pela Medmat Innovation e pela Fluidinova. A Medmat Innovation criou a sua rede via universidade, via contactos pessoais dos professores fundadores, desenvolvendo a rede com o crescimento da empresa e a aquisio de novos contactos atravs dos j existentes. O mesmo acontece na Fluidinova, onde a rede de contactos foi constituda via universidade e via projectos de participao do spin-off.
4.3 PROCESSO DE TRANSFERNCIA PARA OS SPIN-OFFS
Os quatro casos de transferncia analisados neste estudo esto ligados engenharia, tendo envolvida a transferncia de duas ou mais patentes em cada caso. Conforme pode ser visto na Tabela 1, entre os quatro spin-offs estudados existe um na rea da biotecnologia ambiental (Ambisys), outro
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na engenharia txtil (Micropolis), um terceiro na engenharia de biomateriais (Medmat Innovation) e o quarto na engenharia qumica (Fluidinova).
A inveno que deu origem patente resulta em todos os casos de uma investigao universitria de professores com alunos de doutoramento dentro da sua rea de formao. O nmero de pessoas envolvidas na investigao entre dois e cinco, no existindo informao neste item no caso da Fluidinova.
A Ambisys demorou oito anos entre o incio da investigao e a sua fundao. A Micropolis, por sua vez, demorou trs anos entre o incio da investigao e a fundao da empresa, enquanto a Medmat Innovation aquela que apresenta uma distncia temporal maior, sendo esta de treze anos.
importante realar o facto de a criao dos spin-offs ter ocorrido em diferentes fases da aplicao da tecnologia. Enquanto a formao da Ambisys e da Micropolis ocorreu anos antes da comercializao da tecnologia, no caso da Medmat Innovation esta foi criada quando a tecnologia estava praticamente pronta para ser comercializada.
A constituio da equipa fundadora do spin-off em todos os casos caracterizada por uma ligao dos fundadores universidade atravs da docncia e da investigao. Reala-se o facto de os quatro professores fundadores entrevistados se situarem numa faixa etria entre 46 e 59 anos, sendo de admitir que a estabilidade na carreira profissional e a maturidade de conhecimentos no momento da criao dos spin-offs possam ter contribudo para a deciso empreendedora.
A deciso de transferir a tecnologia para spin-offs em vez de a desenvolver e investir nela no contexto exclusivo da universidade foi um tpico analisado neste estudo. Quando interrogados sobre o motivo de transferir a patente, os entrevistados deram respostas que convergiram em dois grandes motivos: ser uma tecnologia inovadora e ter potencial de aplicao.
A Ambisys argumentou que a tecnologia era bastante revolucionria e com grande potencial de aplicao no mercado global. A Micropolis referiu que a tecnologia desenvolvida implementa um novo conceito de conforto trmico. No caso da Medmat Innovation, apesar de directamente no ter referido a inovao e o potencial de aplicao da tecnologia, mencionou a importncia da tecnologia na rea mdica a que se dirige. A Fluidinova apontou a possibilidade de aplicao prtica da tecnologia e o seu grande potencial como factores de transferncia dessa mesma tecnologia.
Associados aos motivos de transferncia da tecnologia inovao e potencial de mercado existiram outras causas particulares para que a criao do spin-off fosse considerada o melhor modo para transferir a patente. Assim, os motivos para a criao do spin-off variam de caso para caso. A Ambisys e a Micropolis so opostos neste item, pois, enquanto a primeira resultou de um impulso externo, no caso da Micropolis a sua criao resultou da motivao de um dos autores da patente.
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No caso da Ambisys a criao do spin-off resultou de um convite feito por um grupo empresarial que no se encontrava no mercado da biotecnologia ambiental, mas tinha como objectivo entrar neste mercado. Atravs de uma ligao entre a professora, uma das autoras da patente, e uma antiga aluna que trabalhava no grupo empresarial estabeleceu-se o contacto e o encontro de interesses do grupo e de alguns autores da patente em querer investir na tecnologia. De forma oposta, na Micropolis a deciso da criao do spin-off resultou da motivao pessoal de um dos autores da patente, resultante da sua vontade de ligar o seu conhecimento acadmico indstria txtil. A esta motivao pessoal aliou-se o conhecimento inovador da patente, sendo que a tecnologia implcita na patente no tinha concorrncia no mercado.
No caso da Medmat Innovation, o sector mdico para o qual a patente tem aplicao prtica possui regulamentos especficos para certificar uma nova tecnologia, levando um dos autores da primeira patente a criar o spin-off para desenvolver a patente e resolver os aspectos regulamentares necessrios para a sua aplicao no mercado. Relativamente Fluidinova foi a relevncia da inveno conjugada com a constatao de um interesse externo na tecnologia e do seu potencial valor comercial que levaram criao do spin-off.
4.4 FINANCIAMENTO DOS SPIN-OFFS E DIFICULDADES NA TRANSFERNCIA
A criao de uma nova empresa acarreta consigo necessidades financeiras relacionadas com o estabelecimento e seu crescimento. O financiamento dos spin-offs estudados foi realizado atravs de grupos privados (Ambisys e Medmat Innovation) e de sociedades de capitais de risco (Micropolis e Fluidinova). Analisando a distribuio de poder dentro dos spin-offs estudados a concluso evidente: com a entrada de um financiador externo, em trs dos casos estudados a maioria do capital passou a pertencer ao financiador, enquanto os fundadores ficaram minoritrios.
Por exemplo, na Ambisys, o grupo empresarial tem 70% da empresa, enquanto os fundadores possuem 10% cada. O poder do grupo e o esforo dos restantes trs scios reconhecido pela professora entrevistada, que admite a possibilidade de futuramente terem que reduzir a sua posio accionista em virtude de os trs scios no conseguirem acompanhar os aumentos de capital realizados pelo grupo empresarial.
O poder maioritrio do financiador tambm evidente na Micropolis, sendo tambm uma sociedade annima de capital de risco que ficou com a maioria do capital do spin-off. Tendo os fundadores cerca de 10%, o poder de deciso ficou controlado pela sociedade de capital de risco. Por seu lado, a Medmat Innovation, que integrou o grupo Biosckin criado pelos fundadores do spin-off e o
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grupo empresarial investidor, exemplo de um poder de deciso mais repartido, embora a maioria accionista seja tambm do grupo empresarial investidor.
Neste aspecto, a Fluidinova assemelha-se aos restantes, tendo a sociedade de capital de risco a maioria accionista, enquanto os promotores possuem apenas 20%, existindo ainda uma posio de 15% que pertence ao Estado. Reala-se ainda o facto de o cargo que os professores fundadores ocupam na empresa ser o de administrador e director cientfico/tecnolgico.
O financiamento externo traz consigo vantagens e condicionalismos, tendo sido enumerados alguns deles. A Ambisys reconheceu as seguintes vantagens: acesso facilitado ao mercado; a estrutura slida do grupo, j com imagem externa de grande credibilidade; e facilidade de financiamento bancrio. A valorizao do conhecimento acadmico e a predisposio para investir e tornar vivel o desenvolvimento da tecnologia e do spin-off foram outras vantagens reconhecidas pela Medmat Innovation e indirectamente pela Fluidinova.
Relacionados com os condicionalismos do financiamento foram mencionados pela Ambisys a necessidade de respeitar a poltica do grupo financiador que condiciona as grandes decises e estratgia do prprio spin-off. De forma comum com a Micropolis, foi mencionada tambm pela Ambisys a dificuldade em acompanhar o financiador nos aumentos de capital. A Micropolis acrescentou tambm a dificuldade de conseguir obter da sociedade de capital de risco todo o investimento que precisava, sendo que, a cada investimento efectuado, era exigida como contrapartida um produto final mais rapidamente.
A Micropolis apontou a divergncia de opinies quanto ao tempo de espera pelo produto final como um ponto muito sensvel no relacionamento entre investigador e investidor, ansiando o investidor pelo retorno imediato do financiamento, apesar de todo o tempo necessrio ao apuramento de uma nova tecnologia.
Para alm das dificuldades de financiamento existem outras dificuldades associadas ao processo de transferncia de patente para um spin-off universitrio. A Ambisys enunciou dfice de investimento na rea ambiental; a conquista da confiana e credibilidade no mercado; o encontro de parceiros adequados e honrados; e os problemas de adaptao de uma tecnologia inovadora criada em laboratrio ao mercado como sendo as principais dificuldades sentidas na transferncia da tecnologia patenteada para o spin-off e para o mercado. Por sua vez, a Micropolis referiu as seguintes dificuldades: tempo associado produo de produtos novos e sofisticados; dificuldades de logstica e estruturas necessrias comercializao; os preos praticados; os pr-requisitos de qualidade do produto e de produo; o clima pouco favorvel inovao na indstria txtil; e a localizao geogrfica do spin-off.
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A Medmat Innovation identificou a forte regulamentao na rea mdica, a escassa formao nas reas regulamentares em dispositivos mdicos, a insuficincia de financiamentos e a ausncia de apoios da parte das faculdades e universidades como as maiores dificuldades sentidas no processo de transferncia da tecnologia para o spin-off. Por fim, a Fluidinova realou o facto de a tecnologia ser para um mercado organizacional. O tempo de apuramento da tecnologia, os custos e riscos associados ao conhecimento inovador, a conquista de espao no mercado, bem como a prpria ausncia de formao dos professores empreendedores em gesto foram outros aspectos importantes referidos pelo professor entrevistado e responsvel pela Fluidinova.
5 CONCLUSO
Nas duas universidades estudadas foi clara a presena de regulamentos de propriedade intelectual e de gabinetes de apoio transferncia de tecnologia e empreendedorismo acadmico. No que diz respeito aos regulamentos, as duas universidades actuam de forma similar sobre os direitos de autor e titularidade da inveno, sendo o autor da inveno reconhecido como tal, mas sendo a titularidade inveno da universidade onde foi gerada.
A transferncia de tecnologia realizada na Universidade do Minho e na Universidade do Porto feita por norma atravs de licenciamento exclusivo, ficando o spin-off obrigado a suportar os custos relacionados com a proteco da inveno, pagando ainda universidade royalties estabelecidos previamente.
A universidade mostrou-se mais presente numa fase inicial atravs do apoio prestado pela TecMinho e pela Upin na submisso do pedido de patente. Reala-se o facto de a Universidade do Porto possuir gabinetes especficos em algumas faculdades para apoio transferncia de tecnologia e ao empreendedorismo, podendo assim prestar um apoio mais directo e prximo do que o gabinete de apoio geral da universidade.
Por outro lado, verificou-se que as universidades contribuem para a afirmao dos spin-offs atravs da concesso da sua marca, tendo sido referido pelas quatro empresas estudadas como algo muito positivo no estabelecimento de redes de contactos e da imagem pblica. A Universidade do Minho concede a marca Spin-off da Universidade do Minho, enquanto a Universidade do Porto concede a chancela Spin-off U. Porto. Apesar de a marca poder ser usada por um perodo ilimitado nas duas universidades, os critrios de concesso da marca parecem ser bem mais restritos no caso da Universidade do Porto, pois, enquanto esta possui apenas um spin-off com a chancela Spin-off U. Porto, a Universidade do Minho tem 34 spin-offs com estatuto definido.
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Apesar das dificuldades sentidas na transferncia de tecnologia e criao de spin-offs, os professores fundadores das quatro empresas estudadas identificaram razes semelhantes para acompanhar a transferncia da patente da qual eram autores. Assim, as respostas convergiram em dois motivos fundamentais: a tecnologia ser inovadora e possuir potencial de aplicao.
Contudo, o facto de a transferncia de tecnologia ser feita para uma nova empresa teve em cada caso motivaes especficas. No caso dos spin-offs da Universidade do Minho as motivaes so opostas. Num caso foi a motivao pessoal da parte do professor, no outro caso, o impulso foi externo uma vez que resultou do convite de um grupo privado que tencionava entrar na rea da tecnologia. Por sua vez, nos casos da Universidade do Porto as motivaes para criar os spin-offs estiveram relacionadas num dos casos com questes de regulao da rea a que a tecnologia pertencia, enquanto no outro caso foi o prprio potencial da tecnologia e o interesse externo que impulsionaram a criao da nova empresa.
No que diz respeito ao financiamento, nenhuma das duas universidades financia os seus spinoffs, tendo os gabinetes universitrios de apoio apenas a funo de informar sobre possveis financiadores e fazer o respectivo encaminhamento. Dois spin-offs, um da Universidade do Minho e outro da Universidade do Porto, foram financiados por grupos privados com interesse nos mercados onde as tecnologias seriam aplicadas. Por seu lado, os outros dois spin-offs foram financiados atravs de sociedades de capital de risco. Contudo, a entrada de financiadores externos implicou uma nova distribuio de poder entre professores fundadores e financiadores, ficando em trs dos quatro casos estudados o fundador com uma percentagem minoritria do capital.
As afinidades entre financiadores e fundadores no foram em todos os casos as mais evidentes, pois divergncias de opinies sobre o rumo do spin-off, natureza de conhecimentos distintos e vrios tipos de presses foram alguns dos aspectos referidos como crticos nessa relao. Contudo, nos quatro casos estudados foi reconhecida a importncia do financiamento como viabilizador da existncia do spin-off e como contribuindo para construo de espaos prprios de incubao, uma vez que nenhum spin-off estudado incubou na prpria universidade.
As principais dificuldades do processo de transferncia identificadas neste estudo foram as seguintes: tempo de desenvolvimento e lanamento do produto no mercado; custos associados inovao e proteco da tecnologia; deteco de parceiros; construo de credibilidade junto de parceiros; dificuldades associadas ao conhecimento inovador e sua adaptao escala necessria para comercializao das tecnologias; dificuldades logsticas; dificuldades de financiamento; clima pouco favorvel inovao; e regulamentao e pr-requisitos de qualidade do produto e da produo.
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Atravs deste estudo ficamos a compreender melhor o processo de transferncia de conhecimento sob a forma de tecnologias patenteadas. Verificmos, em particular, qual o papel que os gabinetes de transferncia de duas universidades exercem no processo, que mecanismos de ligao se estabelecem entre os spin-offs e as suas universidades de origem, e as dificuldades sentidas no processo. Nesta medida, o estudo aqui apresentado, embora tenha permitido ilustrar de forma relativamente completa cada um dos quatro casos estudados, possui um carcter exploratrio que merece ser desenvolvido atravs de estudos complementares, no s de outros casos de spin-offs (tanto no domnio tecnolgico como noutras reas de conhecimento), mas tambm atravs de estudos quantitativos envolvendo populaes alargadas de spin-offs de vrias universidades de diferentes pases.
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Vasco Eiriz; Liliana Alves & Ana Paula Faria
CASE STUDIES ON TRANSFER OF TECHNOLOGY TO UNIVERSITY SPIN-OFFS IN
PORTUGAL
ABSTRACT
The university is a source for the development of new products and services based on knowledge and
technology. The technology transfer from university to industry can be done through several
mechanisms such as the creation of university spin-offs. This article analyzes four spin-offs and the
offices that support the technology transfer and entrepreneurship of two Portuguese universities. In
turn, this contributes to a better understanding of an emergent phenomenon in several countries. The
results show that the university is more active in the early stages of the transfer process. Funding
enables the development of the spin-off but in most cases implies that the academic founders lose the
majority of capital and the control of their spin-offs launched in the academic context. In the process of
technology transfer to the university spin-offs we have identified the following difficulties: costs
associated with innovation, investment deficit, achieving credibility and acquiring strategic partners.
Key-words: Technology; Spin-off; University; Transfer.
___________________
Data do recebimento do artigo: 24/05/2011
Data do aceite de publicao: 18/09/2011
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Copyright Milton de Abreu Campanario 2012
Abstract
The university is a source for the development of new products and services based on knowledge and technology. The technology transfer from university to industry can be done through several mechanisms such as the creation of university spin-offs. This article analyzes four spin-offs and the offices that support the technology transfer and entrepreneurship of two Portuguese universities. In turn, this contributes to a better understanding of an emergent phenomenon in several countries. The results show that the university is more active in the early stages of the transfer process. Funding enables the development of the spin-off but in most cases implies that the academic founders lose the majority of capital and the control of their spin-offs launched in the academic context. In the process of technology transfer to the university spin-offs we have identified the following difficulties: costs associated with innovation, investment deficit, achieving credibility and acquiring strategic partners. [PUBLICATION ABSTRACT]
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