Introduçâo
No campo da produçâo científica de Administraçâo, há crescente interesse pela anàlise de conteúdo como técnica de análise de dados que, nos últimos anos, vem tendo destaque entre os métodos qualitatives, ganhando legitimidade. A importância da análise de conteúdo para os estudos organizacionais é cada vez maior e tem evoluído em virtude da preocupaçâo com o rigor científico e a profundidade das pesquisas. No entanto, a constituyo de novos paradigmas científicos impöe outras dinámicas também à análise dos dados das pesquisas científicas. De modo geral, as transformares sucessivas pelas quais têm passado a ciência evidenciam irregularidades e também rupturas, sobretudo no que tange às ciências sociais, que exigem revisitar as abordagens metodológicas. Nessa lógica se insere a análise de conteúdo, a qual cada vez mais conquista legitimidade nas pesquisas qualitativas no campo da administraçâo, razâo por que deve entrar na pauta das discussöes científicas.
Diante dessa realidade, o objetivo geral deste ensaio teórico é realizar uma discussâo a respeito da técnica análise de conteúdo, perpassando por questöes centrais, tais como: Em que sentido a análise de conteúdo contribui para as pesquisas qualitativas no campo da administraçâo? Quais os atuais desafios dessa perspectiva? A análise de conteúdo pode fazer parte de uma visâo mais ampla, para além da influência positivista que sofre? Dessa forma, apresenta-se a análise de conteúdo como técnica de análise de dados rica, importante e com potencial para o desenvolvimento teórico do campo da administraçâo. Entretanto, este texto direciona-se no sentido de analisar criticamente as controvérsias e as potencialidades do método na pesquisa qualitativa em administraçâo.
Inicialmente, pode-se dizer que análise de conteúdo é uma técnica refinada, que exige muita dedicaçâo, paciência e tempo do pesquisador, o qual tem de se valer da intuiçâo, imaginaçâo e criatividade, principalmente na definiçâo de categorias de análise. Para tanto, disciplina, perseverança e rigor sâo essenciais (Freitas, Cunha, & Moscarola, 1997).
O percurso de análise deste trabalho toma como referência a obra de Laurence Bardin, literatura de referência atualmente em análise de conteúdo. No entanto, outros autores servem de base no transcorrer do texto visando atingir o objetivo proposto, a fim de tentar dar resposta aos questionamentos levantados inicialmente. Com esse intuito, realizou-se pesquisa bibliográfica que teve como objetivo dedicar ao tema um olhar apro&ndado e crítico confrontando aspectos identificados como relevantes para essa discussâo.
Em razâo de a utilizaçâo da análise de conteúdo estar crescendo no Brasil, principalmente nas pesquisas que se caracterizam por abordagem predominantemente qualitativa (Dellagnelo & Silva, 2005), torna-se evidente a validade de reflexöes acerca desta técnica. No entanto, cabe salientar que nâo se tem como proposta a discussâo da técnica em si, o que já foi realizado por muitos autores internacionais (Clegg, Hardy, & Nord, 2001; Denzin & Lincoln, 2000) e nacionais (Godoi, Bandeira- de-Melo, & Silva, 2006; Mattos, 2001, 2006; Vergara, 2003). Pretende-se sim, trabalhar os desafios que tal técnica ainda apresenta ao ser trabalhada em perspectiva mais ampla, para além da influência positivista. Dessa forma, acredita-se que este ensaio teórico pode ser de grande utilidade tanto para os pesquisadores do campo da administraçâo que já vêm utilizando a técnica, como para aqueles que pretendem vir a utilizá-la, pois se sabe que muitos se aventuram na sua aplicaçâo em razâo da sua visibilidade e credibilidade no meio científico, porém nâo a conhecem de fato.
Contudo, inicia-se a discussâo pela conceituaçâo e procedimentos da técnica análise de conteúdo com o intuito de explicitá-la. Dessa forma, apresenta-se um breve panorama histórico, salientando, na sequência, a pertinência da análise de conteúdo das pesquisas qualitativas em administraçâo. A seguir, sâo esboçadas algumas das diferentes técnicas de análise de dados utilizadas nos estudos organizacionais. Logo após, relatam-se debates contemporáneos e críticos em relaçâo à análise de conteúdo, salientando a importáncia da técnica pelo destaque de suas potencialidades e limitaçôes, bem como validade e confiabilidade, essenciais para a legitimaçâo da pesquisa científica. Nesse sentido, também se aborda a respeito das novas tecnologias (softwares) como facilitadoras da análise de dados qualitatives. Por fim, destacam-se as possibilidades da utilizaçâo da análise de conteúdo no campo da administraçâo e apresentam-se as conclusöes do presente trabalho.
Neste ensaio teórico nâo se tem a pretensäo de desenvolver um overview da técnica análise de conteúdo, no sentido de apresentar vasta revisäo de literatura a respeito do método em si (procedimentos). Trata-se, sim, de um estudo que aborda a origem da técnica, recuperando alguns debates contemporáneos e críticos no que tange a sua aplicaçâo no campo da administraçâo, visando apontar suas possibilidades para este. Em suma, tem-se como propósito maior a contribuiçâo para os estudos acerca das técnicas de análise de dados no ámbito da pesquisa de administraçâo, abordando uma estratégia de análise já muito utilizada e promissora para o avanço do conhecimento no campo em suas diferentes áreas temáticas.
Análise de Conteúdo: Pertinencia às Pesquisas Qnalitativas em Administraçâo
Sem desconsiderar a importáncia das etapas anteriores à análise científica de dados, este ensaio teórico tem como foco refletir sobre as particularidades na análise de dados pela técnica análise de conteúdo. Há diferentes técnicas que podem ser utilizadas na execuçâo de pesquisas diferenciadas, mas a análise de conteúdo consiste numa técnica de análise de dados que vem sendo utilizada com frequência nas pesquisas qualitativas no campo da administraçâo, assim como na psicologia, na ciência política, na educaçâo, na publicidade e, principalmente, na sociologia. Na realidade, como refere Flick (2009), a pesquisa qualitativa é recente e ocorreu concomitantemente em diversas áreas, tendo-se cada uma delas caracterizado por um embasamento teórico específico, por conceitos de realidade específicos e por seus próprios programas metodológicos.
Qualquer técnica de análise de dados, em última instáncia, significa uma metodologia de interpretaçâo. Como tal, possui procedimentos peculiares, envolvendo a preparaçâo dos dados para a análise, visto que esse processo "consiste em extrair sentido dos dados de texto e imagem" (Creswell, 2007, p. 194). Contudo, entre as diferentes estratégias analíticas os processos e os termos diferem, e a análise de conteúdo também apresenta peculiaridades.
Em relaçâo à escolha do procedimento de análise de dados:
A descodificaçâo de um documento pode utilizar-se de diferentes procedimentos para alcançar o significado profundo das comunicaçôes nele cifradas. A escolha do procedimento mais adequado depende do material a ser analisado, dos objetivos da pesquisa e da posiçâo ideológica e social do analisador (Chizzotti, 2006, p. 98).
Nesse sentido, quando a análise de conteúdo é escolhida como procedimento de análise mais adequado, como em qualquer técnica de análise de dados, os dados em si constituem apenas dados brutos, que só terâo sentido ao serem trabalhados de acordo com uma técnica de análise apropriada. Para Flick (2009), a análise de conteúdo, além de realizar a interpretaçâo após a coleta dos dados, desenvolve-se por meio de técnicas mais ou menos refinadas. Dessa forma, a análise de conteúdo se vem mostrando como uma das técnicas de análise de dados mais utilizada no campo da administraçâo no Brasil, especialmente nas pesquisas qualitativas (Dellagnelo & Silva, 2005).
Pelo fato de este ensaio teórico privilegiar a análise qualitativa, aspectos gerais a respeito sâo abordados no seu desenvolvimento, considerando, sobretudo, as pesquisas de Denzin e Lincoln (2000, 2006, 2008). Os autores ressaltam que também no século XXI a pesquisa qualitativa precisa fazer parte da agenda académica como geradora de resultados das investigaçôes científicas e que pode ser trabalhada no sentido de repensar e criar uma sociedade livre e democrática, revelando o seu caráter crítico (Denzin & Lincoln, 2000).
Entre outros pesquisadores, Shah e Corley (2006) apontam a importáncia e a validade da pesquisa qualitativa, demonstrando que acreditam no seu crescimento e aceitaçâo. Os autores incentivam a complementaridade dos métodos qualitativos e quantitativos, ressaltando que os estudos organizacionais têm muito a ganhar, ao utilizarem concomitantemente os dois métodos. Ainda referem que pontos negativos estäo sendo superados em relaçâo à pesquisa qualitativa, além de que a metodología está cada vez se mostrando mais consistente, o que muito se deve ao rigor científico que tem demonstrado.
Conceito e procedimentos da análise de conteúdo
Cabe salientar que, por mais que muitos autores abordem a análise de conteúdo, até mesmo utilizando conceitos diferenciados e diferentes terminologias para as diversas etapas da técnica, neste ensaio teórico toma-se como base a conceituaçâo de Bardin (2006), bem como as etapas da técnica explicitadas por este autor. Tal opçâo se deve a que o autor é o mais citado no Brasil em pesquisas que adotam a análise de conteúdo como técnica de análise de dados. Bardin (2006, p. 38) refere que a análise de conteúdo consiste em:
um conjunto de técnicas de análise das comunicares, que utiliza procedimentos sistemáticos e objectivos de descriçâo do conteúdo das mensagens. ... A intençâo da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condiçôes de produçâo (ou eventualmente, de recepçâo), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou nâo). (traduçâo nossa)
Diante do exposto, percebe-se que a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de comunicares, que tem como objetivo ultrapassar as incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados. Como afirma Chizzotti (2006, p. 98), "o objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das comunicares, seu conteúdo manifesto ou latente, as significares explícitas ou ocultas".
Dentre as comunicaçôes, Bauer e Gaskell (2008) indicam que os materiais textuais escritos säo os mais tradicionais na análise de conteúdo, podendo ser manipulados pelo pesquisador na busca por respostas às questöes de pesquisa. Com abordagem semelhante, Flick (2009, p. 291) afirma que a análise de conteúdo "é um dos procedimentos clássicos para analisar o material textual, nâo importando qual a origem desse material".
Existem diversas formas de documentaçâo do material coletado, na maioria das vezes constituindo-se de material textual: notas de campo, diário de pesquisa, fichas de documentaçâo, transcriçâo etc. Entretanto, o material também pode ser documentado por meio de fotos, filmes, áudios e outros, pois todas as formas de documentaçâo têm relevância no processo de pesquisa, possibilitando uma adequada análise (Flick, 2009).
Como a análise de conteúdo constitui uma técnica que trabalha os dados coletados, objetivando a identificaçâo do que está sendo dito a respeito de determinado tema (Vergara, 2005), há a necessidade da descodificaçâo do que está sendo comunicado. Para a descodificaçâo dos documentos, o pesquisador pode utilizar vários procedimentos, procurando identificar o mais apropriado para o material a ser analisado, como análise léxica, análise de categorias, análise da enunciaçâo, análise de conotaçôes (Chizzotti, 2006, p. 98).
Para Minayo (2001, p. 74), a análise de conteúdo é "compreendida muito mais como um conjunto de técnicas". Na visâo da autora, constitui-se na análise de informaçôes sobre o comportamento humano, possibilitando uma aplicaçâo bastante variada, e tem duas fonçôes: verificaçâo de hipóteses e/ou questöes e descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos. Tais funçôes podem ser complementares, com aplicaçâo tanto em pesquisas qualitativas como quantitativas.
O processo de análise de dados em si envolve várias etapas para auferir significaçâo aos dados coletados (Alves-Mazzotti & Gewandsznajder, 1998; Creswell, 2007; Flick, 2009; Minayo, 2001), o que nâo é diferente na análise de conteúdo. No que se refere às diferentes etapas inerentes à análise de conteúdo, autores utilizam diferentes terminologias, as quais sâo bastante semelhantes (Triviños, 1987). Diante dessa diversificaçâo e também aproximaçâo terminológica, optou-se por elencar as etapas da técnica segundo Bardin (2006), o qual as organiza em três fases: 1) pré-análise, 2) exploraçâo do material e 3) tratamento dos resultados, inferência e interpretaçâo.
A pré-análise é a fase em que se organiza o material a ser analisado com o objetivo de torná-lo operacional, sistematizando as ideias iniciais. Trata-se da organizaçâo propriamente dita por meio de quatro etapas: (a) leitura flutuante, que é o estabelecimento de contato com os documentos da coleta de dados, momento em que se começa a conhecer o texto; (b) escolha dos documentos, que consiste na demarcaçâo do que será analisado; (c) formulaçâo das hipóteses e dos objetivos; (d) referenciaçâo dos índices e elaboraçâo de indicadores, que envolve a determinaçâo de indicadores por meio de recortes de texto nos documentos de análise (Bardin, 2006).
A exploraçâo do material constitui a segunda fase, que consiste na exploraçâo do material com a definiçâo de categorias (sistemas de codificaçâo) e a identificaçâo das unidades de registro (unidade de significaçâo a codificar corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade base, visando à categorizaçâo e à contagem frequencial) e das unidades de contexto nos documentos (unidade de compreensâo para codificar a unidade de registro que corresponde ao segmento da mensagem, a fim de compreender a significaçâo exata da unidade de registro). A exploraçâo do material consiste numa etapa importante, porque vai possibilitar ou nâo a riqueza das interpretaçôes e inferências. Esta é a fase da descriçâo analítica, a qual diz respeito ao corpus (qualquer material textual coletado) submetido a um estudo aprofundado, orientado pelas hipóteses e referenciais teóricos. Dessa forma, a codificaçâo, a classificaçâo e a categorizaçâo sâo básicas nesta fase (Bardin, 2006).
A terceira fase diz respeito ao tratamento dos resultados, inferência e interpretaçâo. Esta etapa é destinada ao tratamento dos resultados; ocorre nela a condensaçâo e o destaque das informaçôes para análise, culminando nas interpretaçôes inferenciais; é o momento da intuiçâo, da análise reflexiva e crítica (Bardin, 2006).
Tendo em vista as diferentes fases da análise de conteúdo proposta por Bardin (2006), destacam-se como o próprio autor o fez, as dimensôes da codificaçâo e categorizaçâo que possibilitam e facilitam as interpretaçôes e as inferências. No que tange à codificaçâo, "corresponde a uma transformaçâo - efectuada (sic) segundo regras precisas - dos dados brutos do texto, transformaçâo esta que, por recorte, agregaçâo e enumeraçâo, permite atingir uma representaçâo do conteúdo, ou da sua expressâo" (Bardin, 2006, p. 103). Após a codificaçâo, segue-se para a categorizaçâo, a qual consiste na:
classificaçâo de elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciaçâo e, seguidamente, por reagrupamento segundo o género (analogia), com os critérios previamente definidos. As categorias, sâo rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos ... sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razâo dos caracteres comuns destes elementos (Bardin, 2006, p. 117).
Cabe salientar que tais etapas envolvem diversos simbolismos que precisam ser descodificados. Para tanto, o pesquisador precisa fazer um esforço para desvendar o conteúdo latente, como refere Triviños (1987, p. 162). Nesse sentido, a análise contextual e histórica é de grande valia (Bateson, 2000; Thompson, 1995), além da criatividade, intuiçâo e crítica (Bardin, 2006; Thompson, 1995). Denzin e Lincoln (2000) enfatizam o papel do caráter crítico da pesquisa.
No que tange às fases da análise de conteúdo propostas por Bardin (2006), outros autores propôem fases semelhantes, apenas com algumas particularidades diferenciais que nâo alteram o processo em si. A exemplo, cita-se Flick (2009, pp. 292-293), o qual, com base em Mayring (1983), delineia os seguintes passos para a análise de conteúdo: síntese da análise de conteúdo, por meio da omissâo de enunciados; análise explicativa de conteúdo, com o esclarecimento de trechos difusos, ambíguos ou contraditório; por fim, a análise estruturadora de conteúdo, por meio da estruturaçâo no nível formal relativo ao conteúdo.
Também Triviños (1987) lista as diferentes fases, utilizando-se da classificaçâo de Bardin, porém diferenciando-se em alguma nomenclatura e salientando alguns aspectos da própria teoria do autor. Assim, denomina as fases como pré-análise, descriçâo analítica e interpretaçâo inferencial, chamando a atençâo para um fato:
Nâo é possível que o pesquisador detenha sua atençâo exclusivamente no conteúdo manifesto dos documentos. Ele deve aprofundar sua análise, tratando de desvendar o conteúdo latente que eles possuem Os investigadores que só ficam no conteúdo manifesto dos documentos seguramente pertencem à linha positivista (Triviños, 1987, p. 162).
Entretanto, por mais que se devam respeitar certas "regras" e que se salientem as diferentes fases e etapas no emprego, a análise de conteúdo nâo deve ser considerada e trabalhada como modelo exato e rígido. Mesmo Bardin (2006) rejeita esta ideia de rigidez e de completude, deixando claro que a sua proposta da análise de conteúdo acaba oscilando entre dois polos que envolvem a investigaçâo científica: o rigor da objetividade, da cientificidade, e a riqueza da subjetividade. Nesse sentido, a técnica tem como propósito o ultrapassar o senso comum do subjetivismo e alcançar o rigor científico necessário, mas nâo a rigidez inválida, que nâo condiz mais com tempos atuais.
Aspectos históricos e importância da análise de conteúdo
Apesar de precedentes históricos, foi em 1927 que Harold Laswell começou a trabalhar com a análise de conteúdo, estudando a propaganda na Primeira Guerra Mundial. Nessa época a linguística e a análise de conteúdo nâo se conversavam, por mais que tivessem a linguagem como objeto de estudo semelhante. Em 1940 e 1950 o método de análise de conteúdo despertou interesse, o que levou a seu maior desenvolvimento (Richardson, 1999). Foi justamente nessas décadas que Berelson, auxiliado por Lazarsfed, desenvolveu estudos mais aprofundados a respeito da análise de conteúdo (Bardin, 2006). Contudo, também outros estudos, tanto americanos como franceses, foram realizados no sentido de aprimoramento da técnica.
Assim, em 1977, Bardin publicou a sua obra L'analyse de contenu, na qual o método foi configurado em detalhes, servindo de orientaçâo e principal referéncia até os dias atuais. Como refere Triviños (1987, p. 159), é esta "a obra verdadeiramente notável sobre a análise de conteúdo, onde este método, poder-se-ia dizer, foi configurado em detalhes, nâo só em relaçâo à técnica de seu emprego, mas também em seus princípios, em seus conceitos fundamentais" Esta obra teve grande impacto no Brasil e, de lá para cá, tem sido aplicada, criticada, ampliada e, sobretudo, ainda suscita questionamentos e controvérsias no meio académico. Sem dúvida, essa evoluçâo, marcada por períodos alternados de aceitaçâo e de negaçâo, despertando questionamentos e contradiçôes, vai aperfeiçoando a técnica.
Na busca pela cientificidade e pela objetividade, própria da época histórica, a análise de conteúdo recorreu a um enfoque quantitativo num primeiro momento, pelo qual a análise das mensagens se fazia pelo cálculo de frequéncias. Contudo, logo essa deficiéncia unilateral cedeu lugar às análises qualitativas, possibilitando que o método fosse utilizado em ambas as abordagens, até mesmo, concomitantemente (Godoy, 1995).
Também na década de 1950, houve discussöes a respeito da validade das técnicas quali e quantitativas, uma em detrimento da outra (Bardin, 2006). Mais de meio século depois, ainda se discutem tais questöes; no entanto as controvérsias estâo mais no nível da adequada apropriaçâo da técnica de pesquisa de acordo com os seus propósitos, pois podem ser utilizadas paralelamente. A maior parte dos estudiosos que ainda tecem críticas a um ou outro tipo de abordagem (qualitativa ou quantitativa), o faz por conta do que Adorno denominou de fetichismo do método (Adorno & Horkheimer, 1979) pois, adentrando-se no século XXI, discussöes como essa já deveriam estar superadas ou, pelo menos, em fase de superaçâo.
Nesse sentido, a análise qualitativa nâo rejeita toda e qualquer forma de quantificaçâo (Bardin, 2006). Por mais que tenha na sua origem a quantificaçâo, logo se compreendeu que esta técnica pode ser aplicada também na análise qualitativa, pois sua característica é a inferência (variáveis inferidas a partir de variáveis de inferência no nível da mensagem), quer estas estejam baseadas ou nâo em indicadores quantitativos.
Fielding (1999), com base nos manuais de metodologia qualitativa de Norman Denzin e Yvonna Lincoln, afirma que nos últimos tempos os métodos qualitativos têm desfrutado de grande legitimidade na academia, por mais que seja um campo marcado por controvérsias. Corrobora-se o autor, quando indica os trabalhos de Denzin e Lincoln para entender a amplitude das abordagens contemporâneas dos métodos qualitativos de pesquisa.
Nâo se tem como pretensâo, neste ensaio teórico, o esgotamento da discussâo a respeito das diferentes abordagens metodológicas. No entanto, como o foco é a pesquisa qualitativa, cabe salientar que nesta o investigador é o instrumento principal e o maior interesse está no processo, nâo nos resultados ou produtos, além de que os investigadores qualitativos tendem a analisar os dados de forma indutiva. Por fim, como afirma Flick (2009, p. 276), "a interpretaçâo de dados é a essência da pesquisa qualitativa, embora sua importância seja vista de forma diferenciada nas diversas abordagens".
Da mesma forma, nâo se pretende o detalhamento histórico do método da análise de conteúdo, por já ser retratado em muitos estudos por diferentes autores. No entanto, após essa breve explanaçâo histórica, cabe ressaltar, também fazendo uso das palavras de Bardin (2006, p. 158), que "a análise de conteúdo é um método que pode ser aplicado tanto na pesquisa quantitativa como na investigaçâo qualitativa, mas com aplicaçâo diferente".
Diferentes técnicas de análise de dados
O conhecimento dos diversos métodos de análise de dados existentes torna-se indispensável para que o pesquisador tenha condiçôes de realizar a escolha mais adequada ao que se propöe estudar, visando ao avanço na temática e, consequentemente, no campo de estudo. Tal premissa se torna essencial também aos pesquisadores do campo da administraçâo. Nâo se tem como pretensâo apregoar que os pesquisadores necessitam conhecer todos os métodos de análise de dados em profundidade, até em razâo da sua significativa variedade. No entanto, um conhecimento amplo das diferentes técnicas de análise de dados torna-se pertinente, para que as escolhas possam ser realizadas de maneira mais apropriada, tanto para a temática estudada como para aos propósitos do pesquisador e, também, para o campo de pesquisa. No que tange aos diferentes métodos de análise de dados, Peräkylä (2008, p. 353, traduçâo nossa), por mais que enfatize mais a análise de textos, refere:
Há, na verdade, muitos métodos de análise de textos que o pesquisador pode escolher. O grau nos quais eles envolvem conjuntos predefinidos de procedimentos varia; alguns deles sâo bem extensos, enquanto em outros a ênfase é mais sobre a pressuposiçâo teórica com relaçâo aos mundos sociais e culturais aos quais o texto pertence.
Diante do exposto, vale salientar que a força da argumentaçâo (a análise dos dados êmicos) é que traz consistência em qualquer análise qualitativa. Contudo, isso exige um trabalho bastante denso por parte do pesquisador, no próprio sentido de deixar claro o porquê da escolha de determinada técnica de análise para a investigaçâo do objeto específico, demarcando as condiçôes de interpretaçâo.
Por mais que o foco deste ensaio teórico tenha sido a análise de conteúdo, nâo se afirma que se constitui na técnica de análise de dados mais apropriada ou legitimada, e, sim, que se insere como uma técnica em crescente utilizaçâo e legitimaçâo nos estudos qualitativos no campo da administraçâo. Contudo, por mais que nâo constitua o foco deste trabalho, parece pertinente revisar rapidamente as técnicas de análise de dados mais utilizadas nos estudos organizacionais. Desse modo, apresenta-se breve contextualizaçâo a respeito da análise do discurso, análise da conversa e análise de narrativas.
A análise do discurso consiste numa técnica de análise que explora as relaçôes entre discurso e realidade, verificando como os textos sâo feitos, carregando significados por meio dos processos sociais. Os textos podem ser considerados tanto uma unidade discursiva como manifestaçâo material do próprio discurso; podem ter grande variedade de formas, ou seja, escritos, palavras, fotos, símbolos, artefatos, entre outros. Os textos só possuem significância, considerando a natureza de sua produçâo, disseminaçâo e consumo. Dessa forma, Phillips e Hardy (2002) referem que a análise do discurso é, simultaneamente, método e metodologia e é sempre uma análise crítica. Por sua vez, Bardin (2006) enquadra a análise do discurso como pertencente ao campo da análise de conteúdo, salientando limitaçôes inerentes a essa primeira.
A respeito, considera-se que a análise de conteúdo procura relatar os significantes e a análise de discurso, o significado. Para tanto, esta última faz uso da linguística. Por mais que, aparentemente, a análise de conteúdo e a linguística tenham a linguagem como objeto, há uma distinçâo entre língua e palavra que faz toda a diferença. Dessa forma, o objeto na linguística é a língua e o da análise de conteúdo, a palavra (Bardin, 2006).
Pode-se dizer que a análise do discurso é uma vertente da análise da conversa, havendo até visôes diferentes a respeito (Flick, 2009). No que tange à análise da conversa, refere o autor que "tem menor interesse pela interpretaçâo do conteúdo de textos que tenham sido produzidos explicitamente para fins de pesquisa, como, por exemplo, as respostas da entrevista. Em vez disso, seu interesse concentra-se na análise formal de situaçôes cotidianas" (p. 299). Como um dos pontos-chave da técnica o autor chama atençâo para o fato de que a análise da conversa "foi originalmente planejada para o estudo da interaçâo cotidiana com um foco formal" (p. 305).
Por mais que a análise da conversa carregue a estrutura da argumentaçâo produtiva e tenha a língua como objeto de análise, apresenta características mais positivistas. Flick (2009) afirma que a análise do discurso aproxima-se mais dos estudos das ciências sociais do que a análise da conversa.
No que tange à análise de narrativas, utiliza-se das narrativas (falas) dos participantes da pesquisa. De um modo mais geral, a vida é considerada como narrativa para permitir a análise da construçâo narrativa da realidade (Bruner, 1987, 1991) sem a utilizaçâo de um procedimento de coleta de dados que vise expressamente à induçâo de narrativas (Flick, 2009, p. 307). Como qualquer uma das outras técnicas de análise de dados aqui apresentada, também a análise de narrativas segue uma sequéncia de etapas, visando à análise prática. Como afirmam Bauer e Gaskell (2008, p. 90), "as narrativas se tornaram um método de pesquisa muito difundido nas ciências sociais".
Apesar da simplificaçâo ao se apresentar rapidamente algumas das técnicas de análise de dados mais utilizadas em ciéncias sociais, este debate nâo é simples, abrangendo muitos aspectos que nâo sâo aqui apresentados em razâo de nâo ser o propósito deste trabalho. Para finalizar essa rápida contextualizaçâo dos métodos, cabe retomar Thompson (1995), o qual deixa explícito que, por mais que os métodos de análises sejam rigorosos e sistemáticos, nâo abolem a necessária construçâo criativa do significado, ou seja, uma interpretaçâo apropriada do que está sendo dito ou representado. Essa é uma premissa válida para toda e qualquer técnica de análise de dados, principalmente nos debates contemporâneos.
Debates Contemporáneos e Críticos em Relaçâo a Análise de Conteúdo
Partindo do princípio de que qualquer posicionamento crítico só é viável diante de conhecimento prévio, abordam-se a seguir tanto as potencialidades como as limitaçôes da técnica análise de conteúdo, possibilitando uma discussâo contemporánea a respeito da validade e da confiabilidade, aspectos essenciais na busca da legitimidade de uma pesquisa.
Potencialidades da análise de conteúdo
Triviños (1987) salienta que a análise de conteúdo constitui-se num conjunto de técnicas. Para tanto, o pesquisador necessita "possuir amplo campo de clareza teórica. Isto é, nâo será possível a inferência, se nâo dominarmos os conceitos básicos das teorias" (1987, p. 160). O pesquisador que admite a existência de diferentes lógicas de pesquisa, mantendo-se em consonáncia com o método adotado, denota coerência, revelando grande potencial da pesquisa ao saber explicitar a sua opçâo metodológica e todo o procedimento desenvolvido na construçâo de sua investigaçâo.
A análise de conteúdo constitui-se num método específico que parece mais claro em razâo da elaboraçâo esquemática que o acompanha (passo a passo), tornando-o mais fácil e menos ambíguo, "devido à possível reduçâo do material anteriormente delineado. As muitas regras formuladas destacam essa impressâo de uma maior clareza e ausência de ambiguidade" (Flick, 2009, p. 294). Tal aspecto também pode ser visto como uma das potencialidades da técnica. Como afirmam muitos pesquisadores, a análise de conteúdo "reduz a complexidade de uma coleçâo de textos. A classificaçâo sistemática e a contagem de unidades do texto destilam uma grande quantidade de material em uma descriçâo curta de algumas de suas características" (Bauer & Gaskell, 2008, p. 191).
Flick (2009) destaca também a vantagem que tal método analítico possui sobre os métodos mais indutivos, visto que a formalizaçâo do procedimento origina categorias que facilitam a comparaçâo entre os diferentes casos. No entanto, o pesquisador nâo deve adentrar no campo de pesquisa desprovido de bagagem teórica. A prion, por mais que nâo sejam estabelecidas hipóteses nas pesquisas qualitativas, certas categorias precisam ser criadas, ainda que nâo sejam definitivas e únicas.
Afirma Triviños (1987) que a análise de conteúdo, além de método de análise único, pode servir de auxiliar em pesquisas mais complexas, fazendo parte de uma visâo mais ampla, como no caso do método dialético. No entanto, para que o método realmente atinja tal envergadura, faz-se necessário considerar o contexto das análises, nâo podendo o pesquisador ater-se apenas aos aspectos superficiais e/ou manifestos dos dados coletados. Na realidade, como adverte Flick (2009, p. 298), a noçâo de contexto (contexto discursivo e contexto interativo local) já é "mais ou menos indiscutível na pesquisa qualitativa".
Nesse mesmo sentido, Thompson (1995) aponta a importáncia do contexto e da história nas análises científicas. De forma semelhante, Bateson (2000) salienta a ideia do contexto, afirmando que considerar conteúdo sem o contexto, qualquer análise torna-se falha; por isso, há a necessidade de olhar o sistema como um todo, contrapondo-se à fragmentaçâo da ciência. Também Chase (2008) confia na investigaçâo com visâo interdisciplinar, defendendo o estudo dos indivíduos em seus próprios contextos social e histórico.
Tais aspectos de uma investigaçâo podem se manifestar-se por meio de formas simbólicas, as quais necessitam de macrointerpretaçâo. Formas simbólicas sâo construçôes significativas interpretadas e compreendidas por pessoas, que as produzem e recebem. Mas elas sâo também construçôes estruturadas de maneiras definidas e inseridas em condiçôes sociais e históricas específicas (Thompson, 1995).
O autor nâo cita a análise de conteúdo como forma de investigaçâo hermenêutica em suas várias fases: interpretaçâo doxa, análise sócio-histórica, análise formal ou discursiva e interpretaçâo/reinterpretaçâo. No entanto, deixa claro que uma variedade de métodos de pesquisas pode fazer parte da hermenêutica, tornando-se mais adequado que outros de acordo com o objetivo da análise e, também, com as circunstáncias específicas do estudo. Dessa forma, pensa-se que a análise de conteúdo pode ser incluída na fase da análise formal ou discursiva citada por Thompson (1995), visto que as formas simbólicas por ele citadas, estâo presentes também na análise de conteúdo. Tais formas simbólicas devem ser percebidas e analisadas apropriadamente. Para tanto, o contexto e também a história, como afirmam Thompson (1995), Bateson (2000), Chase (2008), entre outros, tornam-se importantísimos para potenciar a técnica. Ainda em relaçâo às formas simbólicas, Thompson (1995, p. 357) salienta que:
o estudo das formas simbólicas é fundamental e inevitavelmente um problema de compreensâo e interpretaçâo. Formas simbólicas sâo construçôes significativas que exigem uma interpretaçâo; elas sâo açôes, falas, textos que, por serem construçôes significativas, podem ser compreendidas.
Nesse sentido, defende o autor que "os métodos podem ajudar o analista a ver a forma simbólica de uma maneira nova" (Thompson, 1995, p. 375). Acredita-se que a análise de conteúdo siga essa mesma lógica, pela qual o pesquisador culmina por ampliar a sua visâo, ao seguir os passos propostos pelo método. No entanto, como nem o método da análise de conteúdo propôe, o pesquisador nâo pode deixar de interpretar, utilizando-se da construçâo criativa, pois o simbolismo exige, necessariamente, a interpretaçâo. Trabalhada nesses termos, a análise de conteúdo apresenta-se como de grande potencialidade para o avanço das pesquisas no campo da administraçâo.
Freitas, Cunha e Moscarola (1997, p. 108) pontuam que, para uma análise de conteúdo ter valor, existem alguns pré-requisitos, como: qualidade da elaboraçâo conceitual feita a priori pelo pesquisador, da exatidâo com que ela será traduzida em variáveis, do esquema de análise ou das categorias e, em definitivo, da concordância entre a realidade a analisar e estas categorias.
Diante do exposto, pode-se afirmar que, caso a utilizaçâo da análise de conteúdo tenha como única preocupaçâo seguir um passo a passo, sem considerar os aspectos apontados neste estudo, a técnica pode apresentar-se falha. Com o intuito de que o pesquisador nâo se deixe engendrar pelas limitaçôes que a própria técnica pode apresentar, faz-se uma descriçâo dessas na sequéncia.
Limitaçôes da análise de conteúdo
Como toda técnica de análise, certas limitaçôes também sâo inerentes à análise de conteúdo, as quais sâo apontadas por diferentes autores. Uma das críticas mais fortes e recorrentes à análise de conteúdo é o fato de carregar um ideário de metodologia quantitativa. Nesse sentido, a categorizaçâo própria do método, um tanto esquemática, pode obscurecer a visâo dos conteúdos, impedindo o alcance de aspectos mais profundos do texto (Flick, 2009).
De um lado, Flick (2009, p. 294) destaca que muitas vezes falta profundidade nas análises e se constitui no uso de paráfrases, "utilizadas nâo apenas para explicar o texto básico, mas também para substituí-lo - sobretudo na síntese da análise de conteúdo". De outro lado, Thompson (1995) chama atençâo para o fato de o pesquisador nâo ser neutro, referindo-se ao "mito do receptor passivo" (p. 409). Na realidade, o campo é tanto campo-objeto como campo-sujeito, em que "as formas simbólicas sâo pré-interpretadas pelos sujeitos que constituem esse campo" (p. 364). Dessa forma, a inferência do pesquisador, a qual se faz necessária, nâo é totalmente neutra; no entanto ele deve procurar interferir minimamente de maneira pessoal. Isso nâo quer dizer ser acrítico ou nâo fazer inferências, aspectos que uma análise de conteúdo em pesquisas qualitativas exige.
Nesse sentido, em virtude de a análise de conteúdo exigir inferência do pesquisador em suas diferentes fases, a neutralidade pode ser considerada uma limitaçâo. Por outro lado, como refere Thompson (1995), nâo se pode esquecer que o objeto de análise constitui construçâo simbólica significativa, o que pode se reverter em validaçâo para a pesquisa, fugindo das críticas das análises positivistas.
Na busca de superaçâo desse limite, o pesquisador, entre outras preocupaçôes, deve assegurar-se detalhando os procedimentos adotados na abordagem, visando garantir a validade da sua análise. Nâo se está advogando uma busca rigorosa do método ou que o pesquisador nâo realize nenhuma inferência, fazendo uso da flexibilidade necessária, e, sim, que tome cuidado, tanto em detalhar como em cumprir as etapas que constituem o método, evitando tanto o positivismo como o idealismo. Vale também para a análise de conteúdo o que Thompson (1995, p. 375) advoga a respeito da construçâo criativa que a forma simbólica exige:
por mais rigorosos e sistemáticos que os métodos da análise formal ou discursiva possam ser, eles nâo podem abolir a necessidade de uma construçâo criativa do significado, isto é, de uma explicaçâo interpretativa do que está representado ou do que é dito.
Sobretudo, é preciso considerar que toda construçâo criativa nâo pode estar desvinculada da análise do contexto e da história, como bem salientam Thompson (1995), Bateson (2000) e Chase (2008). Este último também aponta a falta de visâo interdisciplinar como outra limitaçâo de alguns pesquisadores que utilizam a técnica. Todavia Denzin e Lincoln (2008) explicitam, também por intermédio de outros teóricos, que a falta ou fraca análise contextual é um dos grandes limitantes das análises em pesquisas qualitativas.
Outra limitaçâo da análise de conteúdo é o fato de ter privilegiado as formas de comunicaçâo oral e escrita, excluindo, por vezes, outros meios de comunicaçâo, também significativos e que podem fazer total diferença conforme a temática em análise (Godoy, 1995). Nesse sentido, mais uma vez a criatividade e a flexibilidade fazem-se necessárias (Denzin & Lincoln, 2008; Flick, 2009), para nâo limitar a pesquisa. Retoma-se que também Thompson (1995) salienta a importáncia da criatividade nas análises dos resultados das pesquisas e Popper (1992) fala da necessária flexibilidade.
Por fim, cabe salientar que a análise de conteúdo possibilita a utilizaçâo de diferentes estratégias de análise no seu desenvolvimento metodológico; mas, ao mesmo tempo, sinaliza os seus limites e falácias subjacentes. Dessa forma, a busca por critérios de validade e confiabilidade construi- se num caminho para a superaçâo das limitaçôes, inerentes ou nâo à própria técnica.
Validade e Confiabilidade: Questöes Essenciais na Legitimaçâo de uma Pesquisa
A validaçâo dos resultados de uma pesquisa culmina numa exigéncia básica em qualquer campo científico, seja essa de caráter qualitativo, seja quantitativo. No entanto o processo de validaçâo e a confiabilidade nâo têm a mesma conotaçâo nessas duas abordagens. "No geral, porém, confiabilidade e generalizaçâo desempenham um papel menor na investigaçâo qualitativa" (Creswell, 2007, p. 199). Contudo, isso nâo significa afirmar que as pesquisas qualitativas nâo precisam apresentar critérios de validaçâo ou nâo possam desempenhar papel de generalizaçâo, por mais que busquem antes a explicaçâo e a confirmaçâo ou nâo de pressupostos, culminando na apresentaçâo de proposiçôes, as quais podem ser sintetizadas num constructo teórico. Assim, na pesquisa qualitativa se fala mais na transferibilidade do que na generalizaçâo, sendo que a dificuldade de generalizaçâo é inerente à pesquisa qualitativa, nâo podendo ser destacada como limitaçâo.
Por mais que se tenha destacado a pesquisa qualitativa no transcorrer deste ensaio teórico, como já assinalado anteriormente, nâo se tem como pretensâo minimizar a importáncia da pesquisa quantitativa, tampouco desconsiderar a legitimidade de pesquisas que utilizam método misto. Assim como Bauer e Gaskell (2008), considera-se a análise de conteúdo uma técnica hibrida. Muitos outros autores também assinalam que as abordagens qualitativas e quantitativas podem ser complementares (Bardin, 2006; Bauer & Gaskell, 2008; Creswell, 2007; Flick, 2009; Minayo, 2001; Thompson, 1995; Yin, 2001). E, em alguns estudos, isso é até desejável e confere validade e confiabilidade à pesquisa.
As etapas inerentes à pesquisa qualitativa e à quantitativa sâo praticamente as mesmas, ambas serâo definidas e desenvolvidas de acordo com as diferentes matrizes paradigmáticas escolhidas. Portanto, para cada um desses métodos, existem critérios próprios de confiabilidade e de validaçâo, tanto interna como externamente. O foco deste ensaio teórico concentra-se na pesquisa qualitativa em virtude da opçâo tomada e justificada desde o início deste trabalho.
Richardson (1999) destaca a importáncia tanto da confiabilidade como da validade interna e externa. Afirma que pesquisas científicas devem cumprir critérios científicos e que a apresentaçâo de critérios de confiabilidade e validade culminam por ser uma exigéncia da pesquisa séria e ética. Para o autor, confiabilidade "indica a capacidade que devem ter os instrumentos utilizados de produzir mediçôes constantes, quando aplicados a um mesmo fenómeno". Yin (2001, p. 60) destaca que "o propósito da confiabilidade é minimizar os erros e os vieses de um estudo". Por sua vez, para Richardson (1999, p. 87), a validade "indica a capacidade de um instrumento produzir mediçôes adequadas e precisas para chegar a conclusöes corretas, assim como a possibilidade de aplicar as descobertas a grupos semelhantes nâo incluídos em determinada pesquisa".
Buscando assegurar a validade interna em pesquisas qualitativas, Creswell (2007, p. 207) faz referência às seguintes estratégias: "triangulaçâo de dados", "verificaçâo de membro", "observaçôes a longo prazo e repetidas no local de pesquisa", "exame dos pares", "modos de pesquisa participatórios" e "esclarecimento dos vieses do pesquisador". A triangulaçâo tem sido amplamente discutida e muito bem aceita, tanto na coleta como na análise de dados e "supera as limitaçôes de um método único, por combinar diversos métodos e dar-lhes igual relevância" (Flick, 2009, p. 32). O autor nâo se refere apenas à triangulaçâo metodológica, mas também salienta a importância da "triangulaçâo dos dados", "triangulaçâo do investigador" e da "triangulaçâo da teoria" (Flick, 2009, p. 361).
No que diz respeito à triangulaçâo metodológica, apesar de importante para a validaçâo dos resultados das pesquisas, torna-se auspicioso que cada técnica de análise seja trabalhada de acordo com os seus próprios princípios, para que só após sejam realizados cruzamentos entre os resultados obtidos na aplicaçâo de cada uma (Denzin & Lincoln, 2008).
Diante da importância da validade e da confiabilidade de uma pesquisa, Creswell (2007, p. 200) expöe oito estratégias para confirmar a exatidâo dos resultados em pesquisa qualitativa: "faça uma triangulaçâo de diferentes fontes de informaçôes de dados", "use conferências dos membros para determinar a precisâo dos resultados", "use descriçâo rica e densa para transmitir os resultados", "esclareça os vieses que o pesquisador traz para o estudo", "apresente informaçôes negativas ou discrepantes que vâo contra os temas", "passe um tempo prolongado no campo", "use interrogatório de pares para aumentar a precisâo do relato", "use um auditor externo para rever o projeto todo". Enfim, o pesquisador precisa saber que existem diferentes lógicas de pesquisa e que se manter em consonância com o método adotado é sinal de coerência. Por conseguinte, o saber explicitar a sua opçâo metodológica e todo o procedimento desenvolvido na construçâo de sua investigaçâo também credita validade e confiabilidade ao estudo. Contudo assevera Triviños (1987, p. 170):
Os resultados, para que tenham valor científico, devem reunir certas condiçôes. A coerência, a consistência, a originalidade e a objetivaçâo (nâo objetividade), por um lado, constituindo os aspectos do critério interno da verdade, e, por outro, a intersubjetividade, o critério externo.
Nesse mesmo sentido, Bauer e Gaskell (2008, p. 191) sustentam:
A validade da AC deve ser julgada nâo contra uma 'leitura verdadeira' do texto, mas em termos de sua fundamentaçâo nos materiais pesquisados e sua congruência com a teoria do pesquisador, e à luz de seu objetivo de pesquisa. Um corpus de texto oferece diferentes leituras, dependendo dos vieses que ele contém.
Cabe salientar que, ao se trabalhar com a análise de conteúdo, de acordo com Bardin (2006), o cuidado com a descriçâo e execuçâo de cada uma das fases da análise, por mais que se mantenham a flexibilidade e a criatividade, caracteriza-se como forma de gerar confiabilidade e validade. Flick (2009) enfatiza o cuidado com o detalhamento do processo da pesquisa como um todo (o planejamento da pesquisa), como também a adequada exposiçâo dos dados (incluindo a redaçâo) na busca da confiabilidade, ou seja, na busca pela validaçâo e confiabilidade, uma boa redaçâo dos resultados da pesquisa, na qual se torna explícita uma boa organizaçâo dos dados, é fundamental.
Por fim, salienta-se outra forma de validaçâo dos resultados de uma pesquisa, que é a adequada utilizaçâo de softwares, tanto quantitativos quanto qualitativos. Como este ensaio teórico está com o foco direcionado à pesquisa qualitativa, parece pertinente destacar as novas tecnologias que facilitam a análise de conteúdo com abordagem qualitativa.
Novas tecnologias: softwares que facilitam a análise de dados qualitativos
As novas tecnologias têm cada vez mais influenciado nas pesquisas. Desde a década de 1980 a utilizaçâo da tecnologia faz parte tanto da coleta como da análise de dados em pesquisas científicas, alterando os seus padröes. Também as pesquisas qualitativas podem fazer uso de programas para análise de dados, sem que o pesquisador espere que estes realizem o trabalho de análise automaticamente; na realidade, apenas auxiliam na pesquisa. Entre tais programas auxiliares para a análise de dados qualitativos, citam-se: NUD*IST (gerenciador de referências para biblioteca pessoal), ATLAS*ti (planejar projetos) e MAXqda (importa e exporta materiais de diferentes fontes (Flick, 2009)).
Como evidencia o autor, na tentativa de facilitar a análise das comun^öes, têm-se buscado algumas alternativas em meios informacionais e existem mais de vinte e cinco programas para análise qualitativa na atualidade. Além dos programas citados por Flick (2009), destaca-se que o software NVivo vem sendo cada vez mais utilizado no campo da administraçâo, constituindo meio válido de análise de dados qualitativos. Cabe salientar que tal programa exige um grande envolvimento do pesquisador, potencializando os resultados da pesquisa, com o aumento do alcance e da profundidade das análises. Para maior conhecimento de tal programa computacional, sugere-se o acesso à página eletrônica, no endereço: <http://caqdas.soc.surrey.ac.uk>. Também tem sido utilizado com certa frequência, na própria análise de conteúdo, o sistema Sphinx (Freitas et al., 1997).
Em razâo de que a análise de conteúdo constitui-se num método de tratamento de comunas, que pode ser bastante amplo conforme os objetivos e delineamento metodológicos de uma pesquisa, emerge a necessidade do emprego de técnicas computacionais, estatísticas ou nâo. Nesse sentido, tanto os softwares quantitativos (ex: SPSS) como os qualitativos (ex: NVivo) facilitam e qualificam o processo de análise.
O Nvivo, além da finalidade básica de facilitar e agilizar as análises, tem a fonçâo tanto de validar como de gerar confiança, qualificando o material coletado. Contudo, como qualquer programa computacional, além da necessidade da utilizaçâo correta, os dados que o alimentam têm de ser apropriados, sob o risco de se ter um corpus falho.
No que tange às pesquisas quantitativas, a utilizaçâo de software tem sido mais comum, antiga, conhecida e até mais bem aceita no meio acadêmico. No entanto o momento atual evidencia uma tendência de as pesquisas qualitativas também fazerem uso da informática, visando à agilizaçâo e qualificaçâo do material de análise. Como refere Creswell (2007, p. 197), o material a ser analisado (comunicaçâo) "pode ser melhorado com o uso de programas de computador com software qualitativo". O próprio Bardin (2006, p. 37) admite as novas tecnologias como facilitadoras, afirmando que o procedimento de codificaçâo do que é comunicado é simples, "se bem que algo fastidioso quando feito manualmente".
Por fim, torna-se pertinente reafirmar o fato de que a utilizaçâo de softwares apenas serve para facilitar a análise e a interpretaçâo, nâo eximindo a atuaçâo ativa do pesquisador na adoçâo de um método de análise coerente e pertinente ao tema e à orientaçâo epistemológica. Contudo percebe-se a ampliaçâo das possibilidades de utilizaçâo da análise de conteúdo nos estudos organizacionais, na utilizaçâo de softwares qualitativos, os quais nâo têm o intuito de quantificar ou criar um viés positivista.
Possibilidades da Utilizaçâo da Análise de Conteúdo no Campo da Administraçâo
Sabiamente, afirma Minayo (2001, p. 79) que "o produto final da análise de uma pesquisa, por mais brilhante que seja, deve ser sempre encarada de forma provisória e aproximativa". Tal posicionamento toma como base que, "em se tratando de ciência, as afm^öes podem superar conclusôes prévias a elas e podem ser superadas por outras afirmaçôes futuras". Na realidade, esse é o percurso da ciência. Como afirma Kuhn (1991), o conhecimento científico nâo cresce de modo cumulativo e contínuo; ele é descontínuo e opera em saltos qualitativos.
Nesse sentido, Popper (1992) aponta uma concepçâo inovadora do método científico mediante a racionalidade crítica e o aspecto de flexibilidade, resultando em ideias de progresso científico, que podem ser aplicadas ao método de fazer ciência em Administraçâo. Na sua obra Em busca de um mundo melhor, Popper (1992) defende mais uma vez a busca da verdade, nâo a busca da certeza, a qual nâo deve se constituir numa meta científica. No entanto na Administraçâo ainda se percebe a utilizaçâo de métodos de análise de dados, até mesmo a análise de conteúdo, na busca da certeza por meio da induçâo, como as aplicaçôes de modelos, por exemplo.
A assimilaçâo das ideias de Popper (1992, 1999, 2004) por parte dos estudiosos em Administraçâo colabora sobremaneira, possibilitando que os métodos desenvolvidos nas pesquisas e publicaçôes sejam questionados, para que nâo continuem seguindo numa mesma lógica positivista e indutiva. Dessa maneira, pode-se vislumbrar uma contribuiçâo como ciência mais consciente e útil para a construçâo do conhecimento no campo da administraçâo e para a sociedade como um todo, pois todos podem e devem contribuir para o aperfeiçoamento do universo, na busca de um mundo melhor, como defende o autor.
O método crítico e a consequente discussâo crítica (antipositivista) norteiam os escritos de Popper (1992, 1999, 2004), para o qual o princípio da racionalidade é limitado, visto que nâo consegue explicar muitas coisas. Nesse sentido, denuncia o fato de as pessoas tenderem a procurar regularidades que levam ao pensamento e/ou comportamento dogmáticos, os quais se procura preservar a qualquer custo, limitando, consequentemente, a atitude crítica. O autor nâo acredita em verdades definitivas, mas em conhecimento hipotético e problemático. Dessa forma, nâo aceita as teorias como modelos, pois a teoria está acima de qualquer modelo, o qual acaba por ser uma simplificaçâo da realidade, que representa certas condiçôes que nâo podem ser consideradas leis universais.
Diante dessa lógica de mudanças permanentes na ciência, resultados de pesquisas como provisório e aproximativo (Minayo, 2001) e crescimento descontínuo do conhecimento científico (Kuhn, 1991), percebe-se que alternativas metodológicas devem ser mais bem discutidas e aplicadas também nos estudos organizacionais. Nesse sentido, a análise de conteúdo apresenta-se como técnica de análise de dados cada vez mais legitimada nas pesquisas realizadas no campo da administraçâo, mas que ainda necessita ser mais bem debatida e ampliada em suas aplicaçôes, visando apresentar maior confiabilidade e validade no mundo científico.
Diante do exposto e no sentido proposto por Popper (1992), na busca da verdade, (nâo das certezas), sabe-se que a análise de conteúdo é considerada como técnica de análise qualitativa muito pertinente aos estudos organizacionais, possibilitando a ampliaçâo da qualidade da pesquisa qualitativa no campo da administraçâo em suas diferentes áreas.
Conclusäo
Novas e velhas questôes apresentam-se neste início de século, no qual ocorrem intensas e velozes mudanças carregadas de historicidade. Desse modo, as diferentes áreas disciplinares de estudo no campo da administraçâo também passam por inquietaçôes, revisôes e reformulaçôes, o que nâo é diferente em relaçâo aos métodos de análises científicas.
No que diz respeito à escolha das técnicas de análise de dados de pesquisa, múltiplas escolhas podem ser feitas e, em alguns casos, devem ser múltiplas para que se proporcione uma aproximaçâo mais adequada ou abrangente ao tema a ser estudado. O campo da pesquisa em administraçâo nâo nega nem minimiza a importância da coexistência de métodos; contudo a coerência entre esses é premissa básica.
Por isso apresentam-se de maneira objetiva, algumas respostas (provisórias, decerto) às questöes formuladas de início. Em primeiro lugar, em relaçâo à contribuiçâo da análise de conteúdo para as pesquisas qualitativas no campo da administraçâo. Percebe-se claramente a sua importáncia para as pesquisas com essa abordagem; até mesmo muitos estudos vém sendo desenvolvidos nesse sentido, legitimando a análise de conteúdo em estudos qualitativos nas diversas áreas da administraçâo. Quanto aos desafios dessa perspectiva, ficou evidenciado que estes sâo contínuos e provocam o aprimoramento da técnica de análise de conteúdo; a perspectiva de sua aplicaçâo proficua é cada vez maior, legitimando-se nos estudos organizacionais pela forma como a técnica é utilizada. No que concerne à possibilidade de a análise de conteúdo fazer parte de uma visâo mais ampla, para além da influéncia positivista que sofre, ficou evidente a sua potencialidade para tanto, desde que os pesquisadores trabalhem com o método de forma coerente, ética, reflexiva, flexível e crítica, além de considerarem seriamente o contexto e a história nos quais a pesquisa se insere. Reitera-se, portanto, a análise de conteúdo como técnica de análise de dados rica, importante e com grande potencial para o desenvolvimento teórico no campo da administraçâo, principalmente nos estudos com abordagem qualitativa.
Por fim, espera-se que este ensaio teórico contribua para resgatar algumas particularidades da técnica análise de conteúdo em pesquisas qualitativas, salientando seu potencial de aplicaçâo. A análise de conteúdo pode ajudar aqueles pesquisadores que pretendem desenvolver estudos no campo da administraçâo segundo uma abordagem analítica crítica e reflexiva, aventurando-se na aplicaçâo da análise de conteúdo como técnica de análise de dados qualitativos, ou mesmo mistos, no sentido de complementaçâo. Neste trabalho nâo se procurou simplesmente descrever o método de análise de conteúdo, pois há muitas outras variantes que precisariam ser mais bem exploradas. Na realidade, teve-se como objetivo discutir, em nível metodológico, algumas peculiaridades da análise de conteúdo, com base numa visâo crítica, que integra os conceitos mais importantes para dar ensejo às diversas possibilidades de pesquisa e à apropriada (no sentido de nâo ingénua) utilizaçâo da técnica.
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Anelise Rebelato Mozzato *
E-mail: [email protected]
Universidade de Passo Fundo - FEAC/UPF
Passo Fundo, RS, Brasil.
Denize Grzybovski
E-mail: [email protected]
Universidade de Passo Fundo - FEAC/UPF
Passo Fundo, RS, Brasil.
* Endereço: Anelise Rebelato Mozzato
Rua Adolfo Loureiro, 190, apto. 401, Bairro Lagoa do Potreiro, Passo Fundo/RS, 99010-650.
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